Meu pai passou a ser um pai e uma mãe para mim, fez muito por mim todos esses anos, ele se controlou e deixou o vício de lado para cuidar só de mim e por muito tempo fomos felizes, só que de uns tempos pra cá, ele infelizmente se afundou novamente nas drogas.
Eu comecei a ficar preocupada, quando os meninos da boca vieram cobra e ele já não tinha dinheiro pra pagar, ele nunca deixou de pagar as dívidas das drogas, pois tinha muito medo que eles fizessem algo comigo.
E quando eles foram cobra pela segunda vez, eu tive a certeza que meu pai estava entregue totalmente.
Meu medo era ele não ter condições de trabalhar e não conseguir mais pagar os meninos, porque eles viriam atrás dele e eu não posso perde meu pai assim.
...
Quando chego em casa, ele está largado no sofá e eu agradeço a Deus por isso, pelo menos está dormindo, e não pela rua se drogando ou fazendo coisa pior.
Quando ele acordar, o efeito das drogas já vai ter passado e nos vamos poder conversar sobre o que esta acontecendo.
Espero que ele entenda a gravidade da situação que estamos vivendo.
Meu emprego de vendedora não paga o melhor dos salários, porém ele sustenta a casa, dá pra pelo menos pra compra a comida e paga algumas contas.
Meu pai trabalha como ajudante de pedreiro, e de uns tempos pra cá, quando ele voltou para essas drogas malditas, ele deixou de ajudar na casa e as coisas se apertaram um pouco para o meu lado, mas não é nada que eu não possa da um jeito.
Entro no banheiro, tomo meu banho e vou para a cozinha começar fazer o almoço.
Deixo tudo prontinho e vou me arrumar pro trabalho.
Coloco meu uniforme, penteio meu cabelo, faço uma trança boxeadora e vou pra cozinha colocar meu almoço.
Meu pai já acordou e está tomando banho pra almoçar também.
Eu espero ele terminar o banho dele e vim pra cozinha, a conversa vai ser difícil, mas precisamos resolver logo essa situação.
...
Depois de um tempo ele sai do banheiro, coloca sua comida, e se senta na cadeira a minha frente, e fica me encarando.
- Onde você estava filha?._ ele me pergunta quando começa a comer.
- Fui la conversar com o novo dono do morro._ falo sem rodeios e ele quase engasga com a comida, bate na mesa e me encara nervoso.
- O que? Você foi fazer o que lá no meio de traficante Juliana?_ ele fala furioso.
Meus pais sempre soube que a vida que levavam não era digna, e sempre me disseram para não ser fraca como eles foram.
- Os caras do movimento vieram duas vezes só essa semana pai, eu vi sua conta, e ela é absurda._ falo seria encarando ele.
- Não quero saber Juliana, não quero você metida nessa história._ ele muda o tom voltando a comer sua comida me deixando com mais raiva ainda.
- E o senhor acha certo eu ver isso tudo e fica calada? Acha mesmo que vou deixar o senhor morrer por causa desse maldito vício?._ eu grito já com lágrimas nos olhos e com a voz falha.
- Filha eu sinto muito por te fazer passar por isso, mas te peço, por favor não se mete com esses caras, eu vou resolver isso, vou conversar com ele e ver se ele me dá um tempo pra pagar essa dívida._ diz ele me encarando também segurando as lágrimas.
- Ele disse que o senhor pode trabalhar pra ele para quita essa dívida pai._ falo segurando sua mão_ ele disse que se não for isso é a morte._ ele me encara sério com os olhos arregalando.
- Eu não sou bandido Juliana, vou arrumar um jeito de pagar, mas não vou me envolver com o crime, sou viciado mas sou honesto, já te dei mal exemplo demais minha filha._ ele deixa algumas lágrimas caírem partindo o meu coração no meio.
- Pai eu conheço o senhor, sei que se dedicou pra ser um bom pai, e o senhor foi o melhor do mundo para mim, todos temos os nossos defeitos e eu sei do lado ruim que o senhor também tem, mas o lado bom é muito maior._ falo e ele enxuga as lágrimas_ pai, sua dívida é de 15mil reais_._ eu coloco todo o meu pesar na voz, e ele arregala os olhos ainda mais, depois apoia sua cabeça nas mãos desesperado entendendo a gravidade da dívida.
- Meu Deus filha, o que eu fiz? De onde vou tirar esse dinheiro todo?._ ele fala triste.
- Infelizmente não temos opção, o senhor vai ter que quitar essa dívida ou eles vão vim atrás do senhor pai._ falo também triste e ele me olha com o olhar vazio_ ele nos deu 1 dia para pensar, eu vou trabalhar agora, mais tarde conversamos melhor, não faça nada que se arrependa depois por favor, me espera sóbrio e em casa._ dou um beijo na testa dele levantando da cadeira.
