Uma Esposa Para o Mafioso
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Capítulo 2 2

Rafe decidiu não contar a ninguém para onde estava indo.

Seus irmãos teriam rido ou uivado, e certamente não havia amigos com quem pudesse discutir as maquiavélicas intrigas de don Orsini e sua interpretação da honra siciliana.

Honra entre ladrões, pensou Rafe de maneira sombria, enquanto seu avião pousava no Aeroporto Internacional de Palermo. Ele teve de pegar um voo comercial, pois Falco usara o avião dos Orsini para ir a Atenas. Mas mesmo sem o benefício de chegar com seu jato particular, ele passou rapidamente pelo Controle de Passaportes.

O humor de Rafe era negro. A única coisa que reduzia seu humor ranzinza era saber que em apenas um dia deixaria para trás aquela ridícula tarefa.

Talvez, ele pensou enquanto saía do terminal em direção ao calor do início de outono siciliano, talvez ele pudesse, em algumas semanas, pagar uma rodada de bebidas aos seus irmãos e, quando estivessem todos rindo e relaxados, ele diria: "Vocês nunca imaginariam onde estive mês passado."

E lhes contaria a história. Toda ela, começando por sua reunião com Cesare. E eles concordariam com a cabeça quando lhes descrevesse quão gentilmente disse a Chiara Cordiano que lamentava, mas que não se casaria com ela. E sim, ele seria gentil, afinal de contas, não era culpa dela.

Um peso pareceu ser removido de seus ombros.

Certo. A situação poderia não ser tão ruim quanto imaginava. Diabos, aquele era um bom dia para um passeio de carro. Ele almoçaria em alguma pitoresca pequenina trattoria no caminho para San Giuseppe, telefonaria a Freddo Cordiano e lhe diria que estava a caminho. Ao chegar, cumprimentaria a retorcida mão do velho, diria algo educado à filha dele e estaria de volta a Palermo à noite. Sua agente de viagens lhe reservara um hotel que anteriormente fora um palácio. Disse-lhe que era elegante. Ele tomaria um drinque, a seguir um jantar na sacada de sua suíte. Ou talvez fizesse uma parada no bar. As italianas estavam entre as mulheres mais lindas do mundo. Bem, não a que ele estava indo conhecer, mas à noite ela já seria passado.

Na hora em que chegou ao balcão da locadora de veículos, Rafe sorria.

Mas não por muito tempo.

Ele havia reservado um utilitário esportivo, um SUV, ou seu equivalente italiano. Em geral não gostava destes automóveis. Preferia carros mais baixos e rápidos como o Corvette que tinha em casa. Mas ele havia checado no mapa e San Giuseppe era um lugar alto nas montanhas. A estrada para lá parecia mais ser uma trilha para cabras do que qualquer outra coisa, então ele decidiu pela tração de um SUV.

O que esperava por ele na vaga não era um SUV. Era sim o tipo específico de carro que ele realmente desprezava. Aquela grande monstruosidade americana, um modelo há muito da preferência de seu pai e amigos.

Um Mobster Special, um carro de gângster.

A balconista deu de ombros e disse que deveria ser um erro de comunicação mas, scusi, era tudo que tinha disponível.

Perfeito, pensou Rafe ao sentar ao volante. Um filho de gângster, em uma tarefa de gângster, dirigindo um carro de gângster.

Só lhe faltava um charuto gordo entre os dentes. Era o fim do bom humor.

E as coisas não ficaram melhores após isso. Ele fora muito generoso ao chamar de trilha de cabras àquela faixa de terra esburacada, com o escarpado da montanha de um lado e um vertiginoso desfiladeiro em direção ao vale do outro.

Aquilo estava mais para um desastre anunciado.

Dezesseis quilômetros. Trinta. Cinqüenta, e ele ainda não vira outro carro. Não que estivesse reclamando. Não havia espaço para dois carros. Não havia sequer espaço para...

