Capítulo 9 008

Samantha: Oi?

Cadu: Morena! Pensei que nunca mais!

Samantha: Tá ocupado?

Cadu: Não, to suave na nave. Qual foi?

Samantha: Poderia passar aqui em casa? Preciso conversar!

Cadu: Claro, pô! Em 20 minutos eu colo ai!

Samantha: Obrigada, não buzina, me manda uma msg.

Cadu: Já é.

Deixei o celular no criado mudo, e fui pro banho, escovei os dentes no chuveiro mesmo, passei hidratante corporal, desodorante, vesti um short branco, uma camiseta larguinha, calcei minhas Havaianas, deixei o cabelo solto pra disfarçar o rosto inchado. Em exatos vintes minutos depois, recebi um SMS do Cadu, avisando que já havia chego, sai sem fazer barulho, passei pelo corredor ouvi meus pais brigando no quarto, nem sinal do Bernardo.

Dei uma corridinha até o carro, abri a porta do mesmo e entrei.

Samantha: Oi - murmurei sem jeito.

Cadu: E ai, gata! - me olhou confuso - Qual foi da parada?

Samantha: Meus pais, eles brigaram por causa do meu irmão - comecei a chorar - Não aguento mais! Eu fiquei sem reação, desculpa incomodar, mas não tinha outra pessoa! - expliquei, entre soluços.

Cadu: Coé vim com maior satisfação. Tú é uma mina maneira, não tem caô! - me olhou, sorrindo.

Apenas assenti com a cabeça, ele deu partida no carro, ficamos rodando o bairro.

Cadu: Quer parar não? - perguntou, quebrando o silêncio.

Samantha: Para em qualquer lugar! - dei de ombros.

Cadu parou em uma rua deserta, abaixou os vidros e acendeu um cigarro. Fiquei observando o céu, excepcionalmente estrelado.

Samantha: Por que as coisas são assim? - murmurei pra mim mesma.

Cadu: Que coisas? - me olhou.

Samantha: Família, amigos... Ou melhor, pessoas. Sempre te decepcionando! - suspirei.

Cadu: Porque essa tal decepção, vem de quem menos esperamos. Por isso não confio e não me apego, nem na minha sombra! - balançou a cabeça.

Samantha: Não confia em ninguém? - franzi o cenho.

Cadu: Ah, tenho minha família, meus parceiro de fé, tá ligado! Mas é daquele jeito, confiar desconfiando! - soltou fumaça - A única que tá comigo na saúde e na doença, é a minha coroa, essa é fechamento total! - ele sorriu.

Dei um meio sorriso, virei o rosto para fora, sentindo a brisa fria na pele.

Samantha: Sabe o que é inacreditável? - meu tom de voz foi debochado.

Cadu: O que? - senti que ele me olhava.

Samantha: Eu desabafando em um carro, com um traficante que eu nem conheço!

Cadu: Claro, pô - deu risada - Mas esse traficante aqui, não vai te judiar, pode ficar de boa! - apertou minha bochecha de leve.

Samantha: Eu sei - olhei para ele - Pelo menos, eu espero!

Cadu: Te dou minha palavra! - piscou.

Samantha: Qual é a sua com o Dodô? - me ajeitei no banco, mudando de assunto.

Cadu: Tipo, eu comando a Rocinha, e ele o Antares. É uma briga antiga, ele é mó comédia! - apagou o cigarro.

Samantha: Entendi, eu acho - fiz uma careta.

Cadu: Lerdinha! - brincou.

Samantha: Espera - o encarei - Estou do lado do chefe do tráfico da Rocinha, deveria ter medo? - arqueei as sobrancelhas.

Cadu: Só se tu vacilar! - piscou, em seguida sorriu.

Samantha: É justo! - sorri irônica.

O silêncio voltou a predominar, já se passava das 21h30minhr, estava um friozinho considerável.

Samantha: Estou com frio! - murmurei.

Ele subiu os vidros.

Cadu: Melhorou?

Samantha: Não! - esfreguei as mãos nos braços.

Cadu: Caraca! - deu risada - Marca ai.

Ele virou o corpo para o banco de trás, pegou um moletom e me deu, não pensei duas vezes e já vesti.

Samantha: Valeu! - sorri.

Cadu: Nada, pô! - sorriu de volta.

Eu liguei o rádio, tinha uns rap's maneiros, deixei tocando, quando olhei pro lado, Cadu estava cochilando.

Comigo não demorou, também, encostei minha cabeça em seu peito e dormi, mas só porque estava com muito sono.

