Co-como, Senhor? - Ele está cheirando a leite. Precisa da mãe para terminar de o amamentar. Veja com Douglas, ele irá verificar se alguma das mulheres mortas é a mãe. - Mas... mulher morta não pode amamentar. - Se eu não estivesse com a mão ocupada, iria acertar uma bala na sua cabeça, idiota. - O soldado se encolheu. - Ache a mãe. Senão, quero um peito que produza leite. Ofereça dinheiro, faça o que for necessário, eu preciso de uma mulher para alimentar esse bebê sem se preocupar com outro. Meu herdeiro vai ter o melhor, começando pela cuidadora.
- É seu filho? - Sim e morrerão todos os que disserem o contrário. Pode espalhar a informação. Ele engoliu em seco, eu relaxei e admirei o meu filho. Meu. Herdeiro. Eu só não esperava que minha vida estivesse prestes a sair do meu controle no momento que me aceitei como pai. Capítulo 2 Deitada na maca, com os olhos cheios de lágrimas, eu experimentava uma dor pior do que a do parto. A tristeza era a minha companhia há meses, mas não imaginava que eu poderia chegar em um nível mais obscuro da infelicidade. Eu queria matar Ricardo. Eu imaginava o homem que deveria estar ao meu lado e sofrendo comigo dando pulos de felicidade, porque não precisaria lidar com a pensão alimentícia de um bebê que não era desejado por ele. Tudo mudou naquele dia fatídico. O idiota que interrompeu nosso jantar de aniversário de namoro. Estávamos planejando o casamento, por mais que ele nunca tenha me pedido em noivado. Eu o coloquei como marido, para enfrentar o babaca antiquado, mas tudo foi por água abaixo. Nossa vida deveria estar mudando para melhor, a família não precisava ser formada por apenas marido e mulher, mas, no mundo dele, era assim que ele queria. Sem bebê. Fiquei grávida, Ricardo me rejeitou, até que ele saiu do meu apartamento e não me ligou mais. O doador de esperma teve a coragem de mandar uma intimação extraoficial, do escritório de advocacia dele, para a realização de um teste de DNA na criança, assim que nascesse. Filho da puta, não precisaria de mais nada disso, porque depois de quarenta e uma semanas e dois dias de gestação, em um parto normal, eu dei à luz a minha escuridão. Sem bebê e sozinha no mundo, era assim que me sentia. Meus pais, de quem me afastei por conta da depressão de ter que passar o momento mais feliz da minha vida chorando, não sabiam notícias de mim há um tempo. Tirei férias do serviço no mês passado e estava pronta para lidar com a licença-maternidade, que nunca aconteceria. Eu me sentia oca, no útero e no coração. Mais lágrimas escorreram dos meus olhos e eu só queria segurar minha bebê mais uma vez. Tomando-a em meus braços por apenas alguns segundos, os médicos a tiraram de mim e a mantiveram estável para a minha decisão final. Minha Gabrielle não tinha salvação, mas poderia se manter viva dentro de outro bebê. Entreguei minha filha sem vida para um procedimento médico, apenas para que minha raiva por Ricardo aumentasse ainda mais. Era tudo culpa dele. Eu compraria uma arma e atiraria em sua cabeça. Não! Amarraria seus braços e pernas, depois cortaria seu pau junto com o saco, com uma faca de serra cega. Os pensamentos sádicos estavam seguindo um caminho sem volta, cada um mais terrível que o outro. Eu não estava preocupada em ser julgada, o idiota pagaria por todo o mal que me causou. Ninguém sabia da minha dor. Um aborto já era dolorido demais, perder uma gestação no meio do processo, mais ainda. Ter todo o procedimento do parto, dores e desespero, para no final, perceber que fora em vão... Eu não era mais a mesma mulher. A advogada certinha que tentava fazer justiça para os menos privilegiados tinha dado lugar para a mulher que queria vingança. Matar. Da mesma forma que minha Gabrielle não pôde ter o direito de viver, eu faria o mesmo com Ricardo Camargo Lacerda. Ignorei qualquer pensamento de culpa ou sentimento de que eu tinha sido responsável por minha filha, afinal, era dentro de mim que estava sendo gerada. Foda-se minha responsabilidade, eu só estava mal por conta da rejeição do homem a quem confiei minha vida. - Senhora Sara Benildes? - Escutei uma voz masculina, mas não me dei ao trabalho de lhe dar atenção. O ódio por Ricardo se estendia para os homens em geral, eu queria que todos morressem junto com minha Gabrielle. - Hey. - Vai se foder - resmunguei, virando meu rosto cheio de lágrimas para o outro lado. Sem poder andar ou fugir, por conta da analgesia que tomei nos últimos momentos do trabalho de parto, eu estava inerte na maca, esperando o efeito passar. Sozinha. Ignorada. Rejeitada. - Se tivesse outra na maternidade, eu até iria atrás, mas eu preciso de você, ou meu chefe vai me matar. - O homem parecia ter bom humor, o que me irritou, por ele não respeitar o meu momento de dor. - Tenho uma proposta para a senhora. - Vai trazer minha filha de volta? - rosnei, virando meu rosto na sua direção e o sorriso sádico do homem me deu um calafrio.
Depende do ponto de vista. - Ergueu uma sobrancelha em desafio. - Sou Douglas. Há um bebê precisando de leite materno, sem que tenha que dividir com outro. Você é a pessoa ideal. A insensibilidade em tratar do assunto me cativou. Por causa dos meus pensamentos assassinos, quanto mais frio, mas conectada eu me sentia. As lágrimas começaram a secar e, enquanto eu encarava aquele homem desconhecido, eu ia entrando em um acordo que foderia minha vida. Destruição e sabotagem me atraíam. - O que quer dizer com isso? - perguntei, controlada. - Diga sim. Você será paga e terá uma criança para tomar do leite que será desperdiçado nas suas tetas caso não aceite. - Vai se foder. De tanto que chorei, eu devo estar seca. - Fechei os olhos em busca de controle. - Não, está vazando aí. - Tocou meu seio e avancei nele, irritada pelo toque indevido. Percebi a aproximação de outros homens enquanto minhas mãos, sem força, apertavam seu pescoço. O tal Douglas me encarava sem empatia, o típico olhar de um criminoso que não se arrependia do que fazia. - Isso é um sim? - Você... - Meu foco foi desviado para uma imagem na tela do celular, que ele tinha levantado na altura dos meus olhos. Era um bebê lindo, com uma roupa branca que me impedia de identificar se era menino ou menina. Céus, a criança era linda e, tanto quanto eu tinha me apaixonado por Gabrielle, eu queria ter aquele bebê. Era a minha segunda chance. Distorcida e irracional, esqueci pudores e bom senso, apenas acenei afirmativo com a cabeça, como resposta àquele psicopata.