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Gabriela
No dia seguinte eu e Miguel acertamos os ponteiros, admitimos que nosso ego muitas vezes atrapalha, no fim de tudo ele era apenas brincalhão mesmo, assim que terminamos de conversar fomos passar visita com os nossos residentes, ele com os dele e eu com os meus, depois de um tempo fui chamada para operar uma criança, nunca havia feito aquilo sozinha, o menino havia caído do terceiro andar do prédio, os pais dele estavam completamente desesperados, uma das minhas funções é acalmar os pais naquela situação, falando com convicção e firmeza, por sorte eu consegui tirar de letra, enquanto me agradeciam eu pude perceber o amor deles por um ser tão pequeno.
Pouco depois eu fui ao quarto do meu paciente de ontem, eu havia deixado ele em coma induzido, quando cheguei hoje pela manhã mandei que tirassem a sedação dele, horas depois ele ainda dormia como se estivesse em coma, verifiquei os sinal dele mas nada havia mudado desde a hora em que sai, pedi para uma enfermeira chamar a neurologia, aquela mulher com certeza me odiava, enquanto pensava nos motivos de ele ainda estar dormindo o neurologista entra no quarto, naquele eu tentei ser o mais profissional possível, mas não dava, a minha educação se esvaia pelos poros quando ele se aproximava:
- Dr Danilo, eu coloquei esse paciente em coma ontem a noite, hoje pela manhã mandei que suspendessem os sedativos, e até agora ele não despertou ou reagiu. – ele analisa o prontuário e faz alguns testes no paciente, e conclui.
- As pupilas reagem ainda, eu acho que ele ainda está sob efeito dos anestésicos! – ele responde em tom de duvida
- Eu acho!? É essa sua conclusão!? Baseada no eu acho!?...eu pedi a opinião de um profissional em neurologia, não em achismos...medicina não se faz com seus achismos!
- Eu acho que você está muito alterada, não leva para o pessoal! – ele respondo com desdém para me provocar
- Então você basear seu diagnostico em " eu acho" agora é levar para o pessoal!? Dr Danilo, não seja patético...pode sair! – rebato com arrogância e autoridade
- Você não está em condições de seguir com esse caso!...agora ele é meu – Danilo rebate com rispidez e tira o prontuário da minha mão, seguro com força e com mais rispidez ainda respondo o encarando.
- Esse caso é meu, eu pedi a sua opinião profissional, mas nem isso você é capaz de fazer, solta esse prontuário agora!
Ele me encara por alguns segundos e solta, antes de sair do quarto ele diz:
- Isso não vai ficar assim, o chefe de cirurgia vai saber disso!
- Não te avisaram!? eu sou a diretora, agora eu mando nesse prédio inteiro! – pergunto com um olhar de superioridade e na voz.
Danilo ficou pálido depois do que eu disse, ele passa a mão com raiva no cabelo e sai do quarto, pouco depois eu saio me achado a mais top, faço mais algumas visita rápidas e volto para meu consultório, pouco depois alguém bate na minha porta, peço que entre era Miguel, muito charmoso, ele estava de camisa branca de manga longa, uma calça cinza e sapatos pretos, peço que ele se sente e começamos a conversar:
- O que te traz aqui dr Miguel!?
- Você...vim só ver como você está...soube do que aconteceu! – recosto sobre minha cadeira e deixo o ar dos meus pulmões o encaro e respondo
- As pessoas falam demais, falam o que não devem, misturam pessoal e profissional e isso é desgastante!
- Sei bem o que é ser o assunto principal de um lugar...sei exatamente o que você está passando!
- Me desculpe ser indelicada, mas porque veio para São Paulo? Eu li na sua ficha que você era do Rio de Janeiro e seu sotaque não nega.
- Imaginei que alguém fosse perguntar – ele sorri e respira fundo – escolhi vir para cá porque a cidade maravilhosa, não é nada maravilhosa, as pessoas estavam morrendo na minha frente sem que eu pudesse fazer alguma coisa, o hospital era publico, então sempre faltava material, sempre faltava alguma coisa muito essencial...certa vez faltou oxigênio, com meu paciente aberto na mesa...decidi que não passaria por isso de novo e vim para São Paulo.
