Domada pelo pecado
img img Domada pelo pecado img Capítulo 5 Aquele cabelo ruivo....
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Capítulo 6 Ela estremeceu img
Capítulo 7 Não conseguia respirar img
Capítulo 8 Fracasso público em NY img
Capítulo 9 Satisfação img
Capítulo 10 Formato de seus seios img
Capítulo 11 Ela tremeu de medo img
Capítulo 12 Nós dois img
Capítulo 13 Próximo lançamento img
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Capítulo 5 Aquele cabelo ruivo....

ELA NÃO esperava que ele a beijasse.

O mundo pareceu girar em volta de Scarlett, deixando-a zonza enquanto os lábios de Vin se moviam

sobre os dela. O beijo se intensificou, a boca de Vin tornando-se mais firme e exigente, como se ela

pertencesse a ele, e ele tivesse o direito de posse. Ele a segurou com força, sua barriga arredondada e os

seios transbordantes comprimindo o abdome liso dele e os músculos rígidos de seu tórax. Ele a

envolveu com seu calor, protegendo-a do vento, e ela tremeu como se uma corrente forte de

eletricidade a atravessasse.

Scarlett havia se esquecido de como era beijá-lo. Havia se forçado a esquecer. Mas agora, enquanto

sentia a ponta da língua dele entrar em sua boca, enquanto sentia a boca quente dele alisar a sua, ela o

puxou para mais perto, não querendo deixá-lo partir nunca. Não podia. Não quando havia ansiado por

ele nos últimos oito meses e meio, sonhando com a noite quente em que ele brutalmente lhe tirou a

virgindade, conferindo a ela um prazer indescritível e inoculado um bebê em sua barriga.

Vin a fez se sentir desejada. Adorada. Até mesmo... amada.

– Eu a desejei por tanto tempo – sussurrou contra a pele dela. Os batimentos cardíacos dela

triplicaram de velocidade em seu peito. – Diga que vai se casar comigo, Scarlett. Diga...

– Eu vou me casar com você.

O rosto bonito dele se iluminou com alegria e esperança, e ela percebeu o que havia acabado de

dizer. Inspirando profundamente, olhou-o nos olhos.

– Você está falando sério?

Scarlett viu em seus olhos escuros que Vin queria que ela se casasse com ele. Desesperadamente. E

ela...

Ela queria estar nos braços dele. Queria que seu bebê tivesse um pai. Queria que seu filho ficasse

seguro, e fosse amado, e vivesse em um lar confortável. Será que era uma idiota? Claro que desejava

tudo isso!

Mas só se aquele casamento fosse real. Se ela e Vin realmente se importassem um com o outro,

poderiam ter uma chance de serem felizes...

Você se arriscaria comigo se eu me arriscasse com você?

Vin queria se casar com ela sem um acordo pré-nupcial. Ele estava assumindo o risco maior. Ela

estava disposta a assumir o menor?

Pela felicidade potencial... de todos eles?

Sim.

– Vou me casar com você – disse ela, e percebeu que chorava. Não tinha ideia do motivo, até que ele

a puxou para seus braços e a abraçou com força, e ela soube.

Vincenzo Borgia, tão lindo e poderoso, poderia ter escolhido qualquer mulher para ser sua esposa.

Mas havia escolhido ela. Não apenas isso, estava lhe dando um poder incrível sobre a vida dele. Se

ele podia ser corajoso o bastante para fazer isso, ela também seria.

– Eu nunca tiraria vantagem da sua confiança – sussurrou ela.

– Eu sei – disse ele, com um sorriso dissimulado, beijando-a ternamente em seguida. – Você me fez

tão feliz.

– Também estou feliz – disse ela, sorrindo através das lágrimas.

– Vamos nos casar tão logo quanto possível. – Ele acariciou o rosto dela. – Mas as leis matrimoniais

na Europa são mais restritas. Meu assistente disse que as melhores opções são Gibraltar ou a

Dinamarca, mas, no seu estágio de gravidez, não tenho certeza se uma viagem de carro seria

confortável. E preciso estar em Roma em cinco dias para fechar um acordo de negócios.

– Que acordo?

