– Você é uma romântica incurável, sabia? – Levantando-se, Elizabeth pegou uma
pequena almofada rendada e a colocou atrás das costas de sua cunhada. Ela manteve
seu olhar afastado do obviamente caro arranjo de flores. Marcus havia insinuado que
seu interesse era tão profissional quanto carnal, e ela sempre estivera o mais
preparada possível para tal combate. Mas este galante ataque a suas sensibilidades
femininas foi uma total surpresa.
– Estou grávida – Margaret protestou enquanto Elizabeth cuidava de seu conforto.
– Não sou uma inválida.
– Permita-me paparicá-la um pouco. Isso me deixa tão feliz.
– Tenho certeza de que serei agradecida no futuro, mas, por enquanto, sou bem
capaz de cuidar de mim mesma.
Apesar da reclamação, Margaret se ajeitou na almofada com um suspiro de prazer,
o leve brilho de sua pele combinando perfeitamente com os cachos de seu cabelo
escuro.
– Permita-me discordar. Você parece mais magra aos cinco meses do que antes.
– Quase cinco meses – Margaret corrigiu. – E é difícil comer quando você se
sente miserável o tempo todo.
Apertando os lábios, Elizabeth pegou um bolinho, colocou-o sobre um prato,
e ofereceu a Margaret.
– Aqui, coma – ela ordenou.
Margaret aceitou com um olhar zombeteiro, e então disse:
– William diz que todos estão apostando sobre as intenções matrimoniais de
Lorde Westfield.
Enquanto preparava o chá, Elizabeth ofegou:
– Santo Deus.
– Você se tornou uma lenda quando o dispensou. Um Conde tão bonito e desejado
que todas as mulheres o querem para si. Exceto você.
É simplesmente uma história boa demais para ignorar. A história de um amor
libertino frustrado.
Elizabeth bufou com desdém.
– Você nunca me contou o que Lorde Westfield fez para você romper o
noivado – disse Margaret.
As mãos de Elizabeth tremeram enquanto ela mexia as folhas na água
fervente.
– Isso foi há muito tempo, Margaret, e como já disse muitas vezes antes, não vejo
razão para discutir isso.
– Sim, sim, eu sei. Porém, ele claramente deseja sua companhia, como vimos
depois das muitas tentativas de contatá-la. Admiro a serenidade de Westfield. Ele
nem mesmo pisca quando é dispensado. Apenas sorri, diz algo charmoso e vai-se
embora.
– O homem tem muito charme, isso eu reconheço. As mulheres correm atrás dele
em bandos, fazendo papel de tolas.
– Você parece estar com ciúmes.
– Não estou – ela afirmou. – Um ou dois torrões de açúcar? Bem, na verdade,
você precisa de dois.
– Não mude de assunto. Conte-me sobre essa ciumeira. As mulheres também
achavam Hawthorne atraente, mas isso nunca pareceu incomodá-la.
– Hawthorne era fiel.
Margaret aceitou a xícara de chá com um sorriso gracioso:
– E você disse que Westfield não era.
– Não – Elizabeth respondeu com um suspiro.
– Tem certeza?
– Não poderia ter mais certeza nem se o flagrasse no ato. Os olhos verdes de
Margaret se estreitaram.
– Você tomou a palavra de terceiros sobre a do seu próprio noivo? Sacudindo a
cabeça, Elizabeth tomou um gole encorajador antes de
responder.
– Eu tinha um assunto importante para tratar com Lorde Westfield, tão importante
que fui pessoalmente à sua casa numa certa noite...
– Sozinha? O que em nome de Deus poderia incitá-la a agir assim tão
precipitadamente?
– Margaret, você quer ou não ouvir a história? Já é difícil o bastante falar disso
sem suas interrupções.
– Desculpe – ela respondeu quase em silêncio. – Por favor, continue.
– Esperei durante alguns minutos até que ele viesse me receber. Quando apareceu,
seu cabelo estava úmido, a pele corada, e vestia um roupão.
Elizabeth encarou o conteúdo de sua xícara e sentiu-se mal.
– Continue – Margaret insistiu quando ela permaneceu quieta.
– Então, a porta por onde ele surgiu se abriu e uma mulher apareceu. Vestida do
mesmo jeito, com o cabelo tão úmido quanto.
– Meu Deus! Isso deve ter sido bem difícil de explicar. Como ele tentou fazer
isso?