- Nossa, eu sinto muito...mas porque você já foi o centro das atenções!?
- Isso é uma longa historia – ele sorri e continua – mas eu não vim para falar de mim...quero saber mais sobre minha chefe!
- Sabe que eu não me acostumei a ser chamada de chefe!? Até alguns meses atrás eu era apenas a dra Gabriela, agora antes de dra vem um chefe na frase – eu rio com delicadeza e continuo – não tem muito o que falar sobre mim – sinto meu celular vibrar e me levanto – desculpa eu estou sendo chamada, outro dia nós conversamos!
Saio da sala e ele vem atrás de mim, nos separamos quando eu cheguei aonde estavam precisando da minha atenção, depois de ter salvado mais uma vida sai da sala de cirurgia e no corredor vejo Miguel em cima de uma maca com um paciente entre suas pernas, enquanto ele fazia massagem cardíaca, me preparei para voltar a operar junto com ele.
Três horas depois...
Miguel
Estar do lado de Gabriela durante horas, fazia eu pensar aonde eu poderia transar com ela dentro do hospital, nunca havia conhecido uma mulher de tamanha força, inteligência e beleza e muita beleza por centímetro quadrado, quando encerramos o dia e cheguei na minha casa fui olhar suas redes sociais, depois do que soube o que aconteceu com ela algumas semanas atrás eu fiquei pasmo, como Danilo pode ter feito aquilo, que canalha...mas pesando bem, acho que devo agradecer a ele, por deixar o meu caminho livre até Gabriela.
Enquanto assistia alguma coisa no sofá da minha sala peguei no sono e acordei com meu irmão me cutucando, eu estava atrasado, levantei bem rápido e tomei um dos banhos mais ligeiros da minha vida, enquanto procurava por alguma roupa limpa na bagunça do meu quarto e chutei a parede e cheguei a ver estrelas, fui trabalhar de tênis e moletom, pilotar minha moto estava sendo quase uma tarefa impossível. Estacionei a moto e fui mancando até o lado de dentro, assim que entrei, vi que Gabriela estava de costas para a porta, conversando com suas amigas, seu cabelo preso com uma caneta era a coisa mais fofa, mas nada comparado com aquele sorriso encantador, mas por mais que eu estivesse sentido uma das piores dores do mundo não podia mostrar para ela... falhei miseravelmente, assim que ela me viu tentando andar sem mancar ela ficou preocupada, se aproximou de mim e pude sentir o seu perfume doce, ela me olhou de cima a baixo e perguntou enquanto fazia eu me apoiar nela:
- Meu Deus! o que aconteceu com você amigo!? – ela perguntou extremamente preocupada comigo
- Foi um acidente, mas eu vou ficar bem – respondo sorrindo - para onde estamos indo!? – pergunto curioso
- Ortopedia...não posso deixar você ficar assim. – ela me olhou enquanto caminhávamos
Quando chegamos ao andar da ortopedia tivemos que nos despedir, suas obrigações com a administração a esperavam, fiz exames de imagem e pude ouvir alguns cochichos maldosos, estavam falando da minha garota, por mais que ela ainda não fosse minha ainda, eu já estava pronto para reagir quando um dos meus colegas constatou que na batida eu quebrei o meu dedo, ele engessou meu pé e me mandou ir falar com a administração, entrei no elevador e fui a sala da nova administradora, bati na porta quando ela me pediu para entrar.
- Oi...como você está? – perguntei enquanto entrava
- Não era eu que devia fazer essa pergunta? – ela responde enquanto se levanta de trás da mesa – aparentemente você quebrou o pé...aceitei?
- Atleta lesionado com sucesso! – dou um sorriso e uma piscadinha.
- Vai para casa...fica de molho por duas semanas – ela me pede enquanto volta para trás da mesa mas não se senta.
- E se que não quiser ir para casa?
