Capítulo 7 Âmbar

A última vez que fiquei tão empolgada com uma causa ganha foi há um ano. Não que eu não fique feliz com todas, mas algumas tem um valor especial para mim, principalmente, quando envolve bem-estar, respeito e valorização das pessoas. E o fato de ter sido contra meu pai aumenta ainda mais esse valor, mesmo que eu saiba que na verdade, o que o fez reconsiderar foi a minha persuasão, isso é algo que uma vez ou outra quando percebo que posso perder utilizo. Ser advogada é entre outras coisas sempre ter uma carta na manga, porque você pode precisar de uma em algum momento.

Além disso, conhecer seu adversário, digamos assim, é muito importante também. Conhecer seus pontos fortes e explorar suas fraquezas, foi o que fiz hoje e tive o resultado esperado.

Agora depois de ter passado em casa e me arrumado estou esperando o Uber, sim hoje não irei dirigir porque pretendo beber até esquecer meu nome. Sem demora, logo estou de frente para o Codec esperando Vic e Felipe chegarem. Enviei uma mensagem convidando-os para comemorar comigo.

"Chegamos Aby, espere por nós na entrada, acabamos de estacionar." Diz a mensagem de Vic.

Direcionei-me a entrada encontrando ambos que estão deslumbrantes. Conheço Victória há um bom tempo, mas sua beleza sempre me surpreende, ela é linda ao extremo e muito ousada. Agora, por exemplo, ela está usando um vestido preto trançado na frente mostrando sua barriga e uma bolsa minúscula completando seu look incrível.

Felipe é outro que não decepciona nunca, a cada dia está mais bonito. Na época da faculdade ele já era perfeito, agora então, beirava ao absurdo. Eu, assim como inúmeras outras arrastava um bonde por ele, porém nunca tentei nada, pois sabia que Vic sentia algo, mesmo negando no início e jamais trairia nossa amizade, além disso eu percebi desde o início que Felipe também se interessou por ela, tanto que eles têm esse rolo, inclusive dividem o apartamento desde a faculdade, só não compreendo porquê não se assumem de uma vez.

Após entrarmos na boate seguimos para o bar onde colocamos as pulseiras de consumação e pedimos nossas bebidas. Sempre começando pela tequila, é uma tradição nossa, depois iniciamos nossos trabalhos. Vic adora drinks doces e Lipe sempre pede vodka ou uísque, porém eu sou fã de carteirinha de uma boa cerveja

- Aby, eu ainda não acredito que você enfrentou seu pai - Vic diz animada - E principalmente, que dobrou o velho. Você é tipo minha heroína

Nos três rimos e brindamos - A essa maravilhosa conquista - digo levantando meu copo

- E... as cartas na manga - Felipe ri completando o brinde, levantando seu copo e tocando suavemente no de Victoria e depois no meu

-Isso aí

- Agora vamos beber e enlouquecer - Victoria parece uma louca fugida de um hospício, quanto mais a conheço mais certeza tenho disso. E eu fico extremamente feliz que ela consiga ser tão solta agora, mesmo depois de tudo que aconteceu com ela.

Depois de algumas doses e drinks nós três seguimos para pista, está tocando Pedro Sampaio, eu adoro funk. Lembro-me de quando estive no Rio de Janeiro visitando meus parentes da parte da minha mãe e meus primos me levaram a um baile funk, eu achei estranho no início e até me assustei algumas vezes com a devassidão das coreografias, mas depois entendi que não era vulgar para eles, aquilo era sensualidade e minhas primas me ensinaram a dançar rebolando a bunda e mexendo os quadris, é o que estou fazendo agora, rebolando como se não tivesse ossos em meus quadris. Vic também dança assim, eu ensinei a ela o famoso quadradinho brasileiro, nesse momento Victoria está com a bunda empinada rebolando e Felipe está vidrado em sua traseira seus olhos chegam a ficar nublados, tenho certeza que ele está duro agora mesmo e isso me faz rir e olhar para ela, percebendo o mesmo que eu, se aproximando roçando a bunda nele que logo deposita as mãos em seus quadris e os dois ficam dançando agarrados. Eu não ficarei aqui de vela. Dei uma olhada em volta e logo vi um cara me observando, ele é bem gato. Me animei, dançando e fazendo charme, nós trocamos olhares e sorrisos e aguardei que ele viesse até mim, mas nada aconteceu. Então, eu decidi ir até ele, mas quando virei para o lado minhas pernas bambearam com a visão, parado encostado no bar, cabelos soltos, terno escuro, esse homem não parece ser de verdade, que perdição do inferno, meu Deus. Dessa vez não sairei desta boate sem saber o gosto daquela boca. Meu riso é travesso por meus pensamentos indecentes enquanto me aproximo do bar

- Mas, olha só o que temos aqui - disse me encostando também no balcão do bar

- Olá Aby!

