Marcada pelo prazer
img img Marcada pelo prazer img Capítulo 4 Habilidades sexuais
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Capítulo 6 Eu a machuquei img
Capítulo 7 Um homem grosso img
Capítulo 8 Você é minha img
Capítulo 9 Uma mulher adulta img
Capítulo 10 Primeira vez milorde img
Capítulo 11 Sorriso que tira o fôlego img
Capítulo 12 Coxas apertadas com força... img
Capítulo 13 Não resista! img
Capítulo 14 Eficiência silenciosa img
Capítulo 15 Satisfação img
Capítulo 16 Ele poderia gozar assim.... img
Capítulo 17 Violênto img
Capítulo 18 Perigoso demais img
Capítulo 19 Você salvou minha vida img
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Capítulo 4 Habilidades sexuais

Diferente de sua casa na Grosvenor Square, a residência de Marcus que ficava no

centro da cidade, o Chesterfield Hall, era uma propriedade longe de qualquer outra

casa. De pé, no saguão para visitantes, Marcus entregou seu chapéu e luvas para um

criado, então, seguiu o mordomo pelo corre-dor até o salão formal.

Não pôde deixar de notar o significado do local de sua recepção. Houve um

tempo em que ele seria levado para o andar de cima e recebi-do como um membro

da família. Agora, não era mais considerado digno de tal privilégio.

– Eis o Conde de Westfield – anunciou o criado.

Entrando, Marcus parou na soleira e olhou ao redor do salão, observando com

interesse o retrato que enfeitava o espaço acima da lareira. A falecida Condessa de

Langston o encarava de volta com um sorriso cativante e olhos violetas iguais aos de

sua filha. Porém, diferente dos de Elizabeth, os olhos de Lady Langston não

mostravam nenhuma desconfiança, apenas o brilho de uma mulher contente consigo

mesma. Elizabeth testemunhara apenas brevemente o tipo de felicidade que seus

pais cultivaram durante uma vida inteira. Por um momento, o arrependimento subiu-

lhe à garganta.

Ele jurara dedicar sua vida a fazer Elizabeth sentir a mesma felicidade. Agora, ele

queria apenas saciar sua fome e se livrar de sua maldição.

Apertando o queixo, ele desviou os olhos daquela lembrança dolorosa e

avistou a forma cheia de curvas que afligia seus pensamentos dia e noite.

Quando o mordomo fechou a porta com um leve clique atrás de si, Marcus

levou a mãos às costas e trancou a fechadura.

Elizabeth estava de pé ao lado das janelas em arco que davam para o jardim

lateral. Usando um simples vestido diurno e banhada indireta-mente pela luz do

sol, ela parecia tão jovem quanto da primeira vez que se encontraram. Como

sempre, cada terminação nervosa de seu corpo formigava diante de sua

presença. Em todos os seus muitos encontros, ele ainda estava para conhecer

uma mulher que o atraísse tanto quanto Elizabeth o atraía.

– Boa tarde, Lorde Westfield – ela disse com uma voz enrouquecida que o fez

lembrar lençóis de seda esparramados pela cama. Ela olhou rapidamente a mão dele,

que permanecia sobre a fechadura. – Meu irmão está em casa.

– Que bom para ele – Marcus cruzou o grande tapete Aubusson em poucos

passos e levou a mão dela até seus lábios. Sua pele estava macia e seu cheiro era

excitante. A língua dele se aventurou a lamber entre os dedos dela. Marcus observou

os olhos de Elizabeth se arregalarem. Então, levou a mão dela até seu peito e a

manteve ali. – Agora que seu luto chegou ao fim, você planeja voltar à sua antiga

residência?

Os olhos dela se estreitaram.

– Isso seria muito conveniente para você, não é mesmo?

– Certamente os cafés da manhã na cama e os encontros secretos seriam mais

fáceis com um arranjo mais privado – ele respondeu sem hesitar.

Arrancando a mão de seu aperto, Elizabeth virou as costas para ele. Marcus

segurou um sorriso.

– Considerando seu óbvio desgosto por mim – ela murmurou –, não entendo por

que você deseja a intimidade.

– Proximidade física não requer intimidade.

