Tenho uma linha do tempo satisfatória: entrei na faculdade, me formei com honras, encontrei uma amiga que é como minha irmã, nos juntamos em uma sociedade e construímos um escritório de consultoria, arquitetura e decoração, encontramos homens perfeitos, ela se casou e eu... fiquei parada no tempo. Meu pescoço dói quando eu viro e olho para o relógio. Vejo que marcam 8h37. Não ligo para isso, pois sou dona do meu próprio negócio. Alan que segure as pontas sem Candice e eu por lá. Resolvo ir ao escritório apenas depois do almoço. Isso me faz pensar que, nesse momento, Candice deve estar enrolada em um corpo quente, masculino e cansada da farra da noite. Pulo da cama e corro para o banheiro sentindo uma ponta de inveja de Candice. Queria também poder ter um sexo tranquilo e tal... Imagino como deve ser agradável acordar aninhada a um corpo masculino. Eu nunca dormi com Ryan ou qualquer outro homem. tarde, já com o cabelo impecável, caminho até o closet de sutiã e calçola. Sim, eu uso calçola (daquelas que parecem cueca) para trabalhar. De algodão e confortável. Não vou andar o dia todo de fio dental. Com meias de lycra em tom médio, escarpin preto salto quinze e um conjunto de terninho e saia cinza, vou até o quarto e recolho alguns utensílios necessários para jogar na bolsa. Batom, BlackBerry, carregador de celular, caneta, grampos, presilhas, maquiagens em geral. Saio correndo, voltando em seguida para pegar as chaves do carro. Minha vida até que não é nada má. Sou minha própria chefe, tenho um carro bonito e casa própria. O que mais eu poderia pedir? Um homem. - Meu inconsciente reclama. Ignoro essa voz interior. Eu tenho um homem em minha vida. Ryan é meu, pronto. O que mais eu poderia querer? Transar com Ryan. Ah claro! Reviro os olhos para mim mesma. Às vezes ninguém precisa me colocar no meu lugar ou dar sermões em mim. Eu mesma me encarrego disso. Dou uma última olhada no espelho do carro enquanto espero no semáforo. Meu escritório fica em Williamsburg, Brooklin, e eu moro no Soho. Não acho muito longe e nunca trocaria quaisquer dos dois locais por ouro algum. Seria mais fácil Candice e eu encontrarmos água em Marte do que conseguir esses lugares. E isso acontecera graças aos pais dela e a Leopold. Estaciono na minha vaga. Sim, eu tenho uma vaga, afinal sou dona de quase todo um andar desse prédio. Dividimos um andar com um escritório de contabilidade, que é de um amigo nosso. Ah! Candice também é proprietária, lógico. Saio do elevador desfilando, e dou um olá contagiante para meus funcionários. Já na minha sala, meus olhos pousam imediatamente em minha bela mesa ultramoderna de pinho e noto um envelope pardo tipo ofício. O trabalho que Candice me arrumou. Aquela safada só queria se certificar de que eu não iria para um cruzeiro pelas Bahamas, só poderia ser isso. Eu já estou atolada de trabalho até depois do apocalipse e mais um serviço de última hora seria terrível para minha viagem planejada há anos. Não é todo dia que as pessoas podem conhecer as Bahamas. Nem tanto por causa do dinheiro, mas por falta de tempo, já que trabalho até durante as férias. Sento-me e olho o envelope, lacrado. Sem muita pressa, eu o abro e dentro há apenas uma folha de papel timbrado... O que é isso? Não estou acostumada a esse tipo de pedido tão formal. Olho espantada para a insígnia no cabeçalho do papel e as inscrições logo abaixo: S. Graham Psicanalista Solto a folha sem nem mesmo saber o que dizia e digito o nome na barra de pesquisa na internet. Milhões de páginas aparecem, elevo a setinha do mouse e clico em imagens. A página se abre e me deparo com um ser viril de parar o trânsito. Pego rápido meus óculos de leitura e olho mais de perto, como aquelas velhinhas que chegam bem perto e ainda franzem o nariz para visualizar melhor. Preciso ter certeza de que aquilo não é uma criação artificial, computadorizada. Clico em "sugestões" e milhares de imagens de um homem alto, com cabelos pretos, pele bronzeada e um sorriso dilacerante me deixam hipnotizada. Em quase todas as fotos, ele exibe o mesmo