Depois De Você
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Capítulo 4 4

É, Zander estava falando sério. Nunca ia entender esse homem. Olhando para a frente, perguntou:

- Podemos ir embora agora, não?

O dia perdera o brilho, apesar de o sol não ter se escondido. Ao chegarem à entrada do hotel, Lisa perguntou:

- Seu quarto dá para o mar? - Ele concordou, segurando a porta para ela entrar. - É gostoso, como o meu?

- É. Está esperando um convite? - Vermelha, sacudiu a cabeça. Por que não percebera que suas perguntas levariam a isso? - Não adianta, porque não vou convidá-la.

Com o rosto pegando fogo, Lisa virou-se para o outro lado.

- Por favor, desculpe. Obrigada pelo passeio e por agüentar a minha simplória companhia.

Ele segurou seu braço.

- Desça do pedestal. Se eu a ofendi, sinto muito, mas sabe que qualquer homem reagiria assim às suas perguntas.

- Tomarei mais cuidado da próxima vez. Se houver uma próxima vez.

Começou a subir a escada e ele foi atrás.

- Jante comigo hoje.

- Não quero saber se é uma ordem ou um convite. A resposta ia ser a mesma: não, obrigada.

Zander deu de ombros e foi embora.

No quarto, Lisa jogou-se numa cadeira, tremendo de raiva e frustração.

Graças aos céus, Myra e Phil. estariam lá para dividir a mesa. Quando Zander entrasse com os amigos, ela teria o maior prazer em virar as costas para ele e ficar rindo e conversando. Assim, esconde ria sua profunda mágoa por ele ter encarado com tanta displicência sua recusa.

Fez exatamente como planejou. Quando ele entrou, ela mudou para a cadeira do lado, fazendo barulho e sabendo que atrairia atenção de Zander. Depois, fingiu adorar as graças de Phil, rindo mais alto do que Myra.

No fim do jantar, Phil convenceu a mulher a ir dançar.

- Venha conosco - insistiu Myra. - Seu amigo barbudo vai procurar você lá. Aliás, ele está olhando para suas costas como se quisesse esganá-la. Brigaram?

Lisa levantou os ombros já bronzeados,

- Ele queria jantar comigo e recusei. Só isso.

- Só isso? Meu Deus! - exclamou Phil. - Não é à toa que ele está com aquela cara fechada. Deve ter ferido o orgulho do cara.

Lisa não explicou que era exatamente o contrário, ele é que tinha ferido o dela.

- Eu não vou, obrigada. Divirtam-se. Vou escrever uns cartões para alguns amigos.

- Tem certeza? - perguntou Myra, ao se separarem na recepção. Lisa concordou, enfaticamente, e eles foram embora, de mãos dadas.

Ela não escreveu os cartões como pretendia. Inquieta, foi para o terraço e ficou olhando o pessoal que gostava de tomar banho de mar à noite. Logo se juntaria a eles, mas para um passeio a pé pela areia da praia. Primeiro, ia ler um pouco.

Era mais fácil decidir do que levar a avante a intenção: o livro que tinha comprado era até bom, mas não prendia sua atenção. Tentou uma revista. Folheou, leu uns artigos e dois pequenos contos. A inquietação voltou.

''Saia desse quarto. Vá fazer alguma coisa, andar, passear." Obedeceu ao instinto porque não agüentava mais ficar ali. Ia sair, quando o telefone tocou. Seu coração disparou.

- Alô?

- Quer dançar comigo? - A pergunta foi direta como se ela estivesse sentada na mesa perto da pista. A voz baixa e rouca trouxe o charme sensual de Zander para dentro do quarto. Assim mesmo, a resposta foi incisiva e curta:

- Não, obrigada. Ache outro par.

Desligou, cruzou as mãos no colo e ficou esperando outra chamada. Nada, a não ser silêncio. Ficou zangada por ele, pela segunda vez naquele dia, não tentar convencê-la com mais insistência.

Irritada, resolveu ir nadar.

Alguns minutos depois, descobria como o mar estava gelado. Mas era melhor do que ficar trancada no quarto. Foi até as rochas semi-submersas nas quais tinha estado com o amigo de Zander. Só de pensar nisso ficava com raiva, o que lhe aumentava a força das braçadas.