CADU NARRANDO

Acordei com o meu pescoço doendo pra caralho, o dia já estava nascendo, olhei pro lado e vi a Samantha dormindo feito um anjo, no meu peito. Fiquei com dó de acordar a mina, mas no primeiro movimento que dei com o corpo, ela despertou.

Cadu: Bom dia, gata! - falei entre bocejos.

Samantha: Bom dia? - me olhou assustada - Onde eu to, Cadu?

Cadu: Relaxa! - dei risada - Tu dormiu aqui comigo, já tá amanhecendo!

Samantha: Eu dormi aqui? - ela franziu o cenho.

Cadu: Pô, lerdona ai! - balancei a cabeça.

Samantha: Caramba! Me leva pra casa?

Cadu: Demorou! - liguei o carro.

Eu dirigia namoral, às vezes olhava para ela, que estava aparentemente mal.

Cadu: Tu tá melhor? - perguntei, alisando sua perna.

Samantha: Acho que sim! - deu de ombros - Muito obrigada por ter passado a noite comigo!

Cadu: Já falei pô, faço namoralzinha. Pra mim é um prazer, ficar contigo! - sorri de canto.

Samantha: Valeu! - retribuiu o sorriso.

Parei em frente a sua casa, diminui a velocidade da máquina.

Cadu: Pronto, tá entregue, gata! - suspirei.

Samantha: Então, até mais! - abriu a porta do carro.

Cadu: Coé, qualquer coisa tu me liga! Não me esquece, não! - fiz bico.

Samantha: Cafajeste! - revirou os olhos e sorriu - Pode deixar, tchau! - seu corpo se aproximou do meu, nos olhamos por um instante, então seus lábios tocaram meu rosto.Cadu: Se cuida, menina! - retribui o beijo.

Samantha: Pode deixar! - saiu do carro.

A esperei entrar em casa, então dei partida no carro, seguindo pra Rocinha.

SAMANTHA NARRANDO

Entrei em casa, sem fazer alarde, eram exatamente 6:30hr Aparentemente todos ainda estavam dormindo, subi pro meu quarto, não queria ir de jeito nenhum pro colégio, mas já havia faltado ontem Fui direto pro banho, fiz minhas higienes pessoais, passei hidratante corporal, desodorante, vesti uma calça legging preta, a camiseta branca do uniforme, calcei meu Vans preto, sequei e pranchei o cabelo, optei por deixar o mesmo solto, passei apenas rímel. Peguei minha mochila e desci. Só estava a Diana na sala de jantar, arrumando a mesa do café.

Diana: Bom dia, minha querida! - sorriu a me ver.

Samantha: Bom dia! - retribui o sorriso - Cadê meus pais?

Diana: Seu pai saiu cedo, e sua mãe não desceu ainda!

Samantha: Hum, sim - assenti com a cabeça.

Diana: Esse bolo acabou de sair do forno! - colocou um bolo de chocolate na mesa.

Samantha: Hummm! - lambi os lábios.

Eu poderia estar morrendo, mas nada tirava a minha fome, me acabei de comer bolo Já havia me atrasado pro colégio, subi pra pegar minha mochila, mas antes dei uma passadinha no quarto dos meus pais.

A porta estava entreaberta, minha mãe dormia tranquilamente, provavelmente deve ter se entupido de calmante. Nem me dei ao trabalho de ver se o Bernardo estava no quarto, pra mim tanto faz Fui a pé para colégio.

Cheguei dez minutos atrasada, a turma já estava na sala.

Professor: Atrasada, Samantha! - falou, quando abri a porta.

Samantha: Desculpa professor! - fechei a porta, indo rapidamente pro meu lugar.

Meu lugar era atrás da Juliana, logo que me sentei, ela se virou para trás.

Juliana: Amiga, tudo bem? - me olhou.

Samantha: Não, Ju! - suspirei - Tá uma bagunça em casa!

Juliana: Depois tu me conta, ok? - sorriu de canto.

Assenti com a cabeça, ela se virou para frente. Peguei meu celular dentro da mochila, havia uma mensagem do Cadu: ''Quero te ver mais tarde, gata!''. Automaticamente e sem perceber, um sorriso surgiu em meus lábios.

As aulas passaram voando, tinha muitas coisas pra copiar, muitos exercícios para fazer. Passei o intervalo sozinha, dentro da sala de aula, não queria ficar conversando com ninguém, nem com a Ju.

Depois que bateu o sinal para ir embora, eu respondi a mensagem do Cadu: ''Hm, não sei'', não iria ser tão fácil com ele, sem contar que não estou com cabeça pra isso O celular vibrou, ele respondeu: ''Coé, novinha. O que tu acha de dar um rolé, hoje a noite?'' caraca, ele não desiste. ''Pode ser. Eu topo.''