– Não tentou – Elizabeth soltou uma risada seca e sem humor. – Disse que não
tinha a liberdade de discutir o assunto comigo.
Franzindo as sobrancelhas, Margaret baixou sua xícara e a colocou sobre a mesa.
– Ele tentou explicar em outra ocasião?
– Não. Eu fugi com Hawthorne, e Westfield deixou o país até o fale-cimento de
seu pai. Até o baile no Moreland, na semana passada, nunca havíamos cruzado
nossos caminhos.
– Nunca? Talvez Westfield tenha aceitado seus erros e agora queira consertar as
coisas – Margaret sugeriu. – Deve haver alguma razão para ele a perseguir com tanta
obstinação.
Elizabeth tremeu ao ouvir a palavra "perseguir".
– Confie em meu julgamento. O objetivo dele não é tão nobre quanto consertar os
erros do passado.
– Flores, visitas diárias...
– Vamos conversar sobre algo menos desagradável, Margaret – ela alertou. – Ou
irei tomar chá em outro lugar.
– Oh, certo. Você e seu irmão são mesmo teimosos.
Mas Margaret nunca fora uma pessoa que desistia fácil, e por ser as-sim
conseguiu convencer William a deixar a agência e casar-se com ela. Portanto,
Elizabeth previu que Margaret voltaria ao assunto, e não ficou surpresa quando isso
aconteceu mais tarde naquela noite.
– Ele é um homem tão bonito.
Elizabeth seguiu o olhar de Margaret pela multidão de convidados durante o jantar
na casa dos Dempsey. Encontrou Marcus de pé ao lado de Lady Cramshaw e de sua
adorável filha, Clara. Elizabeth fingiu ignorá-lo mesmo quando analisava cada passo
dele.
– Após ouvir sobre nosso passado, como você pode se encantar com o rosto do
Conde?
Ela havia deliberadamente evitado os eventos sociais da última se-mana, mas no
fim aceitara o convite dos Dempsey, certa de que o baile dos Faulkner ao final da
rua provavelmente seria mais atrativo para Marcus. Mas o impertinente homem a
encontrou mesmo assim, e sua aparência era impecável. Seu casaco vermelho-escuro
chegava até as coxas e era ricamente decorado com fios dourados. A pesada seda
brilhava debaixo das luzes das velas, assim como os rubis que adornavam seus
dedos e gravata.
– Perdão? – Margaret virou a cabeça, com olhos arregalados de estupefação.
Elizabeth apontou seu leque para o outro lado do salão. Foi então que ela viu
William e sentiu o rosto corar furiosamente por causa de seu erro.
Margaret riu.
– Eles formam um casal incrível, seu Westfield e Lady Clara.
– Ele não é meu e tenho pena da pobre garota se ela despertou o desejo dele –
Elizabeth ergueu o queixo e desviou os olhos.
O farfalhar de sedas pesadas de uma saia anunciou uma nova participante na
conversa.
– Concordo – murmurou a velha Duquesa de Ravensend. – Ela é apenas uma
criança e nunca poderia fazer justiça àquele homem.
– Minha senhora – Elizabeth fez uma breve reverência diante de sua sogra.
A duquesa tinha um brilho malicioso nos suaves olhos marrons.
– A sua viuvez é uma infelicidade, minha querida, mas apresenta uma
oportunidade renovada para você e o Conde.
Elizabeth fechou os olhos e implorou por paciência. Desde o princípio, sua sogra
defendia as qualidades de Marcus.
– Westfield é um tratante. Eu me considero uma felizarda por ter descoberto esse
fato antes de dizer os meus votos.
– Ele possivelmente é o homem mais bonito que já vi – Margaret observou. –
Depois de William, é claro.
– E muito bem educado – a duquesa acrescentou observando Marcus através de
seu binóculo. – Material de primeira para um marido.
Suspirando, Elizabeth ajeitou a saia e tentou não revirar os olhos.
– Gostaria que vocês duas esquecessem a ideia de que eu me casarei novamente.
Pois não irei.
– Hawthorne era pouco mais do que um garoto – notou a duquesa.
– Westfield é um homem. Você descobrirá que é uma experiência muito diferente se
o escolher para compartilhar a cama. Ninguém aqui disse nada sobre casamento.
– Não tenho desejo algum de ser acrescentada à lista de conquistas desse
libertino. Ele é um conquistador. Você não pode negar isso, minha senhora.