Os ombros dela ficaram tensos debaixo de seus cabelos negros.

– Ah, sim – ela zombou. – Você já provou esse fato várias vezes, não

é mesmo?

Retirando uma sujeira inexistente da manga de sua camisa, Marcus andou até

o sofá e ajustou o casaco antes de sentar-se. Ele se recusava a mostrar irritação

diante da censura que ouvira em sua voz. Culpa era algo de que ele não

precisava; já sentia o bastante por si próprio.

– Eu me tornei aquilo que um dia você me acusou de ser. O que esperava que eu

fizesse, meu amor? Enlouquecesse de tanto pensar em você? De tanto desejar você?

Ele suspirou dramaticamente, na esperança de persuadi-la a olhar em seu rosto.

Contemplar suas feições era um simples prazer, mas após quatro anos, tornou-se

uma alegria tão necessária quanto o próprio ar que respirava.

– Eu realmente não estou surpreso de saber que, se você tivesse escolha,

recusaria a me dar o pouco consolo que me resta, como a criatura cruel que você é.

Elizabeth se virou, revelando o rosto que começava a corar.

– E você culpa a mim?

– E a quem mais eu culparia? – ele abriu sua caixa de rapé e tirou uma pitada. –

Você é quem deveria ter estado em meus braços durante todos esses anos. Ao invés

disso, sempre que eu tinha uma mulher em minha cama, eu torcia para que ela

pudesse me fazer esquecer você. Mas isso nunca aconteceu. Nem uma mísera vez –

Marcus fechou a tampa com força.

Elizabeth respirou fundo.

– Por muitas vezes eu ficava no escuro e fechava os olhos. Eu imaginava que era

você ao meu lado, que era com você que eu compartilhava cada nova experiência.

– Maldito seja – as mãos dela se apertaram em pequenos punhos. – Por que você

tinha que se tornar igual ao meu pai?

– Preferia que eu me tornasse um monge?

– Melhor do que um libertino!

– Enquanto você saciava as necessidades de outro homem e não sofria com nada?

– ele forçou-se a aparentar calma enquanto todas as fibras de seu corpo gritavam de

tensão e expectativa. – Você pensou em mim, Elizabeth, em seu leito conjugal?

Alguma vez foi assombrada por sonhos em que eu aparecia? Alguma vez desejou

que fosse meu corpo cobrindo o seu, preenchendo o seu? Meu suor cobrindo seu

corpo?

Elizabeth permaneceu congelada por um longo momento, e então, sua boca

exuberante repentinamente se curvou num sorriso desafiador que provocou um nó no

estômago dele. Quando o mordomo permitiu sua entrada, Marcus soube que

Elizabeth não pretendia mais se esconder ou fugir. Ele havia se preparado para uma

briga. Porém, um ataque sexual nunca passou pela cabeça de Marcus. Será que

nunca conseguiria entendê-la?

– Você gostaria mesmo que eu contasse sobre as noites em meu leito conjugal,

Marcus? – ela sussurrou. – Gostaria de ouvir sobre as muitas maneiras que

Hawthorne me possuiu? As coisas que ele mais gostava, o que desejava? Humm?

Ou talvez prefira ouvir sobre as coisas que eu gostava? Como eu gostava de ser

possuída?

Elizabeth se aproximou, balançando os quadris tão deliberadamente que fez a

boca de Marcus secar. Em todas as vezes que se encontraram, ela nunca fora a

agressora sexual. Marcus sentiu-se profundamente per-turbado pela maneira como

isso o excitou, principalmente considerando que passara os últimos quatro anos em

relações instigadas por suas amantes, e não o contrário.

E não ajudava em nada o fato de que sua relutante luxúria fora despertada pelas

palavras e imagens que ela evocava. Ele imaginou o rosto dela mergulhado na cama,

excitada enquanto outro homem a tomava por trás. Seu maxilar doeu de tanto apertá-

lo, sentindo uma possessividade primitiva tomar conta de sua mente. Abrindo as

abas do casaco, Mar-cus revelou sua ereção delineada em suas calças. Os passos

dela falharam, mas então, erguendo o queixo, ela continuou se aproximando.

