Capítulo 6 6

Diogo

Quando pensei em praia, calor humano e decidimos conhecer San Andrés, não imaginava que o nome paradisíaco faria jus ao que o lugar é.

Porém, estava redondamente enganado.

Pensa em um lugar lindo, mágico e único.

Olhava tudo encantado enquanto passeava pelas ruas. Já havia passado pelo Havaí, Caribe e confesso que cada um tem sua peculiaridade, mas aqui a palavra paradisíaca cabe perfeitamente bem.

Chegamos na rede hoteleira e com um bom bate-papo e usando todo nosso charme, conseguimos a informação que havia algumas vagas de trabalho temporário a serem preenchidas em duas pousadas beira-mar.

Rafa e eu, partimos rumo ao endereço passado e antes de chegar na pousada indicada, paramos para sentir a brisa que vinha do mar.

Aquele cheiro misturado ao barulho das ondas, me trouxe uma tranquilidade que há muito procurava.

- Cara, aqui é incrível. Muito mais bonito do que nas fotos que vimos pelo computador - diz Rafa todo empolgado. - Acho que poderíamos passar o resto dos nossos dias aqui.

- Realmente é incrível, mas me conhecendo como conheço, não passaria o resto dos meus dias aqui não. Mas enquanto o dia de partir não chega, quero provar todas as delícias que San Andrés pode me proporcionar.

- Cara, uma hora vamos ter que parar em algum lugar. Mas você está certo, vamos aproveitar por enquanto isso. Não sabemos o dia de amanhã, então vamos aproveitar o hoje e, hoje, San Andrés é a nossa moradia.

Paramos em um quiosque para tomar uma água de coco e nos recompor para chegarmos apresentáveis a pousada, quando escutamos.

- Eu não acredito em quem estou vendo. Diogo e Rafa, vocês dois perdidos por aqui?

- Não acredito, Adrien, meu camarada - digo abraçando meu amigo que havia conhecido em uma viagem ao México.

- Diogo, eu até tentei te ligar, mas perdi seu rastro quando você partiu em uma nova aventura. Se você não fosse tão cabeça dura e usasse um celular, nossa comunicação seria muito mais fácil.

- Você sabe o que penso dessas tecnologias, mas depois do México acabei me rendendo e comprando um celular para facilitar a busca por novas aventuras - digo rindo e mostrando o aparelho.

- Agora sim, não perco mais vocês. Mas me digam, que bons ares trazem vocês até esse paraíso?

- Cansamos da neve. Estávamos no Valle Nevado e estava já enjoado daquela paisagem monocromática, aí viemos para cá, onde acabamos te encontrando.

- E já sabem onde vão ficar?

- Então, Adrien, descobrimos que a Pousada Luna del Mar, está precisando de pessoal na manutenção. Estávamos indo até lá para ver se podemos ocupar algum cargo em troca de moradia e comida.

- Cara, se for esse o problema acho que posso ajudar. Esse quiosque é meu e tenho uma oportunidade perfeita para vocês. Mas indo direto ao assunto, vocês sabem surfar?

- Sim, sabemos - respondo, curioso.

- Pois bem, estou pensando em agregar mais um serviço ao meu quiosque e acredito que será perfeito tanto para vocês como para mim. Penso em vender algumas aulas de surf e vocês poderiam ser um dos instrutores, o que acham?

- Nossa, seria perfeito, mas ainda preciso encontrar algum lugar para dormir.

- Bom, eu tenho um quarto nos fundos do quiosque, não é grande, mas se aceitarem, podem ficar com ele enquanto estão por aqui. E se não for pedir muito, nos finais de semana à noite, poderiam me dar uma força no quiosque. O que acham?

Olho para o Rafa que sorri e juntos dizemos:

- Fechado!

Adrien nos abraça, nos leva até o quarto para deixar nossas coisas e começarmos a nos situar.

Ele abra a porta e diz:

- Bem-vindos ao seu novo lar, podem ficar à vontade, tomar um banho, descansar e depois me procurem para acertamos tudo e fazer os flyers da aula.