– Há vantagens nos homens com experiência – Margaret sugeriu. – Casada com
seu irmão, eu posso atestar – ela sacudiu a sobrancelha de modo sugestivo.
Elizabeth estremeceu.
– Margaret, por favor.
– Lady Hawthorne.
Virando-se rapidamente, ela encarou George Stanton com um sorriso agradecido.
Ele fez uma reverência, com o bonito rosto exibindo um sorriso amigável.
– Será um prazer dançar com você – ela disse, antes mesmo que ele pedisse.
Ansiosa para fugir da conversa, Elizabeth ofereceu a mão e permitiu que ele a
conduzisse para longe.
– Obrigada – ela sussurrou.
– Achei que você precisava ser resgatada.
Ela sorriu quando tomaram seu lugar na fila.
– Você é muito perspicaz, meu querido amigo.
Olhando de soslaio, ela observou Marcus oferecer-se para levar a jovem Clara
para a pista de dança. Enquanto ele se aproximava dela, Elizabeth não pôde deixar
de admirar seu andar sedutor. Um homem que se movia daquela maneira com
certeza seria um especialista na arte do amor. Outras mulheres também o
observavam, cobiçando-o da mesma forma que ela o fazia, desejando-o...
Quando ele ergueu o olhar em sua direção, Elizabeth desviou os olhos
rapidamente de seu sorriso mordaz. O homem sabia como irritá-la e não se furtava a
usar esse conhecimento para sua vantagem.
Quando os passos da contra-dança aproximaram os dançarinos para depois
separá-los, ela continuou seguindo o progresso dele com o canto do olho. O próximo
passo os colocaria frente a frente. Uma forte expectativa correu por suas veias.
Ela se afastou de George e virou-se graciosamente para encarar Mar-cus. Sabendo
que o encontro seria breve, ela se permitiu aproveitar a visão e o perfume dele. O
desejo se acendeu instantaneamente. Ela o via nos olhos dele, sentia-o em seu
próprio sangue. Então, se afastou com um suspiro de alívio.
Quando a música terminou, Elizabeth se ergueu de sua curta reverência. Ela não
resistiu a um sorriso. Fazia tanto tempo desde a última vez que dançara que quase se
esquecera do quanto gostava disso.
George retribuiu o sorriso e habilmente os recolocou em posição para a próxima
dança.
Alguém parou em frente aos dois, bloqueando o caminho. Antes que pudesse
olhar, ela sabia quem era. Seu coração acelerou as batidas.
Obviamente, ela subestimou até onde Marcus chegaria para conquistar seus
objetivos.
Ele os cumprimentou assentindo brevemente.
– Senhor Stanton.
– Lorde Westfield – George olhou para Elizabeth franzindo as sobrancelhas.
– Lady Clara, permita-me apresentar-lhe o senhor George Stanton – Marcus disse.
– Stanton, esta é a adorável Lady Clara.
George tomou a mão de Clara e reverenciou-se.
– É um prazer.
Antes que Elizabeth pudesse adivinhar suas intenções, Marcus lhe estendeu a
mão.
– Um excelente par – ele disse. – E já que Lady Hawthorne e eu sobramos, então
deixaremos vocês terminarem a dança.
Enlaçando o braço dela firmemente, ele a puxou em direção às portas abertas que
davam para o jardim.
Elizabeth ofereceu um sorriso de desculpas por cima do ombro, enquanto seu
coração martelava por dentro diante do comportamento primitivo de Marcus.
– O que você está fazendo?
– Achei que era óbvio. Estou causando uma cena. Você me obrigou a isso ao me
evitar durante toda essa semana.
– Não estive evitando você – ela protestou. – Ainda não recebi outra parte do
diário, portanto, não havia razão para encontrá-lo.
Saindo até a varanda, eles encontraram vários outros convidados aproveitando o
ar fresco da noite. Mantida tão perto ao seu lado, a pura força da presença de
Marcus mais uma vez a surpreendeu.
– Seu comportamento é atroz – ela murmurou.
– Você pode me insultar o quanto quiser quando estivermos a sós. A sós. Uma onda
de consciência escoou através de sua pele.
O olhar dele percorreu o rosto de Elizabeth até chegar aos olhos.