- Eu vou te obrigar, tirando seu crachá de acesso, simples assim. – ela responde querendo ser grossa mas falhando miseravelmente.
- Nossa mas a nova chefe é muito rígida!
- Sou mesmo, rígida demais, não é só porque sou sua amiga que vou aliviar – ela me olha com convencimento
- Então somos amigos agora?
- Esse é apenas mais um segredo nosso! – ela ri e diz – agora vai antes que eu peça para a segurança te levar daqui no colo.
- Okay...já vou!
Ela se aproxima e me abraça com cuidado dizendo em meu ouvido
- Se cuida!
Concordo e saio da sala, a porta se fecha atrás de mim e sem ninguém perceber eu suspiro, o olhar dela me encarando dentro daquela sala fazia eu querer tê-la deitada sobre meu peito, enquanto voltava para o andar de baixo, Felícia e Danilo discutiam feio, eu apressei o passo para ouvir sobre o que se tratava mas logo Cintia e outra pessoa acabam com a discussão, fui para casa e enquanto pilotava no transito caótico de São Paulo, minha cabeça se questionava cada vez mais sobre o que estavam discutindo.
O espírito de fofoqueiro que habitava em mim estava gritando para saber sobre a discussão.
Chego em casa e meu irmão estava deitado no sofá, dormindo com um livro de medicina na cara, acordei ele e pedi que fosse para a cama, entrei no quarto e estava tudo bem diferente do jeito que deixei...estava organizado, fui até a cozinha e tinha comida feita e estava até quente, acho que alguém teve muito tempo livre para organizar o apartamento de dois homens bagunceiros. Algumas horas depois eu estava na sala fazendo vários nadas, havia acabado de sair do banho e estava sem camisa, apenas de bermuda de surfista, até que a campainha toca, ninguém estava esperando por alguém ou havíamos pedido alguma coisa, Gabriela estava na porta com uma sacola de um restaurante e uma garrafa de suco de laranja, abri a porta e a convidei para entrar, eu estava confuso do motivo da visita e perguntei:
- Eu posso estar sendo indelicado, mas o que te traz aqui!?
- Vim saber se você está bem, geralmente eu faço isso com meus amigos que estão meio...mal das pernas! – ela responde com um sorriso encantador.
- Mal das pernas, entendi...se eu soubesse que você teria vindo me alimentar não teria feito o jantar! - respondo enquanto me aproximo dela e pego a sacola e o suco das suas delicadas mãos.
- Você cozinha!? – ela me pergunta surpresa
- Cozinhar é uma palavra muito forte, eu não morro de fome, não é como o tempero da mamãe mas dá para o gasto!
- Podemos jantar da sua comida outro dia, eu te trouxe um cardápio variado hoje – eu abro a sacola de papel e sinto o cheiro de costelas assadas – nossa você acertou em cheio, adoro costela
- Que bom que você gostou, agora se me der licença eu vou indo! – ela de dá um beijinho no rosto e se afasta.
- Fica, janta comigo! – eu peço com meu olhar de cachorro pidão, ela me olha de volta e diz.
- Não obrigada, eu tenho que ir, boa noite!
Vou com ela até a porta e antes que ela vá eu retribuo o beijinho no rosto, fecho a porta depois de ela sai e deixo o ar sair dos meus pulmões enquanto fecho os olhos e encosto na porta, vou de volta a mesa e janto sozinho, pensando nela, quanto mais eu pensava nela mais um sorriso discreto surgia em meu rosto, meu irmão sai do quarto pouco depois e se senta comigo, ele me encara de um jeito estranho e pergunta:
- Quem fez isso com você cara? Esse sorriso estampado, tem cara de quem transou hoje!
- Não enche meu saco Marcos!
- Quem é a garota que fez você ficar com essa cara de bobo? – ele pergunta com um olhar malicioso.
- Não é uma garota...é a garota, mais que isso, um mulherão para ninguém botar defeito...gostosa demais.
- Nossa cara, vai devagar...segura a onda, do jeito que você está falando parece um cão no cio. – ele ironiza