Capítulo 2 Trovões e Relâmpagos

- Aonde estou? - pergunto olhando para os lados.

- Na minha casa!

Olho para frente e vejo duas pessoas me encarando. Tirando meus olhos deles, percorro a sala, a decoração exuberante.

- Haley! Você lembra do que aconteceu? - a garota de aproxima de mim, com um belo e gentil sorriso no rosto.

- Eu preci...o papai...como que... - gaguejo sem parar, as palavras não saem completas.

- Eu sou a Mabel, e esse é meu irmão, Alec! Não precisa se preocupar, hoje você dorme aqui, e amanhã você volta pra sua casa. - a jovem me olha sorridente.

- Você cuida dela, Mabel! - Alec fala levantando-se e indo em direção às escadas.

- Você está com fome?

- Sim! Passei o dia todo sem comer, eu estava muito ansiosa para o casamento, e no final, não adiantou de nada.

- Vem, vamos comer algo! - ela segura minha mão e me leva até cozinha.

- O que você gosta de comer? - ela pergunta enquanto verifica a geladeira.

- Mac n' Cheese, Lamingtons, Pavlova e Balmain Bug! - respondo com um sorriso no rosto.

- Não são comidas de Toronto! Ou são? - ela me pergunta confusa.

- Não!

- Eu sugiro Peameal Bacon, Poutine e Canadian Pizza! Qual você escolhe?

- Peameal Bacon! Acho que é melhor para comer no jantar. - falo em um tom sarcástico.

- Ah, sim! - ela fala sem graça.

Como a minha refeição a vontade, não sinto mais um peso no coração, meus pensamentos voam...mas nada é concreto. Será que meu pai está a minha procura? Sai correndo sem nem avisar que não ia mais ter casamento! O que a mamãe faria no meu lugar? Nunca terei a resposta para essa pergunta. Meus pais sempre foram amorosos e gentis, o amor deles era de causar inveja, e agora, tanto papai como eu sofremos.

- Como vamos encontrá-la? - Sally pergunta à Tyler.

- Encontrei o celular dela na limosine.

- Eu irei ligar para todos os conhecidos da Haley, talvez algum deles esteja abrigando ela esta noite.

- Faça isso, Sally! Irei descansar um pouco. - ele fala enquanto vai para o seu quarto.

- Ai, Haley! Por que você não me contou que ia fazer essa loucura? Eu poderia ter te ajudado, mas você preferiu sair correndo daquela forma e agora...

- Com quem você está falando, Sally? - uma voz surge da porta de entrada.

- Janet! - Sally corre em direção à Janet.

- Eu vim assim que li o noticiário! - ela fala enquanto deixa a bolsa no sofá.

- Ainda não sabemos aonde ela pode estar! - Sally diz passando a mão direita no cabelo.

- Não se desespere! Amanhã ela estará aqui, a alegria não será a mesma no rosto dela, mas nós iremos tratar de deixá-la feliz. - Janet abraça Sally, a confortando.

- Posso dormir na sua casa? - ela pergunta com o rosto afundado.

- É claro que pode! - Janet responde calmamente. - Margaret! - ela chama a atenção de uma empregada.

- Srt. Janet! Está mais linda do que antes! - a empregada olha para a garota, completamente deslumbrada.

- Oh, obrigada! Se a Haley aparecer, você nos avisa?

- Sim, senhorita! Logo a minha menina vai aparecer, ela só está confusa e desorientada. Tudo é uma questão de tempo! - a empregada as conforta com suas palavras.

- Boa noite, Margaret! - Sally a abraça e vai embora junto com Janet.

A chuva ainda continua, o tempo em Toronto não é bom, trovões e relâmpagos, as ruas agora não estão mais tão movimentadas como antes. Mabel continua me olhando como se quisesse perguntar algo, mas não consegue! Ou tem medo de eu ficar constrangida. Uma bela garota, seus olhos verdes e seus cabelos loiros são destaque na sua aparência. De repente, um trovão faz com que haja falta de energia no condomínio todo.

- Haley! - sinto Mabel segurando a minha mão e me puxando para fora da cozinha. - Vamos para o meu quarto!

Andamos devagar e com cuidado, tentando não encontar e nem bater em algo, mas parece ser uma missão impossível. Paramos perto de algo que parece ser uma porta, há uma placa neon verde, que faz com que seja possível encontrá-la em uma situação como essa.

