Minha mente está dividida entre o maldito que emboscou meu pessoal e a linda mulher que deixei pra trás. As chances de eu a encontrá-la novamente não são tão altas e isso me deixa um tanto puto da vida. É a primeira vez em muito tempo que encontro uma mulher que é mais que um par de pernas oferecidas e veja só, estou dirigindo para longe dela por que algum filho da puta tirou a noite para me atrapalhar.
– Estou seriamente com pena da pessoa que tiver que me enfrentar essa noite, por que eu não vou ter pena alguma. – Resmungo apertando o volante e acelerando mais ainda após fazer uma curva fechada. Quando chego no subúrbio, dirijo com cuidado até um beco e pulo do carro com uma arma em cada mão assim que vejo vários homens amarrados no chão. Olho ao redor atentamente, mas nada pode ser ouvido além dos resmungos dos caras no chão. Há fitas em suas bocas, vendas em seus olhos e eles estão amarrados de dois em dois. Ando direto para Mike e tiro a fita de sua boca com um puxão e arranco a venda.
– O que aconteceu? Quem era? – Pergunto imediatamente. Se eu tiver um pouco de sorte hoje, posso voltar a tempo de encontrar a linda mulher.
Estou sonhando alto demais? Talvez. Mas eu não ligo, meus sonhos só dizem respeito a mim mesmo.
– Eu tinha esperança de que você não atendesse. – Mike diz baixando a cabeça.
– Que conversa é essa, cara? Eu sempre atendo suas ligações sem exceção.
– Eu sei, e é por isso que eu disse que eu tinha esperança de que você não atendesse só dessa vez, que estivesse no banho, longe do celular ou qualquer coisa assim.
– Cara, esse papo está ficando estranho. O que está acontecendo? Você me ligou dizendo que estavam sendo emboscados, então me diga logo quem foi para que eu possa descontar minha raiva nessa pessoa. Eu estava no meio de algo importante quando você me ligou. – Digo exasperado enquanto corto as cordas que o prendem com uma faca.
– Era uma armadilha. – Ele me fala passando as mãos, agora livres, pelo cabelo.
– Que merda está falando? – Falo entredentes. Por que estou achando que vou odiar o que ele vai dizer? O rumo dessa conversa não está bom.
– Eles queriam que você viesse até aqui, assim a sua boate estaria livre para ser atacada. Eles gostam de se vangloriar enquanto te prendem, os grandes bastardos. – Mike resmunga enquanto me ajuda a libertar os outros caras e eu faço uma pequena pausa para socar a parede.
– Malditos!
– O que você fez para a máfia de Chicago? – Ele pergunta e eu me viro.
– Máfia de Chicago? Nada. Nunca nem mesmo os vi. – Digo sem entender. – Por que diabos eles estão me atacando?
– Não sei, mas é melhor a gente ir logo para a sua boate. O chefe deles estava falando ao celular enquanto os homens deles nos amarravam e pelo que entendi, eles estavam se comunicando com alguém que estava na boate espreitando. Eles estavam de olho em você e sabem que você saiu.
– Então eu espero que você tenha munição o suficiente com você, por que acho que vamos precisar. – Digo acelerando ainda mais o processo de soltar os homens que ainda estão amarrados.
Enquanto faço a tarefa, mil coisas passam na minha cabeça, mas nenhuma é motivo para ser atacado pela máfia de Chicago. Eu tenho tentado andar apenas em lençóis limpos desde que saí da Itália, mas estou sempre me metendo em novas situações. Parece uma porra de um círculo sem fim.
– Não se preocupe, eu sempre ando preparado. Tenho um fundo de emergência no chão da van. Felizmente eles não nos revistaram ou levaram nosso carregamento, o que é estranho. Normalmente eles teriam levado tudo. – Mike diz assim que todos os homens estão soltos e um pensamento passa pela minha mente.
– Eles ainda podem levar. – Digo sombrio. – Para a boate todo mundo. Armas prontas.
Eu corro para o meu carro e observo os homens adentrarem a van enquanto eu ligo o carro. Com o celular conectado ao mesmo, eu ligo para o administrador da boate, Tom, e ordeno que ele esvazie o lugar imediatamente. Não preciso dizer para ele inventar nada, sei que ele vai lidar com a situação e inventar uma mentira mais convincente do que qualquer outra.
O homem simplesmente tem a lábia na ponta dos lábios e ele sabe usá-la.
No meu trajeto de volta a boate, ultrapasso três sinais vermelhos e em um deles quase fui atingido por uma carreta, mas acelerei um pouco mais e ficou tudo bem.
Assim que pulo fora do meu carro, os homens já estão me esperando na porta dos fundos. Nós entramos e tenho a minha arma apontada para a frente. Ela está carregada e pronta para entrar em ação. As luzes estão acesas, e o lugar parece vazio, mas aprendi que há coisas que nem sempre são o que parece na máfia.
Olho para Mike com um olhar que ele entende perfeitamente e os homens se separam, vasculhando o lugar. Eu subo para o andar de cima e ando entre mesas bagunçadas com todo o tipo de substância em cima, em alerta, vasculhamos cada canto da boate por uma hora inteira e não encontramos nenhuma pessoa, assim como nada foi roubado. Meu escritório estava intácto, assim como meu cofre e o meu dinheiro.
Nada, absolutamente nada foi levado.
