Ele discursa um pouco sobre a história da empresa, o tempo em que está à frente da matriz, e então nos conta que no último ano alguns contratos foram cancelados, pois, a falta do CEO da empresa os fez perder vários clientes que negociam somente com ele, mas que por problemas pessoais ele está impossibilitado de voltar. Então ele solta a bomba no colo de todos: - Sinto informar que precisaremos reduzir drasticamente nosso quadro de funcionários por algum tempo. - Forma-se uma agitação na sala, mas ele não demora para retomar seu discurso: - Peço por favor a calma de todos, nos sentaremos com os gerentes de cada setor para resolver o que faremos, mas de antemão aviso que estagiários e temporários serão dispensados de imediato. Todos terão seus direitos garantidos. Ele anda pelo palco, parecendo pensar e então finaliza seu discurso: - Informo a todos também que dentro de alguns dias o CEO da Grant Investimentos, o Sr. James Grant, voltará da França para assumir a empresa em definitivo. Obrigado! - Ele vem até mim e entrega o microfone, mas não antes de me dizer: - Alysson, venha à minha sala assim que terminar aqui, precisamos conversar. Assinto, com meu coração batendo freneticamente. Espero que minha mente não esteja divagando, mas seu tom parece de pesar. Pouco tempo depois, bato à porta de Richard aguardando que me autorize a entrar, e assim que o vejo, com os cotovelos apoiados na mesa, ele me olha e acena para que eu sente. Faço o que me pede, mas já não sinto as minhas pernas, minhas mãos tremem e sei que o que tem a me dizer não são boas notícias. - Alysson, serei direito e sem rodeios. Você é a melhor assistente que a Grant já teve nestes últimos anos, dedicada, inteligente e responsável, se eu pudesse fazer algo para que isso não acontecesse eu faria, mas infelizmente não posso. - O que quer dizer com isso? Ainda não entendo. - Baixo a cabeça e observo meus sapatos, pensando no quanto me esforcei para parecer apresentável, e o quanto eles me custaram. Volto a encará-lo e ele desvia o olhar. - Terei que dispensar todas as assistentes, foi um pedido direto do James. Vamos cortar tudo que pudermos para resolver este imenso problema em que nos encontramos. Nós também seremos afetados. Sinto muito. - Ele se joga contra o encosto de sua cadeira. Solto com força o ar que nem percebia prender. Tento ser o mais racional possível, sei que não é culpa dele, porém, por dentro a raiva me consome. Não posso entender, me dediquei tanto no último ano, e agora sem mais, nem menos o todo-poderoso CEO, resolve que até os que dedicaram tanto de sua vida por esta empresa, podem ser dispensados. Minha vontade é caçá-lo onde quer que esteja, e lhe dizer umas boas verdades. Pode ser que seja uma boa ideia. Ao notar sua expressão pesada e ver que é um caminho sem volta, solto: - Richard, amo trabalhar aqui, sonhei em crescer nesta empresa, pensei que teria mais tempo, mas entendo. Não posso ficar feliz com isso, mas sei que se pudesse, você faria algo, acredito em você. - Meus olhos já estão marejados, mais seguro a vontade de chorar. - Preciso que você passe hoje mesmo no RH, já foi tudo providenciado com antecedência, não precisará voltar. - Ele desvia o olhar mais uma vez, agora em direção à janela. - Sinto muito mesmo, Aly. - E desde que chegou, é a primeira vez no dia que ele me chama dessa forma carinhosa. Sinto a sinceridade em sua voz. - Eu também sinto, Richard. - Levanto-me sem mais o que dizer e saio da sala, fazendo meu caminho até o RH para dar um fim ao meu sonho na Grant. Meu dia começou com um turbilhão de informações da Sede em Nova York. Este é um dos piores anos da minha vida desde que descobri que minha própria noiva tramou pelas minhas costas. Ela desviava quantidades bastantes relevantes dos cofres da empresa com ajuda do gerente financeiro, com o qual mantinha um caso. Chloe sempre deixou claro que, além de bonita, era bastante ambiciosa. Quando nos conhecemos, ela prestava serviço para a Grant como auditora. A empresa de sua família, fazia anualmente a audição dos contratos, e foi ela quem esteve à frente com o Edgar, nosso gerente financeiro. Ela sempre se mostrava disponível, então um belo dia a convidei para jantar. A auditoria durou alguns meses, e na maioria dos dias ou estávamos jantando, ou na cama. Após terminado o trabalho na empresa, começamos a nos ver com mais frequência, e em menos de um ano estávamos noivos. Nas semanas que antecederam a descoberta do roubo, eu sempre a encontrava me esperando no escritório. Só depois notei o quanto era estranho. No tempo em que trabalhava aqui, nunca foi de me procurar pela empresa. Mesmo tendo assuntos a tratar, ela deixava com Edgar as informações a serem passadas sobre a auditoria. Qual não foi a minha surpresa ao encontrar os dois aos beijos na sala do meu gerente. Depois daquele dia, nunca mais a vi, porém, nada me preparou para o que eles fizeram a minha empresa. Descobri que ambos desviavam quantias significativas dos contratos, e que camuflavam isso nas auditorias. Os dois não se conheciam a tanto tempo, segundo o detetive que contratei. No entanto, isso não foi um problema. E Após serem acusados de roubo e fraude, simplesmente sumiram do mapa e a polícia não tem nenhuma pista do paradeiro dos dois. Os valores desviados foram transferidos para diversas contas, praticamente impossíveis de rastrear, e com isso, ganhei um imenso problema com os acionistas. Agora estou aqui no escritório da minha casa na França, aguardando para conferência com a diretoria. Depois daqueles dias conturbados e de toda a descoberta de ter sido manipulado facilmente, resolvi me dar um ano sabático, se é que este termo serve para empresários. Quem se dá um ano sumido por que levou um chifre? Pois, é. Fiz isso. E me arrependerei o resto da minha vida. Isolei-me e deixei a empresa nas mãos de Richard, mas o que eu não contava é que o rombo fosse tão prejudicial. Meu ego falou mais alto e isso fez com que minha empresa pagasse o preço. Vejo a chamada no notebook. Aceito a ligação e a primeira pessoa que aparece é meu amigo. Pela cara, não está de bom humor. - Boa tarde, Richard! Estão todos com você? - Lembro que por aqui ainda é manhã, mas em Nova York, já passam das três da tarde, e o expediente na filial está para terminar. - Olá, James. Sim, reuni todos, podemos começar. Richard está sentado na cadeira ao centro da mesa. Do seu lado direito, dois dos mais antigos acionistas, e do esquerdo outro par deles, além da gerente financeira da sede. Ele está furioso comigo e não tiro sua razão. Cedi à pressão de tudo que aconteceu e isso acabou no cancelamento de vários contratos importantes para a Grant. Agora, preciso reaver o controle e consertar as coisas. - Senhores, sem mais demora, serei o mais objetivo possível. - Esperamos que sim, Sr. Grant, precisamos saber se esta empresa ainda tem um CEO.