Uma Esposa Para o Mafioso
img img Uma Esposa Para o Mafioso img Capítulo 4 4
4
Capítulo 6 6 img
Capítulo 7 7 img
Capítulo 8 8 img
Capítulo 9 9 img
Capítulo 10 10 img
Capítulo 11 11 img
Capítulo 12 12 img
img
  /  1
img

Capítulo 4 4

Era como estar preso em um pesadelo. Em um momento Rafe estava para dizer o floreado pedido de desculpas de seu pai. No seguinte...

No seguinte, Chiara Cordiano estava caída tão mole quanto um saco de roupas em seus braços.

Estaria ela fingindo? A mulher era uma atriz de alta categoria. Primeiro um bandido durão, depois uma comedida Siciliana, quando na verdade era tudo menos comedida.

Momentos atrás, ela o havia atacado com a ferocidade de uma leoa.

E houve aquele fervente momento de calor sexual.

Ah sim, a moça era uma atriz infernal e esta era sua melhor atuação até agora. Alegar que ele tentara seduzi-la. Ele a havia beijado, era tudo, e beijar não era o mesmo que seduzi-la.

O don conteve seu capo com a mão em seu braço e uma série de ordens bruscas. Rafe sabia que o Homem-suíno queria matá-lo. Deixe que tente. Ele estava mais do que com disposição para cair em cima daquela carga de banha.

Antes de tudo, a mulher em seus braços tinha de abrir os olhos e admitir que havia mentido.

Ele olhou ao redor, caminhou até um sofá coberto com bordados e deixou-a cair sem cerimônia sobre o local.

- Chiara - disse com força. Sem resposta. - Chiara - repetiu, e a sacudiu.

Cordiano foi até um armarinho de mogno, pôs conhaque em uma grossa taça de cristal e a estendeu. Rafe pegou a taça, passou o braço pelos ombros de Chiara, levantou-a e tocou seus lábios com a borda da taça.

- Beba.

Ela gemeu suavemente. Cílios grossos e negros tremeram e lançaram sombras sobre sua pele leitosa. Mechas de cabelo escaparam do horrível coque e caíram sobre suas bochechas, delicadamente encaracoladas.

Ela aparentava uma fragilidade quase inacreditável.

Mas não. Ela era afiada como uma navalha e esperta como uma raposa.

- Vamos lá - ele disse com força. - Abra os olhos e beba.

Os cílios dela tremeram novamente, então se abriram. Ela o encarou, suas pupilas fundas como uma noite sem luar e envoltas por uma borda de pálido violeta.

- O que... o que aconteceu? Bom. Simples mas bom.

- Você desmaiou. - Ele sorriu friamente. - E bem no momento ensaiado.

Havia um olhar de desafio passado naqueles extraordinários olhos? Ele não tinha certeza. Ela se inclinou à frente, calma, seus dedos pálidos por cima dos dedos bronzeados dele enquanto punha a boca na taça.

- Agora que está novamente de volta entre os vivos, que tal contar a verdade para seu pai?

- A verdade sobre... - O olhar confuso foi de seu pai até Rafe, - Oh! - Ela suspirou e seu rosto enrubesceu.

Rafe cerrou os olhos. As reações dela não podiam ser reais. Não aquele desmaio vitoriano, não seu comportamento a respeito do que acontecera no carro. Por Deus, ele só a beijara. Era isso. Ele a trouxera a seu colo e a beijara e, certo, ela acabara por mordê-lo, mas somente após ter reagido ao beijo, após ele ter ficado rijo como pedra, ela ter sentido isso e...

E ele ter agido como um idiota. Que diabos se passara com ele? Ele estivera furioso, mas raiva não tem nada a ver com sexo... certo?

- Don Cordiano - ele disse com cuidado -, eu beijei sua filha. Lamento se a ofendi.

- E eu devo aceitar suas desculpas?

O tom de voz do don era arrogante. Fez com que Rafe se eriçasse.

- Não estou pedindo que você aceite - desse irritado e voltou-se para Chiara. - Não devia tê-la beijado. Se a assustei, me desculpe.

- Talvez você pudesse me explicar como conseguiu se encontrar com minha filha antes de se encontrar comigo.

