Mas uma parte dentro de mim continuava a gritar que eu poderia confiar nele, que as palavras que ele gritou no quarto eram verdadeiras, sentia isso. Sem falar no fato de que todas as minhas barreiras pareciam inexistentes quando eu estava perto dele, como se nada pudesse me atingir porque ele estava lá. O que era uma tremenda ironia já que desde que nossos caminhos se cruzaram não tive um minuto de sossego.
A visão dele pego de surpresa, segurando a toalha desajeitadamente tentando tampar seu pau, invadiu minha mente atropelando todos os meus questionamentos e me tirando o foco.
Deus que me perdoe, mas eu agradecia a distração, pois não queria reviver meus pesadelos e mesmo que me odiasse pensar no seu corpo era uma distração bem-vinda. Aquele homem arrogante e grosso, combinava totalmente com as tatuagens e com aquele corpo duro, perfeitamente definido. Oliver não era aquele tipo bombado de forma exagerada, só era gostoso com gominhos, o abdômen definido e os braços fortes mostravam que ele treinava com frequência. Isso sem falar das pernas torneadas.
Céus, eu o tinha visto sem camisa enquanto lhe dei pontos, mas estava tão concentrada em não falhar que não me dei ao luxo de percorrer seu corpo, suas tatuagens, o V que se formava indo até sua virilha. Nunca tinha desejado tanto que uma toalha caísse na vida.
A obra completa despertava desejos que eu não tinha há muito tempo, senti meu rosto queimar com a simples lembrança de tê-lo ali exposto aos meus olhos. Morri de vergonha quando ele jogou na minha cara que eu estava analisando descaradamente, mas não era minha culpa se o homem estava recém-saído do banho ainda molhado e parado bem ali na minha frente.
- Volta pra terra Gabriela. - Resmunguei comigo mesma me dando tapinhas no rosto.
Esse não era o momento e nem ele a pessoa certa para que eu deixasse que meus pensamentos seguissem por esse caminho, isso se eu acreditasse que algum dia voltaria a deixar algum homem se aproximar. E novamente lá estava eu querendo ressuscitar os mortos.
Tentei mudar meu foco e prestar atenção no gramado que estava encharcado graças à chuva incessante, havia poças em alguns lugares e ainda assim o jardim continuava lindo, parecia não se abalar mesmo com tudo a sua volta. Seguranças com capas e alguns de guarda-chuva enfeitavam de preto os quatro cantos da casa.
Aquela quantidade de seguranças reforçava o que Oliver tinha dito, eu estaria mais segura dentro desses muros do que em qualquer outro lugar, mas ainda me intrigava o porquê de tantos homens trabalhando para ele e a perguntava voltava a rodear minha cabeça: quem diabos era esse homem?
Estava tão distraída com esses pensamentos que demorei a notar a movimentação estranha no jardim. Os homens estavam correndo, saindo de sua habitual inercia, ouvi disparos abafados ao longe e de repente um deles caiu no chão do gramado em frente à minha janela.
Levantei-me rápido e corri até a porta, Oliver passou por mim correndo no mesmo instante e desceu as escadas como um furacão, me dando tempo apenas de notar sua cara fechada e a arma na mão. Que porra estava acontecendo aqui?
Não fiquei parada esperando descobrir, se aquele homem estava caído no chão alguma coisa o tinha atingido e se fosse o que eu estava pensando sua vida estava em risco. Corri pelas escadas em busca de alcançar o homem e lhe ajudar no que fosse preciso, com sorte eu conseguiria descobrir o que estava acontecendo.
Quando sai na porta principal vi homens e mais homens fazendo mira em direção ao portão, enquanto a correria e os gritos se instauravam, o barulho de tiros era incessante e eu paralisei diante da cena. Parecia um filme de guerra.
Oliver estava no último degrau da escada gritando ordens a Jackson, nenhum dos dois parecia feliz com tudo o que estava acontecendo. Que merda toda era aquela?
- Senhor, para sua segurança é melhor que fique dentro de casa! Alguns de nossos homens já foram atingidos, nem todos estavam usando colete, então facilite meu trabalho e se mantenha em segurança! - Jackson resmungava contrariado por Oliver estar se expondo diante do perigo daquela forma, mas suas palavras me trouxeram de volta ao meu propósito.
O homem que vi caído na parte de trás do terreno ainda deveria estar lá estirado no chão. Desci correndo os degraus, fazendo com que Oliver e Jackson me notassem, mas não parei.
- Ei, para dentro! - Jackson rosnou para mim quando passei por eles.
Desviei meu olhar para Oliver e a careta estava pior do que de costume. Suas sobrancelhas franzidas profundamente marcando sua pele e seus lábios apertados de tal forma que as laterais estavam esbranquiçadas. Apostava que seus homens tremiam e se encolhiam com o conjunto da obra, mas não comigo.
- Mais que porra de mulher! - o ouvi gritar para Jackson enquanto vinha em meu encalço.
Sim, era a porra de uma mulher, uma mulher que estava determinada e ele não ia me parar. Assim que avistei o corpo caído no chão corri mais rápido, acabei escorregando no chão com meus joelhos deslizando na grama molhada, mas rapidamente parei ao seu lado, já começando a contabilizar os ferimentos de seu corpo, infelizmente a chuva não estava ajudando em nada.