– O controle da Mediterranean Airlines. Depois que perdi o acordo com a Air Transatlantique tão

espetacularmente algumas semanas atrás... – Ele deu um sorriso irônico –, estou determinado a

consegui-lo. O fundador da empresa insistiu em se encontrar comigo antes de vender as cotas dele.

– Então vamos nos casar em Roma.

– Vai demorar um pouco mais para nos casarmos lá devido à burocracia, mas, se formos direto,

poderemos chegar amanhã, no final da noite. Acho que tenho uma casa lá.

Ela deu uma risada incrédula.

– Você acha que tem uma casa? Não tem certeza?

– Há 20 anos não vou para lá. Cresci em Roma, mas minhas lembranças locais não são muito felizes.

Ocorreu a Scarlett que sabia muito pouco sobre o passado dele, ou o que o havia levado a se tornar

um bilionário avesso à ideia de amar.

Mas, antes que pudesse tentar pensar em um modo de formular a pergunta, Vin apanhou sua mão e

a conduziu pela grama de volta ao estacionamento da clínica, onde os guarda-costas esperavam com os

carros.

Conforme caminhavam, Scarlett olhou a mão de Vin que segurava a sua. Sentir o calor da palma

áspera da mão dele na sua, pele com pele, os dedos dele entrelaçados tão possessivamente nos seus, a

fez estremecer. Seus lábios ainda formigavam do beijo dele.

– Parabenizem-nos. – Vin a levou até os três enormes e desconfiados guarda-costas. – Scarlett

concordou em ser minha noiva. Vamos nos casar em poucos dias.

Os três guarda-costas ergueram os óculos de sol espelhados e seus olhares desconfiados deram lugar

a sorrisos brilhantes. Eles pareciam quase humanos enquanto Vin apresentava cada um pelo nome, em

troca recebendo murmúrios de felicitações.

– Vocês estão encarregados da proteção dela agora – disse Vin. – Tanto quanto da minha.

– Bem-vinda à família, srta. Ravenwood – disse o primeiro deles, com um grande sorriso. – Vamos

mantê-la segura.

– Obrigada. – Scarlett escondeu um sorriso. Como se precisasse de proteção! O que era ela, algum

político, celebridade ou algo assim? Mas queria entrar na brincadeira.

Vin abriu a porta do carro esporte vermelho para ela, depois falou baixinho com os guarda-costas

antes de se sentar no banco do motorista ao lado dela.

Para a surpresa dela, Vin não voltou à via expressa: seguiu na direção do centro de Genebra, com os

guarda-costas seguindo-os.

– Para onde estamos indo?

Vin fez a curva e entrou na exclusiva Rue du Rhône.

– Você concordou em se casar comigo.

– E então?

– Você precisa de uma aliança.

Uma hora depois, eles haviam saído da elegante joalheria e estavam na direção dos Alpes franceses,

perto de Chamonix e Mont Blanc, a caminho da Itália. O cenário da montanha era deslumbrante, mas

Scarlett não conseguia tirar os olhos da maior pedra que já tinha visto na vida: o diamante de dez

quilates, com corte de esmeralda, incrustado em um anel de platina, na sua mão esquerda.

– Não preciso de um diamante tão grande – disse pela décima vez.

– É claro que precisa. Você vai ser minha esposa. Sempre vai ter que usar o melhor.

Scarlett ficaria contente com uma aliança lisa de ouro, mas a vontade dele superou a dela. E se seus

medos iniciais se comprovassem verdadeiros... E se Vin tentasse controlar sua vida?

Acalme-se, é só um anel, disse a si mesma. E se fosse verdadeiramente honesta consigo mesma,

admitiria que estava fascinada pelo enorme diamante, por mais exagerado e impraticável que fosse.

Enquanto atravessavam a Toscana, o sol alaranjado se punha a Oeste e o estômago de Scarlett

começou a rugir.

– Podemos parar para jantar?

– É claro, cara. Há um restaurante excelente não muito longe daqui, em Borgierra. Sempre visitava a

cidade quando era criança.

– Borgierra? Parece com o seu sobrenome.

– Minha família fundou o vilarejo há 500 anos. – Ele fez uma pausa, depois murmurou: – Meu pai

ainda mora lá.

O queixo dela caiu.

– Seu pai? Você nunca falou dele. Presumi que ele estivesse... Bem...

