- Então você deve ser o nosso querido Anthony. - me abaixei, colocando as mãos nos joelhos para ficar à altura do garoto, que sorria travesso para nós.
- Sim. Ei, eu falo a sua língua! - Disse a última frase em português.
A boca de Julie e a minha ficaram no formato de um "O" com a surpresa.
- Então você é uma criança prodígio? Gostei de você! - Minha amiga brincava com Anthony, batendo palminhas para ele.
- Na verdade, eu sou brasileira. - Anya disse e eu fiquei boquiaberta mais uma vez. - Ele não é fluente, são poucas as frases que ele consegue pronunciar.
Ela sorriu vendo as nossas reações.
- Eu vivo muito ocupada e Anthony se sente muito sozinho, mesmo com a babá americana. Ela é um doce, sabe, mas ele está acostumado com o calor brasileiro. Eu sempre o estou beijando, abraçando e brincando com ele quando posso. No entanto, a babá não está acostumada com isso.
- Então por isso que você optou por babás brasileiras. - Julie disse antes que ela pudesse terminar.
- Sim, e eu vi no aplicativo da agência que vocês são amigas desde crianças, então achei que seria bom para o meu filho ter duas pessoas que se gostam o bastante para ensinar as culturas brasileiras para ele.
- Anthony é uma criança adorável, tenho certeza que seremos ótimos amigos. Não é, Tony? - Eu brinquei e todos sorriram.
No carro de Anya, eu não podia acreditar. Eu admirava aquela cidade com tanta devoção que até os deuses sentiriam ciúmes. Passava os olhos por toda aquela literatura, uma verdadeira obra de arte. Eu me sentia viva, como se estivesse dentro de uma poesia, deslumbrada com os prédios, as esculturas e até mesmo as pessoas.
Finalmente!
Ao chegar na casa de Anya, após passar por um (muito chique) condomínio reservado, notei que já havia visto aquela mansão antes, então franzi o cenho em confusão.
- Tenho a impressão que já vi essa casa em algum lugar. - Julie, que parecia ler minha mente, disse.
Anya sorriu, e matou nossa curiosidade enquanto passávamos por aquela enorme porta de madeira da sua sala.
- Eu sou cinegrafista e cedi minha casa para algumas gravações de grandes filmes e séries.
Uau.
Só agora eu me lembrava em que filme eu havia visto aquela casa, eu estava prestes a deitar no chão e sair rolando, pois Chris Evans pisara naquele chão.
Magnífico.
Minha mãe morreria de inveja se soubesse em que casa eu iria morar a partir de agora.
- Então, meninas, sejam bem vindas no seu novo lar. Eu não costumo ser uma pessoa chata, então acho que vão gostar de mim. - sorriu simples.
- Me preocupo se você vai gostar de nós, por que você já tem todo o meu coração. - eu falei, sorrindo como uma tola.
Após sermos apresentadas aos nossos respectivos quartos, que são exageradamente grandes, Julie e eu surtávamos.
- A mulher é muito rica, você viu quantos empregados ela tem? E ela é tão jovem...
- Eu, particularmente, só estava pensando em como adoraria beijar aquele chão. Ah... Como eu queria ser o chão agora... Imagina ser pisado pelos Chris Evans?
- Besteira. Nem acredito que vou ser paga para morar nesse castelo.
- Não, você será paga para dar amor e carinho ao Anthony. - apontei o dedo para o seu rosto. - nós seremos. - corrigi.
- Anthony é um garoto maravilhoso, quando eu tiver um filho, quero que seja como ele.
- Por Deus, mulher, você nem deu tempo para a criança mostrar as garras!
Nossa discussão foi interrompida por batidas na porta, e eu me deparei com uma garota magra, branca e que tinha o cabelo em um tom castanho-claro.
- Oi, eu sou Aimee... É... Eu... Sou a babá do Anthony. - a pobre estava tão nervosa que mal conseguia falar. - A Anya me disse... Me disse que era pra vir conhecer vocês.
