Muitas coisas estavam em sua mente, seu sono lhe fugiu dos olhos, tudo se lhe secou, tinha algo errado, só não sabia o que era, incomodava e não parava de incomodar, sabia que já deveria ter começado, mas a coragem lhe tinha fugido das pernas, do corpo. Seu corpo, seu maldito corpo que lhe havia posto naquela situação.
Fazia parte daquilo, mas ficara com a pior parte.
- Sabe se virar, vamos ver se sabe mesmo se virar. – disse ela a si mesma, ele lhe havia dito saber se virar, esse era seu desafio.
E a noite lhe fugiu pelas mãos, tudo era escuridão e de repente o sol nasceu trazendo luz ao seu quarto, as janelas abertas entregavam o dia, ela não dormiu, não podia dormir e naquela manhã domingo seus pés tocaram o chão com firmeza, assim como todos os outros dias, não estava de folga, estava em sua missão mais importante, não tinha tempo para baixar a guarda.
Nas águas frias banhou seu corpo, nada a relaxava mais do que aquilo, seus banhos quentes pela manhã lhe traziam de volta a vida que perdera durante o dia e a noite passada, paz, era o que precisava para si.
Depois de ter terminado seu banho e se trocado, desceu para preparar seu café da manhã, ainda era muito cedo e provavelmente Eric estaria dormindo. Mas enquanto descia ouviu barulhos vindos da cozinha, ele estava acordado, definitivamente estava.
Marina estava em sua casa, ela era jovem e suas roupas eram curtas e coloridas, assim como ela gostava, uma blusa laranja e um short azul marinho jeans bem curto e desfiado, seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo para trás, ela estava se sentindo confortável e tudo era para mostrar a Eric que a presença dele ali não era importante para ela.
A cozinha estava novamente com um cheiro bom, um cheiro que a fazia ignorar os pratos sujos na pia, mais uma vez tinha que ser durona, não podia proibi-lo de comer ou cozinhar, mas isso não impedia que tivesse vontade, o prisioneiro cozinhava muito bem.
Tentou fingir que não o havia visto, foi direto para o armário para procurar alguma coisa para comer, tinha que se distrair e evitava olhar para ele.
Gonzalez não a cumprimentou nem trocou com ela uma única palavra, apenas permaneceu no que estava fazendo. Ele colocava sua comida na mesa tranquilamente como na noite passada, e Marina viu que estranhamente ele colocava dois pratos ali em cima, Eric terminou de arrumar suas panquecas e seus ovos mexidos, leite, café e suco, a mesa estava muito bonita.
Ele se sentou e Marina o acompanhou com o olhar, nessa hora se esqueceu até de disfarçar enquanto o olhava. Ele notou seu olhar e antes de levar a comida à boca, falou:
- Não vem comer?
A princípio ela não havia entendido, mas enquanto olhava o outro prato a resposta lhe veio à mente, a pergunta era: por quê?
Ela lavou o sabão de suas mãos e foi até a mesa, e sem dizer nenhuma palavra se sentou à frente dele, com aquele mesmo olhar concentrado dentro de si mesma, Marina não queria bobear, não o conhecia e não podia confiar em um prisioneiro de alta periculosidade.
Serviu-se apenas com o que ele também se servia, não que desconfiasse que ele a tentaria envenenar, seria burrice demais da parte dele, mas era porque ambos possuíam a mesma maneira de comer, a mesma ordem. Primeiro o café, depois o leite, depois uma panqueca e misturava com os ovos mexidos, parecia estar sendo sincronizado.
- Por quê? – ela perguntou logo depois de um longo gole em seu café.
- Não sou como você. – o moreno respondeu ainda mantendo seus olhos em seu prato.
Ela havia entendido, ela não se importaria em fazer comida para ele, mas ele estava se importando. Quando mais o via, mais percebia o quanto não sabia nada a respeito dele, havia o estudado tanto, mas pelo visto seus estudos estavam errados. Ela conhecia o Eric que existia antes da cadeia, agora tinha que conhecer o Eric que saiu de lá.
- E como você é? – ela perguntou tentando manter a conversa a mais distante possível. Temia a si mesma.
- Quanto menos souber, melhor.
- O que está evitando, Gonzalez?
Mas ele não a respondeu, ela precisava de uma resposta, mas não era essa a pergunta. Ela evitava mostrar a ele quem ela era, mas infelizmente ele fazia o mesmo.
Não trocaram mais nenhuma palavra durante o café da manhã e logo depois Marina se levantou, antes dele, já estava satisfeita, ou fingia estar. Queria subir e descansar sua mente, guardar dentro de sua mente tudo o que estava aprendendo enquanto o observava.
- A louça não vai se lavar sozinha, limpe tudo o que sujou quando terminar.
A ruiva falou autoritária, e ele não lhe disse nada em resposta, nem balançou a cabeça para dar sinal de nada. Mas ela também o ignorou e seguiu seu caminho para a escada. Ela também observava a porta enquanto subia, sabia muito bem o que havia lá dentro e estava disposta a mata-lo se ele ousasse entrar ali.
Ela entrou em seu quarto e em sua cama se sentou, jogou fora o ar dos pulmões e relaxou os ombros, aquele homem não era o que ela pensava que era, não era um psicopata controlador como a policia o rotulava, mas também não era um príncipe encantado.
O telefone tocou a fazendo se assustar, estava distraída olhando o vazio do quadro à sua frente. Levantou e pegou seu telefone do gancho, era sua linha segura.
- Marina, nos informe a atual situação do prisioneiro.
- Permanece da mesma maneira, quase nunca fala e ainda não disse uma única palavra a respeito do dinheiro, senhor.
Aquele era seu comandante, o homem que a havia colocado naquela situação.
- Já deu inicio ao plano, agente?
- Senhor com todo o respeito eu não acho que esse seja mesmo o melhor jeito.
- Nós já discutimos sobre isso, Marina, essa é a sua missão e não pode em hipótese alguma falhar, você foi escolhida justamente para isso, não falhe.
- Sim senhor, o plano terá inicio hoje mesmo.