O VIÚVO NEGRO
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Capítulo 2 O VIÚVO NEGRO

CAPÍTULO 2

A semana passa rápido, e desde o baile de

apresentação não tenho visto o papai. Tenho

tentado me manter acordada, para esperá-lo

chegar e termos uma conversa definitiva a respeito

da faculdade que escolhi e do curso que pretendo

fazer, no entanto, sou vencida pelo sono e quando acordo, ele já não está

mais em casa.

Pauline, nunca me diz onde posso encontrá-lo, e sequer me deu o

número do seu celular, diz que o papai não gosta de ser interrompido e para

que eu tenha paciência, pois chegará a hora em que iremos conversar. Só que

este dia nunca chega.

Acordo com a cantoria dos pássaros em minha janela. A manhã de

domingo parece perfeita para um banho de piscina, a vantagem de se morar

em um país tropical é essa, o sol é quente e nos permite um mergulho ao ar

livre. Jogo uma água no corpo, visto um maiô que comprei há quase um ano,

em um dos passeios que fazíamos com as alunas, sempre supervisionados

pelas irmãs do internato. É bem-comportado e sei perfeitamente que não é

uma peça que as moças de minha idade usariam, mas é o que tenho e servirá

para um mergulho. Por cima da roupa de banho coloco um vestido leve de

algodão.

Já estou me aproximando da sala de jantar, quando percebo que alguma

coisa estranha aconteceu, os empregados estão de pé, perfilados, e outras

pessoas que eu não conheço estão reunidas em grupos, falando em voz baixa,

parecem assustadas e chocadas. Então assim que notam a minha presença no

ambiente, me encaram e olham em direção ao meu ombro esquerdo. Me viro

e congelo, sentindo meu coração apertar em meu peito. Meus olhos se fixam

no homem que desce as escadas com seu porte altivo, paro de respirar por

alguns segundos. Deveria ter corrido, mas sequer consigo me mover.

O tal Lennox caminha em minha direção e quanto mais se aproxima,

mais posso ver a cor dos seus olhos. Eles são frios, e à medida que me olha,

percebo que o tom de azul parece o céu sem nenhuma nuvem, e o dourado o

céu quando o sol está se pondo.

- Sinto muito, Safira, mas seu pai não se sentiu bem e...

Ele chega tão rápido perto de mim que, sequer percebo que sua cabeça

está levemente inclinada, bem próxima a meu rosto.

- Papai, o quê? Ele está bem? - Consigo finalmente desviar meus

olhos do rosto do homem que me deixa completamente hipnotizada e tento

seguir em direção às escadas. - Quero vê-lo!

- Não! Acho melhor o médico explicar o que aconteceu. - Sua mão

forte e quente consegue me deter.

- Solte-me, eu preciso ver meu pai. - digo, enfrentando-o e tentando

fugir do aperto de sua mão em meu braço.

- Não há mais nada a ser feito, seu pai teve um infarto fulminante. Eu

sinto muito!

- Morto! Como assim? - O empurro, e corro em direção às escadas,

subindo de dois em dois degraus com as palavras frias que aquele estranho

profere, ecoando em meus ouvidos, ferindo a minha alma, deixando-me

completamente desesperada.

- Safira, espere, não fará bem ver seu pai nesse estado... - Ele ainda

tenta me deter, mas é tarde demais, já entrei no quarto.

- Papai, por que o senhor fez isso? O senhor é tudo o que eu tenho, a

única pessoa que me restava! - Bati em seu peito com meus punhos

fechados, tentando sentir algum tipo de reação com meu desespero.

Grito, furiosa, até que o tal Feral me segura, carregando-me em seus

braços, me conduzindo para o meu quarto.

- Por que ele me deixou? Por quê? - Sussurro, com o rosto

escondido em seu peito, sentindo um cheiro gostoso, reconfortante. - Ele

não tinha o direito de me deixar, e agora? - Estou me sentindo como se

estivesse flutuando, mal consigo enxergar a muralha de músculos em minha

frente.

- Acalme seu coração, Safira, tudo ficará bem, eu garanto. - As

palavras dele chegam aos meus ouvidos sussurradas, e antes mesmo de

chegar a meu quarto, perco os sentidos.

