Capítulo 3 Entra!...

Gabriela

Miguel estava precisando fazer amigos, e eu me distrair conhecendo pessoas novas, ver ele machucado e tentando ser forte, foi meio estranho, depois que encerrei meu dia, passei no meu restaurante favorito e comprei algo para ele comer, acho que é isso que os amigos fazem, dão comida para o outro quando precisam.

Eu toquei a campainha e ele abriu a porta apenas com a parte de baixo da roupa, aquele peitoral definido, aquele tanquinho perfeito, acho que ele estava esperando por alguém ou estava com alguém, seus cabelos estavam molhados, depois que deixei o jantar dele dei um beijinho em seu rosto, o caminho de volta para casa foi caótico, entra ano e sai ano a transito de São Paulo nunca muda para melhor, e por mais que eu cortasse caminhos e pegasse atalhos, nada mudava, parecia que eu estava atravessando o país de tanto de que dirigi.

Chego em casa e Helena estava servindo o meu jantar, tomei um banho e jantamos juntas, enquanto ela arrumava a cozinha fui para a sala com meu melhor traje de mendigo, meias sem par, camiseta larga e calça de moletom fui assistir alguma coisa na televisão e alguém toca a campainha, Helena abre e pelo seu tom de voz eu soube quem era, deixei ela tentar resolver até aonde dava, mas Danilo passou dos limites chamando ela de criada, me levanto do sofá na força do ódio pronta para mandar ele ir a merda.

- O que você quer aqui seu lixo?! – pergunto enquanto ele tenta entrar

- Vim conversar com você!

- Mas eu não quero falar nada com você, aliás, eu não tenho nada para falar e não quero te ouvir!

- Então me escuta! – deixo ele entrar e fecho a porta, peço que Helena se retire e ele diz – eu vim dizer que ainda gosto de você...volta para mim!?

- Como é!? - digo surpresa e com raiva - eu acho que entrei numa dobra do tempo e esse Danilo que está falando que ainda gosta de mim não é o mesmo que me abandonou no altar semanas atrás!

- Eu não sabia que ficar sem você era tão ruim! – ele se aproxima e eu me afasto – volta para mim e vamos continuar de onde paramos!

- Eu não sou um livro que você deixa na prateleira e depois volta a ler de onde parou...sai da minha casa agora! – respondo com um tom frio e aponto para a porta.

- Então deixa eu pegar o meu relógio...já que é a única coisa que restou do nosso amor!

Peço para ele ficar na sala e vou até meu quarto pegar o relógio, ou o que sobrou dele, volto com a caixinha e enfio no peito dele, que logo abre esperando que estivesse do jeito que havia deixado, assim que ele viu como estava seu rosto ficou enfurecido, ele me encara e faz a simples menção de fazer algo comigo, mas logo muda de ideia, ele pega a caixa e sai do meu apartamento furioso, depois que ele sai tento segurar as lagrimas por alguns instantes mas elas são mais fortes que eu, sento no sofá, coloco a cabeça entre minhas pernas e choro sem ligar para mais nada.

Helena se senta ao meu lado e faz carinho em meus cabelos, ela não sabe o que falar para mim mas seu modo de agir foi melhor que qualquer palavra, Helena viu meus coração ser conquistado e partido, ela muitas vezes fazia melhor que minha mãe, as vezes queria que ela fosse minha mãe. Fui para a cama e ela me levou um chá de ervas, dormi como nunca antes, acho que devia tomar mais chá antes de dormir.

Me tornei aquilo que mais temia, a pessoa que toma chá antes de dormir, saudades que quando eu capotava na cama com algumas taças de vinho

Acordei renovada da noite anterior, Helena ainda estava fazendo o café da manhã, finalmente era sexta feira e eu poderia relaxar e ficar de boa em casa no sábado, era o que eu esperava, enquanto tomava café da manhã eu fiz uma pergunta a Helena que eu nunca havia feito antes:

- Helena, você tem família aqui em São Paulo? Sabe alguém que você possa contar!?

