Quanto a mim, agora sabia como era ter alguém para conversar no meio da noite e fazer piadas enquanto trabalhávamos na terra. E meu pai nem podia reclamar porque, mesmo com toda a distração, ainda estávamos progredindo mais rápido do que antes.
Ninguém mais se importava com a origem de Patrick. Não perguntávamos sobre sua família, de onde era e quanto tempo pretendia ficar. Ele foi abraçado como um novo membro da família logo nos primeiros dias – e pareceu mesmo muito à vontade com isso.
Ele era cativante. Até mesmo os vizinhos pareceram ser enfeitiçados por sua gentileza – e, claro, várias outras meninas além das minhas irmãs.
Eu não imaginava que minhas irmãs estavam seriamente interessadas por ele, até perceber que Arabella não estava mais conversando com Adela.
- Por que vocês duas estão tão estranhas? – perguntei para Adela uma tarde, enquanto trabalhávamos juntos.
Ela ergueu a cabeça para localizar Patrick, mas ele estava distante, trabalhando ao lado de meu pai e conversando sem parar.
- Ela está com raiva de mim porque posso ficar aqui e ela precisa ir para a escola.
- Mas Arabella adora a escola. – argumentei inocentemente.
- Ela está com medo que eu acabe recebendo mais atenção de Patrick em sua ausência.
Parei o que estava fazendo para encará-la. Era realmente sério?
- O que foi? – Adela corou – E, olha, Arabella é muito jovem para ele.
- Claro que ela é. – concordei rapidamente – Mas você não? Ele é mais velho do que eu.
- Não seja exagerado, Fred. – ela enfiou a cara nas hortaliças para não precisar me olhar – Temos apenas um ano de diferença, e Patrick deve ter uns dois ou três, no máximo, mais do que você.
- Acho que sim. – eu ainda não tinha parado para pensar em toda a nossa diferença de idade – Mas é isso que quer? Patrick? – olhei na direção dele, com o rosto animado e sujo de terra – Acho que você tem uma boa concorrência.
- E eu não sei? – Adela ergueu o rosto de novo, os olhos estavam angustiados – E ele não dá sinal nenhum que se importa com nenhuma das garotas que pairam ao seu redor.
- Quer que eu fale com ele? – a ideia não me agradava, mas eu não gostava de ver minha irmã tão preocupada.
- Não, ainda não. – ela suspirou – Vamos dar mais um tempo para ver se ele mostra interesse.
Patrick seguiu sendo o mesmo que era, e minhas irmãs continuaram se estranhando.
- Meninos, eu precisava de umas coisas do mercado. – meu pai disse certa manhã, assim que cheguei de acompanhar minha mãe até a escola – Acho que seria mais rápido se fossem juntos.
- Claro, senhor. – Patrick prontamente se levantou da cadeira onde estava, para a tristeza de Adela que estava ao seu lado.
- Posso ir com eles, papai? – ela ficou em pé, cheia de expectativa.
Meu pai a encarou com seriedade, e Adela fez a expressão mais triste que foi capaz de reproduzir. Isso amoleceu seu coração, como sempre acontecia.
- Certo. – cedeu – Mas, com isso, espero que levem a metade do tempo.
Saímos os três. Cuidadosamente, deixei que Patrick ficasse no meio de nós dois para que Adela pudesse interagir com ele. Conversaram todo o caminho até o mercado, mas nada que fosse algum indicativo de que ele esperava um romance com minha irmã.
De certa forma, eu também estava começando a desejar que eles fossem um casal. Dessa forma, Patrick jamais iria embora – e isso era exatamente o que eu queria.
O mercado estava vazio, e por mais que Adela enrolasse, não ficamos lá dentro por muito tempo. Assim que todas as sacolas ficaram cheias, tivemos de pagar e voltar para a rua. Sua decepção era palpável no ar.
- Senhorita, está se sentindo bem? – isso sim chamou a atenção de Patrick – Estava tão animada na vinda.
- Ah, eu... – ela se atrapalhou com as palavras, pega de surpresa.
Adela, com certeza, estivera pensando que falar sem parar e seguir Patrick a maior parte do tempo, era a chave para ter sua atenção. Jamais havia pensado que poderia conseguir isso apenas sendo ela mesma.
- Ela está um pouco cansada hoje. – falei, desejando de todas as formas ajuda-la.
- Entendo. – ele chegou mais perto e passou a sacola para o outro braço – Pode apoiar em mim, se quiser.
Adela ficou radiante, aceitou seu braço e caminhou orgulhosa para casa. Várias pessoas viraram as cabeças para prestar atenção na primeira garota que parecia despertar interesse no forasteiro.
Patrick ainda conseguiu que Adela descansasse naquele dia, argumentando muito bem com meu pai, e levou um lanche para ela comer no quarto no meio da tarde.
Eu o observei subir as escadas com uma badeja, e imaginei que talvez as coisas começassem a caminhar entre os dois. Isso seria ótimo, mesmo com a ira que provocaria em Arabella.