No púlpito está o Padre Manuel se preparando para a oração. O padre é um senhor com uma barriga saliente que pode ser observada mesmo vestindo uma batina. Assim que entro ele olha para mim de uma forma que não sei explicar, e com esse olhar segue todos os meus passos e isso me deixa nervosa, com isso apresso os meus passos para sentar e me esconder dos seus olhos, no entanto o único local vago fica bem na sua vista, na primeira fileira. Vou até o lugar e mesmo não olhando para ele sinto que seus olhos estão sobre mim e isso me deixa desconfortável, e quando estou assim eu tenho a mania de fechar a minha mão e apertar com força, sentindo a dor das minhas unhas em contato com a minha pele, isso me permite esquecer o que está se passando e focar apenas na dor.
Não era a primeira vez que ele fazia isso, já faz um tempo que o padre tem esse estranho hábito de ficar me olhando em qualquer lugar. Na primeira vez eu achei que tinha feito algo de errado e que estava muito encrencada, e ele iria me chamar atenção, mas a repreensão nunca veio e as suas olhadas continuaram. Depois eu achei que fosse coisas da minha cabeça, mas seu olhar em mim tornou-se mais frequente e não mais disfarçado como era antes. Logo passei a evitar ao máximo estar no mesmo lugar que ele, no entanto havia um momento do dia que não tinha como fazer isso, na oração da noite antes do jantar.
- Que o Espírito Santo esteja com vocês. Fechem os olhos e tenham seus pensamentos em Deus.- E assim eu faço e após alguns segundos ele começa a rezar. Mesmo durante a prece a sensação de está sendo vigiada continua, e isso faz com que eu abra os olhos e assim que levanto a cabeça, vejo o Padre orando com seus olhos cravados em mim, e diferente das outras vezes ele sorri, causando arrepio em todo o meu corpo. Instantaneamente eu me encolho no lugar, abraçando o meu corpo ao mesmo tempo que fecho os olhos, pedindo a Deus que esse desconforto passe logo. Eu não sabia o porquê mais quase estava chorando, o olhar do Padre Manuel me remete sensações ruins e eu não gosto de me sentir assim.
- Luna, minha filha, a oração terminou. Vamos- diz a irmã Maria. Eu estava tão nervosa e querendo que aquela sensação fosse embora que nem percebi. Olho ao redor e todos já haviam saído e só estava eu, Maria e o Padre, e não querendo ficar mais ali, e pior, sozinha com ele, sigo a Maria.
- Irmã Maria, me espera, por favor.- E assim ela faz e eu a acompanho até a cantina onde janto com as outras crianças. Eu não estava com fome diante de tudo que senti a alguns minutos atrás, no entanto me forcei a comer tudo.
Já na cama, vestida com uma camisola branca longa, que chega até aos meus pés e com uma manga curta, deito na cama e oro agradecendo a Deus por mais um dia e sem esforço adormeço... Durante o sono tenho um pesadelo de está sendo perseguida por um cachorro de olhos vermelhos que quer me atacar e eu corro dele, quanto mais eu corro parece que mais perto o cachorro está de mim. Cansada de fugir, eu tropeço e o cão me alcança e além da cor dos seus olhos, vejo os seus dentes grandes e afiados quando ele abre a boca, e com muita rapidez ele avança sobre mim e nesse momento eu acordo sobressaltada, com o coração acelerado e suada. Após alguns minutos, com o meu estado mais calmo e com o meu cérebro entendendo que nada daquilo era real, eu tento voltar a dormir, mas não consigo, e assim passo uns trinta minutos inquieta, virando de um lado para outro na cama. Já cansada com a minha repentina insônia, sinto sede e decido levantar para ir beber água.
Ainda é madrugada, então todos estão dormindo, com muito cuidado para não fazer barulho desço a escada e vou até a cozinha. Ascendo a luz e pego um copo no armário, em seguida vou até a geladeira, despejo a água no copo e bebo. Quando termino lavo o copo, seco e coloco de volta no lugar. E no momento que vou retornar para o meu quarto, ouça a voz do dono dos olhos que me causa frio.
- Está com formiga na cama?- ele diz e tenho receio em olhar em sua direção.
-N-não Padre, apenas senti sede, mas já estou voltando para o meu quarto- digo tentando sair da sua presença o mais rápido possível.
- Não precisa ter pressa, criança- diz segurando em meu braço e com o seu toque sinto minhas pernas tremerem. - Sabe Luna, você não imagina por quanto tempo esperei ficar a sós com você- ele continua a falar passando a sua mão pelo meu braço, estimulando assim o medo em mim.