- Não tenho marido, mas tinha uma filha! – ela responde com um sorriso e um olhar nostálgico

- Como assim tinha!? O que aconteceu!? – pergunto curiosa.

- Ela foi tirada de mim! – ela responde um tanto triste.

- Quantos anos essa moçinha têm?

- Ela tem vinte e cinco aninhos!

- Qual o nome dela!? – pergunto já abrindo meu facebook – acho que devemos procurar por ela – digo entusiasmada.

- Eu não sei o nome dela, minha pequena foi tirada de mim ainda na maternidade! – ela responde angustiada.

- Eu sinto muito, desculpa, eu não devia ter perguntado sobre isso! – digo indo abraçá-la.

- Não tem nada para se desculpar, posso não tido minha filha por perto sempre, mas eu ganhei uma como se fosse minha!

- Que fofinho, obrigada – agradeço com um sorriso – não conta para ninguém, mas as vezes eu queria que você fosse minha mãe de verdade!

Depois dessa conversa fui trabalhar, pensando em como deve ser terrível você ter sua filha tirada de você ainda na maternidade, eu não imagino como deve ser terrível esse sentimento de impotência, você passar anos sem ver como algo que saiu de você, sendo criada por outra pessoa, deve ser terrível, jamais quero imaginar esse sentimento.

Seis meses depois...

Miguel

Acordo e tomo um banho morno e depois tomo um café da manhã com calma, me visto de social como sempre gostei de trabalhar, até quando trabalhava em hospital publico, e isso não mudaria depois de começar a trabalhar no hospital de uma das famílias mais renomadas do país, pego a chave e o capacete da moto, saio de casa ouvindo um pagode dos bons.

Cheguei na recepção e perguntei por Gabriela, Felícia apenas apontou para a sala com a parede de vidro, ela estava discutindo com Danilo, mesmo de longe era possível ver o estresse e a raiva consumindo ela, pergunto o motivo e ninguém sabe responder ao certo, vou ao vestiário deixo minhas coisas no armário, e visto outra roupa, o meu uniforme azul escuro com o escudo do hospital, meu tênis de corrida e meu relógio de pulso.

Volto para a recepção e Danilo ainda discutia com Gabriela, pouco depois que cheguei ele desce a escada de emergência, fica do meu lado e xinga ela pensando que eu não estava ouvindo ou não me importando, mas foi quando um vadia safada saiu daquela boca imunda que eu tive que falar alguma coisa, fui defender a moral da minha amiga, cutuquei ele e perguntei:

- Você está falando da Gabriela!?

- Estou sim, aquela piranha safada... – ele responde resmungando com deboche

- Não fale mais dela assim! – interrompo com grosseria e olhar furioso

- Como é!? Você vai defender ela? ...então é para você que ela está dando... – ele disse com deboche

Não me contive e dei um soco na boca dele, que quase cai se não tivesse segurado no balcão, ele se levanta e tenta revidar, dou outro soco nele mas dessa vez Danilo cai no chão, estava em cima dele dando uma sequencia de socos muito fortes, foram mais ou menos uns quatro em seguida, até que a segurança me tira de cima dele, o sangue daquele canalha escorria pelo seu rosto e manchava seu jaleco, ele se levanta e sinto a mão de Gabriela me puxando pela gola da blusa, com um tom de voz que nunca havia visto antes ela apenas diz:

- Vem comigo agora!

Entramos no consultório dela e levo a maior bronca do mundo, eu nunca havia visto Gabriela tão brava, mesmo quando diminuíam ela por ser mulher ela ficava mais calma do que estava naquele momento:

- Aonde você estava com a cabeça Miguel!? Perdeu o juízo? O que voc...

- Ele estava te chamando de alguns nomes terríveis! – eu interrompo e ela aumenta o tom da voz

- Não me interrompe! – ela respira fundo e passa os dedos no cabelo, eu desvio meu olhar para minhas mãos machucadas, então ela continua – olha as suas mãos, Miguel você é cirurgião, suas mãos são a sua principal ferramenta de trabalho, e agora elas estão machucadas, o que vocês fizeram foi uma irresponsabilidade...dele eu poderia esperar qualquer coisa, mas de você, eu esperava o melhor! Eu estou decepcionada com você Dr Miguel...vai colocar gelo nisso ai!

