Claro que o Sr.Bennet não deixaria passar esta oportunidade de me alfinetar. Ele nunca foi a favor da minha nomeação e sempre deixou isso bem claro. Por ele, a empresa teria um conselho administrativo, mas com a morte do meu pai, me tornei o principal acionista da empresa, então não houve a necessidade de escolher outra pessoa para o lugar. - Continuo sendo o principal acionista desta empresa, então, sim, ela ainda tem. Sr. Bennet cruza os braços sobre a barriga avantajada que destoa no seu terno caro. - Estamos esperando - ele fala e Richard suspira ao seu lado.
Tenho certeza que está segurando uma barra com estes sanguessugas em sua cola, mas isso acaba hoje. - Após conversar com a Clair - me dirijo a nossa gerente financeira. - Levantamos algumas possibilidades, e quero saber qual será a melhor delas? - Senhor, a melhor será a redução do quadro de funcionários por, pelo menos, seis meses. Eu tinha esperança de que essa possibilidade fosse descartada. - Tem certeza, Clair? Não podemos, rever? - A culpa se instala em mim, não queria ter que dar esse passo, mais é isso ou a falência da empresa. - Infelizmente é isso, Sr. Grant. Com o desligamento de estagiários e temporários, teremos um folego de, pelo menos, seis meses. É o tempo que o senhor terá para tirar a empresa do vermelho. - Ela entrega relatórios aos acionistas e Richard me encaminha por e-mail. - O.k. Vamos fazer o máximo para minimizar o impacto com essas demissões. - Senhor - Clair se dirige a mim - Aconselho que as assistentes também sejam dispensadas. Elas têm salários bastante elevados. - Isso será mesmo necessário? Levei anos para conseguir uma assistente competente. Alysson foi de extrema eficiência, ela é uma profissional exemplar, perdê-la será uma falta inestimável para a Grant. - Richard sempre elogiou essa garota, e em algumas reuniões antes de me afastar, pude perceber o quanto é competente, mas este discurso enfático sobre as qualidades dela me deixa intrigado. - Entendo, Richard, mas precisamos mesmo colaborar, quando tudo isso acabar, podemos trazê-la de volta. - Acredito que não vá ficar muito tempo disponível no mercado, ela é uma excelente profissional. Depois da fala de Richard, fico bastante curioso sobre ela. Já a vi algumas vezes, é uma moça bonita e perspicaz. Pena que não terei tempo de conhecê-la melhor. Como isso foi acontecer? E pensar que devido à minha vida particular, de ter me afastado por um ano para sofrer sozinho por alguém que não merece a minha consideração, será preciso desligar meus funcionários! Durante anos, o orgulho do meu pai foi manter esta empresa de pé. Agora serei eu a primeira decepção desta empresa em anos. Talvez fosse melhor salvar um ou outro profissional deste desastre, como a assistente que Richard tanto valoriza, espero que em seis meses eu consiga reverter, e quem sabe ela ainda possa voltar. Agora é a hora de ser enfático como nunca fui: - Teremos que arriscar. Ele me encara. - Se é isso que temos que fazer, que seja. - Diz nem um pouco de acordo. Terminamos a reunião com as primeiras decisões tomadas. Espero que a imagem da Grant não fique manchada, e que esse furacão não dure muito tempo. Por anos acreditei que minha fortuna, seria meu passaporte para ter o que quisesse. Depois da morte de papai, me senti perdido, e acreditei que ter um relacionamento com alguém ambiciosa como Chloe, seria um ganho inestimável. Um casamento de conveniência. Esse foi o meu maior erro. Pensei ser o certo a ser feito, mesmo que não existisse amor entre nós. Não poderia estar mais errado. Um dia Chloe me pagará por tudo. Só preciso saber onde encontrá-la. É chegada a hora de voltar em definitivo para Nova York. Preciso estar por perto. Apesar de tudo, será bom voltar para casa. Depois que saio da sala de Richard, pego minhas coisas e faço meu caminho até o RH para assinar os papéis da demissão, não antes de ser abordada por alguns funcionários. Todos querem saber quem será demitido, e quando, além das especulações e alguns xingamentos baixos ao CEO. O que eles não sabem é que já não faço mais parte desta empresa e não sei se tenho vontade de contar a alguém, na verdade, quero fazer o que me foi pedido e sair desse lugar o mais rápido possível. Quando cheguei, era uma recém-formada e a Grant me deu a oportunidade dos meus sonhos, começar minha carreira em uma grande empresa. Agora nem tenho ideia do que fazer, como conseguirei algo como esse emprego? Será que contratariam alguém que só teve um emprego em toda a vida? A minha vontade é de voltar aqui amanhã e dizer poucas e boas para o Sr. Grant. O homem fica um ano fora, deixa as coisas chegarem ao ponto de ter que demitir praticamente metade da equipe e então resolve voltar e mandar em tudo, como se nada tivesse acontecido? Ainda bem que não precisarei olhar para a cara dele. Apesar de ser uma cara bem bonita, no momento, minha vontade, é pegar sua foto de rosto e fazê-la de alvo. A menina enfim volta com os papéis dentro de uma pasta. Sigo até a mesa da gerente de Recursos Humanos. Ela me entrega. Abro e analiso rapidamente o conteúdo. Assino e devolvo sem dizer uma palavra, e ela faz o mesmo. Encaminho-me até a saída, mas não antes de ouvi-la dizer: - Sinto muito, Alysson, espero que consiga se recolocar logo. Eu me viro, sabendo que ela queria dizer muitas coisas, menos aquilo. Ela não ia com a minha cara. - Obrigada. Apesar de saber que boa sorte, é a última coisa que você me deseja. - Me sinto triste, mas não consigo controlar as palavras. Deixo a sala escutando-a resmungar. Caminho até o elevador e chego na porta de saída. Me despeço de todos, mas só quando coloco o pé do lado de fora é que a ficha cai realmente. A partir de hoje, não pisarei mais aqui. Então acho melhor não ficar me remoendo. O melhor a fazer é esquecer, e tentar seguir adiante sozinha. Não sei o que será de mim de agora em diante. O salário que a Grant Investimentos me pagava era responsável por mais de noventa por cento das minhas despesas. Nem sequer tenho dinheiro guardado para uma emergência. Preciso arrumar outro emprego e rápido. Penso na casa deixada pelos meus avós. Como vou resolver essa situação sem emprego?