Capítulo 8 Benjamin Giordano

Dominic e eu tivemos que sair às pressas da boate em direção ao galpão. Um dos homens responsável pelo roubo das armas havia sido pego. Passávamos por um momento bastante complicado em que as operações sofriam represálias de outras máfias. Lorenzo havia pego uma boa fatia do mercado mundial no que se refere ao tráfico de armas e isso estava irritando algumas potências. Esse não era o primeiro contêiner a ser violado, mas foi o primeiro culpado que conseguimos capturar e aquilo nos traria muitas respostas. Ao menos contávamos com isso.

Quando Dom me disse que havia alguns homens em nossa cola, inclusive ameaçando Aby achei melhor deixar alguns caras na boate para o caso dela precisar de proteção. Fiquei preocupado um pouco mais do que deveria, mas não levei em consideração, pois o tesão ainda nublava minha vista. Essa garota tinha realmente sacudido algo dentro de mim. Eu sentia essa necessidade gritante de protegê-la. Embora no fundo talvez ela nem precise, Abigail parece o tipo de mulher corajosa e determinada e até posso crer que ela seja boa de mira. Quando chegamos ao Porto, alguns homens faziam segurança na parte de fora do galpão, e outros guardavam a entrada. Ao passarmos pela porta todas as luzes se acenderam facilitando nossa visão ao sujeito amarrado a uma cadeira no meio do grande salão, seu rosto já estava bastante destruído, possivelmente pelos primeiros socos que levou no início da noite, em seu corpo vários respingos de sangue manchavam sua pele. Nossos homens já tinham iniciado o interrogatório desde cedo, mas o stronzo não tinha dito uma palavra. Estava certo de que ele falaria a partir de agora, no entanto, ou Dom arrancaria todos os seus dentes e o esfolaria vivo. Ele já estava puto com tudo há algum tempo, e Novatore enchia seu saco por causa da segurança dos contêineres, além disso ele tinha alguns gosto bizarros para tortura. Era como se sentisse prazer em ver a dor que causava.

- Quem enviou você? - Dom perguntou aproximando-se dele e segurando o cabelo do homem tão forte que parecia querer escalpelá-lo, mas ele se manteve calado. Os primeiros socos desferidos por Dom fizeram a cabeça dele chicotear. Cada porrada que recebia lhe deixava mais fodido a ponto de seu corpo desabar a qualquer momento, a única coisa que o impedia de ir ao chão era o fato de estar amarrado a cadeira. Mas Dominic estava se importando tanto quanto eu sobre isso.

O homem já estava praticamente desmaiado. Todas as suas unhas haviam sido arrancadas e Dom começava a pouco tempo um novo round de interrogatórios, dessa vez os alvos eram suas orelhas. O sujeito até esse momento não tinha falado uma só palavra e eu temia que não dissesse nada, mesmo que morresse aqui nesse buraco imundo. Ele parecia preocupado em não delatar seu grupo, o que me fazia pensar no quanto deviam confiar uns nos outros e na parceria que existia ali. Afinal, ele estava na berlinda podendo ser mandado para o inferno a qualquer momento, mas essa possibilidade não parecia assustá-lo, aparentemente.

- Deixe-me tentar? - disse pegando a faca das mãos de Dom e me aproximando do homem que olhou-me com desdém. Um sorriso cheio de dentes avermelhados pelo sangue brincou nos lábios do sujeito, mas ao invés de me deixar irritado, sua ação me fez rir também. Ele não tinha noção do que o aguardava. Sem aviso segurei sua mão direita aberta sobre o braço da cadeira e desci a lâmina de uma só vez arrancando seu mindinho. Os gritos do bastardo foram tão altos que ecoaram por todo o espaço ao nosso redor. Aquilo bastou para tirar o sorrisinho de sua cara. Foi a minha vez de levantar sua cabeça puxando-o pelos cabelos enquanto perguntava cara a cara, nossos narizes quase se tocando - Quem deu a ordem? - nenhuma resposta - Não irei perguntar novamente, você perderá todos os malditos dedos, depois iremos te esfolar vivo, caralho - passei a faca em mais um de seus dedos que caiu ao lado do seu pé direito junto do outro dedo que já estava no chão. Então, levantei-me indagando

