Aquele era o único horário no qual, o hospital estava mais vazio, mas na grande maioria das vezes, não enchia, por se tratar de um hospital particular.
Dou partida no meu carro, deixando o estacionamento. A cidade aos poucos acordava, apesar de muitas pessoas já estarem acordadas mas, para mim, o dia só começava depois que o sol dava suas caras.
Morava desde sempre no Rio de Janeiro, o cartão postal que o mundo tinha em relação aos brasileiros. Todos os olhos estavam virados para nós, tínhamos o melhor do samba, o melhor das praias e o Cristo Redentor.
Mesmo com a criminalidade alta, infelizmente, onde não só nós saíamos prejudicados como turistas, a cidade não perdia seu brilho.
Acreditava que a criminalidade em si, poderia ser resolvida, igual a super lotação nas prisões. Era só adotarmos o mesmo sistema que os americanos tinham e praticamente veríamos todos nossos problemas desaparecerem.
Até meus 17 anos, vivi ao lado dos meus pais. Meu pai era juiz criminal, até morrer de infarto aos 40 anos. Minha mãe, Laura, era cinco anos mais nova que meu pai e advogada.
Foi no meio criminal que ela conheceu meu padrasto, Alex, ele sendo major da polícia da militar. Na mesma semana, ele a pediu em casamento e foram marcar a cerimônia no civil no dia seguinte, se casando um mês depois e deixando para conhecer todos os familiares tanto dele como os da minha mãe, somente no dia do casamento e desde então estavam juntos, isto quase nove anos depois.
Qualquer pessoa, diria que eram o casal perfeito. Não brigavam e Alex fazia todas as vontades da minha mãe, mesmo minha mãe não podendo aumentar nossa família, a deixando paranóica por não poder dar um filho para ele, por ter feito uma laqueadura, logo depois que nasci, temendo que outro bebê vinhesse durante seu resguardo. Essa é minha mãe, sendo minha mãe.
Enquanto eles moravam na Barra da Tijuca, eu morava no Botafogo e gostava, apesar da distância e das reclamações de dona Laura, desejando que comprasse um apartamento mais perto.
Entretanto, preferia dessa forma.
Após estacionar o carro no estacionamento subterrâneo do prédio, entro no elevador, precisando encostar minha cabeça na parede gélida ao me sentir mal.
Aquele era o oitavo dia consecutivo que me sentia daquela maneira, fora outros sintomas que estava sentindo que, inicialmente não dei muita importância mas, depois que se tornaram persistentes, eu como médica, não pude mais ignorar, me fazendo lembrar de um pequeno detalhe.
Há pouco mais de um mês, precisei usar antibióticos e acabou que os mesmos poderiam tirar o efeito do anticoncepcional. Mesmo acreditando que poderia estar com o início de alguma virose ou algo do tipo, descartei inicialmente uma possível gravidez, mesmo os enjoo e tonturas sendo frequentes.
Entro em casa, trancando a porta, antes de colocar minha bolsa sob o aparador ao lado e caminhar na direção do meu quarto, passando pela sala de estar e jantar.
No meu quarto, abro o armário do banheiro, procurando um dos vários testes de gravidez que tinha só para desencargo de consciência, como algo como aquilo acontecia e sempre na maioria das vezes, minhas suspeitas estavam erradas e depois dias depois, minha menstruação descia.
Sigo as instruções da caixa rosa que já sabia de cor, faço xixi num potinho minúsculo e mergulho a tira azul com branco, até a faixa indicativa, deixando sob o lavatório, decidindo que tomaria um banho enquanto isso.
Admitia que havia sido irresponsável. Por ser médica, devia ter lembrado deste pequeno detalhe, mas não lembrei, deixei com que o desejo falasse mais alto e liguei o foda-se para as consequências.
Inspiro e expiro profundamente, tentando acalmar a ansiedade que estava me corroendo.
Sem querer mais esperar, abro o boxe, colocando minha cabeça molhada para fora, molhando a parte que estava seca até então.
Meu coração martelava em meu peito e minha mão tremia, quando a estendi em direção da fita mergulhada na urina e a peguei, ouvindo o pulsar do meu coração em meus ouvidos.
Respiro pela boca, fixando meus olhos no resultado nítido e claro, esquecendo de respirar por alguns segundos, sentindo minhas pernas tremerem e dar indício que iriam me deixar na mão.
Havia duas riscas vermelhas. Nítidas.
Eu estava grávida e não era mais uma paranóia da minha cabeça.