– Ele não está morto. Eu só... Não o vejo há um tempo. Desde que saí da Itália.

– Espere... Há 20 anos?

– Ao contrário da opinião popular – disse ele, irritado –, criar uma companhia aérea de um bilhão de

dólares não acontece por mágica. Tive que trabalhar o dia inteiro, todo dia, desde que tinha 15 anos e

coloquei os pés em Nova York. Aplicando cada centavo que eu tinha. Trabalhando até sangrar.

– Não tente me distrair do ponto principal.

– Que é...?

– Você não vê seu pai há 20 anos. Por quê? Ele era horrível? Abusivo?

– Não.

– Quero conhecê-lo.

– Não temos tempo.

– Temos tempo para jantar.

– Eu não vou falar disso.

– Não foi você quem insistiu que seria moralmente errado da minha parte não permitir que nosso

filho fosse criado por um pai, e também por uma mãe? Agora você espera que eu ignore a chance que

ele tem de conviver com um avô? Você diz que seu pai é uma boa pessoa, mas depois de duas décadas,

realmente pretende passar pela casa dele sem parar? Isso me faz pensar...

– Pensar em quê?

– Quando você disse que a família era importante, eu acreditei de verdade.

– Você é minha família agora, Scarlett. Você e nosso filho.

– Nunca tive irmãos ou primos. Estou totalmente só desde que meus pais morreram. Sabe como é se

sentir assim? – Ele não respondeu. – Você deveria querer que nosso filho recebesse tanto amor quanto

fosse possível – disse ela, baixinho. – Os dois pais são ótimos, mas e se algo nos acontecer? Seu pai é o

único avô do nosso filho. Por que você não o viu em 20 anos?

– É complicado. Minha mãe nunca se casou com Giuseppe. Preferia homens excitantes que a

tratavam mal. – Vin sorriu, amargo. – Mas ela gostava de manter meu pai como um fantoche, fazendo-

o sofrer. E, acima de tudo, ela gostava dele como uma fonte de renda para manter seu estilo de vida

sofisticado. Todas as vezes que ele queria me ver, precisava pagar uma pequena fortuna.

Os lábios dela se abriram, em choque. A mãe dele havia feito o pai pagar pelo privilégio de ver o

filho?

– Oh, Vin...

– Quando eu tinha 10 anos, ele finalmente deixou de amá-la. Ele se casou com outra mulher,

Joanne.

– Uma madrasta má? – adivinhou Scarlett.

Ele fungou, depois ficou sóbrio.

– De maneira alguma. Ela era gentil comigo. Passei o Natal com eles quando tinha 15 anos, quando

minha mãe estava celebrando com o namorado em Ibiza. Foi o melhor Natal da minha vida, com eles e

minha meia-irmã. Maria era pouco mais que um bebê, então. Giuseppe e Joanne queriam que eu fosse

viver com eles em tempo integral.

– E você foi?

– Minha mãe se recusou a me deixar ir.

O coração de Scarlett se estilhaçou pensando no garoto que ele havia sido, ignorado e usado como

moeda de barganha pela própria mãe, perdendo a chance de ser criado em um lar estável, seguro e

amado. Não era de se admirar que Vin estivesse tão determinado a ser um bom pai para o próprio filho.

– Não importa. – A voz dele mudou. – Minha mãe morreu pouco tempo depois daquilo e eu me

mudei para Nova York para morar com um tio.

– Sinto muito sobre sua mãe. Mas por que você não foi morar com seu pai depois que ela morreu?

Não havia nada que o impedisse, então.

– Tudo isso foi há muito tempo.

– Mas...

– Pare com isso, Scarlett.

– Tudo bem, desculpe. Mas, se vamos passar pela casa dele, não podemos parar só para que eu possa

conhecê-lo? Só por dez minutos?

– Talvez nem estejam em casa.

– Se não estiverem, prometo que paro de falar nisso pelo resto da viagem.

Vin a encarou. Então, com um suspiro, ele apanhou o telefone e disse aos guarda-costas que fariam

um desvio.

A noite estava caindo quando passaram por um portão de ferro fundido no interior da Toscana.

Scarlett perdeu o fôlego quando viu uma maravilhosa villa de três andares, iluminada por luzes

douradas na noite escura.