- Alguém aqui sabe como estancar uma hemorragia? - nesse momento o homem arregalou os olhos e notei uma sombra de medo passar rapidamente pelo seu rosto, a dor parecia quase já não fazer efeito, mas iria constatar essa hipótese já que tinha conseguido sua atenção - Tirem as calças dele - ordenei. Dominic juntou-se com mais três caras e o seguraram puxando o jeans deixando-o amontado nos joelhos - A cueca também - passei o antebraço pelo nariz enxugando a fina camada de suor que cobria minha pele apontando com a faca para o quadril dele - vamos ver quantos minutos aguenta quando eu cortar suas bolas fora e você começar a sangrar feito um porco. Aquilo pareceu chamar a atenção do soggetto, pois assim que me inclinei segurando firme o cabo da faca ele falou num fio de voz - Vasiliev.

Arqueei a sobrancelha ajustando meu corpo enquanto aguardei que terminasse de falar. Deu um olhar de soslaio para Dominic que o encarava de braços cruzados - O que tem Vasiliev? - ele perguntou

- E-ele. Foi ele... - seu corpo todo sacudiu-se quando tossiu cuspindo sangue ao balbuciar as palavras - ele...ele deu a ordem

- Filho da puta - Dom socou a parede de um dos contêineres que estava ao seu lado

- Por que Vasiliev faria isso? Não faz sentido nenhum, ele tem negócios com a Novator. Por que ele teria motivos para roubar as armas?

- N-não sei. Ele não nos explicou nada. Apenas ordenou que pegassem as caixas que haviam no contêiner. Nos deu os números exatos de quais caixas deveríamos pegar

- Como ele sabia quais caixas continham quais armas? - Boa pergunta. Ele não teria como saber dessa informação a não ser que... - Tem um informante - afirmei - há alguém infiltrado na equipe passando todos os detalhes para Vasiliev.

Dominic também sacou tudo e já balançava a cabeça em concordância antes mesmo de eu terminar de falar. Então, deu alguns passos ficando de pé em frente à cadeira - O que mais você sabe? Conte e ponderei te deixar sair vivo daqui. - barganhou. Mas, óbvio que quem o conhecia sabia que aquilo não passava de um blefe. Dom não deixaria aquele homem sair vivo daqui, principalmente agora que sabíamos quem estava por trás do sumiço das armas

- E-eu... Não sei de mais nada. Isso é tudo. Ele não nos dá muitas informações...a única coisa que sei é que eles querem pegar de volta os contratos que perderam para a Novator - Dom ficou estático encarando-o. Tamborilou os dedos sob o cano de sua Glock e apontou em direção a cabeça dele apertando o gatilho. Meu cérebro cuspiu meus olhos com a imagem do buraco no meio da testa do homem e uma ânsia quase me subiu pela garganta

- Limpem essa merda - disse Dom tranquilamente enquanto olhava pra mim - é melhor deixarmos isso só entre nós. Vou repassar as informações a Novatore, mas de antemão iremos observar e descobrir quem é o filho da puta que está nos delatando - apenas acenei.

Eu estava tenso. Aquela não era a primeira vez que Dom matava alguém e nem a primeira vez que eu participava, mas aquilo nunca soava normal para mim. Eu sempre me sentia mal. Não que a tortura fosse diferente, mas eu tinha que participar assiduamente de algo ou poderiam suspeitar de mim. Agora havia muita coisa em jogo e eu precisava saber mais, precisava ter contato com Vasiliev o quanto antes, afinal se ele queria acabar com Lorenzo, talvez tivéssemos algo em comum afinal.

            
            

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