Talvez ele pudesse, Rafe pensou, mas ele jamais ficaria de pé ali e admitiria que fora quase derrotado por um arremedo de mulher e um velho. Além disso, aquela parte da história pertencia à filha de Cordiano, ele pensou com crueldade, e então olhou novamente para ela.

Que se danasse tudo aquilo.

- É sua vez, signorina - disse Rafe friamente. Chiara sentiu o coração disparar. O americano estava certo.

Era o momento dela dizer:

- Você entendeu errado, papa. Este homem não me "encontrou", não da maneira como faz parecer. Eu o parei na estrada e tentei assustá-lo para que fosse embora.

Que piada!

Ao invés de assustá-lo, ela o trouxe diretamente a San Giuseppe. E ela não poderia explicar isto, não sem contar tudo a seu pai, o que significaria ter de contá-lo a respeito de Enzo.

Não importassem as conseqüências, expor a parte de Enzo nesta bagunça seria fatal.

Ela conhecia bem seu pai. Ele baniria Enzo de San Giuseppe, o local onde o velho passara toda sua vida. Ou, o coração dela pulou para sua garganta, ou Enzo poderia sofrer um acidente infeliz, uma frase que já ouvira seu pai usar no passado.

- Papa. O signor Orsini e eu nos encontramos quando eu... quando eu...

- Silêncio - urrou seu pai. - Isto não é com você. signor Orsini? Exijo uma explicação.

- Exige? - disse Rafe suavemente.

- Com certeza. Estou esperando você explicar suas ações.

- Eu não me explico para ninguém - disse o americano friamente.

O pai dela endureceu.

- Você vem aqui para me suplicar perdão por um insulto de meio século. Em vez disso me insulta novamente.

- Também não suplico. Ofereci-lhe as desculpas de meu pai, e pedi desculpas a sua filha. Pelo que me consta, isso encerra nossos negócios.

Chiara prendia a respiração. O aposento parecia haver petrificado e os lábios de seu pai pareciam curvados em algo que supunha-se fosse um sorriso. Mas não era, ela sabia.

Ainda assim, o que ele disse a seguir a surpreendeu.

- Muito bem. Você é livre para partir

O americano concordou cora a cabeça. Ele seguiu para a porta enquanto seu pai andou em direção a ela.

- De pé - grunhiu ele

Raffaele Orsini já havia aberto a porta, mas parou e se virou ao ouvir as palavras do pai dela.

- Vamos deixar uma coisa clara, Cordiano. O que aconteceu... eu ter beijado sua filha... não foi culpa dela.

- O que diz não significa nada aqui. Agora saia. Chiara. Levante-se.

Chiara pôs-se lentamente de pé. Ela sabia que, se fosse homem, ele a machucaria. Algum arcaico senso de moral sempre evitara que isso acontecesse.

Ainda assim, ele não deixaria que aquilo passasse em branco. Uma mulher deveria defender sua honra até o último suspiro.

Ela não o havia feito.

Os olhos do pai se fixaram nos dela.

- Giglio! - ele gritou.

- Si, don Cordiano?

- Ouviu tudo?

- Si. Ouvi.

- Então sabe que minha filha perdeu a honra. Rafe ergueu as sobrancelhas.

- Ei, espere aí um maldito minuto...

- Todos estes anos em que a criei com carinho...

- Você nunca me criou - disse Chiara, sua voz tremendo. - Babás. Governantas...

Seu pai a ignorava.

- Eu cuidei para que ela se mantivesse virtuosa e guardasse sua castidade para o leito nupcial.

- Papa. Do que está falando? Não perdi minha castidade! Foi apenas um beijo!

- E hoje ela escolheu jogar fora sua inocência. - A boca do don se contorcia - Tal desonra trazida a minha casa!

- Eu trouxe desonra a esta casa?

O don a ignorou. Sua atenção estava no capo.

- Giglio - disse -, meu velho amigo. O que devo fazer?

- Espere um minuto - disse Rafe, indo em direção ao don. - Escute-me, Cordiano. Você está transformando isto em algo que nunca ocorreu. Eu beijei sua filha. Mas com certeza não a desvirginei!

- Aqui não é a América, Orsini. Nossas filhas não ostentam os corpos. Elas não se deixam ser tocadas por desconhecidos. E não estou falando com você. Estou falando com você, Giglio, não com este... este straniero. Não posso sequer culpar a ele pelo ocorrido. Estrangeiros não sabem nada de nossos costumes. A culpa foi de minha filha, Giglio. E agora, o que devo fazer para restaurar a honra de nossa família?