Ao se aproximarem, notaram ao menos 40 carros estacionados em volta do passeio circular e da fonte

de pedra na frente da casa.

– Parece que estão dando uma festa – disse Scarlett, desconfortável.

Vin estacionou o carro bem perto da porta da frente e desligou o motor. Por um momento, não se

mexeu. Seu rosto bonito parecia estranhamente sombrio. Scarlett esticou a mão e pegou a dele.

– Dois minutos – disse ele.

– Concordamos que ficaríamos por dez...

Quando viu o olhar dele, decidiu não brincar com a sorte.

Vin caminhou até a porta da frente, parecendo um homem que ia para a guilhotina. Os guarda-

costas, depois de fazerem uma varredura rápida do perímetro, afastaram-se respeitosamente. Scarlett

fez o mesmo.

Vin esticou a mão para a aldrava de bronze e bateu com ela pesadamente na madeira. Por alguns

momentos, ninguém respondeu.

Então, a porta se abriu e a luz e a música do interior da villa os envolveu. Scarlett viu o vulto de um

distinto homem grisalho.

– Buona sera – começou Vin secamente, depois falou palavras em italiano, que Scarlett não

entendeu.

Mas não precisava entender. Ele mal havia completado uma frase antes que o homem na porta

deixasse escapar um soluço e, com uma enxurrada de palavras na mesma língua, puxasse Vin para os

braços com um choro contido de alegria.

VIN ESTAVA furioso.

Não queria ter ido. Sentiu-se manipulado, encurralado. Como um fantoche sob o controle de outra

pessoa. Exatamente como havia prometido nunca mais se sentir novamente.

Vin tinha se preparado para que um serviçal atendesse, ou alguém que ele não conhecesse, já que

parecia haver uma festa na casa. Mas instantaneamente reconheceu o homem na porta.

Giuseppe Borgia havia envelhecido 20 anos, mas Vin o reconheceu. Seu pai.

Não. O homem que Vin acreditou ser seu pai por toda a infância. O homem cujo coração seria

partido se algum dia soubesse a verdade.

Da última vez que haviam se visto, no funeral da mãe dele, Vin tinha sido hostil e frio. Nada

parecido com a semana anterior, durante o Natal feliz que passara nessa mesma villa, acreditando ter

encontrado um lugar para chamar de lar e uma família de verdade que o amava.

Mas, ao retornar a Roma após o Natal e perguntar à mãe se podia morar permanentemente com o

pai, ela cuspiu uma risada cruel.

– Você sequer é filho de Giuseppe – disse Bianca Orsini. – É hora de você saber. Fiquei grávida

depois de uma noite com um músico que conheci em um bar no Rio de Janeiro. Mas eu precisava do

dinheiro de Giuseppe. Então menti.

– Preciso contar a ele.

– Faça isso, e como recompensa, ele simplesmente vai parar de amá-lo. Você realmente acha que eu

o deixaria viver com ele e com aquela inglesa e abrir mão da minha única fonte de renda?

Ironicamente, Bianca não precisou daquela renda por muito tempo. Morreu alguns dias depois,

quando o conversível em que estava junto ao namorado da época se desviou acidentalmente da estrada

para um precipício, ao menos foi o que a polícia acreditava ter acontecido.

Vin mal foi capaz de encarar Giuseppe e Joanne no funeral, alguns dias depois. Eles tentaram abraçá-

lo, consolá-lo, dizendo para fazer as malas e ir para casa deles. Mas Vin sabia que, se percebessem que

não era filho legítimo de Giuseppe, desistiriam dele com a mesma drapidez. Especialmente porque já

tinham a própria filha, uma garotinha adorável de 4 anos, que verdadeiramente merecia seu amor.

Então ele foi morar com o irmão da mãe em Nova York, um advogado que trabalhava 80 horas por

semana e tinha pouco a oferecer ao sobrinho entristecido e solitário, além do exemplo de alguém que

trabalhava excessivamente.

Agora Vin encarava Giuseppe na porta da villa. O homem que um dia ele acreditou ser seu pai, cujo

cabelo desde então tinha ficado grisalho. Ambos haviam mudado tanto ao longo de 20 anos. Será que

Giuseppe sequer o reconheceria agora?

