Estamos andando em duplas, a cidade esta muito movimentada, alguns de nós iriam vender as coisas que trouxemos da mata, outros tinham que comprar algumas coisas com o dinheiro daquele guarda e alguns estavam tentando obter informações sobre a doença.
Minha missão com Jack é observar, se há mais jovens acompanhados por guardas, ou algo suspeito. Cutuco Jack com o cotovelo e aponto a praça central onde várias pessoas se amontoam para ver algo, começo a me aproximar e escuto uma voz falar acima das várias outras.
-Esses jovens estão amaldiçoados, eles têm marcas pelo corpo e mexem com bruxaria. -vejo dois rapazes que aparentam ter á minha idade, estão com o pulso amarrado e dois guardas os seguram pelos cabelos enquanto ambos estão ajoelhados, um tem cabelos escuros e o outro loiro. Os dois parecem amedrontados, Jack serra os punhos ao meu lado e vejo sua postura mudar, não podemos fazer muita coisa mas também não queremos deixar que morram.
-Jack, faça o sinal, eles vão ser mortos se não os tirarmos daqui. -ele leva as mãos á boca e faz um barulho como o de uma pássaro, ninguém parece notar, todos concentrados nos jovens que estão para ser mortos. Logo vejo algumas pessoas encapuzadas se aproximarem, meus amigos, olho ao redor e ninguém está me observando, movo o dedo apontando a direção em que devem se dividir, Jack pega minha mão e vejo Raquel assentindo, logo uma camada de plantas começa a crescer em baixo dos meus pés, então somos levantados.
Todos olham para mim e para Jack já que agora estamos suspensos por um tipo de cogumelo gigante bem ao meio da cidade as capas cobrem nossos rostos, assim ninguém vai nos descobrir tão fácil.
-Olá caros cidadãos, somos apenas visitantes, viemos deixar um recado, não estamos contaminados, o rei quer nos matar por causa de nossos dons. -vejo de canto de olho meus colegas rendendo os guardas e chegando aos jovens, logo eles saem do palco e ninguém ao menos notou. -Estamos evoluindo, vamos nos juntar e crescer, logo seremos uma nação e ninguém poderá nos deter.
-Prenda-os em nome do rei. -um guarda grita atrás de nós, pulamos do cogumelo e começamos a correr, puxo minha capa e Jack me segue, passamos correndo pelas pessoas, várias se assustam e abrem caminho. Vejo alguns de meus amigos correndo junto de nós e logo adentramos na mata rumo ao acampamento. Só paramos pouco antes do acampamento para ver se não havia ninguém nos seguindo e então prosseguimos.
-Zoe, estávamos aflitos, como foi? -Sam pergunta assim que me vê chegar com Jack, o mesmo se afasta indo falar com os outros, preciso tomar um pouco de fôlego antes de responder.
-Esperávamos não ter que nos revelar, mas tivemos, os novos já chegaram? -ela aponta dois rapazes amarrados e com sacos cobrindo a cabeça, não sabíamos se eles seriam confiáveis para os mostrar o caminho ate o acampamento então os trouxemos as cegas com a ajuda de Raquel e seus dons.
-Chame Raquel, Robin, Connor, Jack e Gianne. -ela se afasta e me aproximo dos dois rapazes. O que está a minha direita não parece ter uma marca, o outro tem uma marca definida ao lado esquerdo do pescoço, parecia uma coruja com grandes asas e em cima de sua cabeça havia um olho ou o que parecia ser um, o mesmo que se ligava a uma lua cheia.
-Zoe, estamos aqui. -tiro os capuzes dos rapazes que fecharam forte os olhos por conta da claridade repentina, depois de alguns segundos eles nos encararam amedrontados.
-Olá. -comprimente com um meio sorriso, um tem uma carranca em seu rosto, tentando se fazer de forte, mas da para perceber o seu medo pela forma em que seu corpo está dobrado.
-Q...uem... são vocês? Vão nos matar? Onde... estamos? Porque nos trouxeram para morrer aqui? -o que parecia mais novo perguntou, embolado e rápido, suspiro.
-Calma aí carinha. Ninguém aqui falou em morrer. -Jack respondeu se pondo ao meu lado, está segurando um copo.
-Raquel, poderia ver se eles contêm algum machucado. -ela se aproxima e começa a examina-los, ela é filha de médicos e aprendeu muito com os pais, o que nos salvou com os dois que estavam machucados.
-Tudo ok. Só as marcas das cordas que teremos que fazer curativo. -ela sai em busca do necessário para fazer os curativos, não podemos nos dar ao luxo de ter alguém com uma infecção que cause a morte.
-Connor, corte as cordas deles, não precisamos de prisioneiros. -ele confirma. -Gianne, traga algo para que comam. -ela se afasta para acatar o que foi pedido, filha de cozinheiros, ama coisas que envolvem temperos e comidas. -Robin, prepare um dos troncos para que possamos conversar sem muitos olhos. -ele faz sinal de beleza e se afasta. -Jack, pare de colocar medo nos meninos e vá atrás de água, o abastecimento hoje é por sua conta, leve quantos quiser e tome cuidado. -ele faz uma careta e vai ate os rapazes, resta apenas eu e Connor com os novatos.
