Depois De Você
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Capítulo 3 3

Lisa estava em pé junto da janela do terraço, olhando para o sol poente. Pensava na despedida de Zander.

- Jante comigo - havia dito, não como uma pergunta.

- Vou jantar com Myra e Phil.

- Hoje não vai. Esqueça.

Mesmo que ele não estivesse tão decidido, ela não ia querer discutir. A prudência tentava avisá-la para se lembrar de Don e conservar distância desse homem. Mas preferia se enganar, dizendo a si mesma que era só uma amizade de verão.

Pegou o telefone e ligou para Myra e Phil. Myra atendeu e, quando soube do jantar, ficou encantada.

- Ele está caidinho por você, Lisa. Observamos os dois hoje à tarde. Acredite na velha tia Myra que sabe reconhecer amor à primeira vista.

Lisa negou cada palavra, mas a amiga lhe desejou boa sorte.

- Aproveite o máximo - aconselhou, antes de desligar. - Se gosta dele, e acho que gosta, não faça cerimônia. Afinal de contas, quando as férias se acabarem, você não vai vê-lo nunca mais, não é?

Foi com essa idéia na cabeça que ela olhou para o relógio de pulso, contando os segundos até os ponteiros chegarem no momento exato que tinham combinado. Estava fazendo o possível para não demonstrar ansiedade, mas a vontade era de sair correndo até o elevador.

Havia tão pouco tempo até o último dia, até o momento da partida! Tão pouco tempo para estar com ele!

Logo depois já estava fechando a porta do quarto e saindo apressada. Zander a esperava encostado na parede, o olhar perdido, como se resignado a uma longa espera. Ela nunca se esqueceria como seus olhos se iluminaram num sorriso ao vê-la.

Recusou-se a perguntar a si mesma o que significava aquilo. Estendeu a mão num gesto espontâneo, mas formal. Ele puxou-a para si e,Lisa riu de pura felicidade. Olhou rapidamente em volta e viu que; Myra e Phil ainda não tinham aparecido para jantar.

- Onde estão seus três colegas?

- Lá no bar. - Foi com ela até uma mesa, no escurinho, seguindo o maitre que puxou a cadeira com um gesto exagerado.

- Você também estaria no bar, se não tivesse me escolhido para a mulher do seu verão? - Provocou-o de propósito, esperando uma resposta malcriada que não veio.

- Estaria lá, se você não me escolhesse com esses olhos azuis e essa carinha de menina perdida.

- Eu escolhi você? Ficou me olhando, encarando, parecia...

Zander deu risada de sua indignação.

- Você adorou, confesse. Agradou à sua feminilidade saber que um homem a deseja. Principalmente, logo depois de brigar com um namorado, o que sempre é um trauma.

Lisa examinou o cardápio e fingiu não ligar para as palavras dele.

- Trauma? Já ouvi falar que muita gente sente isso. Eu não sei. Mas talvez você saiba, por experiência própria.

Fez-se um longo silêncio, e ela nem teve coragem de olhar para ele. Sua pergunta tinha sido indelicada, e não o conhecia muito bem para saber qual seria sua reação.

Zander afinal respondeu, muito sério.

- Sugiro, de agora em diante, só vivermos o presente.

- Nenhum passado, nem futuro? Só presente? - Ele concordou com a cabeça e ela continuou: - Para mim está ótimo.

"Ah, mas é claro que me importo com o futuro", pensou, mordendo os lábios trêmulos.

- Então, está combinado. Vamos escolher o jantar?

Lisa não entendeu o espanhol do cardápio, achou a tradução embaixo estranhamente fora de foco e colocou-o de lado.

- Escolha você, Zander. Deve saber o gosto de todos os pratos.

O garçom aproximou-se. Enquanto Zander fazia o pedido, ela correu os olhos pela sala, viu os amigos e acenou. Myra sorriu, encorajando-a.

- Eles parecem contentes de terem se livrado de você. É por isso que está saindo comigo? Para deixar o casal de pombinhos sozinho? É por isso que quer que eu seja seu amigo?

- Amigo?

