Volto para o quarto, nem sinal dele, não
nego minha decepção, acho que já estou me
acostumando com a sua presença tão marcante,
mas é melhor assim.
Tiro o roupão e escolho uma roupa mais
aquecida, apesar do sol, a manhã está fria, e dependendo de onde se fica, às
vezes, chega a gelar a espinha quando o vento bate em sua pele.
Visto um vestido longo de algodão cru, mangas compridas e com
rendas de guipir ao longo da saia, decote e mangas. Nos pés, bota média de
salto baixo, e por cima do vestido um casaquinho de algodão.
Chego à cozinha, mas não vejo ninguém, estou com fome, no entanto,
não queria parecer atrevida, tampouco mandar nos empregados dele, então,
para espantar a fome fujo para a varanda lateral, de onde há uma vista linda
para o vale com sua terra vermelha e o verde das plantas rasteiras, é uma
visão bonita, pois em algumas moitas pode-se perceber um colorido
diferente, entre amarelos e azuis.
- Venha, o café já foi servido, e ficará frio se demorarmos. - Nem
percebi sua aproximação.
- E por que se incomoda? Quem vai bebê-lo serei eu, não você. -
Me afasto, sua simples presença me causa confusão e desejo.
- Porque você é minha esposa, e querendo ou não, eu sou seu marido.
Os homens sem tradição familiar não se importariam, no entanto, eu me
importo, esposa e filhos são preciosos para mim... - Sou pega de surpresa,
ele se vira e puxa a minha mão, entrelaçando nossos dedos. - Querida,
aprenda uma coisa sobre Feral, sou um homem fiel. Agora venha, não me
tente em colocá-la novamente sobre meu ombro.
Com um brilho no olhar, ele me observa, medindo-me da cabeça aos
pés.
- Você é insuportável, a cada dia tenho mais certeza do quanto o
odeio. - Tento me soltar do seu aperto, no entanto, ele aperta mais os meus
dedos.
Como eu gostaria de mandá-lo à merda.
- Seja gentil com seu marido, querida, afinal, foi criada em um
colégio católico, e eu sei como eles são disciplinados. Não banque a tola, e
pare de me tratar como se eu fosse um estranho em vez de seu marido.
Agora, vamos comer.
Vou com ele, do que adianta lutar contra a brutalidade de um homem
tão pretensioso. Chegamos à área externa que dá acesso à piscina, a mesa
está posta com elegância, forrada com uma toalha branca de linho. Ao
centro da mesa, pães, bolos, frutas, leite, requeijão e queijos, algumas jarras
de sucos, cereais e o tradicional café, certamente comida para um batalhão.
- Você convidou mais alguém para o café da manhã? - Se ele pensa
que irei bancar a esposa amorosa, está muito enganado.
- Sente-se. - Puxa a cadeira, encara-me com aquele olhar que faz
meu coração bater descompassadamente.
Reviro os olhos e entorto a boca, quando me sento esbarro nele, e
quando ele me toca quase me ajoelho.
- Ainda se sente tonta, querida?
Você me deixa tonta, Cão do Inferno.
- Não, sou um pouco estabanada, me desculpe - respondo, ardendo
em ódio, por ele me afetar tanto.
Enquanto, Lennox serve meu café, o observo. Alto, másculo, sua pele
morena e os cabelos negros são um contraste divino com seus olhos
diferentes. O azul parece o oceano, e o dourado está tão claro, que dá a
ilusão de um espelho. Ele é charmoso, sabe se vestir, mesmo com uma
simples camisa polo e uma calça jeans, e o cheiro... Deus! Que cheiro
gostoso. O homem emana poder.
- Coma tudo, eu sei que está com fome, ontem você jogou tudo o que
estava em seu estômago para fora. Ah, beba todo o suco, precisa se reidratar.
- Sim, senhor! - digo com ironia e começo a comer.
- Sem gracinhas, quero o prato vazio. Falo sério, precisa se
alimentar, não quero você doente.
- Tem medo de que eu morra, e juntem as coisas?
Eu e minha boca grande. O olhar fuzilante que ele me dá, faz com que
me arrependa de imediato da besteira que falei.
- Não, quando você me conhecer direito, verá que não sou homem de
temer a nada, mas não quero que fique doente, o hospital mais próximo fica a
quilômetros de distância daqui, até que o helicóptero chegue, certamente
sairei atirando em algumas pessoas.
- E por que faria isso? Ninguém terá culpa, caso eu adoeça. Não seja
ridículo!