– Boa noite... Desculpe-me pela interrupção. Não tenho certeza se o senhor vai me reconhecer...

Os lábios de Giuseppe se abriram. Depois seus olhos subitamente brilharam com lágrimas.

– Vincenzo. – Engasgou-se ele. – Meu menino, meu menino... Enfim você veio para casa!

Os braços do homem idoso o envolveram e ele sentiu a força dos soluços de seu pai. Uma pontada

atravessou o coração congelado de Vin, como se ele tivesse dolorosamente voltado a bater de novo.

Giuseppe se afastou, limpando os olhos, e gritou em italiano. Subitamente havia mais pessoas na

porta, incluindo duas mulheres de cabelo escuro, uma jovem e a outra mais velha, ambas bonitas e

sorridentes.

Sua madrasta, Joanne, e... Será que aquela era sua irmã, Maria, agora uma jovem de 24 anos? Ambas

o abraçaram, com gritos de alegria, e Giuseppe, chorando abertamente, abraçou os três.

Vin piscou rapidamente, sentindo como se a alma estivesse sendo arrancada.

Seu pai. Sua família. Ele ansiava amá-los novamente. Mas ele não tinha o direito. E se eles algum dia

soubessem a verdade, o amor deles evaporaria.

– Mas quem é essa? – perguntou Giuseppe em italiano, ao ver Scarlett agitando-se timidamente atrás

dele. Grávida e ainda com a mesma calça cáqui e casaco informal que usava em Gstaad, ela estava

incrivelmente bonita, com seu cabelo vermelho, mordendo o lábio inferior rosado, seus olhos verdes

incertos.

Vin apanhou sua mão.

– Essa é Scarlett, papà – disse ele baixinho, na mesma língua. – Ela está grávida do meu filho e vamos

nos casar.

– Você a trouxe para casa para nos conhecer? – Esticando a mão, Giuseppe bateu em seu queixo.

– Ela insistiu.

– Então ela já é amada por mim.

– Scarlett não fala italiano.

Ele sorriu.

– Ela entende. – E, de fato, Scarlett recebeu um sorriso brilhante e caloroso enquanto olhava dele

para Giuseppe. Pensou haver reunido Vin e o pai de novo.

Se ao menos fosse verdade. Se ao menos aquilo fosse sequer possível.

Mas, naquele momento, cercado de amor por todos os lados, Vin não podia lutar. Afastou a

vergonha a respeito da mentira que vivia. Enquanto os Borgias os empurravam para dentro da villa, era

mais fácil apenas fingir, por pouco tempo, que ele realmente era o filho deles, há muito perdido, o

irmão há muito perdido. Fácil fingir que realmente merecia o amor e o carinho deles.

– Você veio à minha festa de noivado! – disse sua irmã de cabelo escuro, feliz, passando o braço por

ele enquanto o conduzia pelo grande salão na direção ao pátio exterior. – Você tornou essa festa

inesquecível!

– Você está noiva, Maria? Você era uma garotinha na última vez que a vi! Você se lembra mesmo de

mim?

O sorriso dela se alargou.

– Confesso que minha memória não é perfeita, mas conheço você pela fotografia. Nosso pai chora

sobre ela com frequência.

– Maria...

– Mas tudo está perdoado agora que você está aqui. – Radiante, ela se moveu pelo pátio decorado, os

olhos brilhantes. – Aquele é meu noivo, Luca.

Luca mal parecia ter idade para ter se formado na faculdade, pensou Vin. Ou talvez ele mesmo

estivesse velho. As pessoas de fora de Manhattan não esperavam até os 35 anos para se casar. E, mesmo

em Nova York, ninguém demorava tanto para se apaixonar.

– Perdoe-me por interromper sua festa. Se eu soubesse...

– Vincenzo, ter você aqui é o melhor presente de noivado no mundo! Você viu o rosto de papà? Ele

tem rezado por isso. Quando lhe mandamos o convite, nunca sonhamos que você aceitaria.

Vin não havia recebido o convite, porque tinha instruído seu assistente para jogar qualquer

comunicação da família Borgia direto no lixo.

– Ah, bem...

– E agora você também está noivo, e esperando um filho – disse Maria, os olhos brilhando. – Nossa

família está crescendo!

