Ela assistia atentamente a novela, mesmo sendo policial, não deixava de ser mulher e ter a suas delicadezas e aquela era a sua favorita. Ouviu certo som vindo da cozinha, mas acabou por ignorar, julgava ser Eric revirando em busca de alguma coisa para comer, só depois de alguns minutos, quando o ruído de panelas sumiu e um cheiro maravilhoso começou a subir pelos ares, sua curiosidade surgiu.
Enquanto passava um comercial, ela se levantou indo em direção à cozinha, o cheiro só aumentava e ela estava quase flutuando imaginando que gosto teria. Ela não imaginava ver Eric cozinhando, mas não havia outras opções, o moreno estava no pé do fogão mexendo em alguma panela, que borbulhava, Marina teve que morder o lábio para não babar, pois a macarronada estava com uma cara ótima.
- Não pensei que soubesse cozinhar. – ela comentou enquanto se colocava ao lado do fogão, não tirava os olhos da panela.
- Eu sei sobreviver. – Gonzalez era homem de poucas palavras, não via motivos para conversas longas, era o tipo de coisa que evitava, e enquanto não conhecesse e analisasse o suficiente da policial, evitaria falar muito de si e deixa-la falar mais dela.
Maria entendia bem o que ele queria dizer, Eric não iria simplesmente se deixar morrer de fome, ele estava pronto para qualquer coisa.
A ruiva estava meio balançada por ter mandado ele fazer sua própria comida, o cheiro estava muito bom e a aparência melhor ainda, sim, ela queria, mas não iria pedir, pois seu orgulho era grande demais para receber um não. Por mais que aquela casa fosse dela, que tudo ali pertencesse a ela, ainda tinha receio de discutir com ele, afinal, aquela não era a sua real missão.
- Tudo bem. Lave tudo o que sujou depois. – achava melhor manter a pose, continuar sendo a policial durona que deveria ser.
Não disse mais nada, nem esperou ele dizer, apenas deixou sua vasilha na pia e saiu da cozinha. Desligou a TV da sala e subiu para o quarto, precisava descansar, seu dia já havia sido cheio demais e tinha que repor as suas forças, pois teria longos dias ainda pela frente.
Em seu quarto, se jogou na cama e se enroscou em seus próprios lençóis, era uma noite nem muito quente nem muito fria, uma noite que podia dormir como bem desejasse, estava um pouco incomodada pela presença de Eric Gonzalez em sua casa, incomodada pelas coisas que se passavam em sua mente, por tudo.
O sono lhe custava a chegar, ela não conseguia dormir, tinha mil motivos para sua insônia, só tinha que escolher um. Essa era Marina Torres, policial, agente especial de investigação e criminalística, mas acima de tudo, uma mulher cheia de sonhos e ambições, que presava pelo bom caráter. Talvez isso a incomodasse.
Enquanto isso Eric permanecia na cozinha, estava terminando de pôr o seu prato, estava sozinho, mais uma vez, a solidão era sua melhor amiga. Havia poucas luzes da casa acesas, ele preferia a escuridão parcial, estava acostumado com o escuro de sua cela, acostumado a aquela sensação de vazio dentro de si.
Arrumou seu prato na mesa, o claro da janela a iluminava e refletia a sua luz pelo vidro, refletia seu rosto, ele era um homem bonito, um homem capaz de qualquer coisa, nem mesmo os anos de cadeia tiraram dele a sua bela aparência, seu corpo bem feito, mas ele ainda podia sentir seu sangue frio em suas veias, nem parecia estar vivo, ou vivo estaria até demais?
Comia, mas era como se não sentisse gosto nenhum, era bom provar de sua própria comida mais uma vez, algo que fosse feito por mãos que se importavam com higiene, comida que não tivesse gosto de fomo. Mas mesmo assim, não estava feliz, ainda estava preso, quem sabe até de forma mais humilhante, sendo vigiado por alguém que ele julgava não ser capaz disso.
Poderia ir embora a qualquer momento, mas escolheu ficar.
Aquela mulher, tentava entender os motivos que levariam a terem escolhido justo ela, justamente uma mulher para vigiar um homem como ele, não era assim que costumavam agir, tinha algo fora do lugar, e ele estava disposto a descobrir o que era. Aquele não era o comportamento da polícia machista que ele conhecia.
Não era de obedecer, então depois de ter comido largou o prato em qualquer lugar da cozinha e subiu para o quarto. No silencio da noite podia ouvir a escada ranger um pouco, a casa não era nova, por baixo do carpete azul novinho havia degraus de madeira um pouco velha. Queria juntar todas as informações que pudesse, não tinha acesso a internet então sua investigação tinha que ser pelo que encontrasse na casa.
E no fim do corredor de frente para a escada estava a misteriosa porta trancada, tinha algo ali atrás que com certeza mexia muito com ela, ele só tinha que saber a hora certa de usar isso a seu favor.
Lá estava seu quarto, entrou por aquela porta, sua cama, suas coisas, seu novo lugar, não era seu de verdade, mas fingiria ser por certo tempo até encontrar com sua liberdade, no fundo, ele não acreditava que seria liberto quando findasse os seis meses, mas em sua mente um plano se formava. Tinha que se formar, ele não podia deixar barato tudo o que lhe fizeram.
Deitou-se em sua cama, largado ali ele podia pensar, era confortável, não sabia mais o que era dormir em uma cama assim, suas costas doíam pela cama de cimento em que se deitava, dormir ali era como dormir numa nuvem. Seu corpo relaxou, seus músculos tiveram paz naquele momento.
Eric não era nenhum burro, não podiam engana-lo assim, seja lá o que estivessem tramando, uma hora ele iria descobrir e não iria demorar. Não contou quanto tempo demorou para seu sono chegar, ele era do tipo que nunca dormia muito. Dizem que 1/3 de nossas vidas passamos dormindo, mas essa lei não se aplicava a ele.