Ultimamente tenho tido alucinações, para falar a verdade, eu estou assim desde que Benjamin veio me deixar em casa. A imagem dele surge aleatoriamente em momentos bastante inoportunos. Ontem por exemplo, eu me peguei sorrindo do nada ao lembrar de sua carranca e depois seu sorriso lindo que mostravam suas covinhas se formando em suas bochechas, a questão é que eu estava no meio de uma reunião e só me dei conta do papel que estava fazendo quando um dos assessores perguntou se eu estava bem. Fiquei sem graça assentindo como se não fosse nada demais. Porém aquilo me incomodou. Muito.

O problema é que eu estava criando um tipo de expectativa em relação a ele, por mais que fosse apenas a vontade de levá-lo para a cama, e tudo piorava ainda mais pelo fato de que Benjamin continuava fingindo desinteresse. Aquilo estava me enlouquecendo. Eu sei, eu poderia partir para outra como se nada estivesse acontecendo, mas aí é que está, eu simplesmente não consigo pensar em mais nada a não ser nele e no fato de que eu o quero. Mas não é paixão nem nada disso, é só aquele velho conhecido fogo no rabo, pois não pretendo ter nenhum tipo de relacionamento seja com ele ou qualquer outra pessoa.

A maioria das mulheres se fecham emocionalmente por medo de terem seus corações partidos novamente após uma grande decepção, eu não, nunca tive o meu partido e por isso mesmo evito relacionamentos, afinal eu não iria dar poder a alguém para fazer isso. Além disso, gosto da simplicidade de uma noite só, sexo causal e nada mais. Sem troca de telefones, mensagens indesejadas, buquês de flores ou qualquer merda clichê. Eu gosto de não pertencer a ninguém, apenas a mim mesma, não é como se eu fosse A Megera Domada, me identifico mais com a Bianca, sabe, graciosa, delicada...em alguns aspectos me identifico com esse personagem, principalmente, pela inteligência, embora no quesito pretendentes tenha mais em comum com Catarina. Ela é foda, convenhamos. E até acho bonitinho o fato de ela ter encontrado um homem maravilhoso que soube dar valor a ela, na verdade, eu os amo, são muito fofos juntos. É um dos meus livros favoritos. Você deve tá pensando essa mulher é bipolar? Como ela ama livros e filmes de romance e não espera por um romance, um grande amor ou algo assim? Se alguém fosse me descrever apenas baseado nesses dois gostos provavelmente diria que sou uma romântica incurável, sonhadora em busca de um grande amor e blá blá blá. Só que não. Eu não sou essa garota. Apesar de que sou pisciana, as características são completamente contraditórias, o que é quase uma piada.

- Oi pai - atendo meu telefone enquanto paro no sinal vermelho próximo do meu apartamento.

- Oi Aby. Venha jantar conosco hoje, temos uma novidade para lhe contar

- Uma novidade? - meu pai e a tal de Melissa tem um relacionamento há quatro anos, esperava que ele a pedisse em casamento em algum momento, pelo visto iria acontecer

O fato de eu não me dar bem com Melissa não é pelo meu pai ou a ideia dele com outra mulher que não seja minha mãe, é apenas que ela é uma bruxa. Metida e preconceituosa. Além disso, eu acho que ela está com meu pai inteiramente por interesse. E agora, se realmente forem se casar eu terei que conviver com essa galinha depenada e suportá-la em todas as festas de família. Argh!! Só espero que ela não tenha um bebê do meu pai, sinceramente não sei se saberia lidar com isso e de qualquer forma não gostaria de ter qualquer vínculo desse porte com ela. Não pelo bebê, é claro. Afinal ele não teria culpa de ser filho da ratazana que além de metida e preconceituosa é racista.

- Pelo visto o tal casamento vai sair, é isso?

- Também, venha às 19h. Estaremos lhe aguardando

- Tudo bem. Estou checando em casa agora, trocarei de roupa e vou em seguida

- Até daqui a pouco

- Ok pai, beijo

Cheguei em casa e não me demorei, após um banho rápido vesti uma roupa confortável e soltei meus cabelos que estavam presos por causa da audiência que participei no fórum, mas agora iria soltá-los. Melissa não gosta da estrutura dos meus fios, sempre comenta alguma merda em ralação a eles, mas ela que se foda. Lembro-me de certa vez em que sugeriu que eu fizesse um alisamento e disse que eu ficaria mais bonita até, mas eu a coloquei em seu devido lugar, desde então sempre que tenho que olhar para sua cara de rato cuido para que fiquem o mais volumoso possível, adoro os meus cabelos e tenho muito orgulho deles, além do que é algo que herdei da minha mãe. Ela tinha cabelos cacheados e muitos lindos, contudo os meus são ainda mais crespos, ela dizia que são iguais aos da minha avó e isso aqueceu meu coração de uma forma inexplicável, infelizmente não conheci a minha vozinha. Que Deus a tenha. Exatamente às 19h estaciono meu carro ao lado de uma Mercedes vermelha. Não sabia que meu pai havia comprado outro carro.

- Boa noite, senhorita. Aby

- Boa noite Geórgia, como vai?

- Estou bem, obrigada por perguntar - Geórgia é a governanta da casa do meu pai. Ela trabalha aqui desde que eu nasci.

- Como estão Brian e Natasha?

- Estão bem. Brian se formou no mês passado agora trabalha no Hospital de Santa Mônica, Nat está cursando Direito, está no terceiro período - Responde toda orgulhosa, enquanto caminhamos em direção a sala de jantar

- Uau! Que maravilha Geo, imagino o quanto está feliz e orgulhosa um médico e uma futura advogada. Eu fico muito feliz por vocês

- Estou mesmo, senhorita Aby, uma mãe bastante boba com esses dois. Sempre foram bons meninos só me dão orgulho e a senh...