Sob as luzes claras do grande pátio, os convidados dançavam com a música de uma pequena banda.

Nem mesmo parecia estar frio, graças aos aquecedores.

Ele olhou para Scarlett, que conversava com Giuseppe e Joanne. Só de olhar para ela, Vin sentia um

raio de calor que bloqueava todos os outros pensamentos e sentimentos. Uma distração bem-vinda.

Como se sentisse o olhar dele, Scarlett se virou. Seus olhos se cruzaram, em meio à multidão, e a

eletricidade correu através dele, como se fossem as duas únicas pessoas no mundo.

Então a madrasta dele se levantou da mesa, gesticulando para que ela a seguisse. Scarlett terminou

um último bocado do jantar e a obedeceu. Erguendo a sobrancelha para ele, com um sorriso misterioso,

ela se virou e desapareceu dentro da villa.

Foi como se as nuvens de repente cobrissem o luar. Pigarreando, Vin voltou-se para Maria, tentando

se lembrar do que eles estavam falando.

– Ah... Espero que vocês sejam muito felizes.

– Você também, irmão. – O sorriso dela se alargou. – Mas, já que você está apaixonado, vai se casar e

ter um bebê, algo me diz que está prestes a ser mais feliz que jamais imaginou.

DEZ MINUTOS depois, Scarlett se olhava no espelho de corpo inteiro.

– Obrigada – sussurrou, olhando-se no vestido soltinho na altura do joelho com charmosas mangas

largas. – Ah, muito obrigada!

A madrasta de Vin, Joanne, estava radiante.

– É vintage, querida. Há anos que não o uso. Só estou feliz por ter um vestido com cintura império!

Desde o momento em que Scarlett conheceu os pais de Vin, eles a trataram como família. Enquanto

conversava com eles no pátio, Scarlett havia timidamente mencionado que se sentia terrivelmente

malvestida para a festa.

– Seus guarda-costas podem trazer sua mala – disse Joanne, querendo ajudá-la, mas Scarlett

balançou a cabeça, olhando suas roupas casuais, com pesar.

– Todas as minhas roupas são assim.

– Não se preocupe! – disse Joanne de repente. – Sei exatamente o que você deve vestir! Só

precisamos encontrar sapatos melhores para você. Acho que Maria tem sandálias brilhantes mais ou

menos do seu tamanho...

Depois que Scarlett estava vestida, escovou o cabelo e passou um pouco de batom. Sentindo-se

nervosa como a Cinderela, voltou para o pátio barulhento a fim de se juntar à festa.

O pai de Vin, Giuseppe, sorriu para ela quando a viu retornar. Ele disse, em um inglês com sotaque:

– Estou feliz que está aqui. Posso ver o amor entre você e meu filho.

Scarlett corou e deixou a observação passar. Ela mal podia dizer a Giuseppe que ela e Vin tinham

concebido por acidente. Eles não se amavam.

Mas ela queria amá-lo.

– Quando irão se casar? – perguntou Giuseppe.

– Não tenho certeza exatamente. Será em breve, em Roma. Mas espero que vocês todos possam ir...

A voz dela sumiu quando Vin a encarou do outro lado do pátio e começou a atravessar a multidão

em sua direção.

Vin era incrivelmente bonito. Mas não era a largura de seus ombros, nem a mandíbula marcada,

nem mesmo a intensidade de seus olhos negros, que a abalava. O sex appeal dele era óbvio para

qualquer um que tivesse olhos.

Havia mais.

Scarlett sentia como se soubesse um segredo. Algo que nenhuma outra mulher tivera o privilégio de

ver. Algo que Vin escondia do mundo e negaria até à morte se jamais fosse acusado disso.

Sob as camadas de terno caro e dos músculos rígidos e brutais, Vin secretamente tinha um bom

coração.

– Scusi – disse ele ao pai, que sorriu.

– Mas é claro, você quer estar com sua futura esposa.

Vin esticou a mão e puxou Scarlett. Sob seu toque, o corpo dela ficava quente, depois frio. Enquanto

os dois se uniam na pista de dança lotada no pátio da villa, enquanto as luzes dançavam sobre eles ao

luar, o coração dela batia com força.

Seus joelhos enfraqueceram. O que estava acontecendo com ela?