- O.k. - Rafe disse rapidamente. - O.k., Cordiano, diga-me o que faço para terminar com esta maluquice. Você quer que eu dirija minhas desculpas a você? Considere feito. O que aconteceu foi totalmente culpa minha. Eu me arrependo. Não quis ofender sua filha ou a você. Pronto. Satisfeito?

Era como se não tivesse dito nada. Cordiano sequer olhou para ele. Ao invés disto, abriu seus braços de maneira suplicante para seu capo.

Giglio suava. E, de supetão, Rafe percebeu para onde aquele pesadelo estava indo.

- Espere um minuto - disse, mas Cordiano pôs sua mão nas costas de Chiara e a mandou voando para os gordos braços de seu capo.

- Ela é sua - disse em tom de desgosto. - Apenas tire-a de minha vista.

- Não! - O grito de Chiara ecoou pelo aposento. - Não! Papa, você não pode fazer isso!

Cordiano pegou o telefone de sua mesa de trabalho. O italiano de Rafe era ruim, seu siciliano ainda pior, mas ele não precisava de um tradutor para entender o que o homem dizia.

Ele organizava o casamento de Chiara com o Homem-suíno.

Chiara, que entendeu cada palavra, ficou branca.

- Papa. Por favor, por favor, eu lhe suplico...

Basta, pensou Rafe. Arrancou o telefone das mãos de Cordiano e o arremessou através da sala.

- Isto não vai acontecer - grunhiu.

- Você não é ninguém aqui, signor Orsini.

Os lábios de Rafe se apertaram em um frio sorriso.

- É aí que você se engana. Eu sou alguém. É hora de você entender isto. Chiara! Afaste-se do porco e venha para mim.

Ela não se moveu. Rafe tirou os olhos de Cordiano o bastante para dar uma olhada nela. Soltou um palavrão sob um suspiro. O desmaio anterior provavelmente tinha sido falso. Este agora não seria. Ela não estava apenas pálida, estava transparente.

- Giglio. Deixe a moça.

Nada. Rafe tomou fôlego e enfiou a mão no bolso, agarrou seu BlackBerry e o esticou para a frente para criar um volume no bolso. Como esperava, os olhos do capo seguiram o movimento.

- Faça isso - ele disse por entre os dentes -, e você poderá sofrer um infeliz acidente.

Era tudo de que precisava. Os braços do porco caíram para os lados.

- Chiara. Venha para cá.

Ela cruzou a sala lentamente, seus olhos nunca deixando os dele. Ao alcançá-lo, ela tremia como uma muda de árvore durante uma ventania. Os dedos dele sentiram que a pele dela suava. Ele a enlaçou pela cintura dela e a segurou contra si.

- Está tudo bem - disse com suavidade.

Ela concordou com a cabeça. Ainda assim ele conseguia ouvir os dentes dela batendo.

- Está tudo bem - disse ele novamente. - Tudo vai ficar bem.

Ela olhou para ele. Os olhos brilhando com lágrimas prontas a escorrer, e balançou a cabeça.

- Não - disse ela, tão baixinho que ele mal pôde ouvi-la. - Meu pai me dará a Giglio.

- Ele não o fará. Eu não deixarei. Ela inspirou fundo e devagar. Tão profundamente que ele podia ver os seios se elevando, mesmo por debaixo daquele vestido negro sem forma.

- Ele fará o que quiser, signor Orsini, assim que você partir.

Estaria ela certa? Era isto apenas uma trégua temporária? Claro que ela estava certa. Assim que ele fosse embora o don a forçaria a casar-se, se não com o desgraçado Homem-suíno, então com qualquer outro.

Chiara Cordiano seria a esposa de um ladrão e assassino. Ela se deitaria sob ele em seu leito nupcial enquanto ele forçaria os joelhos dela a se afastarem, gemeria e se enfiaria fundo dentro dela...

- Está bem - disse Rafe, suas palavras em voz alta naquela sala petrificada.

Cordiano arqueou uma sobrancelha.

- Está bem o quê, signor Orsini?

Rafe inspirou profunda e quase infinitamente.

- Está bem - disse secamente. - Eu me caso com sua filha.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022