- Amizade. Não é isso que você valoriza tanto entre um homem e uma mulher?

Talvez com outros homens e outras mulheres, mas não com você!, teve vontade de dizer.

- E daí? Acho que você também só se aproximou de mim porque estava enjoado de seus amigos e queria um pouco de companhia feminina.

- Muita esperteza sua em descobrir tudo, Lisa. Dou o troco ao seu comentário. Acho que está comigo para evitar o vazio deixado pela briga com seu namorado.

Ele falou aquilo como um desafio, esperando que ela protestasse, mas Lisa nem tentou. Só disse:

- Nós não tínhamos combinado nada de passado nem de futuro?

- Menina escorregadia e medrosa, hein? Primeiro, acerta um golpe com um desafio imprudente; depois, se esconde do contra-ataque e pede uma trégua.

Lisa sorriu e imitou seu sotaque escocês:

- Ah, então sou uma fujona dos diabos, hein?

- Vou ter que lhe dar umas aulas para melhorar o seu sotaque.

- Não preciso de aulas. Depois de algumas semanas com você por perto falando desse jeito, não tenho como não ficar fluente. - Quis morder a língua pelo que acabara de falar. - Esqueça que eu disse isso.

- Tudo bem. Já apaguei. Nem passado, nem futuro. - Pegou o cálice de vinho que o garçom acabara de servir. - Vamos brindar ao lugar e ao momento.

Lisa brindou e beberam.

Na hora do café, Zander perguntou:

- Gostaria de um guia manso mas inexperiente para visitar a ilha?

Os olhos dela brilharam.

- Você me leva?

- Tire o brilho desses olhos lindos quando olhar para mim, senão, faço qualquer coisa que você quiser, Lisa.

- Zander - esticou a mão e cobriu a dele, sobre a mesa -, se você me mostrar a ilha, eu o amarei para sempre.

- Jura? - Fingindo que já ia se levantar. - Então, vamos! A oferta de uma vida em seus braços é boa demais para eu resistir!

- Eu não queria dizer nesse minuto!

- Ora, então vou ter que esperar até amanhã para começar a eternidade de uma vida feliz.

- As eternidades felizes já não estão na moda.

Ao saírem do restaurante, Lisa virou-se para acenar para Myra e Phil, mas eles tinham ido embora. Viu o rapaz loiro, amigo de Zander, que lhe fez um sinal de polegar para cima. Desviou o olhar, irritada.

- Esse seu amigo podia parar com isso. Deve haver uma razão. Está animando você? Apostou com ele que me levaria para cama antes da fim das férias?

Estavam no saguão, agora, e Zander sorriu.

- Não, mas você acabou de me dar uma idéia.

Lisa puxou a mão que ele estava segurando e começou a subir a escada, mas não foi muito longe. Zander passou o braço por sua cintura, fazendo-a parar.

- Não sabe brincar nem um pouquinho, garota?

A raiva de Lisa evaporou-se na hora e começou a rir.

- O que vai fazer hoje à noite? Dançar, outra vez?

- Se é o que quer.

- Não se preocupe comigo: só me convidou para jantar. Se quiser dançar, há um monte de mulheres que adorariam ser seu par. Sabe, moças que vieram juntas, mas estão solitárias, assim mesmo.

- Só tenho necessidade dessa moça solitária. De mais nenhuma.

- Sinto muito. - Foi subindo a escada. - Mas essa moça solitária não está à disposição da necessidade alheia. Vou para o meu quarto.

Ele a seguiu, sem dizer nada, sem indicar qual era sua intenção. Lisa parou ao chegarem no segundo andar.

- Muito obrigada por me trazer até aqui. Obrigada também pelo jantar.

Zander riu, percebendo sua estratégia.

- Muito bem. O prazer foi todo meu.

Ela foi indo em direção à porta, procurando a chave na bolsa e tentando ignorá-lo.

- Deixe comigo. - Tirando a chave de sua mão abriu a porta.

Irritada, ia se despedir num tom seco, mas ele foi mais rápido e entrou no quarto.

- Quer que eu vá embora?

Toda a decisão de Lisa foi por água abaixo.

