Submissa do Chefe
img img Submissa do Chefe img Capítulo 2 Familiaridade
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Capítulo 6 Dívida Selada img
Capítulo 7 Sentimentos Confusos img
Capítulo 8 Desconfianças img
Capítulo 9 Sondagem img
Capítulo 10 O Bebê img
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Capítulo 2 Familiaridade

A minha noite começou a dar errado no momento em que minha irmã se recusou a me levar para o bairro dos mafiosos.

Ela disse que já passava das dez horas da noite e que não queria se meter em problemas com os nossos pais. Me deu um sermão de vinte minutos falando que eu não podia faltar a aula do dia seguinte, e que Suzan acabaria me levando para o buraco com aqueles convites para bailes no Quartel. Eu não contei que, na realidade, eu quem convenci Suzan a ir para o baile, porque nem mesmo ela frequentava o lugar em dias de semana.

A minha irmã me ajudou no máximo a arrumar alguns travesseiros em minha cama para que meus pais não se perguntassem onde eu estaria, já que eles não sabiam que o tal trabalho de escola que eu faria seria naquela noite. Ela também se comprometeu - se conseguisse continuar acordada até que eles chegassem - a mentir sobre eu ter coberto a cabeça por sentir dor de cabeça, e que seria bom se eles não tirassem minhas cobertas para ver o que estava acontecendo.

Nós não tínhamos dúvidas de que eles acreditariam, meus pais se faziam de burros para não perceber que uma das filhas era completamente desandada. Por isso, por culpa da minha irmã, tive de recorrer a um ônibus.

Suzan me disse que o horário era difícil para que eu conseguisse pegar algum, mas eu arrisquei. Por muito pouco eu não tive de esperar por meia hora até que outro chegasse, e tive de ir o caminho inteiro em pé, porque o horário era o pico da noite, em que boa parte dos trabalhadores estariam indo embora para casa, e eu o peguei na metade do caminho, e não na estação como os outros.

Eu atraí olhares pelo tamanho da minha roupa numa noite fria já dentro do ônibus, mas fiz o melhor para ignorar. Eu nunca me cansaria de dizer o quanto achava a energia dos moradores do Quartel das Sombras numa das melhores que já senti na vida.

É claro que, sendo uma pessoa de fora, que apenas estava ali para a diversão dos bailes e da facilidade de conseguir drogas, tudo me parecia bonito demais. Eu nem mesmo me incomodei quando saltei do ônibus e dei de cara com um bar lotado de homens.

O meu vestido era curto demais, só que as coisas estavam mudando. Embora os homens tenham me observado da cabeça aos pés, fazendo comentários baixinho entre si, nenhum deles deu qualquer sinal de que avançaria o limite de apenas observar.

Mas, conhecendo os homens da forma que eu conhecia, andei o mais depressa possível do ponto na frente do bar para a entrada do bairro, querendo evitar problemas daquele tipo. Suzan me encontrou exatamente onde disse que estaria.

Ela usava um short branco e um cropped preto que deixava sua barriga de fora e o piercing no umbigo bem a mostra. Eu sempre a considerei uma garota bonita demais, principalmente pela franjinha e o cabelo escorrido que a davam a compleição de uma índia.

O tom de pele dela também era surpreendentemente escuro e bonito, combinando perfeitamente com as bijuterias douradas que ela usava nas orelhas e em cada um dos dedos da mão. Nem mesmo o meu vestido rosa e chique conseguia invalidar a beleza de Suzan em sua simplicidade.

Suzan me pegou pelo braço para caminharmos juntas, porque as ruas dentro do Quartel estavam movimentadas demais naquela noite, muita atividade para que uma pessoa de fora conseguisse passar despercebida. Os postes de luz eram poucos ali, mas as luzes dos faróis das motos e dos carros nos permitiam enxergar com clareza o caminho.