- Fica aqui! Eu vou ver se encontro uma lanterna. - ela solta a minha mão e não consigo mais sentir sua presença perto de mim.

Um trovão acaba me assustando, logo ouço passos por perto, tenho certeza de que não é a Mabel. Os passos se aproximam e são pesados, o medo toma conta de mim, saio andando em qualquer direção até esbarrar em alguém. Sinto-me caindo.

- Desculpe! - toco suavemente as partes do corpo da pessoa sobre mim.

- Mas o que? Ah, Haley! - ele fala sarcasticamente.

Não consigo enxergar nada, ainda está tudo escuro, e a Mabel ainda não apareceu. Outro trovão! Quando esses trovões irão acabar? Com medo, fecho meus olhos bem apertados, puxo o irmão de Mabel para mais perto, o abraçando fortemente.

- Haley? A energia voltou! - ele fala calmamente.

- Tem certeza? Ainda escuto os trovões e relâmpagos. - permaneço com meus olhos fechados.

- Mas é claro que tenho certeza! - seu tom de voz agora é sério.

Abro meus olhos vagamente, percebo que a situação é embaraçosa. Estou praticamente agarrada com Alec, e seu cheiro é tão... maravilhoso. Seus olhos são verdes, eu diria que um verde pera. Toco seu rosto suavemente, sua pele é tão macia quanto a de um bebê.

- Que creme você usa? - pergunto enquanto acarecio sua pele.

- Como? Eu não uso creme! - ele exclama confuso.

- Eu recomendo Dior Prestige Le Micro-Caviar de Rose!

- E por que eu precisaria disso? - ele ergue uma de suas sobrancelhas.

- Foto! - Mabel aparece atrás de nós com um celular em mãos.

- Acho que você deveria levantar! - sussurro para ele.

Alec sai de cima de mim e me ajuda a levantar, agora estamos todos parados olhando uns para os outros.

- Mabel, apague isso! - ele fala seriamente.

- Não! Por que vocês estavam no chão? - ela olha atentamente a foto.

- Eu esbarrei no seu irmão e caímos no chão. - falo sem graça.

- Você precisa tirar esse vestido! - ele aponta para o meu vestido completamente imundo e molhado.

- Eu te empresto uma roupa, não temos o mesmo físico corporal, mas acho que alguma deve lhe servir. - ela me arrasta para seu quarto, mas antes, dou uma rápida olhada em Alec, que se vira e sai andando.

- Alguma dessas peças te serve? - ela olha as roupas uma por uma.

- Uma lingerie serve.

- Você quer ir tomar um banho primeiro?

- Isso seria ótimo! -

- Pode ir lá! Sem pressa, demore o tempo que precisar. - ela sorri calorosamente.

Tomo um banho calmo, sinto-me em casa, ahh...amanhã eu volto. Hoje foi um dia cheio de alegria, agitação, decepção e tristeza, mas apesar de tudo, tenho que continuar e ser mais forte daqui pra frente. Troco-me rapidamente, é como se eu não tivesse saído da minha zona de conforto, mas algo ainda me incomoda.

A noite passa rapidamente, vejo o fleche de luz através das persianas, olho ao meu redor e vejo Mabel ainda dormindo. Pego uma caneta e um pedaço de papel, deixo uma mensagem escrita antes de ir embora. Sim! Eu estou de lingerie, é constrangedor, mas é melhor do que o vestido que eu usava à noite passada.

- Táxi! - chamo um táxi que passava por perto.

- A senhorita está bem? Precisa de algo? - ele me olha de baixo para cima, como se eu tivesse sido assaltada.

- Eu estou bem! O senhor poderia ir para a avenida 35, eu lhe pago assim que chegarmos lá.

- Está bem, senhorita. - ele abre a porta de trás para que eu possa entrar.

O caminho é bem silencioso e tranquilo, as pessoas caminham com pressa, talvez o escândalo de ontem já tenha expirado. Ainda estou com sono, talvez eu não tenha dormido tão bem quanto pensei. Espero não ter deixado uma má impressão aos Coleman, eu não sou desse tipo, e nem quero ser.

- Qual é a mansão? - o motorista me pergunta enquanto olha ao redor.

- Aquela logo ali na frente! - falo apontando para o chafariz na frente

Os seguranças caminham até mim, um deles se encaminha de chamar o meu pai, que logo aparece para me repreender e me abraçar.