Alguma coisa negra pulou do meio das árvores para o meio da estrada.

Rafe xingou e pisou no freio. Os pneus lutaram para manter a aderência, o carrão deslizando de um lado a outro. Ele precisou de toda sua habilidade para freá-lo. Quando finalmente conseguiu, o capô estava a milímetros do vazio que se estendia por sobre o vale.

Ele ficou absolutamente imóvel. Suas mãos, agarradas ao volante, tremiam. Ele podia ouvir o leve tiquetaquear da ventoinha de resfriamento e a batida de seu próprio coração.

Gradualmente, o barulho da ventoinha diminuiu. Seu coração desacelerou. Ele puxava ar para os pulmões. O.k. A coisa a se fazer agora era dar ré, com bastante cuidado...

Alguma coisa bateu na porta do carro. Rafe se virou em direção à janela semiaberta. Lá estava um cara obviamente fantasiado para um Halloween antes da época. Camisa negra. Calça negra. Botas negras.

E um antigo e negro revólver de cano longo, apontado diretamente para a cabeça de Rafe.

Ele ouvira histórias de bandidos de estrada da Sicília e rira delas, mas somente um idiota riria desta situação.

O homem deu uma sacudidela com o revólver. O que significava? Sair do carro? Droga, não. Rafe não faria isto. O revólver sacudiu de novo. Ou estava tremendo? O cara estava tremendo? Sim, ele estava. E isso não era bom. Um ladrão nervoso e armado...

Um ladrão nervoso, de cabelos brancos e escassos e olhos remelentos. E manchas de idade na mão que segurava o revólver.

Que maravilha. Ele seria assaltado e morto pelo avô de alguém.

Rafe pigarreou.

- Calma, vovô - disse, mesmo sendo ínfimas as chances de que o velhinho entendesse uma palavra de inglês. Ele ergueu as mãos, mostrou que estavam vazias, e lentamente abriu a porta. O bandido chegou para o lado e Rafe saiu, cuidadosamente contornando a beirada da estrada e o desfiladeiro além dela. - Você fala inglês? - Nada. Ele buscou no fundo de sua memória - Voi, hã, voi parlate inglese!

- Certo, olhe, vou tirar minha carteira do bolso e dá-la a você. Daí voltarei para o carro e...

O revólver fez um arco no ar. Rafe tentou não piscar quando ele passou na frente de seu rosto.

- Cuidado, vovô, ou esta coisa periga disparar. O.k., aqui vai minha carteira...

- Não!

A voz do velho tremeu. Voz tremida. Mão tremida. Isto estava ficando cada vez melhor. Seria uma história ainda melhor que a que planejara contar a seus irmãos, isso se vivesse o bastante para contá-la.

- Caiofuora!

Caiofuora? O que isso queria dizer? O nome do velho, talvez. Mas não parecia uma palavra italiana ou siciliana.

O velho cutucou o abdômen de Rafe com o cano da pistola. Rafe cerrou os olhos.

Outro cutucão. Outro rouco "Caiofuora" e, droga, agora já era o bastante. Rafe segurou o revólver pelo cano, sacou-o dos dedos tremidos do bandido e o jogou no abismo.

- O.k. - disse, avançando sobre o velho. - O.k., agora cheg... uhn!

Alguma coisa o atingiu, forte, por trás. Era um segundo ladrão, envolvendo seus braços no pescoço de Rafe e montando em suas costas. Rafe pegou seu atacante pelos braços e lhe deu uma gravata que soltou-o de si, o ladrão rosnou, lutou, mas era um peso leve, e Rafe o contornou e o prendeu pelos pulsos com suas mãos...

Maldição, aquele ali era apenas uma criança. Não apenas peso leve, mas peso mosca. O menino também se vestia todo de preto, desta vez com um velho chapéu de feltro de abas largas que escondia seu rosto.

Era um peso mosca, mas era um lutador.