- Geórgia, pelo visto o jantar já está pronto para ser servido, é por isso que está batendo papo ao invés de fazer seus serviços? - a bruxa surge das profundezas do inferno cheia de arrogância

- Boa noite para você, Melissa. E a propósito, não trate a Geo dessa maneira, quem pensa que é?

- Oh senhorita Aby, não se preocupe, eu já estava mesmo indo para a cozinha, com licença

- Então vá logo Geórgia, quero o jantar servido em dez minutos

- Desculpe por isso Geo, você pode por favor nos dá licença

- Claro senhorita Aby

- Por que trata a Geo dessa maneira Melissa? Não gosto que a trate assim, ela está aqui desde que eu nasci e é alguém por quem tenho muito carinho e respeito

- Não a tratei de nenhuma maneira Abigail, apenas orientei que fosse terminar suas tarefas, afinal ela está aqui para trabalhar não para ficar de papo com os patrões

- Eu não sou patroa e sim sua amiga. Irei conversar sobre isso com meu pai. Exijo que tenha respeito por ela e a trate bem

- Você não tem nada que fazer exigências na minha casa...

- Sua casa? Não Melissa, esta casa não é sua. Esta casa era da minha mãe e...

- O que está acontecendo aqui? - meu pai nos interrompe me lançando um olhar reprovador

- Viu só como ela me trata tchutchuco? Eu não sei para que isso, eu não quero tomar o lugar de sua mãe Abigail, jamais faria isso - a dissimulada diz fazendo beicinho para meu pai que a abraça

- É Aby. E não, você não faria isso de qualquer forma nem se quisesse poderia substituí-la

- Hora Abigail o que deu em você? Por que toda essa grosseria com minha esposa?

- Sua o quê? - meus olhos vagueiam pelas mãos de ambos procurando o que espero não encontrar. Por favor, Deus. Mas, lá está o arco dourado grosso em seus dedos anelares, à mão esquerda. Meu Deus

- Mas, que porra está acontecendo? Pai, você se casou e não me disse nada?

- Sim, foi lindo Abigail nos casamos no final de semana em Vegas, foi tud...

- Não estou falando com você sua puta

- Abigail pare com isso agora - meu pai brada

- Pai, você se casou com essa interesseira, ela só está usando você para manter seu padrão de vida, ela não passa de uma vagabunda

- Abigail exijo que respeite minha mulher, principalmente dentro da nossa casa

- Essa casa não é dela. Porra - praticamente grito as palavras, o ódio me consumindo

- Sim, esta casa será dela. Iremos morar aqui

- Você realmente não está nem aí para mim, você não me ama. Você... por que não me convidou para o casamento? - senti meus olhos arderem pela vontade de chorar

- Porque sabia que você não aprovaria e certamente iria causar alguma cena desconfortável, como está fazendo agora

- Com certeza, iria acabar com meu casamento. E Abigail, esse seu cabelo, meu Deus parece que está cada vez mais armado porque não seguiu meu conselho para deixá-lo mais controlado?! Sabe, agora que serei sua madrasta podemos... - Não a deixei terminar, partir para cima de Melissa e deu-lhe uma bofetada na cara, mas quando fui para arrancar todos os fios de cabelos de sua cabeça meu pai me conteve

- Meus Deus, pare com isso. Melissa não pode se estressar dessa forma, ela está grávida - o chão se abriu debaixo dos meus pés. Melissa está grávida. Grávida. Essa cobra peçonhenta está prenha.

Fiquei perplexa, não encontrava as palavras e o sentimento que transcorria pelo meu corpo naquele momento era inominável. Um bebê seria um elo eterno entre Melissa e meu pai e eu estaria no pacote. Como eu a odeio. Ela conseguiu tudo o que queria, casar com meu pai, engravidar e ainda de quebra ficar com a casa da minha mãe.

Não tive forças para ficar ali e tão pouco jantar com eles. A fome se esvaiu de mim. A única coisa que sentia era a ânsia de vômito ao olhar para suas caras. Meu pai principalmente, aquela atitude dele foi mais que prova de que eu não significava absolutamente nada pra ele. Eu já tinha notado isso desde os meus quinze anos, ele havia mudado, sempre fui seu xodó, mas em algum momento aquilo mudou e eu não sabia o motivo. A única coisa que eu sabia é que ele parecia só me suportar com o passar dos anos e tudo piorou depois da morte da minha mãe, ficamos ainda mais distantes, tanto que optei por sair de casa e morar sozinha em meu apartamento, pois estava insuportável nossa convivência aqui. Ele fingia que eu não existia a maior parte do tempo e quando eu tentava conversar com ele, saber o que eu havia feito para ser tratada daquele jeito ele se irritava e me deixava falando sozinha. Eu fiquei muito triste por algum tempo, mas acabei tendo que me acostumar com a ausência dele. Agora nosso único elo era a empresa, depois dela éramos apenas dois estranhos. Eu sentia falta do amor do meu pai, queria participar de sua vida e queria que ele participasse da minha. Mas, agora mais do que nunca, estávamos afastados e longe de conseguir resgatar alguma reciprocidade. Para piorar tudo havia Melissa, agora Melissa Foster Novatore. Puta interesseira. Minha madrasta. Um nó se formou em minha garganta e sai cambaleando em direção a porta, precisava sair dali o mais rápido possível.