Os Mulherengos
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Capítulo 5 Capitulo 5

- Glorgh - é o som que um dos mau encarados faz, quando vem para cima do meu irmão.

Eu bato com o punho fechado em seu pomo de Adão e apoio o coturno preto em cima do seu peito, quando está estirado no chão, só para garantir que dali ele não saia.

- Valeu - Ragnar coça a cabeça e me encara de soslaio.

- Ninguém mexe com meu irmão - desabotoo a merda de terno de grife caro e jogo em cima do capô do carro.

- Você está defendendo o seu irmão ou a mulher que trouxe essas merdas aqui?

- Que seja.

Ninguém ficou feliz de ver o amigo ponta de lança levar um nocaute.

Por isso os outros nove vem para cima de nós, possuem menos técnica e mais ódio, o que conta muito numa luta.

- Eu só queria - Ragnar abaixa para desviar de um soco, mas leva um chute, se apoia no carro. - Ir ao México - pega impulso e se joga de uma vez só para dar uma cabeçada no homem que o acertou. - Comer umas gostosas...

Fico dividido entre desviar dos golpes e tentar olhar por cima do ombro para localizar para onde foi a mulher que nos pediu socorro. Tenho a impressão de que lá de longe, escondida atrás de algum carro, ela nos espia.

Ela tinha olhos grandes, chamativos, brilhantes – talvez porque chorava. Era baixinha, o corpo pequeno, a bunda enorme. Sexy, mesmo com roupas de treino, tênis surrado e cabelo esvoaçando no ar.

- Me ajuda, porra! - Ragnar rosna.

- Você acha que... - pego o maior capanga pelo lado esquerdo, meu irmão pelo lado direito, o prendemos contra o carro.

- Eles estão atrás dela por causa do tráfico humano?

Isso parece acender uma luz em cima da cabeça dele.

Entreabre os lábios, mas antes que diga algo, somos empurrados para o chão.

Meu irmão e eu temos 1,95 de altura, dizem que somos touros, porque somos grandes, fortes e juntos, somos imbatíveis. Mas esse meliante é imenso, parece um lutador de sumô e grita feito uma fera quando vem para cima de nós.

- Sai - empurro Ragnar e rolo no chão, para que o homem não caia em cima de nós.

- Você - Ragnar dá um chute na boca dele. - É - sou eu quem dá um chute agora. - Um - damos os dois, chutes sincronizados na boca dele. - Traficante de pessoas?

O bicho levanta como se não lhe tivesse ocorrido nada. Se agarra à minha perna e é nesse momento que a coisa fica feia, pois três carros sobem a rampa do estacionamento, com armas do lado de fora da janela.

- Não vamos ficar para a resposta - piso na cabeça do desgraçado, mas ele não quer me soltar por motivo algum.

- Sai, porra - meu irmão precisa puxá-lo e arrancá-lo para

longe.

Jogo-me dentro do carro alugado que nos trouxe até o

aeroporto, quase cambaleando. O vidro estilhaça levemente onde o tiro o atinge, a milímetros da minha cabeça.

- Ragnar! - Rosno com a mão estendida, após abrir a maldita porta.

Sem dizer nada, ele entende o que quero, joga a chave em meu colo. Continua a dar socos no lutador de sumô enquanto tenta colocar as malas dentro do veículo.

Giro a chave no painel e começo a movimentar o veículo. Em algum momento Ragnar decide que é uma boa ideia entrar também, já que estão atirando em nós dois.

- Que merda acabou de acontecer? - Segura no apoio de mão, pois estou dirigindo feito um louco.

Tento desviar dos carros estacionados e não colocar o blindado em risco de receber mais tiros do que pode suportar.

Erro nosso. Dispensamos os seguranças, fingimos que íamos para um hotel, pegamos um veículo de qualidade questionável e agora estamos à mercê da sorte.

- Não sei, só sei que precisamos ajudar a garota.

- Por quê?

Essa é uma pergunta profunda, que me leva a encará-lo por dois segundos.

Tempo o suficiente para manter o automóvel indo em frente na maior velocidade que pode, e... atropelar a mulher que nos abordou minutos atrás.

Ela voa, parece que em câmera lenta, para trás. Quando cai no chão, sai rolando diversas vezes e para com os dois braços abertos.