Os olhos dela cerraram-se e, embora ela tenha tentado discernir seus pensamentos, a
bela expressão dele parecia esculpida em pedra. Quando tomaram a escadaria até o
jardim, os passos dele aceleraram. Ela seguia quase sem fôlego, imaginando o que
ele pretendia fazer, o que pretendia dizer, surpresa por descobrir em si mesma um
resquício perdido de romantismo juvenil que se animava diante de sua determinação.
Jogando-a em uma pequena alcova na base da escadaria, Marcus checou os
arredores cuidadosamente. Certificando-se de que estavam sozinhos, ele se moveu
rapidamente. Com a ponta do dedo, ergueu gentil-mente o queixo dela.
Um beijo, ela pensou tarde demais quando suas bocas se encontraram. E então,
ela não mais conseguiu pensar.
Seus lábios eram incrivelmente gentis enquanto se fundiam aos dela, mas as
sensações que despertavam eram brutais em sua intensidade. Elizabeth não podia se
mexer, presa pela poderosa resposta de seu corpo tão próximo ao dele. Apenas seus
lábios se tocavam. Um simples passo para trás quebraria o contato, mas ela não foi
capaz nem mesmo disso. Permaneceu congelada, vacilando ao sentir seu perfume e
seu sabor, cada terminação nervosa disparando diante de seu avanço atrevido.
– Beije-me de volta – ele rosnou, circulando os dedos em seus pulsos.
– Não... – ela tentou desviar o rosto.
Praguejando, ele tomou novamente sua boca. Mas não beijou tão suavemente
quanto havia feito um momento antes. Agora era um ataque impelido por uma
amargura tão forte que ela até podia senti-la. A cabeça dele se inclinou levemente,
aprofundando o beijo, e então sua língua invadiu forçosamente entre seus lábios
abertos. A intensidade de seu ardor a assustou, e então, o medo evoluiu para algo
muito mais poderoso.
Hawthorne nunca a tinha beijado daquela maneira. Era muito mais do que uma
mera junção de lábios. Era uma declaração de posse, uma vontade desenfreada, uma
necessidade que Marcus instaurou dentro dela até Elizabeth não poder mais negar
sua existência. Com um gemido, ela se rendeu, timidamente retribuindo o toque de
sua língua, desesperada para sentir o sabor inebriante dele.
Marcus grunhiu sua aprovação, com o som carregado de erotismo, fazendo-a
balançar instável sobre seus pés. Liberando seu pulso, ele segurou a cintura dela
enquanto a outra mão quente agarrava sua nuca, mantendo-a no lugar para continuar
seu ataque. Sua boca se movia habilmente, retribuindo a resposta dela com carícias
mais fortes de sua língua. Ela agarrava o casaco dele, puxando e empurrando,
tentando ganhar algum controle, mas não sendo capaz de fazer nada, exceto aceitar o
que ele oferecia.
Finalmente, ele afastou a boca com um rosnado torturado e enterrou o rosto nos
cabelos perfumados dela.
– Elizabeth – sua voz rouca parecia falhar. – Precisamos encontrar uma cama.
Agora.
Ela riu com nervosismo.
– Isso é loucura.
– Sempre foi uma loucura.
– Você deve se afastar.
– Já fiz isso. Por quatro malditos anos. Já paguei o preço de meus pecados
imaginários – ele deu um passo para trás e a encarou com olhos tão ardentes que até
pareciam queimar sua pele. – Esperei tempo o bastante para tê-la. Eu me recuso a
esperar mais.
A lembrança do passado trouxe os dois de volta para a situação presente.
– Existe muita história entre nós para que um dia possamos nos unir novamente.
– Mas saiba que pretendo me unir a você com ou sem história. Tremendo, ela se
afastou e, para sua surpresa, foi libertada imediata-
mente. Elizabeth pressionou os dedos em seus lábios inchados pelo beijo.
– Não quero a dor que você traz. Não quero você.
– Você está mentindo – ele disse asperamente. Seus dedos tracejaram as curvas
do corpo dela. – Você me quis desde o momento em que nos conhecemos. E ainda
me quer, posso sentir isso em seu beijo.
Elizabeth praguejou contra a traição de seu próprio corpo, ainda tão enamorado
dele que se recusava a escutar as ordens do cérebro. Excitada e desejosa em todas
as partes, ela não era melhor do que qualquer uma das tolas mulheres que caíam tão
facilmente em sua cama. Voltou a se afastar, mas parou ao chegar ao frio corrimão
de mármore. Levando as mãos até as costas, ela agarrou o corrimão com tanta força
que suas mãos ficaram embranquecidas.
