Justin não queria que fosse bom para ela e fingia muito mal tentar satisfaze-la. Ele arrancou a parte de baixo de Liv, a calcinha junto, disse que estava com saudade do corpo dela e o desespero falava mais alto, levantou a perna dela e bateu, de uma vez. Liv gemeu mas sua expressão era de desconforto, talvez dor.
- Você é tão apertada.
Ela não estava apertada, estava seca. Dois minutos antes, Olivia esteve apavorada, como ele pôde pensar que ela queria sexo? Não fazia sentido algum, como qualquer pessoa depois de um susto como aquele ela precisava ser abraçada e acolhida ao invés de usada. Mesmo assim, ela o arranhou, gemeu e arqueou. Falsa. Mentirosa.
Sim, isso me da raiva.
Você pode achar que foi eu quem a deixou com medo e que se não fosse isso talvez ela realmente quisesse sexo. Besteira, eu só perguntei sobre o livro.
Não vamos sair do assunto, preciso te contar sobre o que aconteceu naquela noite.
A cena era desconfortável de se olhar e Liv piorou tudo ao dizer que ia gozar, ela tremeu e enfiou as unhas nele, talvez uma pequena vingança ou só parte da encenação, gritou e depois ficou mole. O pior orgasmo fingido que eu já vi, daria nota três a ela. Justin riu.
- Gostoso, não é?
Não.
- É, me dá um minuto?
- Ah, amor. Quero gozar também.
Aquele cara era inacreditável, se Olivia colocasse uma porta com um buraco no meio ele nem ia notar a diferença. Não aguentei olhar, virei a atenção para fora, o céu estava escuro, muitas nuvens e poucas estrelas, a lua minguante, pacata e sem graça. A casa a minha direita estava totalmente apagada, os Coulsons sempre saiam às quartas-feiras. Os vizinhos da frente haviam pintado a varanda, antes branca como a minha, agora exibia um tom verde horroroso, verde oliva. Oliva me lembrava Olívia.
Olhei para dentro de novo, a agonia dela continuava.
"Certo, Liv. Vou te ajudar dessa vez."
Você deve estar achando que demorei demais para ajudar e que eu poderia ter interrompido antes mesmo de começar e tá, você tem razão, mas antes que me odeie por isso, me deixe contar o porquê evito ao máximo interagir com as pessoas. E não é porque são comida.
Foi em 1.853, uma família comprou o lote depois que terminei uma refeição curta de oito meses. Os pais e dois filhos, um menino ainda criança e uma jovem, comentaram com os vizinhos que não se preocupassem caso ouvissem gritos porque a menina era histérica, naquela época qualquer problema mental era tido como histeria, é claro.
Essa família recebeu uma visita algumas semanas mais tarde de um tio que se dizia médium e que passou tempos na Europa de onde trouxe o fenômeno das mesas girantes. O casal se animou com a ideia de serem pioneiros no estado do Texas e marcaram algumas sessões. Era divertido, as pessoas riam e apareciam o tempo todo, eu não tinha uma abundância de comida há alguns anos, eu sugava mais dos convidados, até desmaiarem e eles ai da riam com isso, tudo o que eu precisava fazer era girar mesas e derrubar quadros.
Agora, vamos falar sobre a Mary Ann, a histérica, talvez eu a tenha debilitado, sim. Mas seu quadro piorou depois dessas sessões, era muito barulho e agitação para a menina, ela começou a ver e ouvir coisas, com certeza era esquizofrênica, os pais a usaram, dizendo que ela recebia espíritos mas quando a moça passou a machucar a si mesma e as outras pessoas, perdeu a graça. Os pais tentaram obter ajuda do tio médium mas essas sessões espíritas eram só entretenimento, as pessoas pararam de ir até que cada um tivesse abandonado a família.
Recorreram a igreja católica, mais um erro.
Aqueles padres submeteram Mary Ann a exorcismos intensos, começaram com orações que duravam horas e não davam água ou comida para a menina durante esse tempo, a certa altura ela foi amarrada a cama. Eu passava boa parte do dia e da noite olhando para o céu, não suportava ver.
Sei o que vai me perguntar, são apenas comida, certo?
Sim, são comida. Mas pense comigo, você come carne, não é? Boi, porco, galinha, peixe. Não importa. Você vai ao mercado e pega a carne fatiada, mesmo assim, sabe que é um animal. Mas como você se sentiria ao ver um novilho sendo queimado com cruz de ferro em brasa e tendo os membros atravessados por agulhas enormes? Conseguiria se manter indiferente? Se a resposta for sim tenho mais um diagnóstico. Psicopatia.