Não comi quase nada, estou sem apetite desda segunda vez que os traficantes vieram cobra meu pai.
Escovo meus dentes correndo e saio de casa.
A loja que eu trabalho é no asfalto, consegui esse emprego através de uma amiga do curso que fiz, a mãe dela é gerente da loja e arrumou a vaga para mim.
Vou no ponto do moto táxi, e peço pra ele me deixar lá em baixo.
...
Chego no trabalho e as meninas da manhã já estão indo embora, cumprimento elas e entro na loja correndo.
Olho em volta e não vejo minha gerente na loja, acho muito estranho, ela sempre é a primeira a chegar, porém não comento nada.
Começo a arrumar algumas coisas que estão fora do lugar e passo o espanador nas prateleiras dos calçados.
- Ju, você notou que a Kátia não veio hoje?._ Débora me pergunta disfarçando.
- Claro, foi a primeira coisa que reparei quando cheguei aqui, achei estranho, ela nunca chega atrasada._ falo me tocando que a Vanessa também não falou nada o dia todo no ZAP, ela sempre manda uma corrente de bom dia de manhã.
...
Continuamos trabalhando e quando da 18:30 o nosso expediente acaba.
Hoje o movimento foi forte, e eu quase não vi a hora passar.
Dou tchau para as meninas e vou embora.
Entro em casa procurando meu pai, mas ele já não está mas lá.
Só espero que ele não esteja se drogando para não complicar mais ainda a nossa vida.
Coloco meu telefone pra carregar e vou tomar um banho.
Quando termino, eu visto um shorts jeans e um cropped, meu telefone já deu 50% e tá ótimo, depois coloco pra carregar mais um pouquinho.
Estou morta de fome e morrendo de preguiça pra fazer comida, então vou compra um x tudo mesmo e esperar meu pai chega.
...
Saindo de casa recebendo uma mensagem no celular da Vanessa e eu abro correndo.
*Vavá amiga*
- Oi amiga, você não sabe o que aconteceu._ ela começa. ?
- O que houve? te deixei mil mensagens e liguei várias vezes, sua mãe nem trabalhar foi hoje, fiquei preocupada caramba.
- Aí amiga passei mal a madrugada toda, vomitando e com dores, minha mãe não dormiu preocupada comigo e hoje de manhã fomos no médico e descobrimos que estou grávida??
Eu fico em choque com o que ela me diz.
Não acredito que ela fez essa burrada, ainda mais de quem.
Nossa cara, a tia Kátia deve está arrasada, ela nunca aceitou o relacionamento da Vanessa com o 2D.
1 ano atrás quando o novo dono assumiu de vez, teve um baile de 2 dias aqui no morro, e a Vanessa quase implorou pra que eu fosse com ela, já que ela mora lá no asfalto e eu aqui, ela poderia dizer que ia dormi na minha casa para podermos ir juntas, e foi o que aconteceu.
Acabou que ela conheceu o 2D, traficante que veio do outro morro e começou a se envolver com ele, desde então eles estão juntos, mas tia Kátia nunca aceitou, porém, respeitava o relacionamento da filha, até porque Vanessa já é maior de idade, mas até aí ter um filho, acho que ela não vai encarar isso muito bem.
- O que?? Você é louca, não conhece anticoncepcional? Pílula do dia seguinte ou camisinha sua retardada?
- Amiga eu esqueci de tomar, ele me deu dinheiro pra compra e eu tomei açaí, eu ia compra depois com o meu dinheiro, mas eu esqueci.?
- Porra, você é uma imbecil cara, o que a tia falou sobre isso?
- Ela falou que eu vou ter que morar com o Dudu de qualquer jeito. :'(
- E ele já sabe?
- Não amiga, vou prai amanhã conta pra ele, você vai comigo? Por favor?
- Claro que vou, antes vou da dois tapas no meio da sua cara pra ver se você parar de ser ridícula.
Assim que chego no x tudo, eu faço meu pedido e fico esperando ficar pronto.
Tô cheia de fome, não comi nada hoje no almoço, e parece que um minuto demora uma eternidade.
Converso mais um pouco com a Vanessa e com o moço do x- tudo.
De longe, vejo uns 3 caras arrastando uma pessoa pelos braços.
Todas as pessoas que estão na rua, logo se levantam para poder ver o espetáculo.
Os caras vão chegando mais perto e eu me esforço entre as pessoas para poder ver melhor o que está acontecendo.
E aquela pessoa não me é estranha.
Eu conheço aquela cabeça, e também aquela blusa.
Porra, não acredito!
- PAAAAI..._ eu grito ofegante e com o coração a mil.