- Oh, Haley! Não me assuste dessa forma! - ele me abraça fortemente.

- Papai, o senhor está me sufocando!

- Desculpe, princesa!

- Tem como o senhor pagar o taxista, eu não tenho dinheiro aqui comigo. - olho para ele esperando um sim como resposta.

- Pegue, vá pagar o homem! - ele entrega o dinheiro a um dos seguranças.

Entramos em casa, papai ainda não saiu da minha cola, ele está com medo de eu sair correndo novamente? O cheirinho da minha casa é tão contagiante, dormir na casa dos Coleman não foi tão ruim, mas nada se compara a minha maravilhosa mansão.

- Filha, se você quiser, podemos falar disso depois. - ele me olha calmamente.

- Podemos falar depois, eu quero dormir um pouco mais. - caminho em direção às escadas e vou direto para o meu quarto.

Assim que entro, percebo que meu celular está na cabeceira da cama e os presentes do casamento estão todos empilhados em um canto. Olho de longe e me ponho a dormir, um sonho longo e pesado. Desejei bem, foi assim que ele realmente se fez. Surgiram tantas perguntas...O que poderia mudar? E se fosse diferente? Nada disso poderia ter acontecido se eu tivesse evitado? Ainda há alguma esperança para mim e Peter? Ainda podemos ser amigos? Será que ele me quer por perto? Eu sou realmente uma boba em ainda amar ele? Inúmeras perguntas, mas nenhuma resposta. Pobre coração, tão bom, tão cheio de sentimentos, mas ninguém para valoriza-lo.

- Acorde minha querida! - olho para o lado e vejo Margaret - O que está acontecendo? - olho para ela ainda querendo dormir.

- Já está na hora do almoço! Você quer um café da manhã, ou um almoço mesmo? - ela me olha sorridente.

- O almoço já está pronto? - pergunto enquanto vou ao banheiro.

- Sim, minha querida.

- Deixe apenas nisso, estarei descendo assim que terminar aqui.

- Está bem. - escuto seus passos se afastando e a porta sendo fechada.

Tomo um delicioso banho, com calma e conforto, como sempre fiz. Troco-me e desço para almoçar junto com o papai que já está a minha espera.

- Está melhor? - ele se serve.

- Sim, apesar de ainda estar assombrada por causa das fotos que vi. -

- Quais fotos? - ele me olha confuso

- Eu prefiro não falar sobre isso. - solto os talheres que havia acabado de pegar.

- Você sabe que uma hora ou outra vai precisar falar disso comigo ou com alguém. - ele me olha seriamente.

- Mas por enquanto eu não preciso me preocupar com isso, quero tranquilidade, sem pessoas ao meu redor me perguntando se estou bem ou se preciso conversar. - recolho-me e saio da mesa.

- Haley, volte aqui! - ele grita enquanto eu desapareço no corredor.

- Senhor, não acha melhor deixá-la em paz. Ontem deveria ter sido o melhor dia da vida dela, mas foi o pior de todos. - Margaret fala calmamente.

- Você tem razão, Margaret! Fique por perto, ela gosta muito de você, esteja sempre a sua disposição.

- Não se preocupe, senhor. Eu vou cuidar muito bem da minha menina! - ela se retira e volta para a cozinha.

No meu quarto, deito-me na minha cama, as lágrimas caem por vários motivos. Hunter não está ao meu lado, papai me sufocando, a amante de Peter, a traição, o noivado que poderia ter acontecido sem aquele grande escândalo que está estampado nas revistas de fofocas e nos jornais. Por que a minha vida tem que ser um enorme colapso? Olho para o lado e vejo o meu celular, com as mãos trêmulas, vejo as várias ligações perdidas e mensagens não respondidas. Resolvo ligar para Sally.

- Oi. - falo fracamente.

- Aonde você esteve? Fiquei preocupada com você! Não faça mais isso! - ela grita do outro lado da linha.

- Relaxa...Eu não farei mais isso, não quero mais me casar com ninguém, Hunter e você estavam certos. - começo a chorar novamente.

- Não chora! Eu vou aí te ver, pare de chorar! - ela fala preocupada.

- Não. Eu não quero ver ninguém! - respondo seriamente.

- Mas Haley, você precisa conversar, sou sua melhor amiga e te entendo melhor do que o seu pai, ou do que a Margaret.