- Björn, você não...! - Tenta me impedir.

- Precisamos ajudá-la, porra!

- Ajudá-la! Você acabou de matá-la!

Como não me convence, acaba saindo do carro também e vem em direção à vítima do atropelamento.

- Merda - ando ao redor.

Não há sangue, mas ela também não está acordada. A chamo, sacudo seu corpo lentamente, mas um tiro voando acima da minha cabeça me recorda que ainda não é seguro permanecer aqui.

- Pega ela!

- Vamos deixá-la aqui.

Tento tirá-la do chão com delicadeza e apoio o pescoço e cabeça em meu peito para que não se machuque. Uma vez que é inútil discutir comigo, Ragnar a puxa pelas pernas e me ajuda a levá-la para dentro do carro.

- Me desculpa, mamãe, eu vou voltar para te salvar - ela diz baixinho, não entendo bem as palavras.

- Quê? - Não consigo me concentrar agora, tem três carros vindo em nossa direção, as pistolas apontadas para nós.

- Danda, eu... - ela murmura, num esforço hercúleo, os olhos brilhantes com lágrimas.

E... apaga.

- Ela me chamou de quê? - pergunto quando enfim a colocamos no banco detrás, deitada.

- Daddy? - Ragnar debocha - de Sugar Daddy?

Não temos tempo para discutir. Os tiros continuam e os carros estão tentando manobrar no meio desse lugar lotado para nos alcançar.

Tudo o que posso fazer agora é me jogar no banco do motorista, colocar o cinto e dirigir.

- Merda, o México... - Ragnar bate no porta-luvas.

- Podemos viajar outra hora. Vamos levá-la ao hospital mais próximo e damos o fora.

A moça no banco detrás dá um suspiro alto, sua mão sai de cima do peito e balança inerte quase tocando o chão.

- Nós a matamos? - Olho pelo retrovisor.

- Uma pena que não tenha sido de tanto foder.

- Ragnar!

- Eu sei. Você pensou a mesma coisa.

Vanessa Sá

O Som do Guizo

3 meses depois.

"Ai, meu Deus! Como tudo está esquisito hoje! E pensar que ontem tudo estava normal. Será que eu mudei durante a noite? Vamos ver: eu era a mesma quando me levantei esta manhã? Estou quase me recordando que me sentia um pouquinho diferente. Mas, se eu não sou mais a mesma, a pergunta é: 'Quem afinal eu sou'? Ah, aí é que está o problema!"

- Lewis Carroll.

Um sopro refrescante beija o meu rosto, então sinto o meu corpo despertar. Primeiro pressiono os dedos na cama, é tão macia que eu poderia ficar deitada aqui por vários dias.

Tento abrir os olhos, mas a claridade incomoda as minhas retinas.

Após muito insistir, vejo tudo turvo diante de mim.

Meus ouvidos ficam alertas ao som de um guizo que sacode no ritmo do vento. Meio segundo depois, raciocino que escutei esse som repetidas vezes, dia e noite, enquanto dormia.

Curiosa para saber de onde vem, tento abrir os olhos mais uma vez. Demora até que eu esteja pronta para enxergar, parece que não uso meus olhos há um bom tempo.

- Que lugar é esse? - pergunto para mim mesma.

Tateio a cama que parece ter sido feita para cinco pessoas.

As paredes desse quarto devem possuir cinco a sete metros de altura, é incrível, luxuoso, as cortinas vermelhas e douradas parecem ser da qualidade mais nobre possível.

- Onde estou? - Tento me levantar, em vão. Minhas pernas não me obedecem com facilidade.

Não há qualquer tipo de dor em minhas costas, só não sinto nada da cintura para baixo.

No quarto, se é que podemos chamar assim, há três lustres: um luxuoso e gigantesco ao centro, feito de diamantes que brilham a ponto de querer me cegar. Os outros dois são mais simples, feitos de ouro, com detalhes em esmeraldas, safiras e rubis.

- Eu morri e fui para o céu? - É a pergunta seguinte.

Para entender o lugar em que estou, continuo a procurar vestígios de familiaridade.

Há colunas feitas de mármore preto que se estendem do chão até a altura de um metro e meio, em cima delas: troféus, bustos de homens barbudos, aquários vedados com coroas, anéis, colares.

                         

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