Não me surpreenderia. Eu não sei o que eu sou, mas depois do que vi acho que os monstros são vocês.
Matei Mary Ann, ela não suportava mais e eu também não, em uma noite, depois dela ter seus pés queimados pelo irmão cruel que se divertia com aquilo, eu suguei toda a vida dela. O problema é que não consigo controlar entre um alimento e outro então quando o padre chegou no outro dia encontrou toda a família morta daquele jeito estranho, com sangue preto saindo de seus ouvidos e boca.
Fiquei conhecido como 'casa mau assombrada' depois disso, ninguém queria morar em uma casa assim. Fiquei vazio por anos, faminto e com raiva. Desvalorizei, vieram pessoas de baixa renda com móveis baratos e de segunda mão, não combinavam. Isso me forçou a criar os meus.
Depois disso toda vez que alguém sentava no sofá ou rolava na cama ou comia a namorada de forma bruta na parede no hall, eu sentia.
Eu podia derrubar outro livro, seria o suficiente, porém, por algum motivo, eu estava com raiva da Liv. Queria tirar ela dos braços daquele homem mas precisava dificultar. Havia um enorme espelho no quarto dela, uma moldura dourada e antiga em volta do vidro triangular bem acima da cômoda. Foi o que escolhi quebrar.
Arrastei a cômoda, Liv ficou alerta.
- Espera, ouviu isso?
Ela afastou os ombros dele, fiquei decepcionado por ter sido tão fácil,m para minha sorte, Justin não era.
- É uma casa velha, faz barulho - ele segurou Olívia com mais força sem parar de empurrar para dentro dela.
Joguei o espelho com mais força que pretendia, ele caiu se partindo no chão, mais de uma dezena de pedaços afiados. Liv gritou e afastou Justin com um empurrão forte, ele não disse nada mas sua expressão de ódio enquanto olhava a garota se vestir rapidamente era assustadora.
Ela correu escada acima e entrou no quarto de Margareth, conferiu os sinais vitais e levou a mão ao peito suspirando aliviada, olhou em volta se garantindo que tudo estava no lugar e então passou para os outros cômodos até chegar no próprio quarto. Liv estava confusa mas não demorou muito tempo tentando entender como aquilo aconteceu.
Quando ela desceu, Justin ainda estava no hall, com a diferença que seu pau estava dentro das calças e vestia a jaqueta.
- Vamos continuar? - ela mordeu o lábio em meio a um sorrido, não foi sexy.
- Não, perdi o clima.
Homens como Justin não perdem o clima, ele queria castigar Liv. Ia sair e encontrar um bar aberto, perguntar se a atendente tem carro e qual horário da pausa dela, ia beber um ou dois drinks enquanto espera e foder com a garota no carro dela. Eu sabia disso e Olívia também.
- Está bem. Precisa de dinheiro?
- Umas vinte pratas.
Olívia subiu e pegou o celular, enquanto descia novamente, transferiu quarenta para JustinRojas69 pelo Paypal.
- Come alguma coisa.
- Pode deixar, mas antes - ele a encarou com o rosto sério, endireitando os ombros para parecer ainda maior - com quem estava falando no telefone que até esqueceu a comida no forno?
Liv abraçou o corpo como se estivesse com frio e forçou um sorriso nervoso.
- Com o filho da Margareth. Eu te disse.
- Estava falando com aquela vagabunda. Acha que sou idiota - ele foi até a porta e antes de sair olhou ela por cima do ombro - não ache que vou aguentar aqui o que aguentei no Kansas.
Justin bateu a porta sem se despedir.
Olívia não sabia mas ele quem estava na mão dela, ele nem teria grana para beber enquanto espera a garçonete se não fosse por ela. Ela foi para o quarto, se sentou no tapete e começou a juntar os cacos, seus olhos estavam cheios, tive pena dela.
Antes que eu pudesse perceber, estava arrastando a ponta do tapete pelo piso, enrugando o tecido grosso atrás dela até que ele encostasse em sua lombar, era para ser reconfortante mas o que eu estava esperando? Que ela se virasse e agarrasse o tapete me pedindo para dizer que tudo ficaria bem?
Claro que não aconteceu, ela gritou, se afastou das ondas no tapete, a mão passou pelo vidro no chão, se cortando em um caco pontudo. Olívia segurou o corte e gemeu de dor. Não era minha intenção assustá-la, precisava dizer isso a ela então liguei.