sorriso safado, muito seguro de si mesmo. O cara é tão bonito que chega a ser ilegal. Não é aquela beleza bonitinha de homem riquinho bem penteado. É aquela beleza viril, com cara de homem, daqueles que fazem uma mulher tremer só de olhar. Queixo quadrado, boca hipersexy, cabelos negros e fartos. Um clichê de tão belo. Há fotos tiradas de paparazzi que mostram ele correndo no Central Park sem camisa, apenas de bermuda, óculos escuros e o cós da cueca aparecendo. Quase morro e por um motivo justo. Ele tem tatuagens! Acho que encontrei o significado personificado da palavra pecado. Isso é justo para com as mulheres, Deus? Não consigo parar de clicar em próxima página para continuar vendo. E vejo fotos dele no Red Carpet, devastador, de terno, sentado em uma poltrona perto de um divã, seminu em uma campanha de perfume, cruelmente lindo em uma propaganda de relógios. Inclusive, disfarçadamente, salvo uma ou duas fotos no computador, simplesmente não consigo resistir. Talvez coloque como papel de parede na minha área de trabalho. Chego até a página 5 e só paro quando recebo um beliscão de repreensão de mim mesma. Agora é hora de saber o que esse ser erótico faz da vida. Descubro que Sawyer Graham é terapeuta das estrelas. Por isso não o conheço, não perco meu tempo fuçando a vida das celebridades. Segundo várias matérias, ele tinha conseguido colocar no eixo mulheres que estavam à beira da loucura. Nomes de peso apareceram diante dos meus olhos, mulheres que o mundo conhece. Mas não estou interessada nelas, o cara tem uma página na Wikipédia. Isso não é tão espantoso, já que atualmente qualquer um tem uma página lá. Ele já esteve na Helen, no Jimmy e em quase todos desses talk shows populares. Nem acredito que tenho a possibilidade de trabalhar para uma celebridade. Um solteirão milionário que se dá bem à custa dos problemas das mulheres. Mas não qualquer mulher, apenas as que conseguem pagar o preço exorbitante da consulta. Minha mente para por dois segundos quando vejo o preço médio da consulta. Ele é o quê? O gênio da lâmpada? Vejo mais algumas informações, como os prêmios que o doutor ganhou como filantropo e psicanalista bem-sucedido, sua presença fiel na mídia, aparecendo sempre aparece em várias revistas. Parece que é conselheiro sexual em duas delas. Bem, sobre ele eu já sei o bastante. Desligo o computador para não ter distrações e pego o papel que Candice tinha deixado para mim. O cara precisa de uma reforma no consultório dele. Desde novos carpete e pintura à troca de persianas e móveis. É um trabalho difícil, mas, se eu aceitar, elevará o meu nome no mercado. Cifrões explodem em meus olhos igual desenho animado. É muito dinheiro em jogo. Por isso não devo recusar, principalmente porque é um amigo de Candice. Permaneço sentada na cadeira movendo-a de um lado para o outro com a haste dos óculos na boca. Pense, Marianne, pense. Em todas as minhas razões para aceitar, nenhuma fazia alusão ao dono do imóvel. Bem, eu nunca olho a aparência dos meus clientes, até porque isso é o mínimo detalhe. No caso dele não é nada mínimo. O homem é gostoso ao extremo. Aquele cara deve ter entrado duas vezes na fila da distribuição de beleza quando estava sendo criado. Eu nem sabia que existiam terapeutas novos e bonitos por aí. Se eu não aceitar trabalhar para esse homem, Candice não ficará contente... Ela com certeza já deve ter prometido a ele que eu aceitaria o serviço. Sem falar que esse deve ser o terapeuta que cuidou dela. O que eu não entendo é esse temor dentro de mim. É apenas um serviço qualquer, não é? Ir até lá, fazer um gordo orçamento e pronto. Dinheiro, Marianne, ele tem dinheiro. Dinheiro e fama. Sem titubear, pego o telefone na minha mesa e ligo para o número que está no papel. Após o terceiro toque e algumas batidas falhas do meu coração, alguém atende. Uma voz de mulher. Espero ela se identificar dizendo que se chama Eva e que aquele telefone é do consultório do Dr. Graham. - Oi, aqui é Marianne Cooper, eu recebi um pedido do Dr. Graham para um orçamento de reforma no consultório dele.