Desceu novamente as escadas e foi diretamente para a cozinha, onde ele ainda estava. O moreno estava lavando os pratos como ela havia mandado, Marina não esperava que ele fosse obedecer e realmente lavar tudo, ficou um tanto surpresa, Gonzalez realmente não era o que ela tinha estudado.
- Está passando um jogo de basquete da Liga na TV, você não quer ver comigo? – ela arriscou, homens gostam de jogos, Eric não podia ser diferente nisso também.
O moreno nem sequer desviou seu olhar da louça que estava lavando. Ela não sabia se ele apenas evitava ou não dava importância para ela.
- Eu não gosto de basquete. – foi a única coisa que ele disse.
Marina estava desapontada, tinha certeza de que ele preferiria qualquer coisa do que ficar ali lavando pratos, mas não podia desistir assim, tinha que conversar com ele, ganhar a confiança dele, mas pelo visto não seria uma tarefa fácil.
- Então tá, quando terminar a louça se quiser ver TV, fique à vontade. – ela tinha tempo, nem que demorasse o dia inteiro, ela iria conversar com ele, precisava arrancar alguma coisa dele, custasse o que custasse.
A ruiva foi para a sala e sentou no sofá, o jogo não era mesmo nada interessante, não estranhou ele não gostar de basquete, para ela aquilo era um saco. Ficou sentada ali na esperança de que quando ele acabasse fosse para lá e se sentasse ao lado dela.
Ficou muito tempo ali, tempo demais, até notar que já devia ter dado tempo ele lavar a mesma louça três vezes e ainda as enxugar. Soprou a franja dos olhos e se levantou indo em direção à cozinha, mais uma vez, parecia que só existia aquele cômodo naquela casa, ele não saia de lá.
E mais uma vez ela se surpreendeu, Eric estava debaixo da pia e parecia estar concertando os canos, aqueles canos vazavam a um bom tempo, ela sempre dizia que um dia iria chamar um encanador, só não imaginava que esse encanador fosse ser um prisioneiro de alta periculosidade que já havia passado oito anos da cadeia.
Ele parecia ter terminado, ligou a torneira para ter certeza e os canos já não vazavam mais, a pia já estava bem concertada e novinha em folha.
- Não precisava fazer isso. – essa era a maneira dela dizer obrigada.
- Existem muitas coisas no mundo que eu não precisava fazer. – e essa era a maneira dele dizer que faria mesmo assim.
Tudo o que ele falava parecia ser enigmas, aquilo estava tirando a rosada do sério, ele havia chegado ontem e estava deixando ela mais cada vez mais confusa com tudo, aquele homem era um grande enigma, e ela precisa resolver aquilo logo.
- Eu não entendo você. – ela não resistiu e acabou dizendo aquilo, não que quisesse informar ao inimigo que ele a confundia, mas sim tentava ficar menos confusa.
Às vezes precisamos dizer que estamos sentindo, para poder parar de sentir, ou alguma coisa ainda mais sem sentido. Eric era outra coisa, como se soubesse que seria estudado e então resolveu criar para si uma personalidade e trejeitos completamente diferentes, como alguém frio e calculista, que sabia viver em uma guerra, e estava disposto a vencer aquilo.
O moreno a olhou, eram raros os momentos que ele olhava para ela, e a ruiva esperava que ele fosse falar mais uma daquelas coisas que ela não entendia.
- Eu também não entendo você.
No fundo ela estava começando a achar que aquilo os deixava no mesmo nível, mas parando para analisar, só mostrava o quanto Eric estava um passo à sua frente, ele não precisava entende-la, ela que tinha que entende-lo.
Marina iria falar mais alguma coisa, mas ele passou por ela a deixando sozinha, cada vez mais perdida, e perdida ou não, ela tinha um trabalho a ser feito e estava apenas perdendo tempo, mesmo que não entendesse nada que ele falava, só tinha uma coisa que deveria entender, ele precisava falar, falar a coisa que ela precisava ouvir.
A ruiva deixou a cozinha e subiu para o quarto, Gonzalez não estava na sala, provavelmente deveria estar no quarto fazendo seja lá o que fosse. Ela se deitou novamente na cama, com raiva por não estar tendo progresso nenhum, seis meses se passavam muito rápido e ela só estava perdendo tempo.
- Ele parece até o mestre dos magos, sempre falando coisas que ninguém entende, Gonzalez idiota, só está adiando o inevitável! – Marina falava para si mesma, torcendo para que ele não estivesse escutando por detrás da porta.
Sentou-se com os pés para fora da cama, levou as mãos ao rosto e bufou de raiva, vivia pensando e quando precisava pensar não conseguia, no que ela estava falhando? Aquilo tinha que ser uma tarefa fácil, ela estava lidando com um homem que havia passado oito anos preso, não podia ser impossível. Ele tinha que falar com ela, oito anos vivendo calado deixaria qualquer pessoa louca para sair tagarelando.
Mas ele não, ele preferia sempre o silêncio.
- Calma, Marina, temos tempo, temos tempo. – repetiu para si mesma várias vezes a mesma coisa, temos tempo, mas quanto tempo?
Cada segundo tinha seu valor, informações valiosas estavam dentro daquela mente e ela tinha que arranca-las de lá de qualquer jeito nem que para isso tivesse que abrir a cabeça dele com um tijolo.
Passou um bom tempo ali, pensando, pensando e repensando, parecia que tudo o que ela fosse tentar ele iria bloquear, tinha que seguir o plano do seu comandante, já havia percebido que não tinha outro jeito. Para subirmos o degrau certo, às vezes, precisamos descer alguns.