- Deve ser por isso que veio aqui ontem. Provavelmente queria tirar satisfação. Agora, o que aquela bruxa da Sophia pode ter falado?
- Eu não faço a mínima ideia. No entanto, uma coisa me deixou muito intrigada... Lilian me disse algo sobre Samantha e Nathan.
- O quê?
- Algo sobre ela ter feito mal a ele.
- Isso é ridículo. Pelo que você me contou foi o contrário.
- Não sei Paige - respondo, confusa - Ela parecia realmente acreditar no que dizia. Além disso, Kevin e eu nunca conversamos sobre isso, não contamos a mais ninguém, nem aos nossos pais. Eu tinha coisas piores para me preocupar naquela época, além do meu sentimento de culpa. Talvez ela realmente não saiba.
- De qualquer forma o filho dela não era um santo - resmunga Paige -Não há como negar isso.
- Agora tudo faz sentindo - falo comigo mesma - Quando ela visitou o Neil naquele dia disse- me que eu causaria sofrimento a ele. O mesmo disse Sophia aquela vez no restaurante. Somente agora as pontas soltas se encaixam.
Corro até o espelho no banheiro. Não havia notado, mas Samantha... Nós sempre fomos muito parecidas. Se não fosse a diferença de idade poderíamos nos passar como gêmeas.
- Elas me reconheceram - encaro Paige através do espelho - Conheciam Samantha.
Tudo parece muito confuso. O que eu não sei? De uma coisa tenho certeza, Samantha havia sido a vítima e irei provar isso custe o que custar.
≈≈≈
Um pouco mais tarde Paige recebe um telefonema e sai apressada. Promete voltar assim que puder para passar a última noite no hospital comigo.
Assim que ela vai embora volto a ficar perdida em minhas conjecturas, andando de um lado a outro pelo quarto enquanto aguardo Kevin voltar. Com certeza ele terá as respostas. Não posso deixar que a imagem de Samantha seja maculada pelas mentiras de Nathan e Sophia. Isso eu não vou permitir.
- Que bom que chegou - digo a Kevin assim que ele entra.
- O que aconteceu?
- O que houve entre Nathan e Samantha? - disparo.
- Jenny, não vamos falar sobre isso agora - ele parece angustiado - Você sabe o que houve.
- Sim, mas a mãe do Neil parece ter uma ideia diferente da nossa. Eu sei o que eu vi naquele dia. Vi o desespero de Sam e como ficou depois daquilo. Não é certo que seja vista como a vilã da história.
- Certo - murmura ele - Sente-se.
Faço o que ele diz, sinto-me nervosa em ter que remoer o passado e tudo o que ele representa para nós, mas é um mal necessário.
- Lembra-se que papai às vezes nos levava para a mansão Durant para ajudá-lo com o jardim? Você não, ainda era muito pequena - relembra Kevin - Foi assim que Sam e eu conhecemos o Nathan. Na verdade, ele virou meu amigo por causa dela. No início eu não percebi isso. Só queria andar com a turma dele. Ir a festas. Embora ele não me deixasse participar de algumas, nunca entendi isso. Então acreditei que se Samantha namorasse-o me deixaria entrar definitivamente para seu círculo de amigos.
- Sam tinha medo do Nathan. Ela me disse muitas vezes - digo com raiva - Como pôde jogá- la nos braços dele?
Lembro de uma vez, quando voltei da escola e a encontrei chorando no quarto que dividíamos. Após muita insistência me contou que Nathan a tinha beijado a força e nunca mais voltaria aquela casa.
- Eu pensei que ela estivesse fazendo charme. Então eu não liguei. Já tinha visto uma foto dele nas coisas dela, só depois descobri que era o Neil.
- Neil... - eu sussurro, confusa.
- Sam tinha uma paixonite por ele. Talvez seja isso o que a mãe dele quis dizer - continua ele
- Quando Samantha morreu, Nathan parecia bem deprimido. Quase sombrio, então, mostrei a foto que tinha encontrado nas coisas dela. Disse que ela o amava apesar do que fez. Nathan ficou furioso e me contou que não era ele na foto, mas sim o Neil.
