Seduzida
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Capítulo 4 Capitulo 4

- Neil é um homem forte. Ama muito você e Anne. Acho que é um incentivo muito grande - é perceptível a tristeza em seu olhar - Se tivesse visto como ficou.

- Oh, Liam... - levo minhas mãos ao rosto tentando aplacar o choro - O que eu fiz?

- Desculpe Jenny, não deveria ter falado sobre isso. Queria apenas que soubesse como ele a ama e o quanto sofreu com a separação. Sinto muito - murmura ele - Vamos. Você ainda tem que fazer alguns exames antes que possa lhe dar alta.

- Eu não posso ficar aqui?

- Eu sei quais são as suas intenções - Liam sorri - Mas precisa sair um pouco daqui, descobrir o mundo lá fora. Isso lhe fará bem.

A única coisa que me fará bem e ver o Neil acordado e dizer que me perdoa. O mundo sem ele não me interessa mais. Será tão vazio e negro como era quando estava cega.

- Nunca vi pessoas tão parecidas - continua Liam, enquanto me guia de volta ao quarto - Tão teimosos.

Eu não concordo. Há uma grande contradição nisso. Neil é carinhoso, bondoso e protetor. Tudo o que eu não sou. Ou fui.

- Vou ser o padrinho desse casamento. Não aceito desculpas. Ou quem sabe de um dos milhares de filhos que terão.

Emociono-me com sua tentativa de me animar. Suas palavras renovam as minhas esperanças e me dão forças.

Acompanho Liam até seu consultório. Ele me explica todos os cuidados que preciso ter ao receber alta do hospital, receita-me o colírio para os olhos que precisarei usar por algum tempo.

- Siga tudo o que disse passo a passo e não terá com que se preocupar. Amanhã já estará de alta. A notícia seria maravilhosa se nas últimas 48 horas meu mundo não tivesse desabado sobre minha cabeça. Por que sempre que eu conquisto alguma coisa tenho que abrir mão de outra? Se para enxergar eu tivesse que perdê-lo seria um preço alto demais. Afinal já havia aprendido a viver nas

sombras, no entanto, não sei como poderei viver sem Neil ao meu lado.

- Quando poderei vê-lo de novo?

- Eu vou consultar o médico dele e informarei a você.

- Você me disse à tarde - protesto - Quando ele irá acordar?

- Foi uma cirurgia longa e complicada Jenny. Neil ainda está sob o efeito pós-anestésico. Além disso, é seu corpo que irá determinar a hora certa para isso. Temos que esperar.

- Gostaria de ficar com ele - murmuro.

- Você deve ter paciência - suspira ele - Não há mais nada a fazer no momento.

- Irá me avisar assim que ele acordar?

- Sim.

Tento me convencer a ficar calma.

- Como está a Anne? - A essa altura a criança já deve estar a par do que aconteceu. Fico imaginando como estará lidando com tudo isso.

- Ainda não a vi, mas creio que deva estar abalada.

- Gostaria de vê-la. Ela ama muito o pai.

Meus olhos se enchem de lágrimas ao imaginar o quanto a garotinha deve estar sofrendo, sozinha.

- Lilian está na casa de Neil com ela. Assim que for possível, Anne terá autorização para vê-lo. Talvez amanhã quando você sair do hospital possa ir até lá visitá-la. Sei que ela gosta muito de você.

- Eu farei isso.

Lembro-me da última vez que a mãe de Neil esteve naquela casa, não havia sido muito amistosa comigo. Sem a presença dele nem posso imaginar como reagirá. E mesmo tendo receio de como vou ser tratada ou recebida, preciso ver a Anne, ficamos muito próximas uma da outra e imagino o quanto sofre nesse momento. Pelo menos eu ainda posso vê-lo, mesmo que por alguns minutos. Não deve ser fácil para ela saber que o pai está doente e ainda sem poder visitá-lo.

Quanto à Lilian? Será que Liam sabe alguma coisa sobre a visita em meu quarto?

- Lilian esteve em meu quarto ontem? Você sabe algo sobre isso? A surpresa em seu rosto me diz que não.

- Sinto muito, mas eu não faço ideia.

- O que ela sabe sobre o acidente? Sabe que a culpa foi minha?

- A culpa não foi sua Jenny - murmura ele - Aceite isso e pare de se torturar. Quanto à Lilian, nós não conversamos muito sobre o assunto. Ela falou com o médico responsável, mas eu não acho que ele entrou em detalhes pessoais, apenas nós sabemos as circunstancias em torno disso.