- Pode ficar um pouco, contanto-que não veja nisso um convite ou sinal de que quero...

- Não, não vou pensar nada disso.

Zander foi até as portas abertas do terraço e ficou lá, olhos fixos na imensidão. Lisa sentou-se na cadeira de vime e olhou-o de soslaio. Continuava absorto na paisagem.

Depois de algum tempo, percebeu que ela o observava e sorriu, voltando a ser o homem que ela conhecia. Mas não bastaria só conhecê-lo? Era preciso sentir aquela profunda estima por ele?

Na verdade, ela sentia mesmo uma necessidade profunda de senti-lo perto. Era uma amizade de verão, lembrou com firmeza. Nem mais nem menos. Claro que não era um romance de férias. Um beijo, brincadeiras, risadas... e nada mais.

- Lisa? Seus amigos estão ali.

Ela se debruçou na grade da varanda e viu Myra e Phil subindo nas rochas de lava.

- Parecem dois moleques.

- Acho que está com inveja.

Já ia protestar, mas parou, dando de ombros.

- Encontraram a felicidade e fico contente. Só espero que dure.

- O que não aconteceu com você?

- Se está se referindo ao meu namorado, nunca chegamos a nos amar de verdade.

- Foi por isso que ele se apaixonou por outra, mais liberada e animada?

- Diferente de mim, é o que quer dizer? Posso muito bem rir, falar bobagem e brincar como qualquer pessoa.

- Sei que pode. - O tom era calmo, mas provocador.

- Você sabe que posso. - Ficou com raiva porque ele parecia estar se divertindo. - Se quer saber, a mulher que o roubou de mim era mandona e prepotente. Ele adorou.

- Alguns homens gostam. Eu, não.

- Ah, é? Quase me enganou.

- Eu podia fazer você pagar por essa ironia toda. Mas não vou fazer isso... ainda. - Lisa sentiu um arrepio de excitação ao ouvir essas palavras.

Escutaram um gritinho na praia e viram Myra quase cair de uma pedra. Phil segurou-a com força. Lisa desviou o olhar do casal abraçado, louca para ser amada daquele jeito. Mas o que não admitiria nem para si mesma era por quem queria ser amada tanto assim.

- Onde é que você mora? - perguntou Zander.

- Num subúrbio a oeste de Londres, não muito longe do meu «trabalho.

- Sozinha?

Ela não se lembrou da promessa de não se meterem na vida um do outro.

- Morava com Myra num apartamento de dois quartos. Agora moro sozinha. E você?

Na penumbra, achou que seus olhos castanhos endureciam.

- Já lhe disse: pelo mundo.

- Mas com certeza tem uma casa? Um teto sobre sua cabeça? - Ele não teve pressa para responder. - Ou mora com outra pessoa?

- Para uma conhecida de pouco tempo, você faz perguntas demais. É assunto meu o lugar onde descanso a cabeça para dormir, não é, srta. Maynard?

Será que ele sabia como essa resposta machucava?

- Você me fez o mesmo tipo de pergunta e eu não fiquei enfurecida. Respondi com educação.

Ele espreguiçou-se, estendeu a mão para ela e puxou-a. Segurou seu queixo.

- Aceite minhas desculpas. Agora mereço um sorriso? - Os olhos castanhos a observavam com tanto carinho, que ela não teve saída, senão rir. - Mais um para a minha coleção.

- O que vai fazer com eles? Colocar num álbum, feito um colecionador de selos?

- Gosto quase tanto do sorriso quanto de você.

- Então, quando a gente se separar para sempre, vai rasgar cada sorriso meu e colocar no lugar sorrisos mais preciosos, como o da mulher que amar o bastante para se casar.

Ele beliscou seu queixo, machucando-a.

- O amor é uma emoção que nós dois não devemos discutir.

Levou-a para dentro do quarto e fechou as portas de vidro. Beijou-a, então, com tanta força que sua cabeça inclinou-se para trás. As mãos de Zander estavam frias e acariciantes, subindo pelo ombro dela e parando no decote como se esperassem um protesto. Como não veio, os dedos curiosos continuaram sua busca, descendo aos poucos, devagar.

