- Sinceramente, acho que você não precisa me lembrar do que aconteceu exatamente comigo! - sem querer, sou grossa, e logo estou me desculpando: - Me perdoa, não queria ser grosseira.
- Eu sei que não! Você não sabe o que eu senti quando te vi no chão do banheiro toda ensanguentada.
Minha irmã linda... Ela não tinha ideia de como eu a admirava, me criou desde pequena, a nossa diferença é de dez anos.
- Me perdoa! - peço novamente, e ela me abraça, colocando a cabeça em meu colo. Começa a chorar. Muito.
- Eu pensei que você estava morta! - ela sussurra.
- Era o que eu queria naquele momento - confesso, sentindo as lágrimas dela em minha barriga.
- Não, eu não quero que você atente mais contra a sua vida! - ela diz, brava, e se levanta. Assim pude reparar em como ela estava abatida.
- Eu preciso morrer! Ela me olha chocada.
- Nunca mais fale uma merda dessas!
- Você acha que é fácil?
- Eu imagino que não deva ser fácil.
- Não, você não imagina! - praticamente grito, e tento me controlar:
- No dia do meu aniversário eu fui estuprada!
- Duda, fica calma - ela pede, ao ver como estava agitada.
- Eu não posso ficar calma! - olho firme para ela. - Além de ter sido violentada, posso estar grávida e ainda correr o risco de ter pegado uma DST.
- Eles fizeram o teste de gravidez e DST.
- E qual foi o resultado? - pergunto, com medo.
- O resultado mostra que você, Senhorita Sanches, não está grávida e também não contraiu o vírus - ouço uma voz de um homem e fico tentando saber quem é. Não preciso muito, pelo jeito da minha irmã, que ficou muito vermelha.
- Oi, doutor Leão - minha irmã diz, ainda corada.
Ele abre um sorriso que acho sensual e nos cumprimenta.
- Então eu não estou grávida?
- Não senhorita! Mas isso não significa que a senhorita não tenha que tomar a pílula do dia seguinte e muito menos o coquetel, pois vai tomar como prevenção.
- Mas o senhor não disse que eu não estou grávida e também não contraí DST? Por que eu tenho que tomar? - questiono, já ficando nervosa.
- Senhorita, como eu estava dizendo, a senhorita tem que tomar, e vamos fazer mais exames. Você também vai ser acompanhada por um psicólogo.
- Eu não preciso de nenhum psicólogo - respondo, grossa, e a minha irmã me olha feio.
- Ela vai, sim, doutor Leão!
- Ótimo, a enfermeira já vai trazer as medicações, e vamos fazer logo mais exames.
- Eu estou bem! - resmungo.
- A senhorita passou por um grande trauma, e sei que está abalada, mas precisa fazer mais exames e também começar a tomar a medicação, tudo bem? - aceno a cabeça em concordância. Não demora muito, ele sai, e vem uma enfermeira, e sou tirada da restrição. Foi assim que comecei a minha longa jornada para esquecer o meu pesadelo.
- Dudaaaaaa! - ouço a minha irmã me chamar e sou tirada do passado. Logo desço as escadas e vejo-a toda arrumada.
- Aonde você vai? - pergunto, curiosa.
- Eu vou trabalhar, esqueceu? - ela brinca. - E a senhorita tem que ir para a aula, e não se esqueça de vir logo para casa.
Ela me dá um beijo e sai correndo como louca. Minha irmã ama e ao
mesmo tempo odeia o trabalho como secretária do Senhor Leon Vitorino. Sinceramente, eu ainda não o conheci, e nem quero. Minha irmã diz que o homem é um gato e que eu deveria arrumar um namorado.
Decidi que nunca vou me relacionar com ninguém. O medo ainda bate em mim quando algum homem se aproxima. Mesmo sabendo que não pode me fazer nada de mal, eu ainda fico com um pé atrás.
Pego a mochila e sigo para o curso, pedindo mais uma vez a Deus para me fazer esquecer de tudo que me aconteceu. Será que é pedir muito? Solto um longo suspiro triste.
Eu andava muito estressado, e a única pessoa que me aguentava era a minha secretária. Acho que ela merece até mesmo um bônus por me aguentar tanto.
- O que houve agora, Senhor Vitorino? - ela me pergunta, com uma calma que invejo.
- Problemas, Vanessa, como sempre! - digo, querendo tranquilizá-la. Ela era a única mulher que não tentava me levar para a cama ou vice-versa. Acho que ela era imune a mim. Meu pau nunquinha levantou para ela em saudação. Acho que estou ficando velho mesmo.
- Então, hoje o senhor recebeu a ligação da Senhorita Munhoz - ela diz, e gemo em silêncio. Essa mulher virou mesmo uma praga.
- O que ela disse?
- Para o senhor ligar para ela - Vanessa dá de ombros, como se achasse normal.
- Depois eu retorno - mas eu não iria ligar merda nenhuma para aquela louca. Ela cumpriu mesmo a promessa de tornar a minha vida um inferno. Agora a louca disse que estava achando que eu a tinha engravidado.
- Bom, o senhor tem reunião com os fornecedores de chocolate daqui a pouco pelo Skype - ouço a Vanessa falando, e eu pensando em como me livrar da Laura.
- Droga, tinha me esquecido disso - comento, já estressado por isso.
- Mas eu não! Dou um sorriso.
- OK, o que mais temos hoje? - pergunto, desejando estar de volta à minha cama.
- Já acertei tudo com o Buffet para fazer o jantar de confraternização de fim de ano.
- Sério? - olho-a espantado.
- Sério, está tudo organizado para a próxima semana, as cestas de Natal e também as de chocolate estão sendo organizadas - ela vai falando o que eu tinha para hoje e também o que adiantou. Ainda estava em choque com ela, por ter resolvido mais rápido o que a minha antiga secretária levaria semanas para fazer.
- Meu Deus, mulher, se você não fosse a minha secretária eu me casava com você!
- Não, obrigada - ela brinca, e dou risada. Sei que a Vanessa namora um médico.
- Nossa, você magoou o meu coração! - brinco, piscando o olho.
- Hã... sei! - ela ri, e continua: - Eu não faço o seu tipo, e mesmo que fizesse estou muito feliz com o meu namorado.
- Nossa, assim não tem como competir, não - brinco novamente. Vanessa era a única mulher de quem eu gostava, e que não queria abrir
as pernas para eu foder.
- Vanessa, há quanto tempo você trabalha para mim?
- Hum... - ela fica pensativa e depois abre um sorriso: - Já tem um ano e meio, por quê?
- Por nada, não, só curiosidade mesmo. E aí, vai trazer alguém da sua família?
- Estou vendo se convenço a minha irmã a vir.
- Sério? Eu gostaria muito de conhecê-la.
- Vamos ver se ela vem, ela é meio reclusa.
- Bom, me avisa, que mando fazer uma cesta para ela também.
- Ah, não se preocupe, não, a Duda come os meus chocolates - ri. - Bom, vou lá para a minha mesa, e o senhor já faça a chamada logo, antes que seus fornecedores e diretores fiquem putos com o senhor - ela volta a brincar, e me deixa sozinho.
Abro o meu Skype, e não demora muito aparecem os diretores, e começamos a falar sobre a minha empresa de chocolate. Graças a Deus, tenho ótimas vendas.
Algumas horas depois...