Ele lembra meu nome então? Humm... Interessante.

- Oi estranho. Vai me dizer o seu nome hoje?

Ele não respondeu, apenas olhou-me levantando a sobrancelha. Por que ele sempre tá com essa cara fechada como se estivesse com raiva de todo mundo?! Mas, devo admitir que acho um charme essa carinha de bravo, só aumenta a minha vontade de lambê-lo todo agora mesmo.

- O gato comeu sua língua? - provoquei e ganho um... sorriso?!! Sinto contrações por todo meu corpo, mas não disse mais nada, apenas o observei esperando.

- Benjamin - ele diz finalmente.

- Benjamin - repeti mais para mim mesma - O filho mais amado. Então, você é o caçula? - ele me olhou sem expressão alguma

- Sou filho único - disse de forma seca

- Ah. Agora deu pra entender porque te deram esse nome, não tinha mais ninguém pra ser amado além de você - eu rio, mas logo me arrependo quando ele me analisa totalmente mau humorado

- Você não sabe de porra nenhuma

- Epa! Calminho aí rabugento, só estava brincando. Você é sempre mal humorado assim?

Como já de costume não me respondeu, virou seu uísque tomando em uma golada só depositando o copo vazio sobre o balcão. Ele pareceu tão distante agora, no outro dia tive a impressão de que havia se interessado por mim, mas agora me trata como se eu fosse uma estranha qualquer. Mesmo assim, insisti em puxar conversa

- E aí você dança?

- Como é?

- Dança? Sabe o que é? Estou perguntando se quer dançar?

- Não.

- Não. E por que não?!

- Por que eu não tô afim! Escuta você não tem nada melhor pra fazer? Aposto que tem vários moleques da sua idade por aí

Moleques da minha idade? Aah seu... Espera aí...

- Eu sei, mas não me interesso por moleques, ao menos não aparentemente.

- O que quer dizer?

- Nada.

- Tá me chamando de moleque?

Touché.

- Eu não. Mas, se a carapuça serviu

Silêncio.

- Escuta aqui Abigail, eu não quero dançar com você. Aliás, não quero nada com você, então pode ir dando meia volta pra junto dos seus amigos

- Não me chame Abigail. E como sabe que meu nome é esse?

- E que outro nome teria para a abreviação de Aby? - ele vira pra mim parecendo desinteressado

- Poderia ser apenas Aby. Eu prefiro que seja só Aby

Novamente silêncio.

Porque tenho a impressão de que ele está ponderando algo? E porque eu nunca o vi antes aqui no Codec, agora parece que sua presença é indispensável, tudo é tão familiar para ele. Penso e observo enquanto o barman enche seu copo novamente com o líquido âmbar. Ele pega o copo tomando um pouco da bebida e balança o gelo fazendo-o tilintar no recipiente.

- Você gosta daqui. Vem quase todos os dias - É uma afirmação. Então ele estava me observando todos os dias em que estive aqui, sorrio com a descoberta e ele me olha curioso

- Então, você está me observando esse tempo todo em que venho aqui, hein?

- Não estava te observando, apenas a vi algumas vezes. Você sempre fica no mesmo local e o meu escritório fica de frente - diz apontando para o alto mostrando a parede de vidro preta

- Seu escritório? Você trabalha aqui, é o gerente?

- Sim e não - ele é ríspido e fiquei sem entender, mas percebi que ele não queria falar sobre, então mudei de assunto

-Então quer dizer que do seu escritório você fica prestando atenção em mim?! Olha só, temos um pervertido aqui - debocho jogando meu ombro contra o dele e Benjamin me puxa pelo braço quase colando nossos narizes

- Não diga merda, você é uma menina - Ao mesmo tempo em que me assustei com sua ação senti a raiva queimando meu rosto

- E quem ouve você falando assim até parece que tem uns cem anos

- Não tenho, mas sou bem mais velho que você e não curto mulher mais nova que eu - Meus dentes rangeram com seu desprezo

- Como sabe que sou mais nova que você, por acaso é algum adivinho? E quantos anos você tem, afinal?

- Não sou adivinho apenas observador e dá para perceber que você é bem mais nova que eu. Tenho trinta e três e você tem o quê? Dezessete?!

- Vinte - ele ri tomando mais de sua bebida como se dissesse "dá no mesmo, é uma menina", mas eu já estava tramando algo em minha mente

- Então, se você acha que sou uma menina e não tenho a menor chance com você, vem dançar comigo, não será nada demais - ele apertou os olhos pensativo por um instante, mas concordou

- Tá bem, vamos dançar então.

