- Ordem de maninha – Sebastian fala
- Aliás ela volta quando para coloca ordem nisso? – Artur pergunta.
- Vocês não tem que estar lá fora pegando os pedidos – ele já fala com um mal humor e os dois sai da cozinha.
Ele não admitia que ninguém ficasse enchendo a paciência dele aqui dentro, ele mandava embora.
- Continua fritando aqui – ele fala pegando a garrafa de bebida – eu só vou ali fora – eu assinto.
Eu vou até o fogão e olho para fora o vendo acender um cigarro e beber um pouco da bebida da garrafa, depois ele joga o cigarro fora e entra de volta para o restaurante, ele era assim a noite toda, ele não tinha sossego, saia e voltava, bebia, fumava e cozinhava. Esse eu acho que era a vida dele todos os dias.
Eu tinha os meus traumas e não era pouco, mas trabalhando aqui nos poucos dias eu comecei a observar ele e percebi que ele também não tinha uma vida fácil , ele bebia, ele fumava, ele se drogava para fugir de todo o seu passado, de tudo que assombrava ele , assim como eu achei a minha forma de aliviar o meu sofrimento, ele tinha o dele.
A noite passou rápido porque foi uma noite cheia, Sebastian ficava louco mas dava conta de tudo e mesmo as vezes ele fazendo as coisas muito rápido, ele sempre recebia elogios.
- Estão querendo conhecer o chef – Artur fala entrando – o que eu falo?
- Diz que o chef está ocupado de mais – ele fala
- E se ele insistirem? – ele fala
- Dê alguma desculpa – ele responde para Artur e Artur sai resmungando para fora.
Eu o encaro e ele me encara.
- Seria legal você ir receber os cumprimentos – eu falo – é sinal que gostaram da sua comida.
- Não – ele fala seco e direto e eu reviro os olhos ficando em silêncio.
Artur volta mais uma vez insistindo que ele vá receber os elogios dos clientes mas ele se nega e Artur sai discutindo com ele para o salão, os dois pegava fogo, não era sempre mas quando saia era muito mais que faísca.
- O dia foi puxado hoje – Suzana fala
- Sim – eu falo
- Graças a Deus, depois do fiasco do Sebastian abandonar a cozinha – Artur fala e ele apenas encara Artur com uma cara.
- Vamos indo – Suzana fala – quer carona Melissa?
- Não – eu falo – eu ainda tenho que terminar aqui – Sebastian fica em silêncio, Suzana olha para ele, mas ele não diz nada.
- Está noite – ela fala – quem sabe te esperamos, está muito escuro lá fora.
- Não precisa, pode ir descansar – eu falo para ela que tenta mais uma vez insistir, mas eu a mando ir e ela acaba cedendo e eles vão embora.
Eu fico terminando de lavar a louça e organizar e Sebastian me ajuda a limpar as panelas e fogão, depois ele sai para fora e acende um cigarro, eu sinto o cheiro dentro da cozinha.
Será que a irmã dele aceita essas atitudes dele?
- Eu já acabei – eu falo para ele e ele entra – eu posso ir embora?
- Espera - Ele diz me olhando e eu encaro ele - Eu não quero ver mais você revirando os lixos por aí - Ele fala em entregando um saco de papel com sanduíche dentro - É perigoso passar por aquele beco à noite, E a próxima vez que você estiver com fome, você me pede , ok? - Ele fala me olhando firme.
- Era você no beco? – eu falo olhando para ele.
- Sim, era eu mas isso ninguém vai saber – ele fala – A próxima que vez que você não tiver dinheiro para comprar comida, você chega e pede. Ninguém aqui dentro precisa ir pegar comida no lixo em um beco escuro , comida aqui tem bastante.
- Desculpa – eu falo nervosa – é que – ele me olha.
- A pensão é longe daqui né? – ele fala – é perigoso você ir andando a noite, se torna longe a pé.
- Eu tenho uma bicicleta velha que você pode usar. – ele fala me olhando – se você quiser, assim não precisa mais ir a pé e nem vim a pé.
- Sério? - Eu pergunto sem acreditar que ele estava me oferecendo algo.
- Sim - Ele fala acendendo um cigarro e fazendo sinal de silêncio e eu nego com a cabeça e ele sorri.
Ele não era apenas a pessoa amarga e grosso que ele parecia ser, ele tinha algo dentro dele que era diferente.
Assim que cheguei no prédi da pensão, eu subi para o meu quarto, combinei com Sebastian que pegaria a bicicleta amanhã de manhã.
- Boa noite Melissa- Maria fala
- Boa noite Dona Maria - Eu falo sorrindo para ela.
Dona Maria morava no quarto ao lado do meu junto de seus dois netos Cláudio e Igor um de 15 e outro de 14 anos, dormia os quatro dentro de um quarto, eu nunca tinha visto o tamanho do quarto e não sabia como ele era composto para eles todos, porque o meu era muito pequeno.
Eu me sento na minha cama e abro a sacola que Sebastian tinha me entregado, eu abro um sorriso e começo a comer o sanduiche , com a fome que eu estava eu comeria uns quatro.
No outro dia de manhã eu vou até a casa de Sebastian mas ninguém me atende, não encontro a bicicleta do lado de fora, então resolvo buscar amanhã.