O menino o atacava de todos os lados, chutando, tentando unhá-lo, diabos, tentando mordê-lo! Rafe jogou o rapaz a seus pés.

- Pare - gritou.

O menino resmungou alguma coisa incompreensível em resposta, ergueu um joelho e mirou no meio das pernas dele. Rafe girou e se afastou.

- Você é surdo menino? Eu disse pare! Evidentemente, pare não se traduzia bem, pois o menino não parou. Ele partiu para cima de Rafe, o velho juntando-se à briga e golpeando-o com o que parecia ser um pequeno galho de árvore.

- Ei - disse Rafe, indignado. Não era assim que as coisas deveriam ocorrer. Ele era o cara durão ali, e caras durões não levam surras de meninos e velhos. Ele sabia perfeitamente bem que poderia encerrar aquele ataque, apenas alguns bons golpes resolveriam, mas só a imagem de bater no matusalém e em um delinqüente juvenil já lhe parecia repulsiva.

- Olhe - disse com sensatez -, vamos resolver isto. Vovô, abaixe o pau. E você, menino, vou soltar você e...

Péssima decisão. O menino mirou com o joelho novamente. E desta vez acertou Rafe naquele lugar com uma precisão devastadora. Rafe, gemendo de dor, preparou seu punho e acertou um cruzado de direita no maxilar do menino.

Devia ter sido um bom golpe, pois o menino caiu nocauteado.

Ainda tentando respirar, Rafe se voltou para o velho.

- Me escute - disse, respirando com dificuldade... O galho de árvore o acertou na nuca. E Rafe caiu ao lado do menino.

Ele despertou lentamente.

Ah, Deus, sua cabeça doía. O matusalém lhe acertara a cabeça, o menino tinha lhe dado uma joelhada. Ele havia sido total e completamente humilhado. Será que o dia poderia piorar?

O velho estava sentado na estrada, segurando o menino em seus braços, o balançando, falando com ele em um siciliano rápido e aparentemente aflito. Ele sequer olhou para cima enquanto Rafe dolorosamente se punha de pé.

- O.k. - ele disse irritado, - O.k., velho. Levante-se. Está me ouvindo? Deixe o menino e levante-se. - O velho o ignorou. Rafe abaixou-se e agarrou o longo e fino braço do velho - Eu disse, levante-se!

- Caiofuora! - gritou o velho. E, de repente, as palavras fizeram sentido. O que ele estava dizendo era caia fora. Bem, diabos, ele certamente obedeceria. Mas primeiro tinha de se certificar que o menino estava bem. Evitar que esta dupla incomum o roubasse era uma coisa, matá-los era outra totalmente diferente.

Rafe empurrou o bandido para o lado e foi em direção ao menino desmaiado, levantou-o com o antebraço. O menino gemeu, seu chapéu caiu e...

E o menino não era realmente um menino.

Ele era... ela era uma menina. Não. Não uma menina. Uma mulher de rosto oval, pálido e uma sedosa e longa cabeleira negra. Ele havia nocauteado uma mulher. E tinha imaginado se o dia poderia piorar...

Cuidadosamente ele a pegou em seus braços, ignorou o velho que puxava sua manga e a carregou para o lado da estrada que dava para a montanha. A cabeça da jovem pendeu para trás. Ele podia ver-lhe o pulso batendo rápido nas delicadas fendas do pescoço. O ângulo em que o corpo dela estava fazia com que os seios pressionassem a grossa lã de seu blusão.

Ele a sentou sobre a encosta coberta de capim. Ela ainda estava inconsciente.

E era também incrivelmente linda.

Somente um canalha notaria isso num momento daqueles, mas somente um tolo não notaria. Seu cabelo não era apenas escuro, era da cor de uma noite sem nuvens. Suas sobrancelhas eram delicadas asas sobre os olhos fechados, seus cílios sombras negras contra maçãs de rosto angulosas. Seu nariz era reto e fino sobre uma boca rosada.