Eu saio da sala sem dizer uma palavra sequer e de cabeça baixa, mas eu me senti tão bem em socar aquele cretino que machucou o coração da minha amiga, que não ligaria se fosse suspenso por alguns dias, mas ele não estava nada feliz em me ver bem, enquanto eu passava pelo corredor, Danilo revidou da maneira mais covarde possível, me apunhalou pelas costas com uma caneta, ele fincou a caneta no meio das minhas costas, o meu grito de dor ecoou pelo corredor e enquanto eu caia, antes que meus olhos pudessem se fechar pude ver Gabriela vindo correndo e ficando ao meu lado, dizendo "fica acordado". Por mais que eu quisesse ficar com os olhos abertos não conseguia, me lembro de ter dormido por algumas horas depois daquilo, acho que tiraram a caneta com cirurgia, me pergunto o que rolou depois daquilo.

Gabriela

Enquanto eu tentava me acalmar dentro da minha sala ouço o grito de uma voz masculina, saio da sala e vejo Miguel caído no chão, com um caneta enfiada no meio das costas, seu sangue manchava seu uniforme e escorria pelo chão, me ajoelho ao seu lado e seus olhos quase se fechando, logo meus colegas levam ele para a sala de cirurgia, nunca pensei em operar um dos meus amigos, mas naquele momento ele precisava de mim e da minha habilidade.

Depois de muita concentração eu e minha equipe tiramos a caneta, que estava enfiada até a metade nas costas dele, algumas horas depois eu vou até o andar de Danilo e peço para falar diretamente com a chefe dele, que por coincidência era meu pai, faço questão de levar o caneta enrolado em um plástico, ele estava em cirurgia então esperei por ele dentro da sua sala, assim que ele entra ele me diz com seu tom de voz autoritário:

- Já sei das noticias, Danilo e Miguel saíram no soco no meio da recepção, agora o que você quer que eu faça!?

- Te trouxe algumas atualizações das noticias – coloco o caneta em cima da mesa – Danilo enfiou essa caneta nas costas do Miguel – com um tom frio eu pergunto cruzando os braços – Agora o senhor vai fazer o que!?

Ele fica incrédulo do que eu disse, olha a caneta, coloca a mão na boca e arregala os olhos, fica alguns segundos assim e diz o que eu quero ouvir a semanas:

- Eu não vou fazer nada – ele dá de ombros com um sorriso de conto e diz – você esta no comando da porra toda, vai lá e faz alguma coisa e me enche de orgulho! – disse com um sorriso de satisfação e uma piscadinha enquanto cruzava os braços e se respostava em sua cadeira

- É verdade! – digo surpresa - com licença pai! – antes de eu sair ele me chama e me entrega a caneta dizendo.

- Pega a dica com o papai! – ele se apóia com os antebraços em sua mesa e sorrindo disse – Fala de um jeito bem frio e com aquele olhar que diz quem manda, e fala que é para ele assinar a demissão com ela! – ele faz o sinal de ok e pisca sorrindo.

Concordo com a cabeça e saio da sala, alguns metros depois eu estava no consultório de Danilo, me concentro em não rir da cara dele, respiro fundo e com aquele olhar que meu pai havia dito, bato duas vezes e ele pede para entrar, quando ele viu o meu olhar de superioridade, então ele me encara com sarcasmo e pergunta:

- Veio me ver querida!?

- Se eu quisesse ver lixo teria ido direto ao deposito! – respondo com frieza, coloco a caneta em sua mesa com força e me apoiando nela com as duas mãos digo olhando para ele e ainda com frieza – Quero você fora do meu Hospital imediatamente, aqui está sua caneta...assina sua demissão com ela! – me ergo e cruzo os braços com autoridade

- Eu estou sendo demitido!? – ele pergunta surpreso e ficando pálido

- Achou mesmo que fosse ser promovido depois de hoje!? Não seja patético. – eu respondo com deboche e com pose de autoridade.