– Se gostasse mesmo de mim, você me deixaria em paz.
Mostrando um sorriso que fez seu coração parar, Marcus deu um passo em sua
direção.
– Irei mostrar o mesmo carinho que um dia você mostrou a mim – seu olhar ardia
com um desafio sedutor. – Entregue-se ao seu desejo por mim, minha querida.
Prometo que não irá se arrepender.
– Como pode dizer isso? Já não me magoou o suficiente? Sabendo como eu me
sentia sobre meu pai, ainda assim você agiu daquela maneira. Eu detesto homens da
sua laia. É algo desprezível prometer amor e devoção para conseguir levar uma
mulher para a cama, para depois descartá-la quando você se cansa.
Marcus parou abruptamente.
– Fui eu quem foi descartado.
Elizabeth recuou ainda mais contra o corrimão.
– Por uma boa razão.
Os lábios dele se curvaram num sorriso cínico.
– Você irá atender meus chamados, Elizabeth. Você irá sair comigo e me
acompanhar a eventos como este. Não serei rejeitado novamente.
O mármore frio congelou as mãos dela através das luvas e enviou calafrios pelos
braços. Apesar do arrepio, ela se sentia quente e corada.
– Você não está satisfeito com a quantidade de mulheres que corre atrás de você?
– Não – ele respondeu com sua habitual arrogância. – Ficarei satisfeito quando
você queimar por mim, quando eu invadir cada pensamento e cada sonho seu. Um
dia, sua paixão será tão arrebatadora que cada respiração longe de mim irá rasgar
seus pulmões. Você me dará qualquer coisa que eu desejar, quando e como eu
desejar.
– Não darei nada!
– Você me dará tudo – ele acabou com a pequena distância entre os dois. – Você
entregará tudo a mim.
– Você não tem vergonha? – lágrimas surgiram e se acumularam em seus cílios.
Ele permaneceu impecável, e o horror de sua situação a atingiu com um efeito cruel.
– Depois do que você fez comigo, ainda precisa me seduzir? Será que a minha
completa destruição é a única coisa que vai satisfazê-lo?
– Maldita seja – ele encostou a testa na dela, passando a boca em cima de seus
lábios num leve beijo. – Nunca pensei que a teria – ele sussurrou. – Nunca esperei
que um dia ficasse livre de seu casamento, mas aqui está você. E eu terei aquilo que
me foi prometido há tanto tempo.
Soltando o corrimão, Elizabeth encostou a mão na cintura dele para afastá-lo. Os
firmes músculos de sua barriga fizeram o corpo dela responder com uma doce e
selvagem agonia:
– Eu lutarei contra você com todas as minhas forças. Eu lhe imploro que desista.
– Não até eu ter aquilo que quero.
– Deixa-a em paz, Westfield.
Relaxando de alívio ao ouvir a voz familiar, Elizabeth ergueu os olhos e viu
William descendo as escadas.
Marcus se afastou praguejando. Endireitando-se, lançou um olhar fulminante para
seu velho amigo. Elizabeth aproveitou a distração para fugir. Correndo para o
jardim, ela desapareceu entre as folhagens. Ele fez menção de correr atrás dela.
– Se eu fosse você, não faria isso – William disse com um leve tom de ameaça.
– Você chegou na hora errada, Barclay – Marcus engoliu sua frustração, sabendo
que seu antigo amigo adoraria qualquer oportunidade para lutar com ele. A situação
piorou quando espectadores chegaram, alertados pelo tom de voz ameaçador e a
rigidez do corpo de William, e se alinharam na varanda antecipando notáveis
fofocas.
– Quando quiser a companhia de Lady Hawthorne no futuro, Westfield, saiba que
ela está fora do seu alcance indefinidamente.
Uma ruiva alta abriu caminho entre os curiosos e desceu as escadas em direção a
eles.
– Lorde Westfield. Barclay. Por favor! – ela agarrou o braço de William. – Aqui
não é lugar para esse tipo de conversa privada.
William quebrou o contato visual com Marcus e olhou para sua adorável esposa
com um sorriso sombrio.
– Não precisa se preocupar. Está tudo bem – erguendo os olhos, ele fez um gesto
para George Stanton, que desceu da varanda e se aproximou deles rapidamente. –
Por favor, encontre Lady Hawthorne e a acompanhe de volta para casa.
