Capítulo 9 9

Quando chegamos ao apartamento me dei conta que já estava quase anoitecendo. Parecia que cada vez ficávamos mais tempo reunidos no domingo. Tomei um banho, coloquei meu pijama e fiz um sanduíche, a única comida que eu sabia preparar. Sentei no sofá e liguei a televisão, embora não prestasse atenção em nada. Estava um pouco nervosa pela conversa com Samantha. Ela deveria estar mais ainda. Logo ela saiu do banho e sentou no sofá ao meu lado, com as pernas para cima, vestindo roupão e com uma toalha envolvendo os cabelos úmidos.

- Pois bem, Ari, agora me conte tudo que você conversou com Jonathan.

Fiquei até um pouco confusa. Será que ela sabia o que tinha acontecido?

- Como assim? – perguntei um pouco desnorteada.

- O que falaram sobre mim? – perguntou ela ansiosa.

Respirei aliviada. Por um momento pensei que ela pudesse ter suspeitado de algo.

- Sim, conversamos sobre você.

- Então não me deixe assim... Fale logo. – pediu ela olhando nos meus olhos.

- Bem... É complicado, Samantha.

- Então quer dizer que Jonathan ainda não mudou de ideia sobre mim?

- Creio que não. – eu disse sem ter certeza do que ao certo ela estava falando.

- Eu estou preparada para qualquer coisa. Quero que me dê detalhes sobre o que ele disse de mim.

- Bom, indo diretamente ao assunto: eu acho que ele está gostando de verdade de alguém.

- Qualquer coisa menos isso. – disse ela jogando a cabeça no sofá e fechando os olhos.

Eu fiquei calada. Não sabia se continuava ou não. Afinal, eu realmente tinha ido direto ao assunto, sem perder tempo com outras coisas que falamos que não tinham importância.

- Quem é ela? – perguntou Samantha olhando-me novamente.

- Como eu vou saber? Você acha que ele me diria?

- Você nem sequer perguntou?

- Claro que perguntei. E óbvio que ele não me disse.

- Preciso descobrir.

- Eu acho que ele está apaixonado pela primeira vez. Achei sincero o que ele disse. Nunca o vi falando de alguém da forma como ele falou. Sabemos muito bem como ele se envolvia com todas as mulheres dele que já cruzaram nosso caminho.

- Ela terá eu no caminho dela. Vai ser difícil para ele conseguir passar por mim como ele pensa.

- Samantha, acho que é melhor você deixar ele... Não tem sentido você fazer isso. Sinto que realmente acabou. E eu precisava ouvir isso dele pra ter certeza de que realmente não havia mais chance entre vocês dois.

- Ari, rejeitada sim, mas trocada por outra, nunca. – disse ela furiosa. – Eu não aceitaria de forma alguma.

- Mas... Isso já aconteceu, não é mesmo? Quando você o viu com outra mulher. Sobre isso ele me explicou que entre vocês nunca houve sentimento... Somente atração física... Sexo.

- Ele disse isso? – perguntou ela perplexa.

- E disse que você sabia que era assim. Que vocês tinham um relacionamento aberto.

- Sim... Não posso mentir que era assim e eu sabia. Mas eu nunca desisti de pensar que ele mudaria de ideia, que passasse a gostar de mim, Ari. Nós pegávamos fogo juntos. – disse ela sorrindo maliciosamente.

Por um momento eu fiquei chateada quando ouvi ela dizendo aquilo. Nem sei o que passou pela minha cabeça, mas não foi um sentimento bom. Pensar nela e Jonathan na cama juntos não me agradava. E sei que isso aconteceu muitas e muitas vezes. Mas só agora eu sentia aquilo. Por que antes eu não sentia? E também por que nunca quis ouvir detalhes quando ela tentava contar? Por que eu não queria saber sobre as intimidades entre ela e Jonathan mesmo antes do ocorrido entre nós dois naquele dia? Eu estava confusa.

- Eu... Estou dizendo o que ele me falou. Agora quem decide o que vai fazer é você. – me limitei a dizer.

- Acho que eu fui ingênua.

- Ingênua? – eu ri ironicamente. – Não, Samantha, se tem uma coisa que você nunca foi é ingênua.