Fico um pouco aliviada. Não que eu goste de mentir sobre o acidente, mas ter a mãe de Neil contra mim nesse momento ou fazendo acusações não é algo que posso lidar agora. Além disso, temos que proporcionar um ambiente tranquilo para quando ele estiver consciente, precisará de todo apoio e paz ao redor dele.

≈≈≈

Volto para quarto sem ânimo algum. De alguma forma, ficar no hospital me dá a sensação de que estou próxima a Neil. Ir embora no dia seguinte me dá a sensação de abandono.

- Más notícias? - pergunta Paige ao ver a tristeza em meu rosto.

- Terei alta amanhã.

- Isso não é uma coisa boa?

- Gostaria de ficar aqui - murmuro - Perto dele.

- Mas poderá vê-lo não é?

- Não é a mesma coisa - sinto uma dor aguda no peito.

- E como ele está?

- Ainda está inconsciente. Temos que esperar que ele acorde. Vou visitá-lo à tarde.

Passamos o restante da manhã conversando sobre o meu passado, o acidente e meu futuro daqui para frente. Mesmo que tudo pareça trágico ele está vivo e isso é que importa.

≈≈≈

À tarde volto ao quarto de Neil para outra visita. É uma alegria e tortura para mim ao mesmo tempo. Alegria, que por pelo menos, por alguns minutos, posso ficar perto dele; segurar suas mãos, sentir seu calor e conversar com ele, mesmo que pareça não me ouvir. Até mesmo cantei suas músicas preferidas. Sinto uma imensa tortura por ter que partir e ter que esperar horas para poder vê- lo novamente quando meu desejo é ficar ao lado dele sempre.

Estou saindo do quarto quando vejo uma mulher parar à minha frente.

- O que faz aqui? Como tem coragem de aparecer aqui?

Reconheço a voz. Quando eu era cega meus outros sentidos como tato e audição eram mais aguçados que o normal e quase nunca me esqueço de uma voz.

- Vim visitar o Neil - respondo a mãe dele.

- Que eu saiba, só é permitido à visita de familiares - diz acidamente. – Você não é da família! Encaro a mulher loira, elegante e bonita a minha frente. Sua hostilidade é perceptível.

- Sra. Durant eu...

- Lilian, você sabe que Jenny é noiva de Neil e tem o direito de estar aqui - diz Liam ao se aproximar de nós.

- Noiva? - diz, torcendo o nariz - Não estava sabendo disso. Onde está o anel de noivado? Seus olhos vão direto para minha mão direita como se para comprovar o que diz.

- Neil pretendia entregar assim que Jenny saísse do hospital, eu vi o anel - Liam responde por mim - Mas as circunstancias não permitiram.

- Só que ele não deu. Talvez tenha caído em si e mudado de ideia - diz ela, arrogantemente - Não sai de minha cabeça que isso é culpa dela.

- Eu sinto muito Sra. Durant - sussurro - Eu não queria...

- Não diga absurdos Lilian! - reage Liam, com raiva - Foi um acidente.

- Sophia me disse... - ela titubeia nas palavras, seu olhar irado em direção a mim - Alguma coisa você fez e eu vou descobrir. Enquanto isso, eu quero que fique longe de meu filho.

Sophia novamente? Quando essa mulher iria entender que Neil não a ama e não a quer. Quantas vezes ela se colocará em nosso caminho?

- Sinto muito por tudo o que aconteceu - respiro fundo - Eu não sei o que Sophia disse, mas não vou sair de perto dele. Não até que acorde e ele mesmo me peça isso.

Seus olhos me encaram com indignação seguido de frieza.

- Você não era cega? - olha-me com desconfiança - Ou era apenas uma artimanha.

- Por Deus Lilian! -protesta Liam - Eu mesmo fiz a cirurgia de Jenny.

- Graças ao Neil, fui operada e voltei a enxergar há pouco tempo - respondo emocionada. Nunca poderei me esquecer disso e cansar em agradecer. Se não fosse o amor dele e a fé que depositou em mim todos os dias, ainda estaria vivendo nas sombras.

- Não pense que me engana. Sei muito bem o que sua irmã fez ao meu filho Nathan. Não fará o mesmo com Neil. Eu não vou permitir isso.

Observo-a entrar no quarto como um furacão, suas últimas palavras me deixaram atordoada. O que Samantha tem a ver com isso? O que ela quis dizer?

Tenho vontade de entrar e dizer umas boas verdades a ela. Fora Nathan que abusou e prejudicou minha irmã ao ponto dela dar cabo a própria vida. Ele era o vilão da história e não Samantha. Por causa dele eu desprezei a pessoa mais importante da minha vida e por causa dele quase o perdi. Então, se há algum culpado é o Nathan, que mesmo morto nos atinge com suas crueldades.

            
            

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