-Pelo que escutamos pudemos observar que ele pareceu ter se assustado ou ficado surpreso ao notar que havia alguma outra pessoa no local em que Alexia está sendo mantida em cativeiro.
-Outra pessoa... -Coloquei o dedo na boca e comecei a roer a unha. -Isso quer dizer que ela continua viva.
-É o que acreditamos. -Disse o mesmo policial que veio aqui da última vez. -O que eu acho engraçado, senhor Kendell, é que ficou bem claro que era uma mulher que estava na chamada com o sequestrador e ela te colocou na linha pra você poder escutar o que ele tinha a dizer. -Cruzou os braços. -E o mais engraçado ainda é que eles estavam negociando. O que ficou bem claro a todos nós que essa mulher conhece o delinquente.
Tentei não demonstrar o quão nervoso estou então permaneci em silêncio.
-Será que você poderia nos explicar melhor essa história?
-Eu quero um advogado. -Falei.
-Muito bem. Mas enquanto isso... -Um policial que estava logo atrás de mim pegou com força os meus dois braços e os direcionou para a parte de trás do meu corpo.
-O que está fazendo? -Valentina tentou se aproximar mas eles não permitiram. -Vocês não podem prende-lo, ele é menor de idade.
-Conversamos sobre isso mais tarde. -Ele fez um sinal e o policial colocou uma algema em meu pulso. -Não tem nada a nos dizer agora, senhor Kendell?
Fiquei em silêncio e foquei meu olhar em seus olhos.
-Se é assim que você quer. Podem leva-lo. Conversamos melhor na delegacia.
-Não! Vocês não podem. -Valentina continuou tentando passar. -Vocês não possuem um mandato pra isso.
-A questão, senhora, é que ele foi cúmplice desse sequestro. Isso sem contar que ele mentiu para nós. -Colocou a mão no cinto. -Então nós apenas iremos fazer algumas perguntas e o soltamos.
-Deixa, Tina. -Falei enquanto ele me direcionava para fora do escritório. -Contrate um advogado pra mim. -Gritei assim que passamos pela porta.
-O que está acontecendo? -Senhor Gomes veio em nossa direção assim que passamos por ele na sala.
-Iremos leva-lo com a gente. -Respondeu o policial. -Temos algumas perguntas a fazer.
-Qual o motivo pra isso?
-Falamos com o senhor depois. -Ele abriu a porta de entrada mas o senhor Gomes entrou em sua frente.
-Eu gostaria de saber agora, na verdade. Até porque Zack é apenas um garoto.
-Eu já disse que não pos...
Quando o policial estava terminando a sua fala, sangue se espirrou sobre minha roupa e eu me afastei com o susto. Todos os policiais pegaram suas armas e começaram a ir para fora da casa. Assim que olhei na direção do senhor Gomes, o vi com a mão no seu peito e o sangue sujando todo o seu terno.
-Senhor Gomes. -Falei sentindo a adrenalina subindo o meu corpo.
Ele olhou em minha direção e vi o medo em seus olhos. Em seguida ele caiu para frente e uma gritaria se formou aqui do lado de dentro da casa.
-Não. -Falei tentando me recuperar do choque. -Não, não. -Me abaixei ao seu lado e tentei vira-lo, mas como estou com as mãos presas, isso acabou complicando um pouco o ato. -Alguém liga para uma ambulância! -Gritei ao ver Valentina parada com os olhos arregalados e Charlotte gritando enquanto se ajoelhava no chão.
Um tiroteio se formou do lado de fora e eu tive vontade de tampar meus ouvidos para diminuir o barulho.
-Minha gaveta. -Senhor Gomes tentou dizer.
-O que? -Tentei entender.
Seus lábios estão ficando esbranquiçados e notei o quanto ele está com dificuldade de respirar.
-Minha gaveta. -Tossiu. -Olha a minha...
Sua cabeça caiu para o lado e eu senti uma onda de nervosismo percorrer o meu corpo todo.
-Ambulância! Pelo amor de Deus! -Olhei ao redor e vi Valentina tentando discar os números com a sua mão trêmula.
Os tiros pararam e os policiais voltaram para cá.
-Senhor Gomes. -O policial que estava me segurando se abaixou ao meu lado e colocou a mão no lugar em que provavelmente ele foi baleado. -Temos que leva-lo. Agora!
Todos os outros vieram ao seu encontro e juntos eles levantaram o senhor Gomes, indo para fora da casa. A policial pegou em meu braço e começou a me levar para lá também. Quando chegamos do lado de fora, avistei dois homens esparramados no meio da rua. Ambos mortos. Ao seu lado há a arma que foi utilizada na hora do disparo contra o senhor Gomes.
-Quem são eles? -Tentei olhar para a policial mas ela continuou me empurrando para frente. -Por que eles fizeram aquilo?
-Permaneça em silêncio, senhor Kendell.
-Mas eu tenho o direito de saber, eu... ele vai sobreviver?
-Fica quieto. -Ela abriu a porta da viatura e me jogou na parte da trás.
-Por favor, não deixem ele morrer. -Olhei para ela através do vidro. -A Alexia não vai suportar.
A policial respirou fundo e voltou a caminhar para perto dos outros.
Merda.
(...)
Já se passou algum tempo desde que eu tive notícias do senhor Gomes. Eu estou preso em uma cela sozinho. Eles me disseram que conversariam comigo mas até agora nada. Isso já está me dando nos nervos. Eu tenho que saber o que está acontecendo lá do lado de fora. Tenho que ver como Valentina e Alicia estão.
-Olá, senhor Kendell. -Uma mulher com roupas formais veio em minha direção. -Me chamo Scarlet e sou sua advogada.
Me levantei do chão e me aproximei da grade.
-Valentina te contratou?
-Sim. Ela me disse que tudo isso tem a ver com o sequestro da senhorita Gomes.
Concordei e passei a mão no cabelo ainda com as mãos algemadas.
-Poderia me contar o que está acontecendo?
-É tudo um mal entendido. -Respirei fundo. -Eu não fiz nada para estar aqui agora.
-Ok, então é isso que você precisa fazer. Mostrar que você é inocente. E pra isso você vai precisar da minha ajuda. Então eu gostaria muito que você me contasse exatamente o que aconteceu.
Contei tudo. Sem esconder absolutamente nada. Até porque como ela mesma disse, ela está aqui para me ajudar, então tenho que colaborar.
-Muito bem. -Colocou seu cabelo longo para trás e começou a andar de um lado para o outro. -Eles vão entrar aqui daqui alguns minutos, então temos que ser rápidos. Você tem certeza de que não quer falar pra eles que ela é a sua mãe?
Eu devia fazer isso. Devia colocar a culpa toda nela. Só que eu não consigo. Eu não consigo imaginar ver ela aqui dentro em meu lugar e saber que o motivo disso sou eu.
-Tenho. -Senti um nó em minha garganta. -Ela não me contou tudo pra me incriminar, e sim porque precisava de ajuda. Ela estava tentando arranjar um jeito de conseguir a grana.
-E o que pretende fazer então?
O que eu pretendo fazer? Bom, essa é a questão.
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