- P-Padre Manuel , já é tarde e tenho que ir dormir- gaguejo por causa do nervosismo e também por está malmente respirando durante todo esse tempo.
-Shiii...- diz passando o seu polegar pelos meus lábios. Seu toque me deixa estática, com nojo, eu quero correr, mas o meu corpo não me obedece. - Você é uma garota muito bonita- diz passando a mão em meu cabelo e o levando para o encontro do seu nariz, onde ele cheira. E não aguentando mais aquela situação uma lágrima cai dos meus olhos.
- E-Eu tenho que ir, por favor, me deixe ir- digo desviando do seu toque.
-Você cresceu e está se tornando uma ninfeta tão linda, que nem as roupas largas e compridas são capazes de esconder as curvas do seu corpo- E dessa vez seu toque se torna mais ousado, descendo para o meu pescoço e parando na região da minha clavícula.
- P-Por favor, pare com isso Padre- digo em meio ao choro, ao mesmo tempo que tento me soltar dele que aperta com força os meus braços, me machucando.
- Calada, agora eu vou ter o que eu sempre quis. Você.- segura o meu pescoço e desfere tais palavras com raiva.
- O S-Senhor está me m-machucando- digo com dificuldade por causa da sua mão em meu pescoço, me impedido de respirar normalmente. Eu tento afastá-lo, mas não consigo, eu estava apavorada e as lágrimas não paravam de cair dos meus olhos.
- Você vai ficar quietinha, e se fizer algum barulho eu te mato- diz dando um tapa em meu rosto, o local automaticamente dói e sinto uma ardência. Pisco os meus olhos diversas vezes com o intuito de acordar do pesadelo, mas diferente do anterior, nesse eu já estava acordada e então eu choro copiosamente.
- Eu falei para você não fazer barulho- e ele me agride puxando o meu cabelo cabelo. - Calada.
- P-Por favor, me deixar ir- imploro.
- Só depois que eu tiver o que quero- diz passando a língua em minha bochecha, o que me causa ânsia de vômito. Tento me soltar, mas a sua mão ainda continua me prendendo com firmeza... Meu Deus, porque isso está acontecendo comigo, penso enquanto choro silenciosamente.
- Você é uma ninfetinha deliciosa- diz tocando em meus seios, tento proteger o meu corpo dele e ele me bate mais uma vez.
- Se você resistir, será pior- diz me virando e pressionando o meu corpo na bancada da pia e juntando o seu corpo no meu. -Se você colaborar, prometo ser carinhoso com você- diz subindo a minha camisola e passando a mão em minha bunda.- Seu corpo é perfeito para mim, criança- e com as suas palavras sinto a minha calcinha sendo rasgada, e querendo evitar o pior me debato pedindo, implorando, suplicando para que ele pare, no entanto ele continua. Ele pressiona o meu rosto no frio metálico da pia e chuta com força a minha perna de modo que se afastam. E nesse momento eu sei, eu sinto que serei estuprada e choro sem me importar com o barulho. E ele não se compadece em nenhum momento comigo, e continua a passar as suas asquerosas mãos pela minha perna chegando próximo a minha intimidade... E talvez por sorte, ou Deus, um barulho surge perto de onde estamos o fazendo afastar de mim.
-Não diga nenhuma palavra do que aconteceu aqui, se não eu te mato, mas antes irei te torturar a ponto de você se arrepender de ter aberto a boca- diz com olhos ameaçadores, ele abaixa a minha camisola, e esconde a minha calcinha em sua mão.
- Oh criança, não precisa chorar foi só um pesadelo- diz limpando as minhas lágrimas.
- O que aconteceu Padre? A Luna está bem?- diz a Irmã Maria ao aparecer na nossa frente.
- Ela está bem, só teve um pesadelo. Não é mesmo, Luna?- pergunta olhando em meus olhos com vestígio de ameaça.
-S-Sim, foi só um p-pesadelo- digo ainda chorando. - Por favor, Maria fique um pouco comigo no quarto, estou com medo- imploro, pois estando alguém comigo ele não irá atrás de mim.
- Claro, minha menina-diz andando em minha direção e pegando meus ombros. - Vamos!
- Não se esqueça o que eu lhe disse, Luna- sua voz mesmo que calma, meus ouvidos captam o aviso.
- O que você disse a ela Padre?-questiona Maria olhando para mim e depois para ele.
- Nada demais, apenas disse a ela que nada daquilo é real.
- Mas você já sabe disso né Luna?- confirmo com o levantar e descer da cabeça.
- Vamos Maria- e seguimos para fora dali, mas não sem antes ouvir a sua voz nojenta. - Durma bem, criança.