-Vai querer que eu fique? -ele pergunta após alguns minutos em silêncio, esse cara tem uma boa lábia e também é bem educado, talvez filho de estudiosos.
-Sim, você é o mais fácil de papo. -ele sorri abertamente e olha em volta, depois ergue as mãos em sinal de rendição.
-Sempre que precisar lindinha. -pisca o olho pra mim dando risinhos, dou de ombros para suas gracinhas, ele é meio pirado as vezes, mas é gente boa.
-Rapazes, me acompanhem. -eles se entre olham e levantam meio bambos, pelo que vejo não comem direito a alguns dias. Vejo Robin apontando um dos troncos, ao seu lado Gianne segura uma vasilha grande, entro e depois os dois entram atrás de mim dentro do tronco, nós acabamos nos acostumando com isso.
-Raquel passou por aqui? -pergunto a Robin que fica com as bochechas coradas e nega. Fico confusa ate ele virar e apontar para a própria cara, sorrio entendendo e me sento na grama verdinha, os dois meninos ficam confusos ao verem a grama que não é muito comum nessa região.
-Sente-se, vocês parecem famintos, Gianne pode colocar as coisas aqui mesmo e ir fazer suas coisas. -ela só faz o que digo e sai. Connor senta ao meu lado e os dois de frente para nós, quando veem as frutas, pães, peixes e uma sopa que Gianne fez pela manhã o que estava deliciosa para falar a verdade, vejo seus olhos brilharem. -Podem comer, não tem veneno, não desperdiçaríamos uma sopa tão boa. -sem precisar dizer mais nada ele começam a comer em silêncio, na verdade eles atacam o prato com tudo.
-Connor, a comida é pra eles, você come o tempo todo por causa de Gianne, pare com isso. -ele faz um bico e devolve o pão de mel na vasilha, esse cara é um esfomeado, não sei como não é uma bola ainda.
-Porque nos ajudaram antes e estão nos dando comida? Até mesmo olharam se estávamos feridos. -o com a marca de coruja questiona após terminar a sopa, ele agora come uma fruta mas não parece mais ter medo.
-Porque não termina de comer e me mostra o que sabe fazer. Essa marca no seu pescoço deve lhe dar algo bem diferente. -declaro e vejo seus olhos se arregalarem em espanto.
-Como sabe que posso fazer alguma coisa? Pode ler mentes? -dou risada e Connor me acompanha, esse cara acha que somos o que? Algum tipo de trupe mágica.
-Você acaba de se entregar caro rapaz. Como se chama? -ele sorri envergonhado e passa a mão na nuca, vejo que até suas orelhas ficaram vermelhas.
-Nicolas. -olho o mais novo que ainda come calado, só observando que rumo as coisas tomam.
-E seu amigo? -ele cutuca o outro com o cotovelo, o mesmo para de mastigar e me olha.
-Adam. -ele diz baixo e já vai abaixando a cabeça, acho que não está afim de papo.
-Estão satisfeitos? -eles fazem que sim. -Connor, reúna os presentes para uma reunião de última hora. -ele sai me deixando sozinha com os dois que se olham e depois me encaram sérios.
-Você é a líder? -Adam pergunta desconfiado, acho que ninguém diria que sou a líder, por três motivos, primeiro sou mulher, segundo não aparento ser forte e terceiro tem muitas pessoas mais talentosas aqui para serem as líderes.
-Mais ou menos isso, digamos que sou a que mais conhece esse lugar, ou a que eles depositam confiança, não me vejo como uma líder. -digo pensando nos últimos dois dias e meio, sempre agi assim, acho que me enquadro no quesito líder.
-O que quis dizer com reunião? -Nicolas pergunta parece meio inquieto e nervoso.
-No acampamento tem 19 pessoas sem contar vocês dois, mas alguns estão realizando funções fora daqui, então nem todos vão estar presentes. -me levanto e eles fazem o mesmo. -Vamos.
Saio do tronco com eles me seguindo, vejo Jasmim sentada ao lado de Sam e Rick, ela ainda estava meia desentrosada com os outros, mas logo ela vai ficar bem, quando olho para o lado Nicolas está encarando ela, seus olhos tem um brilho que conheço bem, vi esse olhar entre Raquel e Robin nos últimos dois dias.
-Nico, olha aquilo. -Adam apontou Raquel e Robin que faziam um pé de tomate florescer várias vezes para que Gianne tivesse legumes para o almoço.
-Robin e Raquel, os primeiros a passar pela terceira fase da evolução. Os dois também são um casal, acho que tem haver com a localização de suas marcas. -eles me olham e vejo que fica uma dúvida no olhar de ambos.
-Pessoal, façam a roda, temos que apresentar os novos. -grito e todos começam a se aproximar. Vejo de canto de olho Nicolas ficar tenso e Adam colocar a mão em suas costas tentando lhe dar apoio.
-Vamos as apresentações. -digo alto mas antes que possa continuar escuto um grito agudo, assim que me viro Adam segura as mãos de Nicolas que tenta se bater, algo é bem incomum sobre esses dois. O que devo fazer agora?