Rafe sentiu um movimento de desejo no baixo ventre. Isso não era incrível? Desejo por uma mulher que tentou emasculá-lo, que serviu de ajudante para um velho armado de revólver..

E que agora se prostrava indefesa ante ele.

Droga, pensou e a segurou pelos ombros, sacudindo-a.

- Acorde - disse com força. - Vamos, abra os olhos.

Os cílios dela tremeram e então se ergueram lentamente, e ele percebeu que os olhos dela mais que se igualavam ao resto de seu rosto. A íris não era azul, mas da cor de violetas em flor. Seus lábios estavam entreabertos. A ponta de sua língua, delicada e rosa, cruzou por sua boca.

Desta vez, o desejo que se movia em sua virilha o fez se apoiar nos calcanhares. Só isto era preciso? Estar em solo siciliano era o que bastava para revertê-lo aos instintos bárbaros de seus ancestrais?

A clareza retomava aos olhos dela. Ela pôs a mão no maxilar, teve um sobressalto e o fitou com um olhar cheio de ódio.

Aqueles suaves lábios rosados revelaram pequenos e perfeitos dentes brancos.

- Stronzo - ela resmungou.

Era uma palavra que qualquer menino que houvesse crescido em uma casa onde adultos falassem italiano com freqüência certamente entenderia, e isso o fez dar uma risada. Grande erro. Ela se sentou, repetiu a palavra e tentou golpeá-lo no maxilar. Ele se desviou sem esforço e ela tentou novamente. Ele prendeu as mãos dela nas suas.

- Esta é uma péssima idéia, baby. Ela sibilou com os dentes e lançou um olhar ao velho por sobre o ombro de Rafe. Rafe balançou a cabeça.

- Outra péssima idéia. Se você mandá-lo chegar perto, ele sairá machucado. - O desprezo era visível nos olhos dela. - Tá, eu sei. Você deduziu que ele me acertou na primeira vez mas, olhe, é o seguinte. Eu não me deixo acertar uma segunda vez. Está entendendo? Uma seqüência de palavras voou dos seus lábios. Rafe entendeu algumas, mas não era necessário um diploma de italiano para compreender o significado. O olhar dela lhe disse tudo que ele precisava saber.

- Certo, também não sou seu fã. Esta é a maneira como você e o vovô aqui recebem as visitas? Vocês os assaltam? Seqüestram seus carros? Talvez os joguem abismo abaixo?

A boca da jovem se apertou, quase como se houvesse entendido o que ele disse, mas é claro que não. Não que isto importasse. A questão era, o que ele faria com aquela dupla? Deixá-los aqui era seu primeiro instinto, mas... será que ele não deveria avisar as autoridades? Sim, mas ele havia ouvido histórias sobre a Sicília e seus tiras. Talvez esta dupla fosse o equivalente italiano de Robin Hood e João Pequeno... salvo que neste caso João Pequeno era, na verdade, a donzela Marian.

A mulher tinha uma leve marca no maxilar, no lugar onde ele a havia acertado. Ele nunca batera em uma mulher na vida, e aquilo o perturbava. Talvez ela pudesse precisar de cuidados médicos. Ele não achava que fosse o caso, não pela forma como ela estava agindo, mas sentiu-se um pouco responsável por ela, mesmo tendo feito o que fez apenas para se proteger.

Ele podia se ver dizendo ao juiz local: "Veja bem, meritíssimo, ela me atacou. E eu a acertei em legítima defesa."

Era a verdade absoluta, mas isso só levaria os nativos às risadas. Ele tinha l,92m de altura, pesava mais de l00kg. E ela tinha... o quê? l,70m? E provavelmente pesava uns 54kg a menos que ele.

O.k. Ele levaria a dupla para casa. Talvez o que acontecera lhes servisse de lição.

Rafe pigarreou.

- Onde você e o vovô moram?