- Cuidado com as pedras! - O grito veio de longe. Reconheceu a voz, mas não ligou para o aviso. Aliás, ele não precisava chamar sua atenção, pois se lembrava muito bem da textura e das arestas pontudas das rochas.

Apesar disso, arranhou a perna ao subir. Na semi-obscuridade, não dava para ver direito o machucado. Nem o nadador que se aproximava com largas braçadas. Só o percebeu quando sentou-se ao lado dela.

- Por que veio atrás de mim? Todas as outras mulheres já arranjaram par?

- Quem disse que segui você? Vim porque quis. Para dar um mergulho.

- Então, o que está fazendo, sentado ao meu lado?

- Você, que se parece com a deusa Vênus, precisa perguntar isso a um homem?

Enfrentou o olhar dele, decidida a não permitir que a deixasse embaraçada.

- O que é? Está me olhando tanto para ter a certeza de que sou homem? Não preciso fazer isso para saber que é bem feminina. Ainda mais, vestida assim.

Num impulso, Lisa escorregou para dentro da água e nadou para a praia. Ele a seguiu imediatamente. Alcançou-a na areia e tirou a toalha de suas mãos.

- Estou com frio, Zander. Por favor, deixe eu me enxugar. - Quase não conseguia vê-lo, no escuro. A praia estava vazia.

Ele não respondeu e começou a secá-la devagar.

- Chega, está bom. - A sensação de ser tocada por ele, mesmo através da toalha, era demais para agüentar sem ter vontade de tocá-lo também. - Agora, preciso secar o cabelo.

Zander deixou a toalha cair no chão e puxou Lisa pela cintura para baixo, de modo que se deitaram sobre ela. Abraçou-a com força e beijou-a com uma fúria que até machucou.

Agora não podia deixar de retribuir seu ardor. O corpo movia-se. junto com o dele, coxas com coxas, quadris com quadris. Só quando sentiu a barba dele roçando os seios, percebeu que havia tirado o sutiã de seu biquíni. Mas já não ligava para mais nada.

- Meu Deus, como eu quero você, Lisa. - As palavras saíram roucas. - Eu quero você, entendeu?

O mar quebrava em ondas murmurantes, chegando às pernas deles. A maré subia. Uma meia-lua brilhava no céu estrelado.

- A maré, a maré, Zander!

- Deixe a maré subir. Deixe que ela nos pegue e nos leve embora, abraçados, para a eternidade.

- Zander, nossas coisas vão ficar encharcadas, e estou morrendo de frio.

Arrepiou-se toda, e seu corpo trêmulo nos braços dele fez com que voltasse à realidade. Levantou-se e puxou-a. Sorrindo, ela pediu que ele abotoasse o sutiã do biquíni. Depois, vestiu o roupão atoalhado e esperou que ele também se vestisse.

Voltaram para o hotel devagar e tomaram o elevador sem conversar. Na porta do quarto, ela disse:

- Obrigada por me trazer até aqui. Boa noite.

Zander pegou a chave de sua mão, abriu a porta, fez com que entrasse e a seguiu.

Lisa estendeu a mão.

- Você está com minha chave - lembrou, com um sorriso inseguro.

- Vou devolver, quando conseguir o que quero.

Ela baixou os olhos para esconder as emoções conflitantes. Era imperativo que Zander não visse o quanto queria ceder ao desejo. Os braços dele a envolveram pela cintura, puxando-a contra si.

- Você não falou, mas juro que está acontecendo muita coisa aqui dentro. - Tocou a cabeça dela.

- Só estou pensando no melhor jeito de pedir desculpas, porque é uma coisa que não faço.

- Não faz o quê?

- Não dou aos homens o que eles querem,

Ele riu e seu rosto se iluminou. Ela franziu a testa, estranhando um homem rir quando lhe davam o fora.

- Nem quando o que eles querem é um simples sorriso?

Lisa sorriu, ao mesmo tempo aliviada e desapontada.

- Ela riu! Vou pegar esse! - Abraçou-a apertado e beijou-a.

Gostava de ser apertada assim. Quando ele levantou a cabeça, seus olhos castanhos lhe diziam de todo o seu prazer e desejo não realizado.