Quando ele segurou seu seio por dentro do vestido, Lisa engasgou, sem fôlego. Lutou para se livrar, mas só conseguiu que ele a abraçasse e beijasse mais forte, acariciando o mamilo rijo, deixando-a louca de desejo.

Não importava que não soubesse nada sobre Zander, que sua identidade fosse um mistério que não conseguia desvendar. Só sabia que estava sentindo o que jamais sentira por outro homem, nem mesmo por Don. E era um desconhecido! Ficava excitada ao se encostar nele, e sua personalidade a envolvia num círculo mágico, que a excluía do resto do mundo.

Quando ele parou de beijá-la, tirou a mão de seu seio, mas não a soltou inteiramente.

- Acho você irresistível - disse, rouco.

- Não sei como pode dizer isso. Só nos encontramos ontem.

- Não consegui tirar os olhos de você desde que a vi. Que tal chamar de atração à primeira vista?

Lisa franziu a testa, pensativa.

- Só ontem, e parece há tanto tempo. - Agitada, desvencilhou-se, alisando o vestido. - Não podemos nos envolver demais. Acho que não devemos nos encontrar de novo.

Ele prendeu seus braços para trás, apertando-a contra o corpo.

- Por que lutar? A atração está aqui, para nós dois. Ceda, Lisa. Eu já me dei por vencido.

Ela se soltou.

- Acabei de levar um fora. Don era bom, simpático, mas eu sabia que não era o homem certo para mim. Assim mesmo, doeu. Não quero ser magoada de novo, Zander.

Ele ficou sério, tão sério que ela se espantou.

- Está dizendo que ficaria magoada quando a gente se separasse, mesmo depois de me conhecer só por alguns dias?

Olhou-o, muda. Se dissesse "sim", revelaria o segredo que ainda não contara nem para si mesma. Se respondesse "não", mentiria. Ficou calada.

Ele também. Continuou a olhá-la, mas sem a emoção de antes. Estava escapando dela, podia sentir. Lisa agarrou os ombros dele e encostou o rosto em seu rosto.

Zander acariciou suas costas, os quadris, os seios. Ela sentiu sue agitação e, num gesto puramente instintivo, colocou as mãos sobre as dele, fazendo com que parassem em sua cintura, num esforço inexplicável para acalmá-lo. Ele afastou-a com toda gentileza, roçando os lábios na boca macia.

- Boa noite, Lisa.

Ela o viu ir para a porta e sentiu uma onda de frustração e carência.

- Vou ver você amanhã?

Zander sorriu.

- Olhe à sua volta. Talvez eu esteja por aqui.

Lisa levantou-se cedo. Para sua surpresa, Myra e Phil a estavam esperando no saguão do hotel.

- Esperamos ter feito a coisa certa, ontem - disse Myra, ao irem juntos para a mesa do restaurante.

- Vocês estavam tão bem juntos - comentou Phil -, que achamos que seria uma pena interromper.

- Tudo bem. Para ser franca, achei que fizeram a coisa certa, sim. Eu... gosto dele.

Só que não sabia se era correspondida. Zander tinha dito muita coisa lisonjeira, mas os homens sempre dizem, quando querem uma mulher.

- Vão se ver hoje? - perguntou Myra, interessada. - Sabe, tem pouco tempo para conhecê-lo e...

- Sabem o que dizem - completou o marido. - Romances de verão não duram.

Lisa riu, depois ficou séria ao ver o grupo de quatro homens que entrava. Zander não olhou em sua direção.

- Vou ver, sim. Está bem ali, numa reunião com os colegas.

- Colegas? - perguntou Phil, surpreso. - Não me diga que está aqui trabalhando?

- Está. Engenharia civil. E ainda por cima, os outros o chamam de patrão. Eu ouvi.

- Patrão de quê? - perguntou Myra. - De onde ele é?

Lisa deu de ombros.

- Perguntei e não me respondeu. Disse que o mundo é sua casa.