Segui para a pista rindo mais que uma hiena após pronta para dar o bote em um cervo suculento (ok, isso foi nojento e maldoso, principalmente, porque sou vegana. Mas, os animais não são veganos, são? Ou eles precisam se comer pra poder sobreviver...) aí o que eu tô pensando. Eu não quero saber que porra hienas comem ou não, a única coisa que quero neste momento é mostrar a Benjamin que eu não sou uma menina.

Seguimos lado a lado parando próximos de Vic e Felipe, eu senti como se estivesse prestes a ganhar na porra da loteria.

E como se os anjos ou sei lá o quê tivessem a meu favor começou a tocar Vai Malandra da Anitta, eu amo essa música, sorri vitoriosa, pois como dizem no Brasil vou botar pra foder. Hoje com certeza é meu dia de sorte.

Benjamin pareceu ter lido minha mente, pois ficou tenso quando aproximei nossos corpos e comecei a rebolar suavemente com a mão em seu ombro, porém ele continuou com os braços jogados ao lado do corpo sem saber onde colocá-los, foi aí que peguei uma de suas mãos depositando-a em minha cintura - Pode colocar sua mão aqui Ben eu não mordo, a não ser que você queira

Vi quando engoliu em seco, seu aperto transmitindo uma vibração por todos os nervos do meu corpo como se eu tivesse tomado um choque. Continuei apoiando a mão em seu ombro e me permiti ser um pouco mais ousada virando de costas pra ele rebolando rente ao seu quadril. Começamos a nos mexer mais sincronizados e Ben pôs sua outra mão em minha cintura puxando-me mais para perto, senti seu volume crescendo entre nós. Sorri e virei de frente olhando em seus olhos, Benjamin estava completamente sério com cara de poucos amigos e eu resolvi brincar um pouco

- Mais olha só, eu achei que você me achasse uma menina - falei descendo a mão pelo seu peitoral - Mas pelo visto não sou tão menina assim né Ben?! - lancei um olhar em direção à frente de sua calça mordendo o lábio inferior, enquanto um sorriso brincava em meus lábios

- Isso não quer dizer nada, eu sou homem. Até quando acordo estou de pau duro

- Ook - disse me enroscando ainda mais nele passando o nariz pelo contorno do seu pescoço desfrutando de sua pele, tenho certeza que senti seu corpo estremecer com meu toque, tentei mais uma vez explorá-lo, porém ele se afastou bruscamente

- Já teve sua dança, agora se me dá licença tenho coisas a fazer - afastou-se sumindo do meu campo de visão.

Não me restava outra opção senão apenas dançar e beber já que depois de ter visto Benjamin nenhum outro cara pareceu me interessar, e olha que houveram alguns interessados. Mas, eu sou assim, sempre fui quando quero algo tem que ser exatamente aquilo que eu quero, outra coisa não servirá, eu fico completamente obcecada. Depois tudo cai por terra, a animação, o desejo, tudo passa como se nunca tivesse existido. Sei que o que estou sentindo agora por Benjamin é exatamente isso, principalmente por ele se fazer de difícil, isso está aumentando drasticamente a minha vontade.

Já passava das três da manhã, Vic e Lipe sumiram há pelo menos meia hora e agora que voltaram decidiram ir embora, com certeza irão transar. Ofereceram-me carona, mas achei melhor chamar um Uber porque não queria atrapalhá-los e acabar com o clima, mas até aquele momento não tinha conseguido um motorista. Já fazem mais de vinte minutos e não tem nenhum próximo que possa aceitar a corrida. Estou fodida, pelo visto vou dormir na calçada do Codec hoje. Passaram-se mais de quarenta minutos e nada, todas as pessoas já saiam da boate que estava fechando as portas. Eu comecei a me desesperar, devia ter vindo de carro, foi uma péssima ideia ter deixado em casa.

Por mais que não quisesse atrapalhar a noite de Vic e Lipe, não me restava alternativa a não ser ligar pra que viessem me buscar ou iria mesmo ficar aqui jogada na calçada. Tirei o celular da bolsa para discar quando uma voz me surpreendeu quase me matando de susto - O que faz aqui sozinha? Aqui é muito perigoso esse horário

- Puta que pariu!!! Você quase me matou de susto.

- Desculpe, não foi a minha intenção. Mas, o que faz aqui ainda?

- Estou com problemas para chamar Uber, não vim de carro.

Benjamin me observou por alguns instantes e virou-se andando em direção ao estacionamento falando por cima do ombro

- Vem comigo eu te levo pra casa

            
            

COPYRIGHT(©) 2022