Quando acordo, horas depois, estou na minha cama, com Pauline ao

meu lado, tentando me confortar.

- Querida, não fique assim, não havia mais o que fazer, seu pai sabia

que se continuasse vivendo aquela vida sem limites, seria fatal. Jogo,

bebida, mulheres... ele foi avisado pelo médico, mas não quis escutar.

- Por que você não me contou que ele estava doente? - Limpo as

lágrimas, que mal consigo contê-las.

- Porque seu pai não iria escutá-la, ele não escutava ninguém. Seu pai

tinha duas doenças incuráveis: a do coração e da jogatina, e olha no que deu.

Pauline me abraça, tentando me consolar, só então percebo que não

conheço meu pai, não sei nada sobre ele. Andrew Stuart é um completo

estranho.

- Ele parecia estar tão bem! Como foi acontecer isso de uma hora

para outra?

- Querida, seu pai já havia sofrido dois AVCs, não percebeu que ele

andava um pouco manco?

- Sim, mas eu pensei ser da idade.

- O médico o avisou que o próximo poderia ser fatal.

As lágrimas inconsoláveis saltam de meus olhos, descendo pelo meu

rosto.

- Minha linda, chore, chore sua dor, mas saiba que seu pai tentou ser

um pai cuidadoso, mesmo não demonstrando. Ele sempre se preocupou com

seu futuro, acredite nisso. E aconteça o que acontecer, saiba que o que ele

fez foi para seu bem, e você precisa honrar sua palavra, faça o que tem que

ser feito e aceite seu destino.

Não estou entendendo nada daquela conversa, Pauline fala coisas sem

nexo.

- Querida, não me olhe assim, você não é mais criança, já é uma

moça de vinte e um anos e precisa enfrentar a realidade da vida.

Eu não faço ideia do que ela quer me dizer com todas aquelas

palavras, eu só quero acordar, talvez esteja dormindo. Volto a chorar. Não

me conformo em ter perdido meu pai, mesmo que ele nunca tenha sido

presente, era minha única família. Sinto-me sendo puxada para a escuridão,

onde a solidão está me esperando, pronta para me devorar.

Os dias que se sucedem, são os mais terríveis de toda a minha vida.

Vejo os empregados indo embora, um por um, a única que fica é Pauline.

Dias depois, um homem vestido em um terno preto, vem inspecionar a casa e

diz estar a mando do novo proprietário. É então que descubro que herdei

apenas dívidas.

Papai devia muito mais do que tínhamos. O valor da sua dívida daria

para comprar um pequeno país. Resumindo, eu não tenho onde cair viva,

logo terei que deixar a casa. E o pior, com uma mão na frente e outra atrás, e

ainda devendo uma grande fortuna.

- Como tudo isso aconteceu? Nós tínhamos tanto dinheiro! E as

empresas da família da mamãe, o que aconteceu com elas? - Sabia que tudo

o que eu e o papai tínhamos, foi herança da mamãe. - O que é que eu vou

fazer agora? Para onde eu irei? - Pergunto olhando para Pauline.

- Não se preocupe, querida, tudo na vida tem um jeito, seu pai não te

abandonaria, eu tenho certeza disso.

Acho que Pauline não entendeu, estou falida e cheia de dívidas.

Preciso aceitar que estou na lama, preciso ir à procura de algum

emprego e um lugar para ficar, antes que os novos donos me chutem daqui.

- Pauline não precisa ficar ao meu lado, pode ir, eu ficarei bem. Só

deixe o número do seu telefone caso eu precise falar com você.

- Não, eu ficarei ao seu lado, e se quiser, poderá vir comigo. Falo

com meus novos patrões, eles certamente a acolherão.

Pauline foi indicada para trabalhar em uma mansão de um dos amigos

de meu pai, e sei que certamente ele nunca me aceitaria em sua casa, já que

papai não ficou bem-visto perante à sociedade, após descobrirem o quanto

ele estava endividado.

