infelizmente ela se mexeu na minha direção e jogou o braço em cima de mim
com força. Fiz careta e quando fui tirar seu braço de mim, ela me apertou com
força, me puxando para si.
- Para de doce, Júlio.
Porra! Que merda é essa?
3º Capít lo
Observei o rosto dela, chocado com o que ouvi. Será que ouvi direito. Ela
disse Júlio?
Júlio?
Júlio...
Pelo jeito que me segurou agora, não parece que é só sonho... Vou ter que
investigar isso.
No dia seguinte observava ela enquanto tomávamos café da manhã. Estava
como sempre: cabelo impecável, roupas impecáveis e um olhar superior.
Ignorava meu olhar e comia com bastante gosto. Será que não tem comida
em casa? Ou é porque a comida da Rosa é maravilhosa?
- O que vamos fazer hoje? - perguntou assim que acabou.
- Sabrina, eu não estou de férias - falei irritado.
- Ai mais que saco! Você nunca pode fazer nada!
- No meio da semana não posso mesmo.
- É? Então por que ia sair ontem?
Passei a mão no cabelo com raiva.
- Porque era depois do trabalho - falei por entre os dentes.
Por que estou tão furioso?
- Você é frustrante, Daniel.
- Então por que está aqui? - falei alto e com fúria.
Ela ficou me encarando em silêncio um longo momento. Longo demais... O
que está pensando?
- Porque eu amo você.
Soltei uma risada e continuei comendo. Sempre fala as mesmas coisas.
Parece um gravador ambulante.
- Está rindo de mim? - perguntou irritada.
- Estou.
- Tenho cara de palhaça? - a voz saiu esganiçada.
- Às vezes.
Rosa apareceu na cozinha. Provavelmente veio ver porque ela estava
dando ataque. Assim que percebeu o olhar de fogo de Sabrina, Rosa fingiu que
veio lavar a louça.
- Você é insuportável! - falou bem perto do meu ouvido antes de ir
embora.
Suspirei e continuei comendo. Devo ser insuportável mesmo, talvez o Júlio
esteja resolvendo os problemas dela, não é?
- Está tudo bem, meu filho? - Rosa perguntou me olhando.
- Sim.
Rosa me olhou desconfiada, mas eu continuei comendo tranquilamente e
ignorei seu olhar de análise.
Entrei em casa depois de um dia cansativo de trabalho. Meu pai estava em
casa e com ele estava um cara que não conheço.
- Oi Dani! Que bom que chegou. Esse aqui é o Marcos.
Me aproximei e apertei a mão dele.
- Ele vai ser meu guarda-costas.
- Guarda-costas?
- Sim. Ele também me indicou um ótimo para você.
- Pai, eu não quero um guarda-costas. Isso não é necessário.
- Mas filho, assim eu fico tranquilo com você indo e vindo de onde quer
que seja.
- Eu sei me cuidar, pai. Não preciso que ninguém fique colado comigo.
- Sua mãe também foi teimosa quando quis contratar um motorista...
Revirei os olhos. Chantagem não vai funcionar!
- Pai, por favor, não apele. Eu não quero guarda-costas.
Ele respirou fundo e olhou o cara parado ao seu lado.
- Tudo bem.
- Ótimo!
Não estou afim de discutir mais nada. Sabrina já acabou com minha cota
de discussão por hoje. Por falar em Sabrina...
- Pai, posso falar com você a sós?
- Claro, meu filho. Vamos para o escritório.
- Com licença, Marcos.
Ele fez um aceno com a cabeça. Não é muito de falar, não é?
- O que foi, filho?
- Pode me fazer um grande favor?
- É claro! Do que se trata?
- Quero um detetive.
Meu pai franziu a testa.
- Pra que?
- Quero que ele descubra se a Sabrina está me traindo com o Júlio.
Agora os olhos se arregalaram. Logo ele se recompôs e passou a mão
pelos cabelos, que já estavam caindo.
- Por que acha isso?
Contei a ele o que ela falou dormindo.
- Hum... Vou falar com ele para verificar.
- Obrigado.
Dois meses depois ele tinha todas as provas que eu precisava. Ele sempre
me contava os passos da Sabrina. E ela realmente estava me traindo com meu
ex amigo Júlio. Mas eu sabia que tinha um porquê disso e pedi para ele
descobrir.
O que ele descobriu foi realmente surpreendente. Em uma gravação de
uma conversa entre os dois (não sei como ele conseguiu isso), ficou bem claro
porque a Sabrina estava comigo.
Ele falava com ela que tinha que me deixar, já que não sentia nada por
mim, mas ela disse que ainda não estava na hora e que antes de me chutar,
tinha que conseguir uma boa quantia em dinheiro.