- Talvez seja um empreiteiro ou qualquer coisa parecida. Aluga seus serviços de consultoria, e assim tem que viajar muito.

- Ele já ouviu falar na firma onde nós trabalhamos?

Lisa confirmou e resolveu mudar a conversa para águas mais seguras. Não queria continuar falando sobre Zander Cameron. Sua amizade com ele era coisa muito preciosa para ser discutida displicentemente com outras pessoas, mesmo que fossem amigos.

- Vou pegar alguma coisa para comer. Vocês vêm também?

Para chegar ao bufê, era preciso passar pelos quatro. A discussão os absorvia completamente, notou Lisa desapontada. Já servida, voltou, pronta a ser completamente ignorada outra vez. Assustou-se quando o rapaz loiro virou a cabeça e piscou para ela. E ficou mais espantada, quando Zander fez cara feia.

"Uma hora me conhece, outra me desconhece. Que coisa irritante! Bom, dá para dois jogarem esse joguinho", decidiu ela, sentando-se e rindo com os amigos. Quando os quatro homens se levantaram e Zander Cameron saiu com eles sem olhar em sua direção, perdeu a alegria fingida. Não se importava se Myra e Phil percebessem que não conseguia mais achar graça na conversa deles.

Passou a manhã com os dois, fazendo compras nas lojas do hotel. Depois, deram uma volta pela cidade de Arrecife. O sol estava quente e o vento embaraçava os cabelos e levantava as saias das mulheres. Descobriram o caminho até a igrejinha branca de São Gines e olharam os barcos de pesca que formavam a maior frota pesqueira das Canárias.

De volta ao hotel, Myra e Phil subiram a escada correndo, mas Lisa preferiu ficar um pouco no saguão, dizendo a si mesma que precisava de um descanso antes de ir para o quarto. Afundou numa das poltronas vermelhas. No íntimo, sabia qual era a verdadeira razão de estar ali. Seus olhos corriam pela sala cheia de gente, procurando a figura alta e de barba. E encontraram.

Ele estava recostado no bar, copo na mão, daquele jeito indolente tão conhecido, olhando-a de alto a baixo como se nunca a tivesse visto antes. Tomou um gole de uísque e continuou a observá-la. Estava perto o bastante para ver que ficava vermelha.

"Agora, é minha vez de fingir que ele não existe."

Encarou-o também e subiu a escada, empertigada; cada batida de seu salto no mármore mandava a mensagem de que não queria vê-lo nunca mais na vida.

Ainda furiosa, fechou com força a porta do quarto. Tirou a roupa e tomou um banho de chuveiro morno e relaxante. Saiu do banheiro enrolada numa toalha, sentindo-se mais animada, e ficou um fôlego, quando deu com o homem em pé, braços cruzados, encostado na porta. Há quanto tempo estaria ali?

- Esse quarto é meu. Saia daqui!

- Se não me quisesse aqui, teria trancado a porta.

- Eu tranquei, tenho certeza. - Mas não estava tão certa assim.

- Então, como foi que entrei?

Era uma boa pergunta e a irritou pela lógica.

- Está bem. Você está certo e eu, errada. Entrou, mas agora dê meia volta. - Ajeitou a toalha debaixo dos braços e o empurrou, aflita.

Zander nem se mexeu.

- Cheguei ao meu destino: aqui, no seu quarto. Em resposta ao olhar que me deu ao subir a escada, com a clara mensagem de "siga-me".

Empurrando-o pelo peito, ela explodiu.

- Era um olhar de "desapareça"! Não desafiei, nem convidei.

Ele era irremovível como uma montanha. Baixou a cabeça mas olhou-a primeiro.

- Por que seus lábios estão tremendo, Lisa? Excitação ou medo?

Era impossível responder, pois sentia as duas coisas. Apertou a toalha contra o corpo, com medo de que caísse a única barreira entre eles.

- Está com medo? De mim? - insistiu.

- Estou sim, Zander, Por favor, saia daqui.