Ela o encarou, com o queixo levantado em tom de desafio.

- Hã, dove è... dove è sua casa? Sua casa? A mulher sacudiu a mão para se soltar. Olhou fixamente para ele. Ele olhou-a fixamente de volta.

- Estou disposto a levar você e o vovô para casa. Está entendendo? Sem tiras. Sem apresentar queixa. Só não desafie a própria sorte.

Ela riu. Era aquele tipo de risada que fez com que Rafe cerrasse os olhos. Quem diabos ela pensava que era? E do que achava que podia rir? Ela o atacara, sim, mas fora ela quem perdera a luta. Agora ela estava lá, no meio do nada, a mercê de um homem o dobro de seu tamanho. Um homem que estava irritado como o diabo. Ele não precisaria de sequer um segundo para mostrar a ela quem estava no comando, mostrar que ela estava a sua mercê, que ele precisaria apenas segurar firmemente aquele perfeito e lindo rosto com suas mãos, colocar a boca contra a dela, e ela pararia de olhar para ele com tamanho desprezo, tamanha frieza, tanta raiva.

Um beijo, apenas um, e a boca da moça suavizaria. A rigidez de seus músculos daria lugar a uma sedosa submissão. Seus lábios se entreabririam, ela envolveria seus braços ao redor do seu pescoço e sussurraria para ele. E ele entenderia o sussurro, pois um homem e uma mulher não precisam falar a mesma língua para conhecer o desejo, para transformar a raiva em algo mais quente e selvagem...

Rafe pulou em pé. - Levante-se - rosnou. Ela não se mexeu. Ele fez um gesto com a mão.

- Eu disse, levante-se. E você, velho, entre na parte de trás do carro.

O velho não se mexeu. Ninguém se mexeu. Rafe se inclinou para a mulher.

- Ele é velho - disse calmamente -, e realmente não desejo ser violento com ele. Então por que você não pode apenas dizer a ele para fazer o que mandei?

Ela o entendeu. Ele podia ver em seu rosto. Rafe deu de ombros.

- O.k., façamos do pior jeito.

Os olhos violáceos brilharam. Ela se levantou, balbuciou uma série de palavras e o velho concordou com a cabeça, foi até o carro e subiu na parte de trás.

Rafe apontou o dedo para o carro.

- Agora você.

Uma última olhada raivosa. Então ela se virou, marchou em direção ao carro e começou a subir ao lado do velho.

- O assento de passageiro. - Rafe estalou os dedos. - Na frente.

Ela disse algo. Algo que mulheres não diziam, mesmo as meninas de rua da infância dele.

- É anatomicamente impossível - ele respondeu friamente.

O rosto dela corou. Bom. Ela de fato entendia inglês, ao menos um pouco. Isto facilitaria as coisas. Ela entrou no carro. Ele bateu a porta após ela, deu a volta em direção ao lado do motorista e pôs-se atrás do volante.

- Você mora quantos quilômetros montanha acima? Ela cruzou os braços.

Rafe rangeu os dentes, ligou o carro, afastou-se cuidadosamente do desfiladeiro íngreme e continuou a subir a estrada em silêncio. Minutos e quilômetros se passaram. E quando ele já quase havia perdido a esperança de reencontrar a civilização, um vilarejo surgiu. Uma placa de madeira aparentando estar lá desde o início dos tempos anunciava o nome do locai. San Giuseppe.

Ele parou o carro e vislumbrou pela primeira vez a Sicília de seu pai.

Rafe engrenou a marcha. A mulher ao seu lado balançou a cabeça e foi em direção à porta.

- Você quer sair?

Ela levantou o queixo de maneira arrogante, o que deixou à vista a ferida que ele lhe produzira. A culpa o torturou e ele inspirou profundamente.

- Ouça - disse. - Sobre seu maxilar...

Outro lampejo daqueles olhos violáceos quando ela se virou para ele.