- Entre, docinho, não precisa ficar com vergonha. Nos considere suas amigas.
Em menos de meia hora de conversa, conseguimos deixar Aimee vermelha como um pimentão, de tanto rir.
- Então, docinho, como é ser empregada daquela deusa? - Julie perguntou, empolgada.
- É simplesmente maravilhoso. Quando ela está em casa, eu não preciso fazer nada, pois ela quer se dedicar ao filho o quanto pode, então me deixa aqui a vontade. Me dá presentes e sempre me leva nesses eventos em que tem várias pessoas famosas. - Julie e eu nos entreolhamos, a cada minuto que passava, ficava melhor. - Eu, como sou extremamente tímida, sempre tento me esconder das pessoas, mas eu conheci o Michael B. Jordan, eu sou apaixonada por aquele homem. Nós conversamos um pouco e tiramos fotos. Foi a melhor noite da minha vida.
- Eu já acho que não há uma alma viva nesse mundo que não seja apaixonada por ele, com todo respeito.
- Você não conta, Lizzie. Você é apaixonada por todo mundo.
- Me deixa em paz! - eu disse colocando um travesseiro em meu rosto.
- Espera aí, isso significa que vamos estar sempre perto de artistas famosos?
- Artistas como Chris Evans!? - eu gritei, jogando os braços pra cima.
- Calma aí, também não é assim! - Aimee sorriu. - A senhorita Anya só convida quem ela tem confiança. Uma vez ela chamou uma cozinheira chamada Helena para ir à uma premiação, mas ela não saía de cima do elenco the walking dead, então teve que ser retirada pelos seguranças. Anya quase perdeu o emprego, foi tenso. Depois disso ela nunca mais chamou ninguém além de mim.
- Então temos que conquistar a confiança dela, amiga! - Julie piscou pra mim e nós três caímos na gargalhada.
Minhas aulas começariam em três dias, e até agora, estava tudo maravilhoso, o que me fazia olhar torto pro universo, me perguntando se seria uma pegadinha ou se eu merecia mesmo aquilo tudo. Eu sempre morei em uma casa simples, e em boa parte da minha vida fomos só minha mãe e eu. Mas agora eu estou em uma mansão luxuosa, com tantos empregados que eu não conseguia contar nos dedos.
- Lizzie? - desperto do meu devaneio ao ouvir a voz de Henry ao telefone, estávamos em videochamada.
- Ah... Oi... É... Desculpe... O que você dizia mesmo?
- Dizia que já estou com saudades e não sei se posso aguentar isso, ficar longe de você é uma tortura!
- Ah, meu amor, eu também estou com saudades.
- Duvido que esteja, agora está rodeada de luxo. - fez drama.
- É claro que estou, mas rodeada de uma riqueza que não é minha. Eu estou aqui para conseguir o meu próprio dinheiro. Espero conseguir uma grana para que você possa vir me visitar logo.
- Não sei se poderei ir. - disse firme.
- Por que não? Não era o nosso plano desde sempre?
- Era o seu plano, não o meu. Eu estou enrolado com os treinos e não sei quando vou conseguir uma folga.
- Entendi, tudo bem. Terei que desligar agora.
Ele desligou.
É simplesmente ridículo. Antes de sair de lá, eu arquitetei todo um plano para que isso desse certo, e agora ele me dá um fora? Que merda ele acha que é para falar assim comigo? O que estava acontecendo com ele?
Ah, universo, você é mesmo cheio de brincadeiras.
Não, a culpa não era do universo. Talvez o Henry só seja um idiota.
Ou eu estava sendo egoísta.
É claro, eu saí de lá para viver a vida que sempre sonhei. Henry também tem um sonho, e eu estava o impedindo de vivê-lo.
A babaca estava sendo eu. Ai, amado Pai, teria que me desculpar com ele. Mas não hoje.