O que ela esperava? Que eu fosse me casar e dar cinquenta por cento do
dinheiro do meu pai? Porra!
Estou tão furioso! Como pude ser tão idiota? Não enxergar a merda que
ela era? Nunca foi a melhor namorada do mundo e sempre que minha mãe
falava disso eu dizia "é o jeito dela, mãe".
Burro!
Sou um idiota mesmo! Realmente frustrante. Um idiota frustrante.
Estava no Haras praticando com o Cometa. É a única coisa que me deixa
calmo. Principalmente nesse momento. Ainda não sei como jogar na cara da
Sabrina que já sei a cobra que ela é, mas vou arrumar um jeito.
Puxei as rédeas do Cometa bruscamente e ele parou. Fiz isso
simplesmente porque vi o Júlio e o Erik se aproximando da área de salto. Meu
sangue ferveu quando meus olhos pousaram em Júlio. Que cara de pau!
Desci do Cometa e me aproximei dos dois. No momento eu só enxergava
o Júlio e a minha raiva...
Júlio franziu a testa ao ver eu me aproximar, mas não dei chance de
entender nada. Fui logo acertando um murro na cara dele. Foi tão forte que ele
caiu sentado no chão segurando o queixo.
- Que isso, cara?! - Erik falou alto.
O ignorei e acertei o Júlio de novo, mesmo estando no chão. Escutei de
longe o portão atrás de mim ser fechado e logo o Erik me tirou de cima de
Júlio. Ele não revidou. Só ficou com os braços na frente do rosto e me deixou
bater. Fiz a maior força que consegui para voltar e arrebentar a cara do Júlio,
mas o Erik me carregou para longe dele. Em pouco tempo estava no escritório
e o Erik trancou a porta. Ele me olhava com os olhos arregalados.
- Abre a porta! - falei com fúria.
- Não. Se controla, cara.
Passei a mão no rosto com raiva.
- O que deu em você?
- O que deu em mim? - gritei furioso. - O que deu foi que esse filho
da puta tem um caso com a Sabrina!
Erik ficou em silêncio me olhando ainda com os olhos arregalados. Acho
que eu nunca surtei desse jeito antes... E não pensem que é por causa dela e sim
pela traição dele.
Dizia ser meu amigo. Dizia gostar de mim. Mas claro que era puro
interesse! Assim como ela! Que idiota que eu sou!
- Abre essa porta, Erik - pedi irritado.
- Desculpa, cara, mas não vou abrir até você se acalmar. Se quiser pode
me bater também, mas não abro.
Resmunguei um palavrão e me afastei dele. Não quero descontar minha
frustração nele. Não tem nada com isso. Quem merece está lá fora...
Não sei quanto tempo se passou, mas o Erik realmente não abriu a droga
da porta. Estava mais calmo, apesar de ainda querer matar o Júlio.
Alguém bateu na porta e eu olhei o Erik.
- Quem é? - perguntou encostado na porta.
- Lorenzo.
- Não se mexa! - Apontou na minha direção.
Não falei nada e nem me mexi. Ele cerrou os olhos e abriu a porta, mas
sem tirar os olhos de mim.
Meu pai entrou e o Erik trancou a porta de novo. Revirei os olhos e meu
pai olhou o Erik com os olhos arregalados.
- Está tudo bem?
- Daniel não está nada bem! Surtou e partiu pra cima do Júlio!
Trinquei os dentes ao ouvir o nome dele e meu pai me olhou incrédulo.
- Partiu pra cima?
- Sim! Se eu não trago ele pra cá...
- Pode me deixar a sós com ele?
- Claro, mas melhor não deixar ele sair.
- Eu estou bem! - falei nervoso.
- Bem se nota...
- Sai logo, Erik!
- Sim, capitão! - Fez continência.
Meu pai riu e ele saiu. Estava sentado na cadeira dele e não tinha vontade
nenhuma de levantar. Muito menos de rir.
- Quer falar sobre isso?
- Não.
- Mas eu preciso saber o que aconteceu.
- Recebi as descobertas do seu amigo.
- Ah... E então?
Fechei os olhos e respirei fundo. Ele não vai sossegar enquanto não
souber mesmo. Falei tudo que li no papel e o que fiz com o Júlio quando ele
veio com a grande cara de pau dele chegar perto de mim.
- Nossa... Eu sabia que ela era ambiciosa, mas não imaginei tanto.
- Não quero falar dela, pai.
- Tudo bem. Vamos pra casa. Você precisa de um banho e uma boa
comida da Rosa.
- Tá.