- Mas eu tinha esperanças de que ele gostasse de mim... Eu sei que no início praticamente obriguei ele a ficar comigo. Mas a primeira noite foi maravilhosa. Depois ele me procurou. Mas o tempo foi passando e eu percebi que só eu procurava ele e que se eu não fizesse isso não nos veríamos mais. Não falávamos sobre um relacionamento sério. Eu sabia que ele ficava com outras, embora nunca tenha visto. E eu também ficava com outros homens.

- Como você tem certeza que ele ficava com outras mulheres?

- Certeza eu não tenho, mas eu acho que sim. Ele sempre me disse que não queria de forma alguma perder a liberdade dele ou se envolver em algo sério, pois o único interesse dele era terminar a faculdade e viajar.

- Então ele não enganou você. Ele foi sincero.

- Eu sei... Mas sempre tive esperanças. Eu fiz tudo para ser legal, atraente, agradá-lo de todas as formas... Eu me apaixonei, entende? E não planejei isso.

- Eu entendo... Mas ao mesmo tempo de nada adianta perder seu tempo correndo atrás do que está perdido. Eu acho que acabou Samantha e você deve seguir sua vida.

Ela deitou no sofá e disse:

- Eu acho que só é possível amar uma vez na vida.

- E você acha que Jonathan é o amor da sua vida? – eu perguntei quase rindo, pois já tinha ouvido ela achar estar apaixonada muitas vezes.

- Eu acho que sim.

- "Acha"?

- Eu tenho certeza. – ela disse.

Eu não podia querer saber ao certo o que ela sentia por Jonathan. Talvez realmente ela amasse ele e eu teria que aceitar. Não adiantava tentar convencer ela de que não devia gostar, insistir e tudo mais. O sentimento dela poderia ser real e eu tinha que aceitar. Mas o que eu não podia era mentir para ela. Eu estava me sentindo muito mal. Até esperava que ela aceitasse o fato de ele estar gostando de outra pessoa, mas isso não aconteceu. Se nem eu fiquei feliz com o coração dele ter dona, imagina ela, que havia se envolvido com ele durante um bom tempo. Eu optei por contar a ela o que havia acontecido no clube. E assim fiz. Contei sobre ter visto Therry e tudo mais. Mas não consegui contar que beijei Jonathan. De forma alguma aquilo saiu da minha boca. Eu me sentia uma traidora, pois havia ocultado dela a pior parte. Mas ao mesmo tempo eu sabia que aquilo não aconteceria novamente. Havia sido um deslize e pronto. Então eu tentaria dormir em paz comigo mesma, mesmo sabendo o quão difícil seria.

Olhei para ela, esperando uma reação e ela disse:

- Ah, eu gostaria de ter sido você esta manhã.

- Gostaria de ver seu namorado traindo você? – perguntei atônita.

- Não... Gostaria de fazer a cena de ciúme com Jonathan. – ela disse piscando. – E eu teria aproveitado a oportunidade para dar uns beijos nele e apertar aquele corpo lindo. Ele cheira masculinidade. O toque dele acende todas as chamas do seu corpo e...

- Samantha, acho que deu por hoje. – eu falei levantando. – Estou cansada.

Eu não estava disposta a ficar ouvindo tudo de novo sobre as intimidades dos dois. O dia já tinha sido bem turbulento e além da traição e da mentira eu sabia que teria que dormir relembrando cada minuto que fiquei com meu corpo junto ao dele.

- Ele foi um bom ator na cena de ciúme? – perguntou ela.

- Bem, sim. – eu disse um pouco sem jeito. – Eu não tinha conversado com ele por tanto tempo até então. Ele é um cara legal. – confessei. – E embora a ideia dele tenha sido infantil, foi uma maneira que ele encontrou de tentar me ajudar de alguma forma.

- Se cuide, Ari. É muito fácil se apaixonar por Jonathan.

- Você está louca, Samantha? Não diga isso.

- Desculpe. Eu só queria que você soubesse que eu não estou apaixonada à toa, que é real... Ele é um homem muito apaixonante.

Eu estava indo para o quarto, mas alguém bateu na porta e eu fui atender. Era Gisa e ela estava chorando.

- Gisa? O que houve?

Eu perguntei e ela nem respondeu. Simplesmente entrou e sentou no sofá, continuando a chorar. Samantha foi diretamente para a cozinha preparar um chá, pois dava para perceber que ela estava muito nervosa.

- Gisa, o que houve? – perguntei.

- Fábio e eu terminamos.

