Capítulo 6 Âmbar

Victoria fez o maior drama reclamando de sua dor de cabeça, mas acabou indo para sua sala após eu ter lhe oferecido um remédio para curar a ressaca. Ela é muito engraçada, quando estamos na balada nem lembra que terá o dia seguinte, tudo que quer é encher a cara. Não que eu seja muito diferente, eu bebo bastante, mas a Vic ultrapassa todos os limites da barreira alcoólica, ela realmente bebe como se não houvesse amanhã. Só que há.

- Senhorita Abigail, o senhor Novatore acabou de chegar, está em sua sala - Ruth interfonou para mim

- Ótimo! Obrigada Ruth, estou indo falar com ele

Não tenho costume de ir até a sala do meu pai pra falar sobre qualquer coisa, principalmente sobre negócio, mas me sinto na obrigação de conversar com ele a respeito da situação das demissões. Eu refleti por um tempo com receio pois creio que ele não irá gostar do meu posicionamento e certamente irá ficar surpreso já que nunca me envolvi dessa forma nos negócios da Novatore, mas minha intenção é a melhor possível com intuito de ajudar essas pessoas.

Bato na porta de sua sala e entrei encontrando-o sentado em sua cadeira preta bizarra que mais parece um trono de Game of Thornes

- Bom dia! - me aproximei - O senhor tem um minuto? Tem algo que gostaria de discutir

-Bom dia filha!! Do que se trata, é algo urgente? Eu preciso sair daqui a pouco para encontrar alguns acionistas

- Sim, é urgente, mas creio que não tomará muito seu tempo. É sobre as demissões - ele imediatamente me encara sério e surpreso. Como imaginei que faria.

- E o que tem a dizer sobre esse assunto? É algo que já foi resolvido, inclusive já recebi a lista dos funcionários que serão desligados até a próxima semana - meu coração saltitou com a notícia que ele despejou com tranquilidade

- Pai, eu compreendo que o interesse é inteiramente financeiro, mas o senhor não pode fazer isso. Eu não quero que haja essas demissões, é desumano... - ele fica de pé me encarando com a sobrancelha arqueada

- Como assim você não quer?

- Pai eu... - pigarreio- bem, eu peço que reconsidere. Há uma situação muito delicada que envolve essa decisão e não apenas financeiramente falando. O senhor sabe que essas pessoas não tem perspectiva alguma em relação a outros trabalhos e me preocupa que elas não consigam nada e acabam passando necessidades ao serem desligadas, nós não podem...

- Hora Abigail, não seja tola essas coisas acontecem e não podemos nos responsabilizar pela vida de ninguém. Cada um é dono de si e deve ter total responsabilidade sobre a sua própria vida, nós não somos centro de caridade - a frieza de suas palavras fez meu estômago revirar. Não acredito no que o meu pai acabou de dizer

- Eu não posso acreditar que o senhor pense mesmo dessa forma, isso é absurdo. É claro que existe responsabilidade. Nossa empresa abrange milhares de pessoas e nós precisamos nos preocupar com o bem estar delas, precisamos considerá-los não só como colaboradores, mas também como indivíduos

Ele também pareceu não acreditar no que eu estava dizendo e me observou como se eu fosse de outro planeta. Sempre achei meu pai um tanto mercenário mas, admito que não esperava que ele fosse tanto assim e muito menos que agisse como se não fosse um ser humano. Isso me assustou demais, eu não entendo como alguém pode tacar o foda-se dessa maneira.

Ele voltou a sentar-se e mexeu em seu precioso tabuleiro fazendo uma jogada e a minha vontade foi gritar a plenos pulmões e jogar a porra da mesa pela janela porque ele estava agindo como se isso tudo fosse menos que porra nenhum, não se importando com nada além de proteger sua maldita rainha em seu jogo de dama idiota.

- Você está realmente falando sério?

- Eu já lhe disse Abigail está tudo decidido não há qualquer possibilidade de eu mudar de ideia - senti meu sangue fervilhar nas veias e me aproximei de sua mesa de forma mais firme

- Não pai, não está nada decidido. Eu vim até aqui conversar com você e tentar fazê-lo mudar de ideia mas, parece que não chegaremos a um acordo então...

- Então... você está aqui como advogada dos pobres, é isso? - ele ri cheio de ironia e me sinto enojada.

- A princípio pode se dizer que sim, eu vim até aqui como advogada dessas pessoas e tentei dessa forma, resolver isso tudo da melhor maneira possível, mas nem sempre a justiça ocorre como precisa. Então, a partir de agora eu estou aqui como acionista majoritária, sendo assim, eu quero expor o meu desagrado e deixar claro que não aprovo nenhuma demissão

Ele arregalou os olhos, abriu e fechou a boca como se não estivesse acreditando em minhas palavras mas, então sua gargalhada ecoou pela sala tão alta que acredito quase ser possível de ouvir no Brasil. E ficou assim por pelo menos uns três minutos debruçando-se sobre a mesa, mais calmo, levantou-se para me encarar, ainda com um semblante divertido, aquilo me irritou ainda mais, eu fiquei sem entender qual era a graça de tudo, afinal

- Posso saber qual a graça?

- Vo-você minha filha - tornou a rir, ficando sério de repente - Você não sabe o que está dizendo, não pode vetar uma decisão minha dessa forma Abigail eu sou o presidente dessa empresa e eu decid...

Agora foi a minha vez de interrompê-lo - Você é sim o presidente desta empresa, mas sou dona de sessenta por cento das ações e embora eu nunca tenha dado qualquer opinião sobre decisões da presidência, porque até então, não julgava necessário, isso não quer dizer que não farei isso daqui por diante quando julgar que devo me envolver. Então, não haverá qualquer demissão. Tragam as suas máquinas, que seja, eu não me importo, mas todos os funcionários ficam, ou levaremos isso ao conselho e acredite em mim papai, não queira ser um réu no tribunal em que irei atuar porque você irá se arrepender

- Você está me ameaçando? - ele franze as sobrancelhas

- Claro que não paizinho, apenas estou colocando as coisas em seu devido lugar

- E seu eu não aceitar? - perguntou visivelmente irritado, mas não me intimidei

- Sinto muito papai. Mas, não me importarei. O senhor aceitando ou não será feito dessa maneira e ponto final. Ou então, terei de me envolver mais nas decisões da Novatore, de agora em diante e quem sabe até mesmo pensar em uma mudança no consel...

- Não precisa minha jóia, pensando melhor você tem toda razão. Eu me precipitei, não estava com a cabeça no lugar, mas agora pensando melhor eu reconsidero. Eles podem ficar - disse finalmente, para a minha alegria. Contudo, de certa forma já sabia que ao colocá-lo contra a parede ou fizesse menção de sugerir minha presença de forma mais ativa na empresa ele iria mudar de ideia na mesma hora. Eu sou controladora, mas ninguém ganha do meu pai e essa empresa é tudo pra ele

- Ótimo paizinho. Fico muito feliz que tenha recobrado seu juízo. Bom, agora voltarei ao trabalho, tenho ainda vários processos para analisar e também não quero que se atrase para sua reunião - disse arrumando sua gravata e deixando um beijo em sua testa.

Segui direto para minha sala vitoriosa.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022