– Não sou inocente para sair correndo ao ver o desejo de um homem – Elizabeth

parou diante de Marcus e pousou as mãos ao lado dos joelhos dele. Seus seios

macios ficaram a um centímetro dele, quase se derramando do decote rendado de

seu corpete. Em trajes da noite, seu peito ficava pressionado pelo espartilho. Nos

trajes do dia, a restrição era bem menos severa, e o olhar dele ficou vidrado pela

generosidade exposta para apenas seu benefício.

Marcus nunca foi de perder uma oportunidade, então, estendeu a mão e tomou um

seio, encantado ao ouvi-la ofegar entre os dentes. O corpo dela havia perdido a

qualidade virginal de uma garota e ganhado os contornos voluptuosos de uma

mulher. Apertando e massageando, ele observou o vale entre os seios e imaginou

esfregar seu pau entre eles.

Marcus grunhiu com o pensamento e olhou para a boca de Elizabeth, observando

numa agonia lasciva enquanto ela lambia o lábio inferior.

Então, de repente ela se endireitou, virou-se de costas para ele e se abaixou para

pegar algo na mesinha. Antes que ele pudesse ordenar que retornasse, ela jogou uma

carta selada em seu peito e se afastou. Marcus sabia o que encontraria dentro. Ainda

assim, ele esperou sua respiração se acalmar e o sangue esfriar antes de voltar a

atenção para a carta. Notou que o papel possuía coloração e peso já vistos antes.

Rompendo o lacre com cuidado, ele passou os olhos pelo conteúdo.

– Desde quando você está com isto? – ele perguntou rispidamente.

– Algumas horas.

Marcus virou o papel e então a olhou nos olhos. A pele de Elizabeth estava

corada e os olhos marejados, mas seu queixo permanecia erguido com determinação.

Ele franziu as sobrancelhas e ficou parado onde estava.

– Você não ficou curiosa para abrir?

– Estou ciente do que deve ser o conteúdo. Ele está preparado para me encontrar

e recuperar o diário. A maneira como redigiu o pedido não importa muito, não é?

Você analisou o diário que eu lhe entreguei?

Ele assentiu.

– Os mapas foram fáceis. Hawthorne possuía alguns desenhos detalhados das

costas inglesa e escocesa, assim como alguns canais coloniais que eu conheço bem.

Mas o código de Hawthorne é quase indecifrável. Eu esperava ter mais tempo para

decifrá-lo.

Redobrando a missiva, Marcus guardou-a em seu bolso. Criptografia era um

passatempo que adquirira após o casamento de Elizabeth. A tarefa requer intensa

concentração, o que lhe proporcionava um breve respiro dos pensamentos sobre ela.

– Conheço o lugar a que ele se refere. Avery e eu estaremos próximos para

protegê-la.

Dando de ombros, ela disse:

– Como quiser.

Ele se levantou e se aproximou dela. Agarrando seus ombros, Marcus a sacudiu.

Com força.

– Como diabos pode ficar tão calma? Não tem noção do perigo? Não tem nenhum

juízo?

– O que espera que eu faça? – ela disse rispidamente. – Entrar em pânico? Chorar

em seus ombros?

– Um pouco de emoção seria bem-vindo. Qualquer coisa que mostras-se que você

se preocupa com a própria segurança. – Soltou os ombros dela e agarrou desta vez

os cabelos, inclinando a cabeça até o ângulo que ele desejava. Então, beijou-a tão

forte quanto a sacudira. Marcus a empurrou violentamente, forçando-a para trás até

prendê-la contra a parede.

As unhas de Elizabeth cravaram fundo na pele de sua barriga quando ela agarrou

sua camisa. Sua boca estava aberta, aceitando as investidas da língua dele. Apesar

da falta de sutileza, ela estremeceu contra seu corpo, gemeu sua angústia, e então

derreteu-se nos braços dele. Ela o beijou de volta com um furor que quase o

enlouqueceu.

Repentinamente sem ar, Marcus desfez o contato, encostando sua testa na dela e

grunhindo sua frustração.

– Por que você ganha vida quando eu a toco? Não se cansa dessa fachada na qual

se esconde?

Os olhos dela se apertaram e Elizabeth virou o rosto.

– E quanto à sua fachada?

