Capítulo 10 Sermão

Vanessa

Acordo de manhã com um embrulho muito grande no estômago.

E lá vamos nós...

Saio correndo em direção ao banheiro feito um foguete, levanto a tampa do vaso e coloco pra fora, tudo que tinha comido na janta de ontem.

- Já vi que essa gravidez vai render._ reclamo limpando a boca e indo pro banho.

Ainda estou me acostumando com a ideia de ter uma vida dentro de mim, isso não foi nada planejado, mas agora não tenho muito o que fazer né.

Conheço o pai do meu filho a mais ou menos um ano e meio, ele é um dos braços direitos do dono lá da onde minha amiga mora.

No começo era só um lance passageiro. Assim nós pensávamos né, porém hoje estou aqui, prenha e sem saber como contar isso pra ele.

Temos uma boa convivência, apesar da minha mãe não aceitar nosso relacionamento muito bem, ao longo desse tempo junto, ele veio aqui em casa pouquíssimas vezes, e ele também não pode fica saindo da favela toda hora.

Se eu disser que não gosto dele, vou está mentindo, mas, eu queria um tempo pra viver minha vida sabe? Poxa, eu só tenho 23 anos, tinha tanta coisa pra viver antes de engravidar, dei muito mole eu sei, só que agora não adianta chorar o leite derramado.

Literalmente!

Saio do banho, me seco e vou pro quarto, coloco algumas roupas dentro da minha mochila, e vou me arrumar.

Hoje vou lá no morro, tenho que conta pro Dudu sobre a gravidez. Estou com tanto medo dele me rejeitar, que nem sei como vai ser isso.

Pedi minha amiga pra me ajudar a contar pra ele, e ela aceitou na mesma hora.

Então, quando eu chegar no morro, eu vou direto pra casa dela, e depois vamos juntas para a casa do Eduardo.

Minha mãe não está em casa, por isso vai ser mais fácil de sair, mas se ela tivesse em casa, com certeza não conseguiria sair sem me derramar em lágrimas.

Eduardo acha que estou indo pra lá passa a semana com ele, mas nem imagina que estou indo pra ficar de vez, estou levando pouca coisa pra não assustar ele logo de cara.

...

Quando eu chego no morro, resolvo liga pra Ju avisando que já cheguei.

- Oi amiga já estou no morro, onde você está ?.- pergunto assim que chego no morro.

- Oi, estou resolvendo um negócio com meu pai, mas já estou indo embora, quer me esperar lá em casa?.- ela pergunta preocupada.

- Você vai demorar muito?

- Não, já estou indo pra te encontra logo.

- Então vou no mercado e quando você acaba me avisa.

- Tá bom então, beijos.

O bom de ela ainda não está em casa, é que eu posso pensar mais um pouco em como vou contar para o Dudu.

Entro no mercado pra compra algumas coisas.

Já que vou fica um tempo aqui, tenho que me alimentar bem né, até porque, lá no Dudu só tem besteira.

Pego um carrinho pequeno e vou pegando as coisa devagar.

Vou pra parte das frutas e sinto meu telefone vibra no bolso da calça, pego ele na mão e vejo que é a minha mãe.

Lá vem sermão.

Reviro meus olhos e atendo a ligação me preparando pra escutar.

- Oi mãe.

- Está onde Vanessa?_ ela fala sem nenhum entusiasmo e meus olhos já enche de lágrimas.

Minha mãe sempre foi muito carinhosa comigo, ainda mais por eu ser filha única, mas depois que ela descobriu a gravidez, ficou muito magoada comigo.

Tô sentindo muito com toda essa frieza dela, e isso é a pior coisa do mundo para mim.

- Já estou no morro mãe._ falo triste com a voz falha.

- Só espero que esse menino não de uma de maluco e diz que não vai assumir essa criança, porque né, é um risco que você está correndo, foi arrumar um bandido pra ser pai do seu filho, agora temos que esperar qualquer coisa dele._ fala e as lágrimas já começa a descer livremente, ela não ver que me faz sofre com esses comentários? Ou ela faz de propósito?

- Por favor mãe não começa, eu já estou muito nervosa aqui, não precisa fica falando essas coisas pra me deixar mais triste poxa._ respondo fungando.

- Fala logo com esse menino Vanessa, e acaba com essa agonia, para de fica enrolando, o que não era pra acontecer já aconteceu, agora assume as consequências de frente, foi mulher pra fazer seja mulher pra assumir, acabou mamãe pra resolver seus problemas.- o tom dela vai aumentando a cada palavra.

- Eu sei mãe, eu vou contar pra ele._ falo com meu coração apertado, essa situação é foda cara.

- A Ju está ai? Deixa eu fala com ela._ pede.

- Não, ainda não cheguei na Juliana, ela foi resolver umas coisas com o pai dela, estou no mercado comprando umas coisas, agora com essa gravidez não posso fica só me enchendo de besteira né. Mas ela vai me liga quando acabar.- responde fungando.

- Nossa que bom que já está se preocupando com a gravidez, espero que Deus te dê força pra cuida dessa criança, e muito juízo nessa cabeça coisa que não consegui colocar._ fala com desgosto na voz me deixando mais triste ainda.

- Mãe por favor, chega, já está sendo muito difícil pra mim e não preciso da senhora piorando tudo, eu já sai da sua casa como você queria, já estou aqui como a senhora queria, o que quer mais quer eu faça? Ou a senhora só quer me ver sofre e chorar?._ falo soluçando e ela demora pra me responder.

- Boa sorte filha, te amo muito e que Deus te proteja._ fala ela com uma voz de choro e desliga o telefone.

- Que saco cara._ sussurro guardando o celular no bolso.

Coloco as mão no rosto e choro ainda mais.

Eu estou tão triste e não deveria ser assim.

Sei que não foi planejado e não é uma boa hora, mas um filho é uma benção, e se ele veio agora, foi porque Deus quis assim.

Eu vou dá muito amor pra essa criança, mesmo que ninguém mais no mundo queira dá, eu vou ser o suficiente para ele e ponto.