Uma Esposa Para o Mafioso
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Capítulo 5 5

O jato particular que Rafe alugou voava rapidamente pela noite escura.

Ele o alugara no aeroporto em Palermo. A alternativa, uma espera de seis horas por um voo comercial para casa, lhe pareceu impossível.

O avião era bem parecido com o luxuoso modelo que ele e seus irmãos possuíam. Piloto e copiloto haviam sido altamente recomendados, a comissária de bordo era agradável e eficiente. Certificara-se de que ele estava confortável, que tinha uma taça de um excelente Bordeaux na mesa ao seu lado, que o filé-mignon estivesse perfeito para o jantar, não que ele estivesse com ânimo para jantar, e então desapareceu de vista.

O voo noturno em um jato particular geralmente era um ótimo momento para se relaxar após um dia difícil.

Mas não desta vez. Um músculo na bochecha de Rafe pulsava.

Desta vez, ele não estava só.

Havia uma mulher sentada na outra fileira. Ela sentava envolta em um casaco negro, embora a cabine estivesse a estáveis 22°C. Estava sentada, imóvel, ombros para trás, espinha rígida. Da última vez em que ele havia olhado, as mos dela estavam entrelaçadas em seu colo. Era uma desconhecida, malvestida e de lábios fechados. E, por acaso, esposa dele. Esposa dele.

As palavras, o próprio conceito, eram impossíveis de se conceber. Ele, o homem que não tinha nenhum interesse em se casar, havia se casado com Chiara Cordiano. Casou-se com uma mulher que não conhecia, de que não gostava, que não queria, não mais do que ela o queria.

Como diabos ele se deixou enroscar naquela situação? Ninguém nunca o havia acusado de ser um cavaleiro salvador de donzelas, mas ele não poderia simplesmente ter ficado parado e deixá-la ser entregue ao Homem-suíno. Considerando, é claro, que isto realmente aconteceria. Rafe franziu a testa. Aconteceria mesmo? Rafe soltou um palavrão sob um suspiro. Ele havia caído em um golpe.

O pai dele queria que ele se casasse com a filha de seu velho inimigo. Freddo Cordiano queria a mesma coisa. Mas Rafe disse que não, e então Cordiano criou uma cena saída diretamente de um conto de fadas. Ou o príncipe se casava com a princesa, ou o ogro a teria.

A única dúvida era, será que Chiara estava a par de tudo?

Rafe cruzou os braços.

Como filha siciliana obediente que era, e se ela concordasse em atuar da melhor maneira possível para fazê-lo acreditar que tudo o que acontecera aquele dia fora real, a começar pela cena ridícula na estrada? Uma dupla de bandidos burlescos, parando o seu carro...

Sim. Era uma bela encenação. Tanto o pai quanto a filha sabiam que aquilo não o faria fugir, muito pelo contrário, o deixaria ainda mais determinado a chegar a San Giuseppe.

Mesmo aquele beijo no carro. A luta inicial dela contra ele, seguida daquele doce suspiro de rendição, ela suavizando os lábios, seu gosto quente e delicioso... Ele fora passado para trás.

Além dele, a única outra pessoa que não participara do golpe era Giglio. Chiara e o pai usaram o capo tanto quanto o usaram.

Prova final? A rapidíssima cerimônia de casamento. Não houve necessidade de proclamas, nenhuma formalidade além da assinatura de alguns documentos na frente de um prefeito que estava quase de joelhos aos pés do don. Meia dúzia de palavras ditas e bam! Estava pronto. Rafe se ajeitou na poltrona.

O.k. Compreendia tudo. Não que importasse. Havia casado com a mulher. Agora tinha de descasar. Próxima parada, anulação. Divórcio. O que fosse necessário. Problema resolvido.

Não que ele fosse simplesmente abandonar sua ruborizada noiva. Ele faria a coisa honrosa. Um acordo financeiro. Considerando todo o esforço de Chiara, o arrastando até ela, seria justo. Então ela poderia voltar à Sicília e ele poderia esquecer tudo sobre...

- Signor Orsini.

Ele levantou os olhos. Chiara estava de pé ao seu lado.

- Sim? Sim?

Chiara forçou-se a não mostrar nenhuma reação. Três horas de silêncio, e o melhor que Raffaele Orsini poderia responder era sim, com tal frieza que parecia acompanhada de cubos de gelo?

Ainda assim, ela tentaria não demonstrar seu descontentamento.

- Signor. Precisamos conversar.

Os olhos dele cerraram-se até se tomarem fendas azuis. Chiara queria bater o pé em fúria! Que imbecil! Acaso ele achava que ela era um gato de rua que ele recolhera? Que seria tão grata a ponto de simplesmente sentar-se quieta e deixá-lo fazer o que quisesse com a vida dela?

Sim, ela se casara com ele. Deus sabe que ela não queria tê-lo feito, mas a escolha entre ir para a América com um gângster e ficar em San Giuseppe com um assassino facilitou sua decisão.

A única surpresa foi ele ter consentido com a cerimônia, do jeito como esta aconteceu. Ela passara as últimas horas tentando descobrir uma razão. Agora, tinha várias.