– Cara, você está tão bonita nesse vestido. – Ele a puxou para junto de seu peito. – Dance comigo.

A dança lenta foi uma tortura para Scarlett. O corpo musculoso de Vin roçava contra seus seios e

barriga e as mãos dele lentamente passeavam por suas costas.

Os seios estavam cheios e pesados, os mamilos arrepiados, ansiando serem tocados. Até mesmo o

menor toque dele contra ela era quase demais, e ainda assim, nem perto de ser o bastante. O desejo

agonizante fluía por ela, enraizando-se profundamente, profundamente nela. Scarlett ansiava que ele a

beijasse, acariciasse sua pele nua, que ele a penetrasse, preenchesse-a completamente, moldasse-a...

Sua respiração se transformou em um arfar. Scarlett tentou esconder seu desejo. Não podia deixá-lo

saber que uma dança lenta tão inocente, enquanto estavam cercados pela família e pelos amigos dele

em uma festa de noivado, deixava-a insana de desejo. Como podia ser tão irresponsável? O que estava

errado com ela?

A música acabou e Scarlett suspirou.

– Hum, obrigada...

Mas, quando tentou sair da pista de dança, ele a segurou com força, murmurando:

– Não vá.

As enormes mãos de Vin deslizaram dos quadris dela para a base de suas costas. Ele a trouxe para

junto de seu corpo mais uma vez, pressionando os seios dela contra seu peito musculoso. Zonza de

tanto desejo, Scarlett ergueu os olhos para encará-lo.

Ele sorriu para ela. Cheio de poder. Seguro de si mesmo.

A música foi interrompida. A expressão do rosto dele mudou, tornando-se mais carregada. Cheia de

desejo. Lentamente, os lábios dele avançaram na direção dos dela...

– Vincenzo!

Eles se viraram quando a voz de Giuseppe os alcançou. O pai de Vin sorriu ao lado de Maria, que

também estava sorridente.

– Filho – disse ele –, não faz sentido que vocês se casem em Roma, em meio a estranhos! – Ele

gesticulava enquanto falava. – Decidimos que você e Scarlett devem se casar aqui.

– Ah, por favor, digam sim! – pediu Maria.

– Isso nos faria tão felizes – acrescentou Joanne, de forma sincera. – O que vocês dizem?

Uma cerimônia de casamento na belíssima Toscana, cercada pela família de Vin? Scarlett desejou

aquilo no mesmo instante em que ouviu a ideia. Cheia de esperança e sem ousar respirar, encarou-o.

Mas a expressão no rosto dele estava estranhamente apagada. Scarlett não entendeu porque a ideia

parecia deixá-lo tão tenso. Fosse qual fosse a razão, percebeu que aquilo não era o que Vin queria.

Percebeu, também, que ele estava no limite. Mas Vin se fechou em um silêncio reticente, forçando

Scarlett a dar as más notícias para a família.

Mordendo o lábio e tentando ser delicada, ela disse:

– Obrigada, mas queremos nos casar o mais rápido possível e...

– Mais uma razão para que façam a cerimônia aqui! – disse Joanne. – Qual é o motivo de fazer um

casamento em Roma? Só iria atrasar ainda mais a papelada. Aqui, tudo seria mais rápido, porque

Giuseppe é o prefeito e...

– Sì, prefeito – repetiu ele, cheio de orgulho.

– E ele vai assegurar que toda a documentação atestando o casamento seja expedida tão rapidamente

quanto possível. Vocês dois são cidadãos americanos agora. – Joanne deu uma olhada bem-humorada

para o enteado, como se dissesse "Que tolo você foi por trocar por outro seu belo país". – Então não será

necessário que corram os proclamas.

– Por favor! – Maria tomou as mãos de Scarlett. – Prometo fazer uma linda cerimônia de casamento

para vocês, assim eu já vou treinando para quando eu fizer o meu. Por que você não deveria se casar

aqui? É sua casa também, Scarlett!

Colocado daquela forma, era impossível discutir. Sem argumentos, Scarlett deu uma olhada para Vin.

Ele fez uma careta.

– Tenho contatos em Roma. O processo será feito rapidamente.

Giuseppe bufou.

– Cercado por estranhos! E sua família, como fica? E sua noiva?

