Correntes da Ilusão
img img Correntes da Ilusão img Capítulo 7 Quem Entende as Mulheres
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Capítulo 8 Inveja img
Capítulo 9 Garotas Como eu São Tolas... img
Capítulo 10 Passeio no Centro img
Capítulo 11 Hoje não é o meu dia img
Capítulo 12 Uma Boneca de Porcelana img
Capítulo 13 Uma pantera img
Capítulo 14 Sangue nas mãos img
Capítulo 15 Assassinato img
Capítulo 16 Como um lobo img
Capítulo 17 Interrogatório img
Capítulo 18 Ninguém se deu conta img
Capítulo 19 O Assassinato da faxineira img
Capítulo 20 Desaforo img
Capítulo 21 Desconfiança img
Capítulo 22 Idiota mais linda img
Capítulo 23 Como chegaram a tal ponto img
Capítulo 24 Hora de dar um basta img
Capítulo 25 Todos são suspeitos img
Capítulo 26 Quem img
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Capítulo 7 Quem Entende as Mulheres

Naquele dia em especial, todos os hóspedes almoçaram juntos na sala de jantar. Com a cozinha típica do interior, foram servidos vários pratos: arroz de brócolis, suflê de legumes, galinha caipira ao molho pardo, feijão tropeiro, tutu de feijão, mandioca cozida e para sobremesa um cremoso pudim de pão e pêssegos em calda com creme de leite.

Os mais jovens conversavam e faziam planos, pois estavam muito animados com a notícia da festa da padroeira da cidade. Letícia decidiu montar uma barraca na festa para colaborar com a igreja e conseguir um dinheiro extra.

- O que acha, Rafa? - Disse Letícia. - A gente pode montar uma barraca de pescaria para as crianças, é divertido e ainda dá para ganhar dinheiro.

- Acho uma ótima ideia, mas acho que só nós dois não daremos conta de atender a criançada. Quer se juntar a nós, Vitória?

- Não mesmo! Não tenho paciência com crianças cheias de açúcar no sangue, além do mais, não vê que Letícia pensou apenas em vocês dois e não mencionou chamar mais ninguém? Não tenho disposição para empatar foda, nem segurar vela!

- Você está enganada, Vitória! Letícia estava pensando apenas nos lucros, quanto menos gente, menos pessoas para dividir... ela é muito eficiente nos negócios. – Respondeu Rafael. - Não precisa ficar enciumada!

Letícia ficou vermelha por constrangimento ao ouvir as palavras de Vitória, em seguida ficou da mesma cor, mas de raiva, ao ouvir o descaso de Rafael e preferiu ficar calada.

- Então, Vitória, o que acha de se juntar a nós no mundo dos negócios? - Insistiu Rafael.

- Não rola! Não estou nem um pouco interessada. - Respondeu Vitória com um sorriso frio.

Rafael olhou para Vitória decepcionado e frustrado, dizendo:

- Você é quem perde! Então, seremos apenas nós dois, Letícia, dividiremos o trabalho com a criançada e o lucro. Sei de um lugar que vende brinquedinhos e bugigangas baratas para as prendas. A senhora vai participar, Dona Dalva?

- Sim, claro que vou! É minha santa de devoção e participo todos os anos, esse ano ficarei na barraca dos bolos, o padre me pediu para ajudar. Vou preparar bolos diversos: milho, aipim, laranja, banana, coco, chocolate...

- Nós iremos a essa festa, mas só como convidados. Estamos aqui de férias para relaxar, não queremos nem chegar perto de vendas, não é Ivan?- Disse Rita servindo mais um pedaço de pudim de pão para o marido.

- Com certeza, querida, nada de trabalho aqui no paraíso!

- Nunca participei de uma festa dessas, nós também podemos ir, Henrique?

- Não gosto desses eventos de caipira! - Respondeu Henrique impaciente.

- Mas todos irão, e vai ser bom frequentar algo diferente do que estamos acostumados, além disso, Bia iria se divertir tanto... e eu também!

- Mais tarde conversamos sobre isso, me deixa terminar de comer em paz!

Ana abaixou a cabeça para evitar os olhares dos outros hóspedes. Sentia-se constrangida com a grosseria do marido.

A mesa ficou em silêncio por alguns instantes, até que Rita iniciou outro assunto para melhorar os espíritos.

Depois que todos acabaram de comer, Dona Dalva se levantou e ofereceu um cafezinho aos hóspedes. Alarmado, André escorregou para fora da sala de jantar sem dizer nada e foi até o lago artificial que fica ao lado da entrada da sede. Era um lago razoavelmente extenso, mas não muito fundo, repleto de peixes, rodeado de pés de Jamelão e coqueiros intercalados, construído para a prática da pesca para os hóspedes.

Pouco minutos depois da chegada de André, Rafael apareceu caminhando em sua direção, mas foi interrompido por Letícia.

- Rafa, o que você acha de irmos hoje mesmo para o centro da cidade?- Ela parou na frente dele, barrando-lhe o caminho, e ajeitou os óculos com o dedo indicador. - Eu tenho umas coisas pra fazer lá e você pode pedir permissão ao padre, para montarmos a barraca.

- Olha, Letícia, eu não estou à fim de para o centro, muito menos de falar com padre hoje, melhor deixarmos pra ir amanhã.

- Mas hoje seria perfeito! Eu tenho umas coisas pra resolver por lá, poderíamos aproveitar e resolver logo tudo sobre a barraca e depois poderíamos tomar um sorvete... O dia está muito quente hoje, não acha? Nem parece final de outono!

