A TENTAÇÃO
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Capítulo 6 -5

Começo a rir nervoso.

- Isso não quer dizer que estávamos juntos. Todo mundo come bacon no café da manhã.

Eliana estreita os olhos para mim.

- Não disse que estavam juntos. Apenas comentei que estão cheirando a bacon. Sabe que odeio bacon.

- Eu sei! Estava com vontade de comer bacon e comi.

Dou um sorriso, tentando esconder meu nervosismo.

- Você está estranho? O que está acontecendo?

- Nada, amor!

Me viro para a frente e ligo o carro. Olho pelo retrovisor e vejo uma pretinha roxa, de tanto segurar a vontade de rir.

- Me passa o endereço do local.

Peço a Eliana, desviando meus olhos de Natália e seguindo com o carro para a rua.

- Esse aqui.

Eliana me mostra no celular.

- Fica perto do meu escritório.

- Ótimo! Agora acelera que não quero atrasar ainda mais.

Enquanto dirijo, Eliana liga para alguém e pela conversa, é sobre a decoração da festa. Olho algumas vezes pelo retrovisor, para ver Natália e ela está encarando a janela, muito distraída.

- Benzinho, precisamos conversar uma coisa chata.

Eliana diz, chamando minha atenção.

- Fala!

- Sabe que não sou mulher de limpar casa, cozinhar e tudo mais.

Me olha com o jeito sedutor de quando quer pedir algo.

- Quero me dedicar a você e não a casa. Hoje de manhã, enquanto tomava café com a minha mãe, ela me falou sobre contratar uma empregada.

- Eliana, o gasto que estou tendo com o casamento e a construção da nossa casa está me deixando no limite das contas. Não temos condição, pelo menos no começo do casamento de contratar empregada.

- Você está jogando na minha cara que não estou ajudando em nada? Está dizendo que vivo do seu dinheiro?

Respiro fundo.

- Eliana, você não trabalha e não está ajudando em nada na nossa futura vida a dois. Não quero te dizer que tem que trabalhar, mas se quer mordomias, ajude a pagá-las.

- Você sabe que não acho um emprego bom para mim. Estou procurando, mas os que me chamam não são bons.

- De qualquer forma. Não podemos pensar em contratar empregada agora. Teremos que nos virar.

- Não vou lavar, limpar e cozinhar.

- Moro sozinho há seis anos, podemos fazer isso juntos.

- Nem sei como organizar uma gaveta de cuecas. Vou acabar jogando tudo dentro da gaveta e você se vira.

- Ele dobra as cuecas em pequenas bolas e as separa por cores na gaveta. As meias ficam em uma gaveta separada e também separadas por cores.

Natália diz, causando um silêncio perturbador no carro. Ela mexeu nas minhas gavetas? Como ela sabe meu TOC por cores e organização?

- Como sabe disso?

Eliana pergunta e se vira no banco para olhar a irmã. Meu coração acelera as batidas e seguro forte o volante. É o fim da senzala. Sinhazinha vai surtar com a gente.

- Eu disse que ele deve. Do jeito que seu noivo é todo certinho, deve ter esses transtornos. Nojo de unir pé com cu.

Natália começa a rir sozinha.

- Juntar meia e cueca, caso não tenha entendido a piada.

- Você não falou " Deve". E a sua piada foi idiota.

Paro de sorrir da piada de Natália ao ouvir o que Eliana disse.

- Disse sim. Você que não ouviu. Estava muito preocupada com a possibilidade de limpar sua própria sujeira.

- Você se acha superior a mim, né Natália? Acha que seus problemas são maiores que os meus.

- Ter que cuidar da sua própria casa não é um problema. Faço isso desde os meus dezoito anos. Se tivesse feito faculdade ao invés de procurar um namorado rico, saberia como é trabalhar, estudar e cuidar da própria vida.

- Não fiz faculdade porque não quis. Não achei nada que combinasse comigo.

- Ainda não fizeram faculdade pra uma profissão sem cérebro. Amebas ainda não trabalham.

- Sua...

Paro o carro, quando vejo Eliana tentando avançar em Natália.

- Parem as duas.

Grito segurando Eliana.

- Odeio você!

- Sentimento é recíproco, querida irmã.

Eliana se vira no banco, voltando a ficar de frente e cruza os braços.

- Vamos logo, Matheus!

Grita comigo e volto a andar com o carro. O clima está insuportável. Elas se odeiam mesmo. Aproveito o silêncio para refletir. Então Natália fez faculdade e não mora com a mãe. Quero perguntar que faculdade fez, mas Eliana me mataria. Melhor me calar e manter o silêncio. Paramos o carro em frente a confeitaria mais chique de São Paulo.

- Temos que fazer o bolo aqui? Vai sair muito caro.

- Benzinho, o bolo é a parte mais importante da festa, depois da noiva. Quero o bolo mais perfeito.

Eliana diz e abre a porta do carro, saindo do carro. Respiro fundo, antes de sair.

- Vamos logo benzinho...

Natália diz rindo e abre a porta do carro.

- Sinhazinha quer arrancar o couro do pretinho.

Sai do carro e me pego revirando os olhos. Saio do carro também e ando de mãos dadas com Eliana para dentro da confeitaria. Natália vem logo atrás de braços cruzados. Eliana conversa com a atendente que nos leva para uma pequena sala de degustação.

- Vamos servir fatias dos nossos bolos e vocês poderão provar e escolher o que lhes agrada.

Nos sentamos e a mulher sai da sala. Eliana está do meu lado e Natália de frente para mim. Minha atenção fica em sua boca. Ela brinca com seu lábio inferior o mordendo. Isso é perturbador.

