Correntes da Ilusão
img img Correntes da Ilusão img Capítulo 2 Apresentando: Verônica Fourton
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Capítulo 8 Inveja img
Capítulo 9 Garotas Como eu São Tolas... img
Capítulo 10 Passeio no Centro img
Capítulo 11 Hoje não é o meu dia img
Capítulo 12 Uma Boneca de Porcelana img
Capítulo 13 Uma pantera img
Capítulo 14 Sangue nas mãos img
Capítulo 15 Assassinato img
Capítulo 16 Como um lobo img
Capítulo 17 Interrogatório img
Capítulo 18 Ninguém se deu conta img
Capítulo 19 O Assassinato da faxineira img
Capítulo 20 Desaforo img
Capítulo 21 Desconfiança img
Capítulo 22 Idiota mais linda img
Capítulo 23 Como chegaram a tal ponto img
Capítulo 24 Hora de dar um basta img
Capítulo 25 Todos são suspeitos img
Capítulo 26 Quem img
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Capítulo 2 Apresentando: Verônica Fourton

Luís estava sentado na sala do detetive Ferreira, onde estavam também os detetives Afonso, André e o próprio Ferreira, juntos com seus superiores, alguns policiais militares fardados e o promotor público. Discutiam o resultado da batida e os próximos passos da investigação.

O promotor falava ao telefone, dando diversas explicações ao seu interlocutor na tentativa de disfarçar o sentimento de fracasso. Vários relatórios eram elaborados e tudo o que Luís conseguia pensar é que alguém havia levado todo o carregamento de drogas para algum lugar e ninguém parecia ter visto ou ouvido nada a respeito nas ruas.

Nenhum informante pôde ajudar a esclarecer o que tinha acontecido no galpão.

O detetive Ferreira estava abatido, uma investigação de meses terminou em um beco sem saída. Seus superiores tinham sido duros com ele e, embora ninguém quisesse admitir, a única maneira de alguém ter chegado ao galpão antes dos policiais era o vazamento de informações. Alguém da corporação entregou o serviço.

Ferreira fez sinal para que Luís e André o seguissem para fora da sala e eles obedeceram.

Ferreira os acompanhou à uma cafeteria do outro lado da rua, precisava tomar um pouco de ar e um café bem forte. Os três detetives fizeram seus pedidos, café sem açúcar para Luís, com um pouco de leite para Ferreira e uma garrafa pequena de água mineral com gás para André, pois este sempre detestou café.

- Obrigado por tudo, Luís, você também, André! Foi uma honra trabalhar com vocês, pena que depois de hoje, o caso provavelmente sairá de minhas mãos.

Ferreira parecia muito abalado com o desfecho infeliz das investigações. Não era a primeira vez que perdia um caso, mas estava no fim de sua carreira e desejava ter encerrado com mais um caso resolvido a contento. Tinha 61 anos e se dependesse dele, continuaria atuando ativamente como policial, mas os sinais da idade começaram cruelmente a aparecer e o impediam. Problemas no coração o impossibilitavam de continuar a carreira. Havia chegado o momento de se retirar, e isso o entristecia.

-Somos amigos, então deixe dessas cerimônias! - Comentou Luís, dando um tapinha no ombro de Ferreira. - Perdi a conta de quantas vezes você me ajudou.

- De todo modo, não foi culpa sua, Ferreira. - Disse André consolador.

Alguém deu o serviço, alguém de dentro...

- Depois de todos esses anos trabalhando como policial, eu me pergunto se vale a pena arriscar a vida fazendo seu trabalho, enquanto um crápula, blindado pela farda, entrega tudo para o outro lado por causa de dinheiro! -Disse Ferreira desanimado.

- Essa é a principal razão de eu nunca ter me interessado em trabalhar na narcóticos... - Disse Luís.

- Alguém tem que fazer esse trabalho, achei que faria a diferença. - Falou Ferreira.

- E faz, sempre fez, se manteve honesto e íntegro e colocou muitos marginais atrás das grades. - Disse André

- Além de nos ajudar várias vezes. - Completou Luís, então se dirigiu ao parceiro: - Lembra aquela vez, André, em que estávamos envolvidos em uma série de mortes e o filho da mãe do assassino escrevia números nos corpos...?

Conversaram sobre os velhos tempos e sobre quando se conheceram. Aquela conversa amigável melhorou o humor de Ferreira. Passada uma hora desde que entraram na cafeteria, pareciam renovados e de ótimo humor.

Aquela era a rotina deles, frustração quando um caso ia mal, mas logo se animavam novamente. Honravam a profissão que escolheram e mesmo em meio a pequenas frustrações, sabiam que eram bons no que faziam.

***

André entrou em seu pequeno apartamento e, após trancar a porta e se servir de uma latinha de cerveja, se atirou no sofá de maneira descuidada.

Sentia-se cansado.