Talvez ele finalmente percebera os benefícios de se casar com a filha do don. Ela não tinha nenhuma ilusão a respeito de sua atratividade feminina: era pequena como um ratinho, magricela, nem um pouco parecida com as mulheres voluptuosas que atraíam os olhares masculinos. Ela era sim um elo de ligação com o pai e, portanto, um elo de ligação ao poder.

Era hora de colocar as cartas sobre a mesa. Ela lhe disse exatamente isto.

- Bem?

Ela sabia como as coisas funcionavam com homens daquele tipo. Precisavam acreditar que estavam no comando, mesmo quando não estavam.

Ela tomou fôlego, então soltou:

- O que fez, ao pedir que me casasse com você... Ele soltou uma risada pelo nariz.

- Eu não lhe pedi nada.

- Bem, sim. Claro. O que quero dizer é, se você não houvesse proposto...

- Você continua entendendo errado, baby. Eu não propus.

- Estou apenas usando uma figura de linguagem, signor Orsini.

- E estou trazendo um fato. Não lhe pedi, não propus. - Os olhos dele cerraram-se novamente. - E ainda assim, surpresa, surpresa, aqui estamos.

Ela concordou com a cabeça, mas não fora nenhuma surpresa. Ele havia sido enviado para casar-se com ela e o fez.

- Então?

Ele estava esperando. Certo. Ela só precisava dizer isto de maneira correta.

- Aqui estamos de fato - disse educadamente. - E...

Ela hesitou. Esta era a parte complicada. O desafio seria convencê-lo de que ele havia feito tudo que precisava, que agora ele poderia dar o passo que deixaria ambos livres. Ela tinha uma pequena fortuna a lhe oferecer em troca do divórcio. A mãe havia deixado todas suas jóias. Nunca as usara. Vaidade, dizia, era um pecado. Mas mama não foi completamente não mundana. Escondera suas jóias, contou a Chiara onde encontrá-las no caso de algum dia precisar do que elas lhe pudessem comprar. O dia chegara.

As jóias estavam escondidas no fundo da pequena mala. O americano poderia ficar com todas, caso garantisse sua liberdade.

Ainda assim, ela precisava argumentar adequadamente, sem arranhar o ego de macho dele.

- E - ela continuou - não é o que eu quero. O que nenhum de nós quer.

Ele não disse nada, e ela tocou os lábios com a ponta da língua. Ao observá-la fazer isso, o estômago de Rafe se contorceu.

Ela sabia o que fazia? Era um gesto inocente ou deliberado? Ela tinha a língua rosada. Era a língua de um gatinho. Havia tocado a dele, mesmo que brevemente, e ele se lembrava da sensação sedosa.

Ela ainda falava, mas ele não a escutava mais. Rafe levantou os olhos e estudou-lhe o rosto. Brilhava de animação. Chiara tinha, como ele já reparara, belos traços.

Belos? Na verdade era linda.

Aqueles grandes olhos violáceos adornados por cílios longos e grossos. O narizinho reto perfeitamente equilibrado sobre uma boca rosada e embriagante.

Por que ela se vestia daquela maneira? Por que se mantinha tão dura? Por que confinava o que ele agora lembrava ser uma sedosa cabeleira de grossos cachos em um penteado tão pouco atraente? Era tudo aquilo uma ilusão? Uma parte do golpe?

- Por que usa seu cabelo assim?

Ele não queria ter feito a pergunta. Ela, claro, não esperava uma pergunta assim. Ainda estaria falando de uma coisa ou outra. Agora interrompera uma frase no meio e o encarava como se ele a houvesse pedido para lhe explicar uma equação de segundo grau. E então ela riu nervosamente.

- Perdão?

- Seu cabelo. Por que o prende para trás? A mão de Chiara foi até o cabelo.

- Fica... fica mais arrumado assim...

- Deixe-o solto.

A voz do americano era bruta. Seus olhos eram chamas azuis.

De repente parecia difícil respirar.

- Eu não... não vejo nenhuma razão para...

- A razão é que estou lhe dizendo para fazer - disse Rafe, e uma vozinha chocada dentro dele sussurrou: O que diabos você está fazendo?

Era uma boa pergunta.

Ela não era um homem que dava ordens a mulheres por aí. Ele explicaria, explicaria que estava brincando...

- Solte seu cabelo, Chiara - ele disse e esperou.

Os segundos se arrastavam. Então, lentamente, ela pôs as mãos no cabelo. O coque se desfez. O cabelo dela, grosso, lustroso, cacheado, caiu em suas costas.

- Assim está melhor.

Ela concordou com a cabeça. Pigarreou. cruzou as mãos sobre o colo.

- Como eu dizia...

- Está quente aqui.

Ela engoliu em seco.

- Não me parece...

- Você não precisa deste casaco. Ela olhou para si, e então para ele.

- Estou... estou confortável.

- Não seja boba. Ele chegou até ela, tomou a lapela do casaco em suas mãos - Tire-o.