– Esses malditos estão de brincadeira com a minha cara? Eu sou algum tipo de palhaço para eles? – Pergunto exasperado me sentando em um dos sofás e coçando os olhos, a arma ainda em minha mão. – Qual o intuito de invadir um lugar, amarrar pessoas e não levar nada? Estou enlouquecendo.
– Encontrei algo! – Um dos homens, Synce, grita do andar de cima e eu praticamente corro escada acima.
Na mesa onde eu antes compartilhava com a linda mulher, está Synce segurando um celular e um pequeno post-it. Ela deixou o número de telefone para mim?
Ele me entrega o celular e o post-it, matando as minhas esperanças de uma só cajadada.
"Felippe, fizemos uma pequena visitinha ao seu lugar e levamos a sua namorada de brinde. Espero que você e a sua família pensem bem antes de mexer com a máfia de Chicago novamente.
Ps: mande lembranças ao seu primo Gustav.
Sávio Carpenter"
Leio umas três vezes para garantir que meus olhos não estão me pregando peças e quando a mensagem fica clara, fecho os olhos enquanto amasso o papel lentamente na minha mão.
– Figlio di puttana bastardo! Vigliacco! sono entrato qui alle mie spalle perché non è garantito, accidenti. aspetta che ti metta le mani addosso! (bastardo filho da puta! covarde! entrou aqui pelas minhas costas por que não se garante, o maldito. espere até eu pôr as minhas mãos em você!) – Grito enquanto chuto a cadeira mais próxima.
O maldito Carpenter me viu com uma mulher e logo presumiu que fosse algo minha, e o pior, a sequestrou. Eu nem mesmo sei o nome dela para resgatá-la, merda.
Aperto o botão de desbloquear o celular e não preciso olhar muito para reconhecer as duas mulheres abraçadas no plano de fundo. Uma é a mulher que conheci e a outra? Bem, a outra é Desirré, minha prima.
– Nem fodendo! – Digo baixinho para mim mesmo sem acreditar no que o mundo está fazendo. A mulher que conheci hoje não é ninguém menos que a melhor amiga da minha prima, Kim.
– O que diz ai? De quem é o celular? – Mike pergunta. Ele não se retêm comigo e sempre fala diretamente o que quer saber.
– Estávamos errados em dizer que eles não levaram nada, eles levaram sim. Levaram uma mulher. – Digo entregando o papel amassado na minha mão para ele, que desembrulha e logo lê.
– A troco de quê?
– Isso é o que vamos descobrir ainda. – Digo colocando o celular de Kim no bolso e descendo para o andar de baixo. Puxo o meu próprio celular e procuro na lista de contatos o número de alguém com quem não falo faz tempo, mas a ocasião pede.
Disco o número e o celular toca quatro vezes antes que ele atenda e eu nem ao menos espero a sua saudação.
– Que diabos você fez para Sávio Carpenter? – Pergunto enfurecido.
– Boa noite para você também, primo. Como vai? – Gustav pergunta do outro lado. Consigo ouvir um barulho de criança ao fundo e sei que são seus filhos, ele tem um casal de gêmeos.
Crianças fofas, pena que nunca pude chegar muito perto por que eu era um maldito naquela época e nenhum pai em sua consciência perfeita deixaria seus filhos perto de mim, o que é uma pena, eu adoro crianças.
– O maldito Carpenter emboscou meus homens, fingiu uma enrascada, invadiu minha boate e sequestrou minha mulher! Eu não estava entendendo nada até ele deixar um bilhetinho pedindo para que eu mandasse lembranças a você. Vamos, corte a merda e me diga o que está acontecendo.
– Eu não fiz nada demais além de, talvez ter tomado um pedaço do território dele e uau! Pelo visto as coisas estão animadas em Manhattan. Eu não sabia que você tinha uma namorada. Devo criar expectativas sobre um novo casamento na família? – Um momento tão tenso e o maldito gracejando ao celular. O casamento mudou meu primo, ele costumava ser um homem muito frio e calculista, ele parece uma cocada depois dos filhos e esposa.
Isso é, até que ele precise do seu lado frio, então ele troca de máscara e faz da vida de quem fez por merecer um inferno.
– Tomou o território dele? E por que droga ele está descontando em mim? – Pergunto exasperado andando de um lado para outro.
– Parece que é a marca registrada dos Carpenter descontar suas frustrações em pessoas que não merecem.
– É? Pois muito que bem, ele mexeu com a pessoa errada. Ele poderia ter feito seu papel de homem e ter encarado a minha submetralhadora de cabeça erguida, mas agiu como um covarde e fez tudo pelas minhas costas e pelas mãos dos outros, ainda levou uma pessoa que não tinha nada a ver com isso. Não vou deixar isso barato.
– Pensei que tivesse dito que não queria mais ter nada a ver com a máfia. – Gustav fala do outro lado.
– E eu disse, mas não importa o quanto eu tente, parece que ela ainda me persegue. – Resmungo sinceramente. Isso está me dando nos nervos.
– Eu te disse, não há como sair de algo que você nasceu dentro. Mesmo que você saia da Itália, você sempre será um de nós. Somos sangue, somos família.
– De certo, e agora vou honrar nossa família acabando com o Carpenter. Virou uma questão de honra.
– Daqui a meia hora voarei para Manhattan, se prepare, você não vai sozinho. Isso vai virar um banho de sangue.