Vin trincou os dentes.

– Eu não acho que...

– Por favor – sussurrou Scarlett.

Vin a encarou por um longo momento e depois suspirou.

– Va bene. Vamos nos casar aqui, já que parece ser o que prefere minha noiva. Mas preciso estar em

Roma dentro de cinco dias.

– Isso não será problema – disse Joanne.

– Será fácil! – disse Giuseppe.

– Vocês vão ver só – disse Maria. – Aposto que podemos realizar a cerimônia em três dias!

A expressão de Vin dizia que ele temia que aquilo fosse demorar uma eternidade. Por quê?,

perguntou-se Scarlett. O que o estaria deixando tão tenso? Ele estava querendo desistir do casamento?

Essa possibilidade a fez estremecer de nervosismo, porque Scarlett começava a achar atraente a ideia de

casar-se com ele.

– Talvez não seja uma ideia inteiramente ruim – murmurou Vin com os olhos fixos nela. – Se vamos

ficar, não precisamos mais pegar a estrada essa noite. O que significa que... – continuou ele aos

sussurros – posso levar você para a cama agora.

De repente, Scarlett estava quase se abanando de tanto calor e por pouco não perdeu o equilíbrio no

alto de suas sandálias. Seu coração estava acelerado e ela se sentia zonza.

O mundo inteiro desapareceu e tudo o que restou foi a sensação do corpo dele junto ao dela, a mão

dele apoiando seu braço. Ele pretendia seduzi-la? Não, certamente não. Estava grávida de oito meses e

meio. Não era exatamente uma deusa sexy. Ela o desejava. Claro que sim. Só pensava na escuridão

feroz de seus olhos.

E parte dela sentia medo do que aconteceria se fizessem amor. Quanto de sua alma ele poderia levar,

junto com seu corpo.

– Minha noiva está cansada – disse Vin, abruptamente. – Desculpem-nos, mas precisamos encerrar a

noite por aqui.

– Claro, claro – disseram eles, em inglês e italiano. Os três baixaram os olhos para a barriga de

Scarlett e sorriram. Todos amavam uma mulher grávida.

– Onde posso levá-la para descansar? – perguntou Vin.

– Siga-me – disse seu pai, gesticulando. Ele os levou através da bela villa, subindo as escadas para o

segundo andar, mais silencioso e, em seguida, parecendo muito satisfeito ao cruzar com portas duplas

que guardavam um quarto luxuoso.

– Mas aqui só há uma cama – sussurrou Scarlett para Vin, consternada. Giuseppe a ouviu e riu.

– Não há motivo para vocês fingirem que não compartilham a cama – disse ele com uma risada,

olhando para a barriga dela. – Não somos tão antiquados a ponto de precisar desse tipo de encenação.

Ou tão estúpidos para acreditar nisso! Não fique envergonhada. Queremos que se sintam confortáveis.

Recusando-se a encontrar os olhos de Vin, Scarlett disse calmamente:

– Talvez você pudesse me levar para outro quarto e...

– Ah, sim, claro – assentiu Giuseppe, mas antes mesmo que Scarlett pudesse suspirar de alívio, ele

continuou: – A villa está cheia de quartos de hóspedes, mas todos ocupados por seus seguranças.

Apreciei muito sua preocupação com sua equipe – disse ele com aprovação. – Você escolheu a mulher

certa, Vincenzo. Tão cuidadosa e gentil. Olhe ali. – Ele apontou numa direção. – Nosso pessoal desfez

suas malas. Realmente esperávamos convencê-los a ficar. Portanto, agora não há nada... – Ele ergueu as

sobrancelhas de forma sugestiva. – ... que os impeça de ter uma boa noite de sono.

Dito isso, Giuseppe deixou o quarto, fechando as portas duplas.

Deixados a sós na penumbra, ao lado da enorme cama, Scarlett e Vin se entreolharam.

– E agora? – sussurrou ela, tremendo. – O que devemos...

Antes que terminasse a frase, antes que pudesse concluir seu pensamento, Vin a puxou de forma

intempestiva para seus braços. Tomando os lábios dela, entrelaçou os dedos em seus longo cabelo ruivo,

beijando-a com uma profunda e feroz avidez que não podia ser negada.

                         

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