A resposta dele foi apertá-la nos braços, abrindo seus lábios macios e saboreando até o mais fundo que um beijo permitia. Lisa viu-se abraçada ao pescoço dele, aceitando tudo, como se fosse direito de Zander tomá-la toda para si, como se lhe pertencesse para sempre. Um instante depois, sentiu a toalha ser tirada, devagar. Hipnotizada pela força do olhar dele, deixou que a toalha caísse, sem o menor protesto. Naquele momento, poderia ter feito com ela o que quisesse. Mas nem a tocou. Foram seus olhos, outra vez muito sérios, que traçaram um caminho de fogo por seu corpo. Pararam na curva empinada dos seios, desceram pela cintura, quadris, e coxas.

- Você é tão linda quanto eu imaginava. - Abaixou-se, pegou a toalha de novo e a enrolou nela. Falou, já da porta. - Espero você no saguão depois do almoço. Vamos dar uma volta.

Ele estava lá, esperando, quando Lisa desceu.

- Obedeci às suas ordens: estou aqui.

- E de boa vontade?

- Não.

- Que mulher de coração mais duro!

- Pelo contrário, é muito sensível.

- Podia pedir que me provasse isso.

- Podia, mas eu me recuso a obedecer a todos as suas ordens. Pode ser o patrão de muita gente, mas não é o meu, sr. Cameron.

Ele piscou, divertido.

- Vamos embora e pare de resmungar.

De mãos dadas, ela o seguiu até o carro. Logo saíam da cidade e entraram na paisagem misteriosa e escura da ilha.

- Nunca vi nada assim! - disse Lisa. - Para todo lugar que se olha, só se vê esse chão negro. É tudo tão vazio!

- Estou aqui para preencher esse vazio - Zander brincou, dirigindo como se conhecesse o caminho de cor.

- Que vergonha! Por que não deixam assim como está: toda essa grandeza, todas essas montanhas misteriosas....

- E onde você e os outros turistas ficariam, quando quisessem visitar o lugar? Dormiriam em barracas sobre essa poeira negra? Se não fosse por nós, nem estaria aqui. - Manobrou o carro para sair do caminho de um ônibus de turismo. - Aliás, acho irônico, para dizer o mínimo, você desaprovar uma nova construção. Não sabia que a Thistle International, a companhia onde trabalha, também constrói?

Lisa recostou-se no assento.

- Claro que sabia, mas trabalho no Departamento de Pessoal: lido com gente, e não com projetos. Myra é secretária de um dos diretores. Ela sugeriu que viéssemos para cá nas férias depois que ele lhe contou como era o lugar.

- Então, pense duas vezes antes de criticar.

- Acho sua lógica infalível, mas não posso deixar de criticar a mania que os homens têm de estragar esses lugares maravilhosos com tijolos e cimento.

- Um ponto, srta. Maynard. Ainda bem que não está empregada no departamento de projetos da companhia.

Irritada, virou-se para brigar com ele e descobriu que sorria, divertido. Suspirou aliviada e continuou a olhar o panorama das montanhas e vales semi-escondidos, o céu azul sem nuvens e a névoa que cobria o mar.

- Tudo isso é fascinante. Como outro planeta. Como se formou isso aqui?

- Vulcões. Não há água e quase nenhuma chuva, mas os habitantes da ilha conseguem plantar uvas e fazer vinho. Há figueiras e árvores cítricas. Plantam também milho, cebola e tomate nessa terra seca. À noite, há um orvalho pesado e aprenderam a usá-lo.

- Devem trabalhar muito.

- Têm que sobreviver. Em 1730 houve uma série de erupções vulcânicas devastadoras que duraram uma semana. Aconteceram outras, no século passado. A lava preta que você vê à nossa volta vem dessas erupções. Cobriu um solo muito fértil.

- Mas as pessoas lutaram...

Ela olhou em volta.,

- Mesmo assim, parece o céu, comparado com o clima que temos.

Zander sorriu.

- É, parece que estamos mesmo no céu. É o efeito que você causa em mim.

O que ele queria dizer? Queria alguma coisa dela? As perguntas se amontoavam em sua cabeça. Confusa, brincou:

- Sabe fazer um elogio generoso, meu senhor.

- Não é elogio, é a pura verdade.

            
            

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