Havia uma poça de sangue se formando perto do seu ombro, mas a água incessante estava lavando boa parte do sangue e ensopando a roupa de uma cor carmesim, não me deixando saber o quanto de estrago tinha sido feito. Eu ia ter que ser rápida!
- Eu preciso de você lá dentro! Não quer que isso aconteça com você também ou quer? - Oliver disse assim que parou ao meu lado.
- Ele está vivo, precisamos tirá-lo daqui. Me ajuda a levar o corpo, pega ele pelos ombros. - Pedi, mas ele não fez nem menção de ajudar.
Olhei para cima disposta a implorar se fosse preciso, mas quase não consegui vê-lo com os pingos grossos que caiam sobre meus olhos. Apenas ouvi Oliver praguejar impaciente antes de se abaixar me encarando, por um minuto pensei que ele iria me puxar e me arrastar de lá, mas ele não o fez, em vez disso abraçou o tronco do homem desacordado e o puxou sem muito cuidado para seu ombro, já marchando em seguida sem se certificar se eu acompanhava seus passos ou não.
Levantei-me atordoada com sua atitude, essa era a última coisa que esperava dele, mas tratei de correr atrás deles.
- Pela sala de jantar. - gritei sobre o barulho dos tiros e da chuva. Corri na frente o ultrapassando e abri as portas de correr que davam para a sala de jantar.
Ele andou até o mesmo quarto que eu o tinha cuidado e colocou o sobre a cama. Oliver se afastou me dando espaço enquanto gritava por Jenna, eu me apressei em tirar o terno do homem para ter uma melhor visão e assim que o fiz avistei um buraco de bala em seu ombro, bem acima a clavícula.
Enfiei meus dedos através do buraco na camisa e rasguei o tecido tentando ver melhor a situação. A bala ainda estava alojada e pelo que parecia os danos tinham sido poucos, nenhum músculo tinha sido atingido, o impacto também não tinha fraturado a clavícula ou mexido com seu ombro. Pelo que parecia ele tinha se esquivado em uma tentativa de se desviar do projétil, mas a única coisa que conseguiu foi diminuir o estrago.
O sangue saía devagar por um fio e graças a Deus tínhamos o tirado da chuva a tempo. Arranquei minha blusa encharcada já me virando no lugar a procura de gases para estancar o sangramento.
- Jenna! - gritei olhando impaciente para o corpo, ele estava entrando em choque, sua temperatura estava baixando rapidamente e a chuva não tinha ajudado, constatei quando medi sua pressão. - Preciso de toalhas limpas e cobertores. - falei assim que a vi na porta, não lhe dando a chance de entrar no quarto, precisávamos ser rápidos.
Logo em seguida Ane e Magie entraram, as duas já pareciam assustadas, mas bastou ver o corpo na cama para o horror aumentar. Oliver tentava inutilmente acamá-las enquanto eu corria preparando tudo. Magie estava mais histérica que o normal e eu não fazia ideia do porquê, mas não podíamos perder tempo com os chiliques dela agora.
- Vocês, peguem água quente! - ordenei gritando com as duas.
- Vou pegar. - Oliver se prontificou a fazê-lo.
- Não, preciso de você aqui Oliver. - Respondi rápido antes que ele saísse. - As meninas vão.
- No que precisa de mim? - ele questionou de imediato e eu assisti as duas se afastarem, Ane praticamente tendo que arrastar Magie.
- Na verdade não era nada, só queria me livrar delas. Mas quer saber, pressiona aqui pra mim. - Pedi colocando suas mãos sobre o ferimento com a pressão certa. - Não aperte mais que isso, a bala ainda está aí. Enquanto os portões não forem liberados para podermos levá-lo ao hospital não conseguirei fazer muito por ele.
Oliver me olhou como se tivesse algo importante que queria me contar, mas ele teria que falar rápido, pois eu estava muito ocupada tirando os sapatos e meias do seu segurança, em seguida as calças e pôr fim a camisa, todas se juntaram ao chão em um monte de roupas molhadas e ensanguentadas.
- Precisamos mantê-lo aquecido, o pulso está fraco e ele perdeu muito sangue, seu corpo está entrando em choque.
Jenna voltou logo com as toalhas e o cobertor, me lancei sobre ela para pegar uma tolha. Enrolei com cuidado uma em suas pernas e a outra sobre seu tronco, jogando o cobertor por cima em seguida.
Abri o pequeno armário tirei mais gases e uma pinça. Isso ia ter que servir, não sabia que horas ele poderia ser levado para um hospital então tentaria tudo o que estivesse ao meu alcance para salvá-lo.
Peguei um álcool que tinha dentro dos armários e joguei sobre a pinça, não era a melhor coisa, mas era o que tínhamos disponível.
Além das condições de aparelhos não serem as melhores e o homem desacordado não estar nada bem, eu também estava preocupada, nervosa com o que poderia acontecer se eu errasse, tinha cuidado de Oliver, mas não precisei retirar uma bala de dentro dele, já tinha feito isso no passado, um passado que parecia bem distante agora.
Respirei fundo, precisava ser forte e guardar meus temores dentro da salinha escura em meu subconsciente para me concentrar no meu trabalho, a vida de uma pessoa dependia de mim.