CAPÍTULO 3

Duas semanas se passaram, e recebo a

visita do novo proprietário, ele comprou a mansão

do homem a quem papai era devedor. O senhor

simpático é até generoso, dando-me mais dois

dias para que eu arrume um lugar para ficar.

No entanto, preciso acordar para a realidade, de nada adianta ficar

postergando minha derrota, eu não pertenço mais a este lugar, então, é

chegada a hora de dizer adeus. Arrumo minhas poucas coisas, só tenho o que

trouxe do internato, ainda não havia saído para fazer compras, e enquanto

desço as escadas meu celular toca.

Mesmo sem saber quem era, pois o número não era identificado, eu

atendo.

- Alô! - respondo com um fio de voz.

- Safira? - A voz é profunda e a reconheço, mas não quero

acreditar. - Aqui é Lennox Prysthon.

Como ele sabe meu número de celular?

- Sim. Posso saber o que deseja? - Eu não o via desde o dia da

morte do papai. Ficamos em silêncio e isto começa a me incomodar, aliás,

ele me incomodava.

- Senhor, ainda está aí? - Pergunto, tentando quebrar o silêncio

constrangedor.

- Sim. - Ele limpa a garganta. - Estou indo buscá-la, não saia daí

até eu chegar.

- Senhor Lennox, não tenho nada para falar com o senhor, já estou

indo embora desta casa, os novos donos já estão vindo, então, passe bem...

- Safira, nem ouse sair daí, já estou chegando. - ordena com aquela

voz rouca e quente. - Temos alguns assuntos pendentes, não era para

acontecer desse jeito, mas infelizmente situações extremas exigem medidas

extremas, portanto, espere-me.

Será que papai lhe devia algum dinheiro e ele se acha no direito de

vir me cobrar?

- Senhor, se papai estava lhe devendo algum dinheiro, saiba que não

sou herdeira de nada, a não ser das suas dívidas. Acho que o senhor deve

estar sabendo, todos da alta sociedade já sabem. - digo com voz magoada.

- Sim eu sei, só fique onde está, em cinco minutos estarei a sua

frente. - ele fala com aquele tom de quem não está acostumado a ser

desautorizado.

Sento-me em um dos estofados que ficam em frente à grande porta de

entrada, e espero. Minutos depois ele se faz presente com sua postura altiva

e dominante, vestido em um terno azul-marinho. Caminha em minha direção,

eu permaneço sentada. De pé, diante de mim com aqueles olhos de cores

diferentes, me encara. Seu olhar frio, gela toda minha espinha e faz meus

pelos se eriçarem. É, ele parece mesmo uma sombra, fria e escura, me

cobrindo e sugando minhas forças.

- Vamos, vou levá-la para casa.

Casa? Que casa? Esse homem é maluco?

- Não irei a lugar algum com o senhor! - Lanço um olhar de desafio.

- Quem pensa que é?

- Sou seu futuro marido, o homem a quem seu pai devia muito

dinheiro e ele prometeu que você se casaria comigo, caso eu perdoasse

todas elas. Então, vai honrar a palavra dele, ou precisarei cobrar a dívida?

Sou tomada pelo choque! Encarando-o, quase que boquiaberta, fico

estática, tenho a sensação de estar sonhando, ou flutuando, isso não poderia

estar acontecendo.

Mas se isso for verdade, por que a mansão foi vendida?

- Não me olhe como se eu fosse um vilão, não tenho nada a ver com a

venda da mansão e das outras propriedades.

Ele pode ler meus pensamentos. É, esse homem, tem algo de muito

sombrio.

- Safira, seu pai me devia dinheiro, e se eu fosse somar, seria muito

mais do que o valor de todas as propriedades, inclusive a empresa. Nunca

aceitei imóveis como forma de pagamento, eu empresto dinheiro, e só recebo

em espécie. Seu pai me devia muito, e quando fui cobrar, ele aceitou meu

pedido de casamento em troca do perdão das dívidas.

- Meu Deus! O que sou, moeda de troca? E minha opinião não pesa?

- Lennox se inclina um pouco mais, e posso ver o brilho do seu olhar

contrastante.