Suas férias estavam vencidas há meses e mal podia esperar a liberação. Já tinha tudo planejado para uma viagem. Iria para o campo, para uma cidadezinha escondida no meio da natureza, onde costumava ir com seus pais quando criança. Recentemente a dona havia convertido o casarão em uma sossegada e confortável pensão, com o pretensioso nome de Hotel Estrela Dalva, cercado de muito verde, rios de água cristalina, cachoeiras, galos cantando pela manhã...

Era tudo o que André desejava, algo que o afastaria, por pelo menos quinze dias, do barulho e da violência de uma cidade grande como o Rio de Janeiro.

Sentia que precisava dessas férias, era uma necessidade e não um simples desejo. Pegou o controle remoto que estava sobre uma mesinha de canto e voltou a jogar-se no sofá. Ligou a televisão mecanicamente e parou em um filme nacional estrelado por uma famosa atriz que, meses antes, apareceu em todos os jornais por ter decidido adotar uma criança.

***

Verônica Fourton era uma atriz que, apesar de muito famosa, esteve por muito tempo intencionalmente afastada da mídia. Com uma carreira invejável, a jovem atriz estrelou várias novelas, capas de revista e seu último filme foi um fenômeno de bilheteria. Embora jovem, apenas 25 anos, era casada com o empresário Henrique Medeiros, vinte anos mais velho que ela.

Henrique não era uma pessoa pública, já que nunca se sentiu bem diante dos holofotes. Trabalhava como empresário e agente de Verônica desde o início da carreira dela, quando ela era apenas uma adolescente.

Depois de dois anos de casados ainda não tinham filhos. Verônica queria muito ser mãe e decidiu consultar especialistas e descobriu que nunca poderia engravidar. A descoberta a afastou das telas por meses devido à depressão que se abateu sobre ela. A impossibilidade de realizar o sonho de ser mãe a tinha deixado muito abalada. Depois de alguns meses, Verônica apareceu na mídia novamente quando declarou publicamente seu desejo de adotar uma criança.

O retorno à TV foi glorioso, ela irradiava otimismo e felicidade, pois havia encontrado a menina dos seus sonhos. Uma linda criança, com traços físicos semelhantes aos seus, que fora tirada dos pais biológicos devido aos maus tratos e abusos que sofreu.

Parecia um conto de fadas para as duas...

Verônica era uma linda mulher e sabia disso. Sempre chamara atenção dos homens por sua beleza. Loira, olhos azuis, estatura mediana, corpo elegante e magro, como a maioria das atrizes de sua geração, porém muito bem feito, com curvas onde deveria haver curvas. Vestia-se sempre impecavelmente e suas roupas tinham a assinatura dos melhores modistas do mundo.

Naquele exato momento em que André assistia o filme estrelado por ela, Verônica estava em um quarto decorado de rosa e lilás, repleto de brinquedos e muito bem mobiliado. Segurava um livro de histórias infantis enquanto as narrava para Beatriz, sua filha adotiva de cinco anos de idade. Encontrar aquela menina tinha sido a realização de um sonho. Todos diziam que se pareciam fisicamente, e era verdade, tal fato foi uma das razões de ter escolhido a menina desde o primeiro momento em que a viu.

.... E viveram felizes para sempre – Disse Verônica fechando o livro.

- Por favor, conta mais uma, Verônica. - Pediu Beatriz com seus olhos azuis irresistivelmente suplicantes.

- Só se você parar de me chamar assim. - Verônica fez beicinho e cara de triste para comover a menina.

- Tá bom! Conta mais uma, mamãe!- Disse a menina sorrindo.

Verônica a abraçou emocionada e abriu novamente o livro de contos.

Alguns minutos depois, Beatriz finalmente adormeceu e Verônica foi para seu quarto. Henrique estava deitado na cama e ao ver sua esposa entrar tirou os óculos e os colocou sobre a mesinha de cabeceira, junto com o livro que estivera lendo.

- Ela já dormiu?

-Sim! Ela é maravilhosa, não acha?

- Vai dormir, Verônica! Temos um comercial para gravar amanhã e depois temos que preparar nossa viagem de férias. - Ele disse ignorando o comentário da esposa.

- Eu sei... - Verônica o olhou hesitante, então decidiu perguntar: - Henrique, por que você quer ir para aquele fim de mundo? A gente já tinha combinado de ir para Orlando...

-Já te expliquei antes, querida! Vamos para o campo para termos um pouco de paz em família. Beatriz precisa de paz e tranquilidade e não desse tumulto de repórteres e imprensa o tempo todo no nosso pé. É para o bem dela e para o seu próprio bem que iremos para o campo.

- Tem certeza que teremos toda essa "paz em família" nesse lugar?

- Se você colaborar, teremos sim! - Ele respondeu com a voz seca. - Não haverá motivos para problemas, Verônica, estamos entendidos?

Verônica fez que sim com a cabeça e ofereceu ao marido um sorriso forçado. Uma brisa entrou no quarto pela janela aberta e ela teve um calafrio. As semanas em depressão, as brigas, a solidão, a dor, o tratamento... Ela queria acreditar que tudo seria diferente...

"Sim! Agora tudo seria diferente! Tinham uma filha e seriam finalmente uma família feliz!"

            
            

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