– Eu ficaria honrado – Stanton passou cuidadosamente entre os dois homens antes
de acelerar os passos e desaparecer no jardim.
Marcus suspirou e esfregou a nuca.
– Você nos interrompe baseado em falsas premissas, Barclay.
– Não discutirei o assunto com você – William retrucou, dispensando qualquer
sinal de civilidade. – Elizabeth se recusou a encontrá-lo e você respeitará o desejo
dela – ele gentilmente removeu a mão de Margaret da manga de seu casaco e deu
um passo à frente, com seus ombros tensos de raiva represada. – Este será seu único
aviso. Mantenha distância de minha irmã ou enfrentará as consequências – a
multidão acima eclodiu numa série de murmúrios abafados.
Marcus teve dificuldades para acalmar sua respiração. Ter a cabeça fria já o tirara
de muitas situações voláteis, mas desta vez ele não fez esforço para neutralizar a
tensão. Ele tinha uma missão, além de suas questões pessoais. As duas coisas
necessitariam de muito tempo junto de Elizabeth. Nada poderia bloquear seu
caminho.
Encarando o desafio de William de frente, ele tomou os últimos passos até
ficarem a centímetros um do outro. Sua voz guardava um tom de ameaça.
– Interferir em meus assuntos com Elizabeth não seria inteligente. Ainda há muito
para ser resolvido entre nós e não permitirei que se intrometa. Eu nunca a
machucaria deliberadamente. Se duvida de minha palavra, diga isso agora. Minha
posição é firme e não mudará, seja qual for sua ameaça.
– Arriscaria sua vida por isso?
– Sem dúvida.
Uma pausa pesada recaiu entre eles enquanto se analisavam cuidadosamente.
Marcus deixou sua determinação muito clara. Nada o impedi-ria, nem mesmo
ameaças de morte.
Em resposta, o olhar de William era capaz de penetrar de tanta intensidade.
Durante os anos, eles conseguiram manter uma gelada associação pública. Com o
casamento de William contrastando com a vida solteira de Marcus, eles raramente
tinham oportunidades para trocarem alguma palavra. Marcus lamentava isso.
Frequentemente sentia falta da companhia de seu amigo, que era um bom homem.
Mas William decretou seu julgamento rápido demais, e Marcus não feriria seu
orgulho apelando a ouvidos surdos.
– Devemos voltar às festividades, Lady Barclay? – William finalmente disse,
relaxando levemente os ombros.
– A noite está esfriando – Marcus murmurou.
– Sim, milorde – Lady Barclay concordou. – Eu estava prestes a dizer o mesmo.
Escondendo seu arrependimento, Marcus assentiu, e então se virou e partiu.
Elizabeth cruzou o saguão do Chesterfield Hall soltando um suspiro silencioso.
Seus lábios ainda pulsavam e sentiam o sabor de Marcus, um sabor inebriante que
era perigoso para a sanidade de uma mulher. Embora seu ritmo cardíaco tivesse
abrandado, ela ainda sentia como se houvesse participado de uma longa corrida.
Ficou grata quando seu mordomo removeu seu casaco pesado e, tirando as luvas, foi
direto para as escadas. Havia tanta coisa a se considerar, coisas demais. Ela não
esperava que Marcus estivesse tão determinado a conseguir o que queria. Seria
necessário um planejamento cuidadoso para lidar com um homem como ele.
– Milady?
– Sim? – ela fez uma pausa e se virou para encarar o mordomo.
Ele segurava uma bandeja de prata com um envelope cor creme. Por mais inócuo
que parecesse, Elizabeth estremeceu diante da missiva. A caligrafia e o papel eram
iguais as da carta que exigia a entrega do diário de Hawthorne.
Ela sacudiu a cabeça e soltou um longo suspiro. Marcus a chama-ria amanhã,
disso ela tinha certeza. Seja qual fosse a demanda da carta, poderia esperar até o dia
seguinte. Ler sozinha não era algo que estava disposta a fazer. Ela sabia o quão
perigosas eram as missões da agência e não subestimava seu novo envolvimento
nelas. Portanto, se Marcus estava tão determinado a persegui-la, ao menos ela
poderia tirar alguma pequena vantagem disso.
Dispensando o mordomo com um gesto, Elizabeth segurou as saias e subiu as
escadas.
Que triste golpe do destino que o homem designado a protegê-la era o mesmo em
quem ela não poderia confiar.