Viro as costas e saio da sala batendo a porta, entro no almoxarifado e comemoro dançando sozinha, tiro me jaleco e o giro no ar dançando sozinha e muito feliz, me recomponho saio dali com expressão neutra e volto para meu andar como se nada tivesse acontecido, mas antes de ir de fato ao meu andar passo no quarto onde Miguel estava internado, fico esperando ele acordar, faço carinho no rosto perfeito dele e me afasto, sentada em uma poltrona, ouço ele respirar fundo e vejo seus olhos se abrindo lentamente, me aproximo e digo sorrindo:

- Seja bem vindo de volta!

- Eu morri!? – Miguel me pergunta ainda meio grog, eu sorrio levemente e respondo

- Se eu disse que você está de volta, é porque você ainda vivo, gênio! – respondo sorrindo feliz e serrando os olhos

- Carinhosa como uma metralhadora!

- Desculpa! – eu sorrio e afino mais a minha voz só para irritar ele – como se sente dr Miguel!?

- Sabe que eu odeio quando você faz isso. – ele ri ainda de olhos fechados e com a voz meio arrastada

- Eu sei...agora é serio como se sente Miguel? – pergunto extremamente preocupada com meu amigo.

- Chega mais perto eu não mordo – me aproximo e ele diz em meu ouvido – Só se você pedir!

- Já percebi que está bem! - tento me afastar e ele me rouba um beijo de tirar o fôlego, me afasto interrompendo o beijo e me com a respiração ofegante eu me abano – já vi que está ótimo! – arrumo o batom e saio do quarto imediatamente.

Eu estava ainda meio atordoada pelo misto de informações em dia só, eu nunca havia pensado em gostar de alguém tão rápido depois do que aconteceu, volto para o posto do trauma ainda meio sem entender o que havia acabado de acontecer, um sorriso lutava para sair em meu rosto, eu tentava disfarçar mas era quase impossível, Cintia então se aproxima e me olha com malicia antes de perguntar:

- Amiga viu o passarinho verde!? e esse sorrisão ai!?

- É comigo!? – pergunto rindo de nervoso e apontando para mim.

- Vem comigo agora e me conta o que houve! – ela pega na minha mão e sai me puxando até sua sala.

Assim que entramos ela fecha a porta, e era possível ver seus olhos brilhando pelos simples fato de algo ter me deixado um pouco nervosa e constrangida, eu mal consigo falar de tanto rir de nervoso, as duas rindo igual duas malucas, Felícia entra na sala sendo guiada pelas risadas, ela confusa pergunta o motivo da risada e logo me recomponho, mas o sorriso ainda estava em meu rosto:

- Miguel me beijou...e que beijo! – termino de falar e dou uma leve mordida nos lábio inferior revirando meus olhos.

As duas ficam boquiabertas e sem nenhuma palavra a dizer, Felícia se senta na maca e Cintia em sua cadeira, nós três ficamos em silencio apenas nos entreolhando, até que Cintia diz chocada com a noticia:

- Eu estou bege!...Felícia, meus cem reais – ela estende a mão para sua irmã que ainda não havia digerido a informação.

- Droga! – Felícia tira o celular do bolso e faz uma transferência para sua irmã, eu olho as duas e rio antes de perguntar.

- Vocês apostaram em mim!?

- Na realidade apostamos quem ia beijar quem primeiro...e aparentemente eu ganhei, como sempre faço! - Cintia responde com satisfação.

- Como vocês chegaram a essa aposta pelas minhas costas!?

- Lembra o dia do jantar de aniversário do seu irmão!? que você estava sentada do lado dele e não paravam de se olhar...depois que fomos para casa apostei com minha querida irmã quem beijaria primeiro...e eu perdi, mas era para ser segredo.

- Cintia, pode me passando metade do dinheiro! – digo pegando meu celular e enviando meus dados bancários para ela.

- Por que eu faria isso!? – ela me entrega um olhar malicioso.

- Eu tenho o direito, a esse dinheiro! – respondo rindo

            
            

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