- Mas por quê? Parecia-me que estavam tão bem hoje.

- Ele disse que achava que não estava mais dando certo o nosso namoro... E eu concordei. Não contestei... Não tive coragem de saber o motivo.

- Gisa, acho que você também sabia que não seria para sempre. – eu disse.

- Mas eu gosto dele, Ari.

- Ele não é bom o suficiente para você, Gisa. Não volte atrás.

- Voltar atrás, eu? Nunca, meu orgulho vem em primeiro lugar. Por mais que eu goste dele, nosso relacionamento nunca foi muito maduro e eu sempre sofri, entende? Ele nunca me deu segurança. Talvez agora minha vida até volte ao normal e eu passe a fazer as coisas que eu gosto e não só o que ele gostava. – disse ela ainda chorando.

Samantha chegou com uma xícara de chá calmante e fez com que ela tomasse tudo. Tínhamos o chá para isso: relacionamentos acabados. Parece mentira, mas ele realmente funcionava. Pelo menos por uma hora, enquanto tivéssemos conversando.

- Que bom que pensa desta forma. – eu disse. – Você é uma mulher linda, inteligente e vai encontrar um homem que mereça você.

- Não... Eu não quero saber de ninguém. Vou viver minha vida como eu quero, sem ninguém colado à mim, tentando mudar meus planos, meus gostos... Nós somos mulheres fortes, não precisamos de um homem para realizarmos nossos sonhos e sermos felizes. Fábio só atrapalhou minha vida.

- Eu concordo com você. – eu disse.

Gisa estava sendo muito sensata. Ela realmente não precisava de Fábio para nada. Ele nem bonito era. Um garoto, sem compromisso, que em minha opinião só a usava.

- Como eu gostaria de ter sua segurança e tranquilidade, Ari. Hoje eu e Samantha ainda comentávamos como você consegue ter tudo sob controle o tempo todo?

Eu ri:

- Eu não sei como vocês conseguem me ver desta forma. Sim, tranquila eu tento ser, mas eu também tenho meus problemas, acreditem. E não são nada fáceis de resolver.

Eu sabia muito bem sobre o que eu estava falando e se eu revelasse a elas, sei que também entenderiam o quanto minha vida estava complicada. E não era Therry.

- O que está havendo no Dreamworld afinal? Eu já tenho me perguntado isso há algum tempo. Eu não sei como nem quando, mas acho que acabamos nos envolvendo demais uns com os outros... Passamos de simples amizades e isso parece que não está fazendo bem para nós... Nem para nosso convívio. – disse Gisa.

- Talvez... Mas pense no quanto somos felizes juntos, Gisa. Eu não vejo minha vida sem o almoço de domingo ao lado de todos. As festas que você organiza são tão perfeitas. No fim, acho que é assim mesmo. Envolvemos-nos, depois cortamos os laços... E talvez mais tarde os amarremos novamente. Gisa, sua vida está apenas começando.

- Tem razão. E eu tenho toda ela pela frente para ficar sofrendo por Fábio, um garoto de 20 anos.

Eu ri:

- Assim que se fala.

Limpei as lágrimas dela e percebi que ela já estava sorrindo. Perguntei:

- Ele vai continuar morando aqui?

- Sim, ele não tem para onde ir. Porém agora ele vai ter que pagar o aluguel. – falou ela firmemente.

- Não entendo, vocês estavam tão bem pela manhã. – disse Samantha.

- Pois bem, para você ver, Samantha, como são as coisas. Numa hora está tudo bem, na outra o cara simplesmente chega e diz que não está dando certo. Então o mundo desmorona na sua cabeça. Se eu sei o motivo? Não. Mas eu também não quero saber... Pra mim não importa. No fim a vida é uma só... E precisamos aproveitar.

- Você é forte, Gisa e vai superar. – ela disse.

Eu tentei mudar de assunto com elas. Chegava de falar sobre Jonathan e Fábio ou quem quer que fosse. Puxei sobre a viagem que Gisa queria fazer para fora do país, que sempre fora seu sonho e até pensei na possibilidade de acompanhá-la, o que a deixou bem animada. Samantha, por sua vez, ouvia tudo atentamente, mas pouco falava. Eu sabia que a mente dela estava ali mesmo, no Dreamworld, num homem forte, alto, moreno, lindo e que beijava melhor que qualquer outro.

            
            

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