- Não insista! Eu não quero falar sobre o Peter, nem do casamento e muito menos da traição. - desligo o celular e me ponho a dormir novamente.

Um belo jardim surge no meu sonho, eu e Peter estamos sentados na grama e conversando sobre o nosso casamento.

- Para onde você quer ir na nossa lua de mel? - ele me olha atentamente.

- Um lugar que não tenhamos ido. - olho para ele.

- Como isso será possível? Você já viajou o mundo todo, Paris não é bom, você vai quase sempre pra lá. Haha. - ele ri, e a sua risada é maravilhosa.

- Não, bobo. Não viajo tanto assim, só vou muito a Paris para participar de desfiles de moda, você sabe que esse é o meu trabalho. Para onde você quer ir? - passo minha mão em seus cabelos.

- Com você eu vou a qualquer lugar, só te quero ao meu lado, sempre. - ele entrelaça sua mão na minha e eu apoio minha cabeça em seu ombro.

Acordo totalmente suada, olho para os lados e percebo que não foi apenas um sonho, mas sim uma lembrança. Tomo um banho para relaxar, volto a me deitar na cama, e assim 1 mês se passa vagamente. Dormindo, tomando banho e dormindo novamente. Quem me ver assim pensa que eu entrei em uma completa depressão profunda, mas não, é apenas indisponibilidade, sem ânimo para fazer outra coisa.

- Você não pode passar o resto da sua juventude nesse quarto, querida. - Margaret me olha preocupada.

- Eu não tenho ânimo pra passar por aquela porta. - aponto para a porta de saída.

- Seu pai estava vindo conversar com você, mas ele pensou melhor, é um tempo apenas seu. Você mesmo quer ficar sozinha, mas isso acaba preocupando ele. - ela vem para perto de mim e me abraça.

- Você acha que vai ficar tudo bem? - meus olhos começam a lacrimejar.

- O tempo cura tudo! Uma hora as flores vão florescer novamente, as estrelas vão brilhar mais, o sol vai parecer tão quente como antes, a chuva vai dar vontade de ir e dançar descalça. - ela me abraça carinhosamente.

- Eu estou tentando não pensar em tudo que aconteceu há 1 mês atrás.

- Você não está conseguindo esquecer o escândalo, ou o Peter? - ela me olha atentamente, minha expressão deve ter respondido a sua pergunta. - Você não está pronta para esquecer alguém que tanto amou e pensou em construir uma bela família.

- Por que não posso ter um final feliz como o da mamãe e do papai. - pergunto olhando nos olhos dela.

- Seus pais não tiveram um final feliz. Mas viveram intensamente cada momento.

- O que a mamãe faria no meu lugar? - pego o retrato da mamãe na cômoda ao lado.

- Ela tentaria resolver as coisas com a pessoa amada.

- Você acha que devo conversar com Peter? - olho para ela com as lágrimas escorrendo em meu rosto.

- Mas é claro que sim! Como você vai saber o que realmente aconteceu? Ficar deitada aqui não vai resolver nada. - ela segura as minhas mãos e me olha.

- Eu falarei com ele, mas não agora, não me sinto bem ainda. - abaixo a minha cabeça.

- Não fuja disso! Uma hora ou outra, vocês vão se ver e falar sobre isso. - ela levanta a minha cabeça - É tudo uma questão de tempo, ele cura tudo.

- E se ele não curar? - pergunto quase chorando novamente.

- É porquê você ainda não superou e ainda sente algo. - ela me olha sorridente.

- Você acha mesmo que não vou conseguir? - olho para ela, sem expressão alguma.

- Isso só o seu coração sabe dizer.

- Mas eu preciso saber quando isso vai acontecer! - pergunto atordoada.

- Sim. Mas apenas no momento certo. - ela levanta, já se preparando para sair.

- E quando saberei que é o momento certo? - pergunto antes que ela saia.

- O seu coração vai saber responder. - ela vai embora me deixando sozinha novamente.

Resolvo ir para o jardim, pego um livro qualquer e fico no pátio. Leio cada palavra sem pressa, escuto passos pesados logo atrás, depois sinto uma mão tocando meu ombro. Sem olhar para trás, apenas falo:

- Eu não estou afim de almoçar, Margaret. - falo sem ao menos olhar para trás.

- E quem disse que é a Margaret? - uma voz bem familiar surge atrás de mim, a voz grossa e doce ao mesmo tempo.

            
            

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