Isso é novidade para mim. Por que Neil não havia me contado isso? Quantos segredos ainda há entre nós dois? Será que ele também a amava? Será que o tempo todo ele a via em mim? Eu sou apenas uma substituta de alguém que ele amou?
- Não sei o que Nathan pode ter inventado sobre Sam - Kevin interrompe meus pensamentos - Você não perguntou a ela?
- Não tive oportunidade, Lilian saiu antes disso.
- Esse é um assunto delicado. Pelo que Neil me disse, os pais dele não sabem o que aconteceu ou como aconteceu e se Sophia está metida nisso...
- As coisas ficam cada vez mais confusas para mim. Temos que esperar que Neil acorde para esclarecermos as coisas - murmuro. - Estou cansada.
- Por que não se deita um pouco? - sugere Kevin.
Deito na cama com as pernas trêmulas. Nada faz sentido. Dúvidas e inseguranças se instalando em meu peito. Embora tente relaxar eu não consigo. O medo e desconfiança me sufocam. Por que Neil havia escondido aquilo sobre Samantha? Por que?
Volto ao seu quarto para visita noturna e as perguntas sem resposta queimam em minha garganta. Neil e Samantha? Respiro fundo para conter a dor quase física ao tentar imaginar isso. Por seu amor eu poderia lidar com todos os meus traumas do passado, apesar de ainda me machucarem muito, mas eu não conseguirei lidar em ser apenas uma substituta de um fantasma. Pior do que isso, da minha própria irmã.
- Neil, acorde e me diga que é apenas um engano estúpido - sussurro com lágrimas nos olhos, enquanto seguro sua mão - Por favor.
Observo seu rosto perfeito e tranquilo. Não tenho dúvidas por que Sam havia se apaixonado por ele. E conhecendo Sam como conhecia, não ficaria surpresa por Neil a amá-la também. Minha irmã além de linda era uma pessoa incrível, doce e afetuosa.
Ondas de dor invadem meu peito com força total. Rezo silenciosamente para que seja apenas mais um engano.
≈≈≈
Na tarde seguinte, recebo alta e antes de sair faço todos me prometerem que irão me avisar se Neil acordar antes que eu retorne.
Antes de irmos para casa peço a Paige que me leve até a casa dele para visitar Anne. Como imaginei, Lilian não permitiu que entrasse. Embora queira fazer o mesmo no hospital, sempre o visito quando ela não está presente. É obvio que isso é uma represália.
Os seguranças parecem confusos por não terem permissão em me deixar entrar, mas como são ordens não há nada que possam fazer.
- Velha nojenta! - grita Paige, através do interfone - Quando Neil souber sobre isso você vai ver.
- Vamos embora Paige - olho para casa através do imenso portão - Não há o que fazer aqui.
- Tenho vontade de matar essa mulher e todas essas senhoras nojentas que acham que dinheiro é tudo na vida - diz ela, irritada - Preferem viver de aparências e fazer os próprios filhos que dizem amar tanto sofrerem ás custas disso.
Ela não está se referindo apenas a Lilian, mas também a mãe de Richard. Pelo que me disse a mulher é a pessoa mais esnobe e egoísta do mundo. Chegou até a oferecer dinheiro para que Paige se afastasse do filho dela.
- Eu sinto por Anne - choro - Ela está sofrendo muito. Estamos a caminho da rua quando ouço uma voz atrás de mim.
- Espere senhorita Jenny!
- Dylan? - encaro o homem moreno e musculoso atrás do portão.
- Sim. A senhorita já está enxergando?
Ele parece indeciso. Estou com os óculos escuros que Liam ordenou que usasse por alguns dias para evitar a claridade excessiva. Então não tem certeza se já enxergo ou não.
- Sim. Os óculos são apenas uma proteção contra a luz.
- Que bom. Tenho certeza que o senhor Durant ficou muito feliz. É uma pena o que aconteceu com ele não é? - murmura ele, com pesar - Mas ele é um homem forte e logo sairá dessa.
- Eu tenho certeza que sim.
Vejo-o olhar para casa atrás dele. Seu olhar é de desgosto.
- Sabe, pego a garotinha na escola todos os dias às três. Anne chora muito e sente falta do Sr.
Durant.
- Por que à avó não deixa que fique em casa? - Paige pergunta irritada -Pelo menos por esses dias?