- Você ainda não me viu nervoso, espero que nunca veja, portanto,
coma.
Envio-lhe um olhar descontente. Não sei o que acontecerá comigo a
partir de hoje, já estamos casados, e certamente ele não me quer como
esposa só no papel, já deixou isso bem claro. O que faço? Brigo, berro,
chuto, me escondo como uma garotinha medrosa?
Por que papai fez isso? Por que ele me entregou nas mãos de um
homem tão cruel?
- Lennox...
- Me chame de Feral, ou marido, querido, amor... menos de Lennox,
só quem me chama pelo primeiro nome são pessoas que trabalham para mim,
ou que não me conhecem. Minha esposa, precisa criar um apelido carinhoso.
Que tal, satanás?
- Lennox, por que não anulamos esse casamento, será que não vê que
isso não vai dar certo? Eu não o amo, você não me ama, se quer o dinheiro
que o meu pai pegou, eu pago trabalhando de graça para você, é só me dar
um lugar para morar...
- Cale-se, não me aborreça com seus discursos prontos, não vou
anular caralho de casamento algum! Você pode até não me amar, mas me
deseja, e eu sei disso. E amor, querida, vem com a convivência, e eu a farei
se apaixonar por mim.
Não sei como.
- Eu nunca irei amá-lo, Lennox, nunca. Podemos até estarmos
casados no papel, mas será só isso. - Levanto-me, e jogo o guardanapo
com força sobre a mesa.
- Sente-se, você ainda não terminou.
- Volte para o inferno, Cão, você não é meu pai, e eu não sou mais
criança, coma você.
- Safira Feral, volte aqui!
Escuto seu berro, eu o deixo à mesa, sozinho, viro as costas e saio.
Agora estou indo para meu quarto.
Entro, bato a porta e a tranco com a chave.
- Safira, abra essa porta!
- Não, preciso de privacidade.
- Privacidade não é argumento, ou você abre a porta, ou entrarei de
qualquer jeito.
- Está me ameaçando? - inquiro, chocada.
Só tenho tempo de formar a frase. Escuto o estrondo do pontapé, e a
porta se abre bruscamente.
- Você é um animal, sabia? Uma fera ridícula.
Falo e me afasto, quando percebo que ele está vindo em minha
direção.
- Você pode até fazer o que está pensando, não lutarei contra sua
vontade, mas não haverá prazer algum, fará sexo solo, pois permanecerei
quieta e calada como uma tábua.
Ainda tento correr, mas antes que eu dê o próximo passo ele consegue
me segurar. Como que num impulso, sou carregada para cama.
- Solte-me seu cão do inferno. - grito, bato, mordo seu ombro até
sentir o gosto ferruginoso de seu sangue em minha boca
- Lute, querida, gosto disso. - Ele me joga sobre o colchão.
O encaro de súbito enquanto ele sobe na cama. Tento chutá-lo, mas ele
me segura pelas pernas. Seus olhos ficam de apenas uma cor, olhos
completamente dourados. Eu nunca tinha visto um olhar tão assustador.
- Vamos ver se farei sexo com uma tábua. - A voz arrogante e
irônica me assusta, estou perdida.
Sinto o sangue fugir de minha face, vou desmaiar, não, não, se isso
acontecer ele irá fazer o que quer comigo e nem poderei lutar.
- Pronta esposa, para receber seu marido? - Seu olhar é de pura
luxúria.
Suas pernas ficam entre as minhas, seu corpo sobre o meu. E quando
começo a o socar com os punhos, uma de suas mãos prende meus dois
pulsos, levando meus braços para o alto da minha cabeça.
Sua boca rouba a minha, tento me desvencilhar, mas ele é mais rápido
e logo sinto meus lábios se entreabrirem e receberem sua língua macia e
quente.
O beijo roubado, logo se torna terno, sua língua encontra a minha e a
saboreio, chupo e mordo. E o que eu não queria, agora quero.
Sua outra mão suspende o meu vestido, e seus dedos tocam a minha
intimidade por cima do tecido da calcinha, ele a afasta para o lado e começa
a fazer carícias no meu clítoris.
Por que eu não luto?
Por que eu não grito?
Por que estou o deixando fazer isso?
Ele interrompe o beijo, sua boca desce traçando um caminho de
mordidas por onde passa. Meus seios são beijados, mordidos e chupados,
sinto o tecido do vestido molhar com o calor de sua saliva. Enquanto sua
boca faz um caminho abaixo, suas mãos se espalmam em meus seios, e seus
dedos friccionam meus mamilos.