- Acho que o que você acha ou deixava de achar não iria mudar a

situação. Ou seu pai pagava o que me devia, ou não ficaria vivo para contar

a história.

- Isso quer dizer que se não me casar com você, meu destino é a

morte, é isso? - Encaro seu olhar desafiador, acho que não se importou

muito com a minha atitude, pois sorri levemente e a ponta de seus dedos

tocam docemente meu queixo.

- Exatamente isso, gosto de mulheres inteligentes. Agora vamos, você

precisa se arrumar para o casamento.

- Não com tanta pressa, senhor Lennox...

- Feral, me chame de Feral, é assim que sou conhecido. E antes que

comece a ciscar como uma galinha no galinheiro, serei direto, você não tem

alternativa, aqui está a prova do acordo que tive com seu pai, cinco meses

antes de você voltar para o Brasil.

Ele me entrega um documento, que tem por testemunhas os dois

advogados do papai e dois advogados do Lennox. No documento está escrito

o valor da quantia perdoada e o valor da quantia oferecida como

bonificação, uma espécie de dote, e o valor era duas vezes maior do que

papai devia. Não queria acreditar que meu próprio pai havia me vendido.

- É muito dinheiro, até mesmo para o senhor. - Digo, ainda

incrédula que estou no meio daquilo tudo.

- Não, minha linda mulher, isso não é nada para o tamanho do meu

patrimônio. Os cassinos são só um hobby, meu negócio são pedras

preciosas. Chega até ser engraçado, sou dono de muitas minas e encontrei

uma safira justamente em um lugar nada apropriado.

- Você não pode me obrigar! Meu pai já está morto, o que o faz

pensar que aceitarei tal absurdo? - Levanto-me, e o encaro. Eu sou pequena

e ele é um gigante, mesmo assim, tento disfarçar meu medo ao enfrentá-lo.

- Eu sei que honrará a palavra do seu pai, mas mesmo que não

queira, você se casará comigo. Eu serei seu marido, querendo ou não. - Ele

agarra meu braço, seus dedos em minha pele gelam até minha alma. Eu até

tento me livrar de sua mão, mas sou puxada com força de encontro ao seu

corpo. - Quer mesmo lutar contra mim? Pois tente, eu juro Safira, que tomo

o que é meu bem aqui, no chão frio desta casa. Não brinque com quem você

não conhece, você me pertence, acostume-se com isso. Agora vamos, o jato

nos espera, estou cansado do Brasil.

Como assim? Para onde ele pensa que vai me levar?

- Não irei a lugar algum, conheço meus direitos, sou livre e não

quero me casar, principalmente com você. Sequer nos conhecemos, você só

pode estar louco.

- Linda Safira, teremos algum tempo durante nossa viagem até a

Espanha para nos conhecermos, e não se preocupe, sentimentos e desejos

virão após nosso casamento. Sou um homem à moda antiga, só saboreio o

mel após a consagração de nossa união.

Ele não está brincando, sou intimidada a andar. É como ter uma

corrente em minhas mãos, e meu algoz me levando a força para ser torturada.

A porta se abre, e dou de cara com uma SUV preta, e três seguranças,

armados até os dentes, estão próximos ao carro, logo atrás vejo outra SUV,

também preta e mais cinco seguranças. Um frio percorre minha espinha, eu

sequer posso correr.

- Não se preocupe, esses seguranças não são para me proteger, eu

não preciso. - Ele abre o paletó e vejo uma arma no coldre. - São para

sua proteção, sou um homem visado, e tudo o que é meu também é, portanto,

pense duas vezes antes de fugir, meus homens não a machucarão, mas meus

inimigos sim, não importa se você me odeia ou não.

Tropeçando em meus próprios pés o acompanhei, entro no carro, ele

vem logo em seguida, atravessa o cinto de segurança em meu corpo. A cada

toque dos seus dedos na minha pele é como uma faísca de fogo, eu quero

matá-lo.

- A propósito, meus inimigos são coelhinhos perto de mim, caso você

tente escapar da minha proteção, não pensarei duas vezes em matá-la. Então

não fuja de mim, minha joia.

O que ele chama de proteção, eu chamo de cárcere privado.

            
            

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