– Jesus, você é teimosa – raspando a ponta do nariz sem nenhuma gentileza, ele

esfregou o cheiro dela em sua pele molhada ao mesmo tempo em que deixava o

próprio suor no rosto dela. Com a voz rouca e urgente, ele sussurrou: – Preciso que

você siga minhas instruções quando eu ordenar. Você não pode deixar que seus

sentimentos interfiram.

– Confio em seu julgamento – ela disse.

Ele congelou, agarrando seus cabelos até ela estremecer.

– Confia mesmo?

O ar se tornou pesado ao redor deles.

– Confia? – ele repetiu.

– O que aconteceu... – ela engoliu em seco e as unhas cravaram mais fundo na

pele de Marcus. – O que aconteceu naquela noite?

Ele soltou a respiração num alto suspiro. Todo seu corpo se relaxou, como se a

tensão do passado liberasse seu aperto impiedoso. Sentindo-se exausto de repente,

Marcus percebeu que a fúria gelada que ainda carregava por causa do fim de seu

noivado era a única coisa que o impulsionava nesses muitos anos que já haviam

passado.

– Sente-se – ele se afastou e esperou até que ela cruzasse a sala e se sentasse no

sofá. Estudando-a por longos momentos, ele admirou a visão de seus cabelos

bagunçados e lábios inchados. Desde o começo, ele a perseguia com uma atenção

singular, levando-a para cantos escuros onde tomava sua boca com sofreguidão, em

beijos desesperados, arriscando escândalos em troca do fogo que Elizabeth escondia

tão bem.

Sua beleza era simplesmente o embrulho de um tesouro complexo e fascinante. Os

olhos a denunciavam. Neles, não se via nenhuma docilidade ou submissão das

mulheres comuns. Ao contrário, o que se via eram desafios, aventuras. Coisas para

se explorar e descobrir.

Marcus novamente se perguntou se Hawthorne fora feliz o bastante para enxergar

todas as suas facetas. Será que ela havia se derramado para ele, será que se abrira e

se saciara com as habilidades sexuais dele?

Cerrando os dentes, Marcus afastou os pensamentos torturantes.

– Você conhece a empresa Ashford Shipping?

– É claro.

– Certa vez, perdi uma pequena fortuna para um pirata chamado Christopher St.

John.

– St. John? – ela franziu as sobrancelhas. – Minha dama de companhia citou esse

nome. Ele é muito popular. É um tipo heroico, um benfeitor dos pobres e

necessitados.

Ele bufou.

– De herói ele não tem nada. Esse homem é um assassino impiedoso. Ele foi a

razão que me fez procurar Lorde Eldridge pela primeira vez. Exigi que St. John fosse

preso. Mas em vez disso, Eldridge me treinou para que eu fosse atrás dele

pessoalmente – seus lábios se curvaram com ironia. – A possibilidade de realizar

minha própria vingança era irresistível.

Elizabeth respondeu também ironicamente.

– É claro. Uma vida normal é algo tão enfadonho, afinal de contas.

– Certas tarefas requerem uma atenção pessoal.

Cruzando os braços sobre o peito, Marcus gostou dessa oportunidade de ter toda

a atenção dela. O simples ato de conversar com ela era um prazer que ele adorava,

mesmo com os comentários mordazes. Ele fora bajulado e paparicado durante toda a

vida. A recusa de Elizabeth de tratá-lo como qualquer coisa além de um homem

comum era um dos traços de que mais gostava nela.

– Nunca entenderei o apelo de levar uma vida perigosa, Marcus. Quero paz e

sossego na minha vida.

– É compreensível, considerando a família em que você foi criada. Você não teve

estrutura, foi levada a fazer o que bem entendesse pelos homens da casa, ocupados

demais buscando prazer para que pudessem cuidar de você.

– Você me conhece tão bem – ela disse sarcasticamente.

– Sempre a conheci muito bem.

– Então, deve admitir o quanto não combinaríamos.

– Nunca admitiria algo assim.

Ela terminou o assunto com um gesto da mão.

– Sobre aquela noite...

