Agora, quanto às praias, meu palpite seria o Caribe pela cor da água, mas posso estar muito errada. E a informação bônus que não aparece nas fotos é a de que você está em algum lugar a poucos quilômetros de distância, não muito longe de mim, conforme mostra o aplicativo." "Lamento, errou sobre as praias, elas também ficam na Grécia. Mas veja pelo lado bom, você acertou todo o restante e conforme observou, estou perto o suficiente para pagar o café que te devo." Hum, quer dizer então que ele estava falando sério sobre o encontro? Bem, ao menos sabia demonstrar interesse e me deixar no controle da situação, sem parecer um louco obsessivo. "Irei cobrar, pode ter certeza, até porque, não que me orgulhe disso, mas fiquei com inveja de saber que já visitou o estádio do meu time do coração. Como ainda não estive lá, vai ter que me contar tudo, cada detalhe!" "Será um prazer falar não apenas sobre esse, como outros lugares." "Você os conheceu em viagens de férias ou, por acaso, tem um daqueles empregos dos sonhos, que te permite ir para vários cantos do mundo?" "Cantos do mundo? hahahaha! Espero que você saiba que o planeta não é quadrado, muito menos plano, mas sim, arredondado. E eu diria que é um pouco das duas coisas." Puta que pariu, controle-se, Clarice! Você não deve se sentir atraída pelo cara só porque ele sabe usar o sarcasmo! "Ok, acho que vou precisar de alguns minutos para digerir essa informação! hahahaha E quanto a sua estadia no Brasil, é férias ou trabalho?" "Leve o tempo que precisar, estarei bem aqui. Trabalho, muito trabalho." "Lamento, mas espero que apesar disso você tenha a chance de conhecer um pouco das belezas do meu país." "Também espero, quem sabe você me mostra algumas delas?" Como era possível que fosse misterioso para certos assuntos e tão aberto para outros, como o fato de sair fazendo convites a torto e a direito? Ser bonito como ele era devia lhe abrir muitas portas e facilitar as coisas. Era provável que o cara tivesse tantas mulheres se jogando aos seus pés, que o flerte fluía naturalmente. "Pois é, quem sabe!? ;) Bem, até aqui o papo foi todo feito em português, mas no seu perfil diz que é um gringo aprendendo meu idioma, então preciso perguntar, quantas vezes teve que dar um confere no tradutor desde que começamos a conversa?" Enquanto esperava por sua resposta, não pude deixar de pensar na surpresa agradável que tinha sido encontrar Atlas para conversar. Ainda que não durasse até o dia seguinte, algo que também costumava acontecer nessas conversas de aplicativo, até aquele momento eu poderia dizer que ele salvou a minha noite de cair no mais profundo tédio. Capítulo 4 - Senhor Mavridis, a autorização para exploração do sítio Acanduva foi enviada. Flávio, o meu assistente pessoal, entregou-me a papelada para assinar. Explorar terras era complicado em qualquer país, mas a burocracia brasileira não parava de me surpreender, principalmente na demora entre as etapas. - Entrou em contato com o nosso facilitador? - questionei, pois uma das coisas que eu descobri sobre o país era o significado do jeitinho brasileiro. Nunca coloquei tanta grana nas mãos de funcionários públicos! Não que estivesse fazendo nada tão ilegal, era apenas um estímulo para que a documentação avançasse de etapas mais rápido. - Sim, senhor. Ele me deu um breve aceno. Flávio era um recém-formado em Direito que não podia ser chamado de advogado porque não passou em uma prova da OAB, então, era bacharel em Direito e não lhe era permitido atuar completamente na área. Sendo sincero, o conceito inteiro me deixava meio confuso, mas eu saí lucrando com um assistente diplomado super-qualificado que me auxiliava em tudo. Ao menos, por enquanto, uma vez que o jovem ambicioso de vinte e três anos demonstrava querer mais. - Ótimo, quero rever o relatório do gemólogo - solicitei, dispensando-o. - Irei providenciar. - Flávio se adiantou para sair, mas parou perto da porta, hesitando. Tinha a impressão de que se pudesse corar, ele o faria com frequência, porém, apenas titubeou. - O convite para a inauguração da joalheria Villivere ainda não foi respondido, devo confirmar a sua presença? Como mineradora e refinadora, tinha alguns clientes grandes que faziam o intermédio entre mim e o consumidor final, um deles era Francisco Villivere, que insistia em ser chamado de Francis. Um homem que amava ostentar e achava que o dinheiro nunca teria fim. Considerando a quantidade que ele tinha, era provável que fosse infindável mesmo. Quanto a mim, tendo nascido em berço de ouro - e não era apenas uma figura de linguagem -, ter dinheiro era algo normal, não precisava de grandes atitudes para demonstrar aos outros que o possuía. - Sim, claro. - O senhor levará uma acompanhante? Bati a caneta contra o papel, ponderando quem eu levaria. A da semana passada ficou muito grudenta e poderia entender errado a intenção por trás do convite. E se eu levasse a garota furry? Ri da minha própria piada, com a imagem mental dela em roupas de gala e uma coleira de diamantes. Sem dúvidas, chamaria atenção. Entretanto, eu não gostava disso. Preferia muito mais ir sozinho para circular livremente e aumentar o meu networking. E, claro, depois encontrar alguma mulher para o pós-festa. - Não confirme ainda a acompanhante. Havia uma opção muito mais viável, a jornalista da noite anterior: Clarice. Conversamos até tarde da madrugada, falando bobagens. Ela era engraçada e inteligente. Em um primeiro momento fiquei preocupado que fosse terraplanista quando falou sobre os cantos do mundo, mas deve ter sido só alguma forma de falar que não entendi. Por mais que meu português estivesse evoluindo, ainda tinha muitas coisas que me deixavam confuso. Tanto que estava utilizando o tradutor para entender uma das palavras, quando fui questionado se estaria fazendo exatamente aquilo. Resolvi mandar uma mensagem de bom dia para a espertinha. Eram nove horas da manhã, talvez estivesse acordada. "Bom dia! É verdade que vocês têm aulas obrigatórias de futebol na escola?" Nenhuma das outras garotas demonstraram gostar de esporte e eu estava curioso para saber mais sobre a cultura. Fiquei em pé, caminhando pelo vasto escritório no centro de São Paulo. Explorava jazidas de ouro, pedras e outros minérios não preciosos, mas que ainda possuíam alto valor na produção de material de base para a indústria. Por isso, mantive o meu centro de operações onde o comércio do país era mais forte. O que me obrigava a viajar com frequência, teve mês que passei mais tempo no jatinho particular do que no apartamento. "Quem te disse isso?", a mensagem dela brilhou na tela. "Foi uma notícia que saiu nos jornais na época do penta." Assim como no Brasil, o futebol era paixão nacional e quando tinha Copa do Mundo, era um dos assuntos mais comentados. Em dois mil e dois, quando o Brasil levou a quinta taça para casa, diversas teorias surgiram nos cafés de Atenas. "Temos escolinhas de futebol particulares e aulas de educação física no colégio, mas acredito que muitos outros países também tenham." "Podíamos jogar um dia desses."