Adrien se vai e ficamos Rafa e eu olhando para o quarto que é pequeno mais bem arrumado. Possui uma beliche, uma televisão, wi-fi, além de um micro-ondas, mesa e suíte com chuveiro.

- Perfeito! - Rafa diz, se jogando na cama.

- Parece que fizemos uma boa escolha em vir para cá, sinto que seremos felizes enquanto estivermos aqui.

- Que isso, Diogo, tá virando mulherzinha? Nunca te vi falar assim.

- Que mulherzinha, o quê? Tá louco? Quer que eu te mostro a mulherzinha? - pergunto rindo enquanto caminho pelo local.

- Tá maluco, irmão, não quero isso não. Somos íntimos, mas essa intimidade toda estou fora - Rafa responde rindo.

Eu amo esse moleque, acho que se tivéssemos saído da mesma barriga, não seríamos tão unidos assim. Ele é o irmão que a vida me deu de presente e escolhi amar.

- Não sei te dizer, só sinto que teremos muitas coisas boas por aqui, a sorte está do nosso lado. Já arrumamos um emprego da hora, um abrigo e reencontramos um amigo, tudo isso em menos de vinte e quatro horas.

- Verdade, cara, dessa vez nem bem chegamos e já temos um teto, isso que é sorte.

- Cara, não sei você, mas eu preciso urgente de um banho e dormir - digo já bocejando.

- Idem.

E assim depois de um belo banho, acabei dormindo.

"Lá estou eu novamente olhando para o mar, quando seu perfume já familiar passa pelo meu nariz, alertando todos meus sentidos que ela está próxima. Diferente das outras vezes a encontro sentada, com lágrimas nos olhos.

Passo a mão no seu rosto delicado e pergunto.

- O que fez uma moça tão linda chorar?

Ela se aconchega na minha mão e balança a cabeça em negação, sem dizer nada. Então me olha e seus olhos passam tantos sentimentos.

Ela beija minha mão e sinto meus pelos se arrepiarem, então sorri e me beija...

Um beijo doce e suave".

Acordo em um sobressalto, com o gosto do beijo dela.

Não é possível, enlouqueci de vez!

Desde que estávamos vindo para cá que ela não deixa meus sonhos. Preciso saber se ela existe.

Coço meus olhos e quando vejo as horas, levo um susto, dormi oito horas seguidas, fazia anos que não sabia o que era isso.

Olho para cima da beliche e Rafa não está mais. Coloco uma bermuda e saio a procura dele e de Adrien.

Encontro os dois conversando e rindo, enquanto tomam algo que não consigo identificar.

Já anoiteceu e tem poucas pessoas sentadas nas mesas.

- Fala, Bela adormecida, resolveu acordar, ou foi um príncipe que o despertou? - Rafa pergunta rindo.

- Rafa, se você não fosse meu irmão ia te mostrar o príncipe - digo bagunçando o cabelo dele.

- Toma, Diogo, bebe um pouco de água de coco para acordar. Já pensaram em como vão ser as aulas?

- Acho que poderíamos separar em turmas iniciantes e avançadas, e fazer pacotes de dez aulas no mínimo - digo tomando um gole da minha água.

- Já gostei. E o preço? Horário?

- Bom, aí você define, para a gente não tem tempo ruim.

- Ok, vou pesquisar o preço praticado por aí é tento tabelar. Fico com uma pequena comissão e o resto é de vocês. Inclusive quando vierem me ajudar no quiosque, gorjetas e uma participação no lucro do dia passo a vocês. O que acham?

- Cara, está ótimo, já estava aceitando trabalhar aqui no quiosque em troca de um lugar pra dormir. Ganhando então, melhor ainda.

- Então fechado, vou providenciar os flyers e lotar vocês de alunos e alunas.

Enquanto comemos um lanche natural, continuamos a conversar e fazer planos.

Até que o último cliente vai embora, Adrien fecha o quiosque e se despede da gente.

Saldo do primeiro dia, positivo.

Emprego, moradia e comida...

Nossas necessidades estão garantidas.