- O que vai fazer com meu riso? Colocar numa página inteira do álbum?

- Vou fazer melhor do que isso. Vou gravar e pôr para tocar nos momentos mais tristes e solitários.

- Solitários? Não é mesmo casado?

Zander ficou sério de repente e soltou-a.

- Não, não tenho uma mulher. Boa noite, Lisa.

Não podia deixar que fosse embora sem combinar um novo encontro.

- Amanhã você vai trabalhar?

Ele tocou seu rosto de leve.

- Não, vou passear. Passear pela ilha com uma mulher.

Lisa ficou tão desapontada que poderia ter chorado. Virou-se e disse, displicentemente:

- Ah, entendo.

- Não entendeu nada. Vou passear com você.

Ela não se importou de demonstrar toda sua alegria.

- Estarei pronta. A que horas?

- Lá pelas dez. Encontro com você na recepção, está bem?

- Está bem, na recepção.

Zander roçou os lábios nos dela.

- Não fique tão escandalosamente contente com a idéia! O homem gosta de ser o caçador.

Lisa deu um puxão na barba dele, que pegou sua mão e beijou. Ela ficou olhando, enquanto ele atravessava o corredor em direção ao elevador.

No café da manhã, Lisa explicou a Myra e Phil que passaria o dia com Zander.

- Então, afinal descobriu o homem especial que procurava - comentou a amiga, sorrindo para o marido e pegando sua mão. Era um gesto possessivo, que queria dizer que ele era o dela, o que Lisa achava comovente. Fez um muxoxo e empurrou a xícara vazia.

- Talvez. Mas não tem muito sentido, não é? No fim das férias não o verei mais. É um andarilho, foi o que me disse.

Phil fez uma expressão de aviso. Zander estava ao lado de Lisa, ora, sorrindo.

O coração dela bateu mais depressa e ficou vermelha. Será que ele escutado a conversa?

- Acabou o café? - perguntou Zander, depois de cumprimentar o casal. - Vamos? - Lisa concordou com a cabeça e se levantou. Sempre fazendo exatamente o que ele queria. Será que percebia o poder tinha sobre ela?

- Ela comeu feito um passarinho - comentou Phil.

- Acho que está apaixonada - acrescentou Myra, brincalhona, e escondeu o rosto com as mãos quando a outra a fuzilou com o olhar.

Zander riu, divertido com a irritação de Lisa. Foram andando e pegou a mão dela.

- Então, sou o homem especial por quem você estava procurando? É bom saber.

- É bom para o seu orgulho, tenho certeza.

Chegaram ao estacionamento do hotel.

- Se não tivesse tanta gente por aqui, eu te dava umas palmadas, para deixar de ser malcriada.

Ela entrou no carro e respondeu:

- Claro que seu orgulho está satisfeito. Como não? Para nós, não há futuro nem passado, o que nos deixa só com o hoje.

- Vamos, então, fazer o máximo com o hoje. O amanhã está chegando.

Lisa fechou os olhos. Como podia apreciar qualquer coisa dessa ilha fascinante, agora que o homem a seu lado a fizera lembrar o curto espaço de tempo que tinham juntos?

- Minha máquina! Eu queria ter trazido, minha máquina! O que é que eu faço, Zander?

- Tenho a minha, ali no banco de trás. É só me dizer a foto que quer tirar, que eu bato para você. Se me der seu endereço, mando depois.

Ela concordou e o coração bateu um pouco mais alegre ao pensar que a ligação com ele não se quebraria totalmente. Mas logo percebeu que não adiantaria nada manterem contato, estando tão longe um do outro. Seria só prolongar a agonia?

- Onde vamos?

- Até onde o carro nos levar. Estamos saindo agora - informou Zander -, e indo para o interior.

- Parece cada vez mais fantástico. É incrível essa terra coberta de cinza!

- As cinzas foram postas pelos fazendeiros. Espalham sobre o chão onde as sementes foram plantadas.

- Quer dizer que as ajuda a crescer?

- Para começar, protege as sementes do vento. Pode imaginar a importância disso num lugar em que não há fontes nem chuva.