- É, eu sei. Acredite-me, o sentimento é mútuo. Tudo que estou tentando dizer é que você devia colocar um pouco de gelo neste machucado. Vai diminuir o inchaço. E tome uma aspirina. Você sabe o que é aspirina? As-pi-ri-na - ele disse, sabendo o quão imbecil deve ter parecido, mas não conhecendo nenhuma outra maneira de transmitir a mensagem.

De repente, ela deu uma ordem. O velho respondeu. Seu tom sugeria que ele protestava, mas ela repetiu a ordem. Ele suspirou, abriu a porta do carro e desceu.

Rafe segurou-a pelo ombro enquanto ela se movia para seguir o velho.

- Você entendeu o que eu disse? Gelo. E aspirina. E...

- Entendi cada palavra - ela disse friamente. - Agora veja se você entende signor. Caia fora. Está me ouvindo? Caia fora, como Enzo lhe disse para fazer.

Rafe a encarou.

- Você fala inglês?

- Falo inglês. E italiano. E o dialeto siciliano. Você obviamente não. - Aqueles olhos deslumbrantes cerraram-se até que apenas um talho de cor aparecesse. - Você não é bem-vindo aqui. E se você não sair por conta própria, Enzo fará com que você saia.

- Enzo? Quer dizer o vovô? - Rafe riu. - Isto é que chamo de ameaça, baby.

- Ele é mais homem do que você jamais será.

- É mesmo? - disse Rafe, sua voz ficando mais grave e perigosa. E, sem pensar, ele pegou-a pelos ombros e a levantou por sobre o painel, em direção a seu colo. Ela lutou, golpeou-o com os punhos, mas ele estava preparado. Pegou-lhe as duas mãos com apenas uma das dele, passou a outra mão pelo cabelo dela, inclinou-lhe a cabeça para trás e beijou-a.

Beijou-a como havia imaginado beijá-la, lá atrás na estrada. Ela lutou, mas sem resultado. Ele fervia de fúria e humilhação...

Fervia com a sensação de tê-la contra seu corpo. A boca macia contra a sua. Os seios, tentadores, contra a dureza de seu próprio tórax. As nádegas arredondadas se acomodando em seu colo.

O corpo dele reagiu quase imediatamente, seu sexo inchando de tal forma que teve certeza de que nunca o sentira tão grande ou pulsando com tamanha urgência. Ela sentiu isso acontecer, como poderia não haver sentido? Ele a ouviu emitir um gritinho de choque, sentiu o murmúrio contra sua boca. Os lábios dela estavam abertos e tentava mordê-lo, mas ele voltou a tentativa contra ela, usando isto como oportunidade para beijá-la mais fundo, para colocar sua língua mais dentro do sedoso calor da boca dela. Ela arfou novamente, fez um pequeno som de aflição... E então algo aconteceu.

A boca dela suavizou-se contra a dele. Adoçou-se. Tornou-se quente e desejosa, e o fato de saber que poderia tê-la aqui, agora, fez com que o corpo dele, já duro, se tornasse como de pedra. Soltou-lhe os pulsos, colocou a mão sob o blusão que ela usava e segurou o delicado peso do seio...

Os dentes dela se afundaram em seu lábio.

Rafe jogou-se para trás e pôs a mão na pequena ferida. Seu dedo saiu portando uma gota rubra.

- Porco - ela disse, com a voz tremendo. - Isto não se faz, porco sujo!

Ele a encarou, viu os olhos chocados, a boca tremendo, e recordou-se de seu pai lhe dizendo que qualquer homem pode penetrar na escuridão de uma paixão avassaladora.

- Ouça - ele disse. - Ouça, eu não quis...

Ela abriu a porta e disparou para fora do carro, mas não sem antes lhe lançar uma série de impropérios sicilianos.

Diabos, ele pensou, tirando o lenço do bolso e o passando contra os lábios. Talvez ele merecesse aquelas palavras.

            
            

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