Rafael se sentiu aflito, a insistência de Letícia mais repelia do que atraía.

- Já que você tem coisas pra resolver e quer tomar o sorvete, porque não aproveita e pega a autorização você mesma? Mais tarde, eu vou comprar as prendas e estará tudo resolvido! Não há razão para nós dois nos entediarmos no centro hoje, como você mesma disse, está um baita calorão! Tome seu sorvete e divirta-se! - Disse Rafael beirando a grosseria ao virar para o outro lado, desviando dela para seguir caminho.

- Você é um idiota, Rafael, vá para o inferno! - Letícia gritou irritada enquanto seguia em direção a garagem.

Rafael respirou fundo fazendo uma careta e se aproximou de André, que parecia estar distraído atirando pedrinhas no lago.

- Mulheres! Não vivo sem elas, mas sabem ser irritantes.

Rafael debruçou-se na pequena cerca de madeira, que circundava a maior parte do lago. André se aproximou dele sorrindo e debruçou na cerca ao lado de Rafael.

- Problemas com o sexo frágil?- Perguntou André em tom de troça.

- "Sexo frágil"?- Rafael arregalou os olhos, em uma expressão que pareceu ao André um tanto cômica. - Nunca entendo o que elas querem ou se querem alguma coisa, e não importa o que eu faça, nunca consigo agradar!

André o encarou, seus olhos verdes brilhavam.

- Me pareceu fácil saber o que Letícia queria...

- Letícia? Ah, sim... tanto faz.

Os dois viraram o rosto ao mesmo tempo seguindo o som de passos se aproximando. Era Vitória, que se aproximava deles ao lado de Ana.

- Aí estão vocês! Eu estava conversando com Vitória sobre a cachoeira que você mencionou mais cedo, André. Ela confirmou suas palavras sobre o lugar ser incrível, com excelente vista e que seria um lugar maravilhoso para construir uma casa.

- Exatamente! - Confirmou Vitória sorrindo. - Um local perfeito para constituir família.

- Gostariam de ir até lá agora? - Perguntou André.

- Eu gostaria, mas tenho que ir ao centro da cidade, na casa de correios para enviar uma carta.- Disse Vitória.

- Vai para o centro agora? - Perguntou Rafael. - Se quiser, te dou uma carona até lá.

- Pois eu aceito a carona, Rafa, estou sem disposição para a enorme caminhada. Poderia me levar agora?

- Claro! Vamos logo para aproveitar a tarde curtindo um passeio. Nesse calorão, um sorvete cairia bem, não acha?

Despediram-se de André e Ana, e seguiram juntos para a garagem.

André riu balançando a cabeça de um lado para o outro, ao que Ana, curiosa, perguntou o que se passava na mente dele.

- Acreditaria se eu te dissesse que ainda agora Rafael dizia não estar com a menor vontade de ir ao centro do povoado, nem de tomar sorvete?

- Sério? Pois pareceu estar com muita vontade de acompanhar Vitória, deve ter mudado de ideia, então...

Os dois riram e André concentrou o olhar na bela mulher que estava ao lado dele. Ana vestia shorts jeans e uma camiseta de malha branca simples e despretensiosa. Mas os olhos de André registraram que, por baixo da camisa, era possível perceber a sombra do biquíni. Mesmo vestida de maneira tão simples, ela era uma visão premiada. Seus olhos azuis contrastavam com os cabelos negros e pele alva.

Sem dúvidas, uma mulher muito bonita. A presença dela no sítio era uma surpresa muito agradável.

"É mais bonita ainda pessoalmente!"

- O que disse?- Perguntou Ana ao não ouvir direito as palavras de André.

- Não é nada, estava apenas pensando alto.

- Costuma pensar em voz alta quando está acompanhado?

- Às vezes, quando me distraio.- Respondeu André achando graça da situação. - Não vá pensar que sou alguma espécie de louco, por favor. - André pediu em tom de brincadeira.

- Não vejo problema algum em ser um pouco louco, às vezes, desde que seja um louco inofensivo. - Disse Ana, piscando um olho.

- Confesso que, "às vezes", para algumas pessoas, posso ser muito perigoso. - Ripostou André com súbito brilho nos olhos, depois disse: - Onde está a pequena Beatriz?

- Está com o pai.

- Eles não querem ir à cachoeira?

- Não... - O rosto dela se anuviou. Distraidamente, ela passou a mão sobre o ombro esquerdo, então, completou. - Ele vai levar Bia para passear no povoado.

- Pensei que havia me dito que iria com ele...

- Eh... - Ela desviou o olhar.- Eu ia, mas, achamos melhor eles passarem uma tarde pai e filha, ..

André a encarou por alguns instantes, observando as expressões de seu rosto. Notou que ela mentia, mas decidiu ser gentil e suavizar o assunto.

- Uma pena, tenho certeza que ela iria adorar o passeio, mas eles poderão ir outro dia, vão gostar muito.

- Você me levaria agora?

- Claro! Já é hora de visitar meu lugar favorito desse sítio. A senhora vai ver como é tranquilo!

- Para com isso, André, fica me chamando de senhora, me sinto uma velha.

- Desculpe-me, Ana, não foi minha intenção de maneira alguma, posso te chamar de você?

- Não só pode, como deve. Não estamos nos anos vinte! - Respondeu Ana, sorridente.

                         

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