- Oh, Deus! - gemo.
Estou livre, minhas mãos estão livres, então por que eu não fujo?
Porque não posso! A verdade é essa, eu não posso, porque eu quero.
Perco meu juízo completamente.
Aperto os lábios um contra o outro, quando sinto meu vestido ser
levantado.
Meu Deus, ele vai fazer o que eu imagino?
Ele faz. Beija a minha vagina e sua língua assume o lugar do seu dedo,
recebo um chupão e uma lambida.
- Pai do céu!
Se ele fizer isso de novo vou gozar, como gozei no penhasco.
Contudo, quando penso que ele me fará gozar, ele se afasta. O colchão
se move conforme o seu peso, até que escuto sua voz.
- Não vejo uma tábua nesta cama, vejo uma mulher cheia de desejos.
No entanto, não sou homem de forçar uma mulher a fazer sexo. Nunca
precisei violentar, ou até mesmo pagar por uma foda, e minha esposa não
será a primeira. Portanto, se você quiser viver de aparência, que seja feita a
sua vontade. Boa noite, querida, esposa.
Ele me deixa sozinha, molhada, excitada e com cara de idiota.
CAPÍTULO 8
Alguns minutos se passaram até que
resolvo me levantar da cama. Estou sozinha e me
sentindo um farrapo humano, não compreendo o
porquê me sinto assim, afinal de contas, não tenho
sentimentos por ele, não bons, eu o odeio. Se
minha vontade foi feita, por qual razão estou incomodada? Não era isso
que desejei, que ele me deixasse em paz? Será que estou repensando sobre
quem ele é? Certo que não me violentou como imaginei, mesmo assim, ele
não é confiável, usou a fragilidade do meu pai, para obrigá-lo a consentir
nosso casamento. O tipo de pessoa que obriga um pai desesperado a entregar
sua única filha em troca de uma dívida, decerto, não é uma boa pessoa.
Em pé, naquele quarto enorme, encaro os lençóis de linho amassados,
vê-los faz as lembranças voltarem pouco a pouco. Ele me tocou, e eu o
queria. Continua tudo tão confuso, como posso desejá-lo? Eu não posso! A
quietude do quarto torna-se então um tormento.
- Estúpida!
Grito e sou acometida por uma crise de choro, jogo-me na cama e
escondo meu rosto no travesseiro. Choro como se cada lágrima derramada
levasse consigo um pouco do meu desespero.
- Maldição!
Bato com meus punhos no colchão. O cheiro dele está em toda cama,
inebriando minhas narinas, confundindo meus sentimentos. Sobressaltada, as
recordações veem como uma chicotada doce e cruel. O perfume másculo traz
lembranças do momento em que ele me tomou a força, quando olhou para
mim e seu olhar dizia que iria me possuir, mesmo que eu não o quisesse.
Sinto uma onda de calor que começa em meus pés, percorrendo todo meu
corpo até chegar em minha cabeça, e em seguida, meus pelos se eriçaram,
sinto calafrios
Mas, afinal o que eu quero?
Definitivamente eu não deveria sentir coisas por um homem que me
obrigou a casar com ele, que quer me usar como um simples objeto de luxo.
Não, Safira, precisa continuar lutando contra o demônio! Não se
entregue, se ele a quer, terá que possui-la a força. Você precisa continuar
fugindo dele.
Tenho que evitá-lo. Suplicará, se humilhará, lutará com afinco, mas
não o deixarei arrancar de mim, minha inocência, ele não merece. Prefira a
morte a pertencer a este maldito.
Por Deus! Eu preciso tirar este homem da minha cabeça.
Só da cabeça?
Ainda deitada, imóvel, consigo sentir a ponta dos seus dedos
deslizando em meu corpo, em minha intimidade. O calor do seu corpo, do
seu hálito... Sua respiração tão perto da minha pele... Merda! Eu preciso
parar de pensar no Cão do Inferno... Fecho meus olhos e desejo morrer.
Deus, estou me sentindo tão impotente!
Ainda desesperada me sento na cama e abraço meus joelhos. Eu me
casei, e é óbvio que ele não quer só um casamento de fachada, ele quer o
pacote completo.
Você já sabia disso, Safira. Um homem como Lennox Feral, não
pagaria um valor tão alto por uma mulher se não quisesse usar e abusar
dela.
Ele já repetiu várias vezes, que é um homem que segue as tradições, e
vai sim, querer consumar o casamento... Começo a tremer novamente e as
lágrimas saltam dos meus olhos e molhando meu rosto.