Chiara sentiu seu coração pular. Ela estava sozinha com este desconhecido. Completamente sozinha, de uma maneira como nunca estivera sozinha com um homem. Com Enzo, sim. Com seu pai. Com o velho e semidemente padre de San Giuseppe. Mas isto era diferente.

Este homem era jovem. Era forte. Ele era seu marido.

Isso lhe dava direitos. Privilégios. Ela sabia sobre aquelas coisas, oh Deus, ela sabia...

- O casaco. - Sua voz era rouca. - Tire-o.

Com o coração disparado, ela desabotoou o casaco e tirou-o dos ombros.

- Me escute - disse ela, e odiou o jeito como sua voz tremeu. - Signor Orsini. Não quero ser sua esposa tanto quanto você não quer ser meu marido.

- E?

- E estamos encurralados. Você não teve escolha a não ser se casar comigo e...

Os olhos dele se cerraram novamente. Ela já aprendera o bastante sobre ele para saber que aquilo não era um bom sinal.

- É isto que você pensa?

- Seu pai queria isso. - Ele não disse nada e ela continuou, apressada: - E meu pai queria isso. Então...

- Então fiz isto para agradar os dois?

- Sim. Não. Talvez não - Ela estava perdendo terreno, podia sentir. O que tinha de fazer era falar mais rápido, fazê-lo ver que ela entendia por que ele havia feito o que fez e o que ele poderia ganhar em desfazê-lo.

- Talvez meu pai lhe fez promessas. Talvez tenha dito que o recompensaria.

Ele se recostou na poltrona. Cruzou novamente os braços.

- Ele lhe ofereceu uma recompensa, signor? Posso fazer uma oferta melhor.

Os cantos da sua boca se curvaram.

- Você pode - ele disse, bem calmamente.

- Assim que chegarmos à América, encerraremos o casamento. É uma coisa fácil de fazer em seu país, certo?

Ele deu de ombros.

- E você vai embora. Para longe de mim. Para longe de seu simpático pai. Daquele miserável vilarejo. E todo mundo vive feliz para sempre. Certo?

Ele entendeu! O alívio dela foi enorme.

- Sim - ela disse com um rápido sorriso. - E eu lhe darei...

- Oh, sei o que você me dará, baby. Mas seria algo que eu conseguiria de qualquer jeito.

Chiara balançou a cabeça.

- Eu não entend...

- Esta coisa preta que está usando.

Confusa, ela olhou para si mesma novamente, e então para ele.

- Coisa preta? Você quer dizer... meu vestido?

- O que está por debaixo dele?

Ela piscou.

- Por debaixo...?

- Me dê um tempo, O.k.? Você não é surda. Pare de repetir o que digo e responda à pergunta. O que está por debaixo deste vestido?

O rosto dela se aqueceu de cor.

- Minhas... minhas roupas de baixo.

Ele deu um sorrisinho. Ela quase fez aquelas palavras arcaicas parecerem reais.

- Seda? Renda? Sutiã? Calcinha? - Ele sorriu de lado - Ou é um fio-dental?

Chiara pulou de pé.

- Você é nojento!

- Sabe, demorei um pouco, mas finalmente entendi. Esta fantasia. As roupas, o cabelo, o "Não-me-toque" quase que escrito em sua testa... foi tudo preparado para mim, não é?

Ela virou e se afastou. As mãos dele caíram pesadas nos ombros dela e ele a girou para si. Ele não sorria mais. Seu rosto estava duro, os olhos frios.

- A verdadeira Chiara Cordiano é aquela que beijei no carro.

- Você está pazzo! Louco! Me solte. Me sol...

Rafe inclinou sua cabeça e a beijou. E quando ela tentou girar e se livrar dele, ele segurou-lhe o rosto entre as mãos e a beijou com ainda mais força, forçando-lhe os lábios a se abrirem, enfiando sua língua na boca, tomando, exigindo, furioso com ela por suas mentiras, incluindo a maneira como ela chorava agora. Lágrimas grandes e perfeitas descendo pelo rosto enquanto ele se afastava.

- Qual é, baby? - ele disse com crueldade. - Qual a razão para continuar prolongando isso? Saia deste vestido ridículo. Faça o que você sem dúvida faz melhor. - A boca dele se contorceu. - Faça realmente bem feito e talvez eu possa lhe dar esse divórcio que tanto quer.

- Por favor - ela soluçava, - por favor...

- Maldição - rosnou Rafe. Já era o bastante. Ele esticou a mão, segurou o colarinho do horrível vertido negro, e o rasgou de cima a baixo...

E viu algodão branco.

Tudo em algodão branco, sem forma e sem apelo sexual. Sutiã. Calcinha. O tipo de coisa que as irmãs dele usavam por debaixo do uniforme escolar quando crianças.

Ele parou em pé, em silêncio, incerto. Isto também era parte da encenação?

- Não - sussurrou Chiara. - Eu lhe imploro, não, não, não...

Ou joelhos dela se dobraram. Rafe soltou um palavrão e pegou sua esposa nos braços. Ele sabia, sem sombra de dúvida, que havia entendido tudo errado.

                         

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