Marcus observou quando ela ergueu o queixo, como se esperasse um golpe forte,

e então, ele suspirou:

– Soube de um homem que oferecia informações potencialmente

comprometedoras sobre St. John. Combinamos de nos encontrar no cais. Como

recompensa por sua ajuda, o informante tinha apenas um pedido. Sua esposa estava

grávida e desconhecia as atividades que pro-viam seu sustento. Ele me pediu para

cuidar dela, caso algo acontecesse com ele.

– A mulher de roupão era a esposa? – os olhos dela se arregalaram.

– Sim. No meio do encontro nós fomos atacados. Os sons de uma briga chamaram

sua atenção e ela se aproximou para investigar, entrando na frente do perigo. Ela foi

jogada na água e eu pulei para salvá-la. Seu marido levou um tiro e morreu.

– Você não a levou para a cama – era uma afirmação, mas não mais do que uma

interrogação.

– É claro que não – ele respondeu simplesmente. – Mas nós dois ficamos cobertos

de sujeira. Eu a levei para minha casa para se banhar enquanto eu arranjava um lugar

para ela dormir.

Elizabeth se levantou e começou a andar de um lado a outro, ajeitando

ritmicamente o casaco.

– Acho que eu sempre soube.

Uma risada seca escapou da garganta dele. Marcus esperou que ela dissesse mais

alguma coisa, pensando que talvez estivesse louco por causa dessa espera. Ele

sempre suspeitou que sua suposta infidelidade fosse meramente a desculpa que ela

encontrara para romper os laços. Em sua mente, esta tarde apenas provava que isso

era verdade. Ela não correu para seus braços implorando perdão. Não pediu por uma

segunda chance nem tentou uma reconciliação, e o silêncio dela o enfureceu ao

ponto de sentir-se violento.

Suas mãos fecharam-se em punhos enquanto lutava contra a vontade de agarrá-la

e rasgar suas roupas, depois jogá-la ao chão e enterrar seu pau dentro dela, tornando

impossível que ela o ignorasse. Seria a única maneira de penetrar seu escudo

protetor.

Mas o orgulho dele não permitia que revelasse sua dor. Porém, conseguiria causar

alguma mudança nela, ao menos uma pequena rachadura em sua proteção.

– Fiquei tão surpreendido quanto você quando ela entrou, Elizabeth. Ela pensou

que você fosse a mulher que iria cuidar dela. Ela não poderia saber que minha noiva

faria uma visita numa hora daquelas.

– O roupão dela...

– As vestimentas dela ficaram ensopadas. Ela não tinha mais nada além do roupão

emprestado por minha criada.

– Você deveria ter ido atrás de mim – ela disse num tom de voz baixo e raivoso.

– Mas tentei fazer isso. Admito que levei um momento para me recuperar do tapa

em meu rosto. Você foi rápida demais. Depois de cuidar da viúva e ficar livre

daquilo, você já tinha partido com Hawthorne.

Elizabeth parou de andar e as saias se assentaram lentamente. Virou a cabeça e

revelou olhos que escondiam coisas demais.

– Você me odeia?

– Ocasionalmente – ele deu de ombros para esconder a verdadeira profundidade

de sua amargura, uma amargura que o corroía por dentro, contaminando tudo em sua

vida.

– Você quer vingança – ela afirmou sem qualquer inflexão na voz.

– Isso é o de menos. Quero respostas. Por que fugiu com Hawthorne? Os

sentimentos que tinha por mim a assustavam tanto assim?

– Talvez ele sempre fora uma opção.

– Recuso-me a acreditar nisso.

Sua boca exuberante se curvou de um jeito sombrio.

– A possibilidade fere seu ego? Ele riu.

– Jogue do jeito que quiser. Você pode odiar me querer, mas você me quer mesmo

assim.

Movendo-se em sua direção, Marcus parou quando ela esticou o braço. Elizabeth

parecia calma, mas os dedos tremiam muito. Então, abaixou o braço.

Havia muito mais diferenças entre eles do que Marcus já tinha discernido. Eram

estranhos, ligados por uma atração que desafiava qualquer razão. Mas ele

descobriria a verdade. Apesar do medo de que ela pudesse fugir novamente, o

desejo que sentia por ela superava o instinto de auto-preservação.