Eu podia contar nos dedos quantas vezes cada pessoa cruzando o asfalto me olhou enquanto eu me agarrava em Suzan e deixava que ela me levasse para os fundos do grande e perigoso bairro. A caminhada era longa, meus saltos não foram feitos para aquilo, e eu tropecei várias vezes, sentindo as sandálias escorregarem.

Mas, apesar de resmungar baixinho cada vez que o meu calcanhar bambeava, eu não daria o braço a torcer de usar um simples tênis como Suzan. Motos entravam e saiam de suas casas escuras e de aspecto antigo o tempo todo, alguns garotos jovens se sentavam na calçada da entrada e observavam com atenção a rua abaixo que levava para fora do Quartel; eu sabia que só estavam ali para vigiar no caso de a polícia aparecer.

Algumas outras pessoas se juntavam àqueles garotos, conversando como quem não quer nada, mas boa parte delas nos observava com mais atenção do que normalmente fariam. Lado a lado como estávamos na entrada do bairro, Suzan e eu parecíamos polos opostos; ela, preta, bonita e reluzente. Eu, pálida e loira, abusando de cores fortes para chamar atenção.

Uma música começou em um lugar distante, e ainda nem estávamos na metade do bairro.

- Por que é que todo mundo está olhando assim pra gente? - perguntei baixinho para Suzan. Um homem passou por nós, virou a cabeça e ficou parado no meio da rua, querendo saber para onde estávamos indo. - Su, estou começando a ficar com medo.

- Ah, Vic, só estão curiosos porque não estão acostumados a ver você e porque você está encarando todo mundo. Para com isso - explicou ela, dando uma risadinha e gritando um cumprimento para um grupo de meninas que também começava a cruzar o bairro do outro lado da rua. Mantive minha atenção nas casas ao nosso redor, nos cães que passavam farejando o chão, e nas crianças que corriam livremente pela rua. Era tarde da noite, mas, ali, ninguém se preocupava com isso. - E porque o meu pai me proibiu de ir até o baile dessa noite. Ele disse que andou vendo uns policiais revirando o bairro esses dias. Até levou um sermão enquanto ia trabalhar.

- Parece que eu sou a má influência aqui - falei em tom de deboche. Suzan riu. Era a mais pura verdade pensar daquela forma. Nem mesmo ela, morando no Quartel, conseguia ser tão atentada quanto eu. - Vamos pensar pelo lado bom, se alguma merda acontecer, estaremos juntas.

- A sensação que eu tenho, é que só fazemos isso - disparou Suzan, suspirando. Eu dei risada. O som ecoou pela rua fria, mas só não chamou tanto a atenção porque a música estava cada vez mais alta. O frio ali também estava pior, eu me encolhi, aproveitando o calor de Suzan para conter os arrepios. - Mas, Vic, essa noite, por favor, não arrume confusão com as outras meninas. Vamos acabar rolando bairro a fora numa dessas loucuras que você faz quando bebe.

- Eu prometo que não vou beber hoje - garanti, cruzando os dedos nas costas. - Além do mais, eu só estou aqui para dançar. Deus me livre arrumar alguma confusão e ficar cara a cara com o chefe. Você falou mal o bastante dele para que eu morresse de medo.

- Sua sorte é que o chefe tem coisas demais para fazer do que estar nos bailes - disse ela, ainda rindo, mas balançou a cabeça. - Você parece ter o dom de se meter em furadas, Vic.

- E é por isso que somos amigas. Você é a pessoa sensata que irá me salvar desses problemas - falei, virando-me de frente para ela e caminhando de costas ao longo do bairro. - Eu sou aquela que terá boas histórias para contar aos netos.

Suzan abriu a boca para falar, mas parou, dando um sorriso largo. Eu observei o que havia chamado a sua atenção, e era um grupo de homens, em que um deles possuía os mesmos traços que os dela, mas eu sabia não ser um parente. O homem assoviou quando me viu, e eu também sorri.

            
            

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