Não, não, eu preciso ser forte. Não posso dar esse gostinho ao Cão do
Inferno.
- Senhora, está acordada? - Escuto batidas na porta. Ainda trêmula
me levanto, e limpo minhas lágrimas com as costas de minha mão.
- Oi, Rosa, acabei dormindo um pouco. - Abro a porta e
rapidamente me viro de costas, não quero que ela perceba que eu chorei.
- Está tudo bem, só vim avisar que o almoço já está pronto e será
servido.
- Obrigada, Rosa, já estou indo. Será na sala de jantar?
- Sim, senhora. - Ela se afasta e só escuto a porta se fechar.
Antes de ir almoçar, tomo um banho, pois o vestido que estava em meu
corpo estava com o cheiro dele impregnado. Estar ao lado dele já é difícil,
não quero ter seu cheiro em minha pele e em minha roupa.
Assim que entro na sala de jantar percebo que há algo de errado, a
mesa está arrumada apenas para uma pessoa. Acho estranho, mas permaneço
calada, talvez eles estejam terminando de pôr toda a louça.
- Sente-se senhora, já vou servi-la. - Rosa entra na sala, com aquele
sorriso habitual e sincero.
- Rosa, eu vou almoçar sozinha? E Lennox?
- O senhor Feral saiu faz algum tempo.
Saiu, como assim? Por que ele não me avisou?
- Ele virá para o almoço? Posso esperá-lo, se for o caso.
Por que eu disse isso? Não era ótimo ficar sem a presença dele?
- Não, ele avisou que não virá para o almoço.
Olho desanimada para a mesa. Apesar de estar muito bem arrumada,
com porcelanas finas, talheres de prata e taças de cristais, perco o apetite.
Mesmo assim me sento. Rosa deixa as opções do almoço sobre a mesa.
- Não, não precisa me servir, farei isso sozinha, pode ir.
- Senhora, o senhor Feral não gostará disso. - Ela ainda tenta me
servir, mas minha mão se fecha em seu punho e balanço a cabeça em um
sinal de negativa.
- O senhor Lennox não está aqui, e se você não contar, eu não conto.
- Certo, senhora, bom apetite. - Ela sai da sala.
Três minutos se passaram e não consegui sequer tocar nas baixelas.
Levanto-me e sigo até à cozinha. Estão todos sentados na grande mesa que
fica no centro da cozinha e assim que entro, todos eles param de comer. Rosa
se assusta, se levanta e vem ao meu encontro.
- Quer alguma coisa, senhora? Não precisava ter vindo aqui, há um
sino sobre a mesa, é só sacudir que iria rapidamente atendê-la.
- O que vocês estão comendo? - pergunto, ignorando
completamente os argumentos da mulher.
- Cocido Madrileño.1- responde um dos seguranças. Puxo a cadeira
e me sento.
- Senhora, não é uma boa ideia sentar-se conosco, volte para a sala,
se a comida que fizemos não está do seu agrado, faremos algo que goste, é só
pedir.
- Cale-se, Rosa, eu detesto comer sozinha, quero comer aqui com
vocês.
- Senhora, não está certo, o senhor Feral não vai gostar...
- Que se dane o Lennox, eu vou comer aqui com vocês. Por acaso
sofrem de alguma doença contagiosa?
- Não! 2Dios no lo quiera. - Uma garota um pouco mais velha do
que eu, responde.
- Então, vou almoçar com vocês.
- Está certo, vou buscar sua comida.
- Não, eu quero comer o que vocês estão comendo, parece deliciosa.
De que é feita?
- O Cocido é feito com linguiça, batata, frango, grão-de-bico,
repolho, vagem e outros componentes. Não sei se vai gostar.
- Sério, já estou babando só de olhar e escutar do que é feito. Cadê o
prato?
- Senhora, se o senhor Feral souber, ele vai arrancar nosso couro. -
A moça olha para mim amedrontada.
- Se ele machucar algum de vocês, terá que fazer o mesmo comigo,
portanto, não tenham medo, a escolha é minha, eu quero comer aqui e pronto.
- 3Qué Dios nos ayude. - Rosa articula.
- Qual o nome de vocês?
- Aquele bigodudo ali é o Lorenzo, o careca é o Anselmo, essa aqui é
a Nina. Tem mais gente, mas estão ainda ocupados. - Rosa, apresenta a
todos, pega um prato de porcelana e começa a me servir.