- Como aprendeu tudo isso? - Olhou-o, admirada.

- No meu serviço preciso saber as coisas. Mas qualquer guia de turismo podia lhe dar essa informação.

- Então, tenho meu próprio guia.

- Cobro mais caro para turistas atrevidas.

A terra preta começou a se manchar de verde. Subiram ao topo de uma montanha e Lisa deslumbrou-se com a paisagem.

- São as vinhas da ilha - explicou Zander. - É, eu sei que é difícil acreditar que aqui crescem parreiras.

Pararam num restaurante. Lisa seguiu Zander por uma subida íngreme, de pedregulhos, até uma sala grande, escura e cheia de pessoas alegres.

- Você pode tomar quantos copos de vinho quiser - disse ele. - Contanto que eu não tenha que carregá-la de volta, em coma alcoólica.

- É muito doce - comentou Lisa, depois de provar um grande gole - e já está me subindo à cabeça.

- Então, chega. Senão não vai chegar à cidade andando.

Passaram por salinas onde bombas acionadas pelo vento puxavam a água do mar.

- Depois da evaporação - disse Zander -, os depósitos de sal são deixados aqui em grandes pirâmides. Há também uma indústria de dessalinização. Agora, com os turistas, tornou-se uma realidade.

A paisagem mudou de novo. Era a zona vulcânica. Lisa viu, atônita, que as montanhas haviam mudado a cor, de preto para tons de rosa, vermelho e verde.

- Logo estaremos na região das Montanhas del Fuego.

Almoçaram num restaurante circular, de vidro, construído para turistas. A comida era boa e o vinho ótimo.

Contente só por estar com Zander, Lisa aproveitou cada momento. «O passado estava seguro, preso em sua memória, e o futuro era um, vazio infinito. Só tinha o presente.

Depois, Zander tirou todas as fotos que ela pediu: da montanha e da praia lá embaixo.

- Apesar da linda paisagem, está faltando alguma coisa - disse ele. - Alguma coisa ainda mais bonita. - Sorriu ao vê-la intrigada.

- Posso demonstrar? - Deu-lhe um beijo, e, quando acabou e ia se afastar, ela o puxou e retribuiu com outro. Ele ficou de olhos brilhantes e depois enigmáticos, com uma expressão que ela não soube decifrar. Nunca, nunca mais seria tão feliz quanto hoje.

- Não tiramos nenhuma foto nossa. Vamos dar um jeito nisso.

- Primeiro eu! - disse Lisa, esticando a mão para a máquina, mas ele a impediu, bruscamente.

Ela se afastou alguns passos, mostrando sua mágoa pela grosseria. Zander riu.

- Não faça beicinho, menina, eu não queria ofender. É que essa máquina é cara, você precisa aprender a usá-la.

O rosto dela se desanuviou. O homem que conhecia tinha voltado:

- Então, me ensine. - E ele mostrou exatamente o que devia fizer.

Em pé a uma certa distância, ela o focalizou e o viu, por um segundo amedrontador, como a câmera não o veria: de terno cinza, com ar de autoridade, distante e frio. Rapidamente, abaixou a máquina e o encarou, para se assegurar que não estava ficando louca ou bêbada.

- E agora, o que há de errado?

- Nada. Só estou me ajeitando, como fazem os grandes fotógrafos.

Zander riu e ela esperou até que o riso se apagasse. Então, bateu a foto. Pronto, agora ele estava ali, dentro da máquina. Quando mandasse as fotos para ela, e alguma coisa lhe dizia que cumpriria a promessa, poderia segurá-lo, dormir com o retrato emoldurado na mesinha da cabeceira.

- Eu gostaria de ter uma foto de nós dois juntos.

- Não vai ser difícil. - Zander olhou em volta e escolheu um jovem pai de família. Trocou umas palavras com ele, que concordou em bater a fotografia.

- Mais uma! - gritou o homem, e pegou-os abraçados, Lisa com a cabeça no ombro de Zander.

Ele riu, virou-se, pegou-a pela cintura e beijou-a. A máquina fez clique de novo. Separaram-se, e só então ela viu que não era o mesmo fotógrafo.

O homem que segurava a câmara era o colega de Zander, o tal loiro.

            
            

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