Ela queria saber se ele a odiava. Em momentos como este, ele odiava sim. Odiava

por ela fazer com que ele se importasse, odiava por permanecer tão linda e

desejável, odiava por ser a única mulher que ele cobiçara desta maneira.

– Você se lembra de nosso primeiro encontro? – ele perguntou com a voz rouca.

– É claro.

Ele andou até o armário intrincadamente esculpido e serviu-se de uma bebida. Era

cedo demais para álcool, mas no momento, ele não se importava. Marcus sentia-se

frio por dentro, e quando a bebida queimou em sua garganta, ele se deleitou com o

calor emanado.

Encontrar uma noiva não era seu objetivo naquele ano, ou em qual-quer outro ano

que se seguiu. Fazia questão de evitar as debutantes e suas maquinações

matrimoniais, mas apenas um olhar sobre Elizabeth foi capaz de mudar tudo.

Ele arranjara que fossem apresentados e ela o impressionou com uma confiança

que não correspondia à sua idade. Ao pedir permissão para uma dança, Marcus

ficou encantado por ela ter aceitado apesar de sua reputação. O simples contato de

sua mão enluvada despertou um poderoso instinto sexual que nunca experimentara

antes.

– Você me impressionou desde o primeiro momento, Elizabeth – encarando seu

copo vazio, ele o manuseava de um lado a outro na palma da mão. – Você não

hesitou nem gaguejou quando eu fui ousado ao pedir por uma dança. Em vez disso,

você me provocou de volta e teve a audácia de me repreender. Você me chocou

profundamente quando praguejou pela primeira vez. Você se lembra?

A voz dela flutuou suave pela sala.

– Como poderia esquecer?

– Você escandalizou cada matrona no recinto ao me fazer rir alto. Após aquela

memorável primeira dança, ele fez questão de frequentar

os mesmos eventos que ela, o que, por vezes, necessitava parar em várias casas até

encontrá-la. A sociedade ditava que ele poderia pedir apenas uma dança por noite, e

cada momento passado ao lado dela deveria ser vigiado pela dama de companhia,

mas, apesar das restrições, eles desco-briram uma afinidade mútua. Marcus nunca se

entediava com ela, mas sim permanecia eternamente fascinado.

Elizabeth era genuinamente amável, mas seu temperamento podia se incendiar

num instante e se apagar tão rápido quanto. Ela possuía em abundância tudo aquilo

que fazia de uma garota uma mulher, mas mantinha uma meninice que podia ser ao

mesmo tempo encantadora e frustrante. Ele admirava sua força, mas foram os

lampejos de vulnerabilidade que o levaram para algo muito além do que uma

simples paixão. Ele ansiava protegê-la do mundo ao redor, acolhendo-a e mantendo-a

apenas para si.

E apesar dos anos e desentendimentos entre eles, Marcus ainda sentia o mesmo.

Ele praguejou quase em silêncio e, então, assustou-se quando a mão dela tocou

em seu ombro.

– Sei o que está pensando – ela sussurrou. – Mas nunca mais será como antes.

Ele soltou uma áspera risada.

– Não quero que seja como antes. Quero simplesmente me livrar do desejo que

sinto por você. Você não sofrerá com minha saciedade, isso eu prometo.

Virando-se, ele encarou seus olhos violeta que pareciam tão impenetráveis e

tristes. O lábio inferior dela tremeu levemente, e Marcus parou o movimento

revelador com uma suave carícia de seu polegar.

– Preciso ir e preparar o encontro de amanhã – ele segurou seu rosto e baixou a

mão até um seio. – Vou instruir os homens da escolta que Avery designou para você.

Eles a seguirão de uma distância discreta. Use cores neutras. Nada de joias. E

sapatos confortáveis.

Elizabeth assentiu e ficou parada como uma estátua quando ele baixou a cabeça e

raspou seus lábios nos dela. Apenas o coração acelerado debaixo da palma de sua

mão revelou o quanto ele a afetava. Marcus fechou os olhos sentindo um doloroso

aperto no peito e no meio das pernas. Ele daria toda sua fortuna para se livrar desse

desejo.

Cheio de aversão contra si mesmo, ele se afastou e foi embora, odiando as horas

entre o agora e o próximo momento em que poderia vê-la de novo.

            
            

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