- Olha os sabores.

Eliana me chama, mostrando um cardápio com sabores e valores.

- Caramba...

Digo vendo o valor dos bolos. De repente a sala é invadida por pessoas, segurando pratos com fatias de bolo. Tem pelo menos uns vinte pratos na mesa agora. A atendente nos entrega talheres.

- Eliana, você já escolheu o tamanho e a forma que deseja no bolo. Agora só nos diga o sabor.

Eliana, Natália e eu, começamos a provar os bolos. Enfio meu garfo em uma mesma fatia que Natália e ela sorri. Com seu garfo, empurra o meu, pegando a fatia toda pra ela. Bato com meu garfo no garfo dela, derrubando o bolo e tento pegá-lo para mim. Estamos rindo da nossa briga pelo pedaço e paramos ao ouvir um pigarrear alto. É a sinhazinha ao meu lado, não curtindo a farra dos pretinhos. Preciso parar de pensar em Eliana como sinhazinha. Isso pode dar merda.

- Pode pegar pre...

Natália para de falar ao perceber que ia me chamar pelo apelido que me deu.

- Pega! Você é o noivo e precisa escolher.

Olho o bolo todo quebrado no prato.

- Acho que tem pedaços para nós dois.

Estamos sorrindo e juntos pegamos um pedaço do bolo, levando a boca. Gememos juntos com o maravilhoso sabor.

- Esse...

Falamos juntos, apontando com os talhares para o bolo. Eliana nos olha e recuo o talher.

- Gostei desse.

- Eu também.

Natália confirma e a atendente nos informa que é o bolo tradicional de baunilha. Olho o cardápio e vejo que é o bolo mais barato. Isso me agrada.

- Gosto desse...

Eliana aponta para um rodado.

- Não provei desse.

Natália diz.

- Nem eu.

Digo em seguida. Nós dois pegamos um pedaço generoso do bolo e enfiamos na boca. Começo a ter ânsia de vomito com o gosto horrível do bolo. Natália sem nenhuma delicadeza, cospe o bolo no prato e limpa a língua com o guardanapo. Queria muito fazer isso, mas Eliana está me olhando. Engulo essa merda que desce quadrada em minha garganta.

- Não é bom?

Eliana me pergunta e vejo Natália tomar o copo todo de água que deixaram pra ela. Olho meu copo de água e desesperadamente o pego, virando-o todo de uma vez.

- Esse é o nosso bolo mais criativo. É de romã com rum.

Coloco o copo de volta na mesa e vejo o cardápio. É o bolo mais caro.

- Queremos esse.

Eliana diz empolgada.

- Mas é horrível.

Natália solta sem dó.

- Tem gosto de bolo de terra com álcool.

Eliana fulmina ela com os olhos, assim como a atendente.

- Você não tem gosto refinado.

- Falou a rainha desempregada que não possui qualificação nenhuma e não serve nem pra dobrar cueca.

Antes que Eliana ataque Natália, seguro sua mão.

- Tudo bem! Pode ser esse o bolo.

Eliana fica animada e vem beijar meu rosto.

- Por isso eu te amo, benzinho.

Me abraça e Natália cobre o rosto, talvez me odiando por ceder aos caprichos de Eliana.

- Preciso que me confirme algumas coisas Eliana, pode vir comigo?

- Claro.

Eliana sai da sala, junto com a atendente, me deixando com Natália.

- Você é muito idiota, pretinho.

- Ela quer o bolo. É o casamento dela.

- Pau mandado da sinhazinha.

- Não sou pau mandado. O bolo é bom.

Minto e ela estreita os olhos pra mim.

- Você gostou daquilo?

- Sim...

Minha voz sai fina. Ela tenta não rir e se levanta da cadeira. Vem em minha direção e meu corpo congela. Para ao meu lado e com a mão, pega um pedaço generoso do bolo horrível.

- Come de novo ele.

- Não, estou satisfeito.

Me assusto quando a vejo sentar no meu colo de frente para mim.

- Natália...

Digo olhando em volta, apavorado. Eliana pode voltar a qualquer momento. Natália usa a mão sem o bolo para segurar meu queixo.

- Abre a boca!

- Não...

Vejo ela trazer o bolo com a outra mão. Sua cabeça se curva para a frente e sua boca fica perto da minha.

- Se não abrir a boca, vou ficar rebolando no seu colo, deixando seu pau ainda mais duro, até minha irmã chegar.

Por um minuto, minha vontade é de ficar com a boca fechada. Mas logo a sanidade me volta e abro a boca. Natália enfia o bolo nela e só o cheiro do bolo já me deixa enjoado.

- Mastiga.

Minha boca trava e não consigo mastigar.

- Vou te ajudar.

Coloca os dedos nas laterais das minhas bochechas e os circula, me forçando a mastigar.

- Pretinho obediente. Tá gostoso o bolo?

Escuto a voz de Eliana se aproximando.

- Vai treinando comer. Porque se fizer essa cara de cu chupando limão no dia da festa, quando for a foto da Eliana te dando um pedaço de bolo na boca, ela vai te matar.

Sai do meu colo e limpa a mão no guardanapo. Pego o guardanapo e cuspo o bolo.

- Você é violenta.

Digo limpando a boca.

- Não viu no sexo.

Sinto meu membro pulsar e Eliana entra na sala.

- Podemos ir. Já está tudo certo. Deixei um cheque seu como pagamento.

Vou ter que arranjar mais um cliente para pagar o bolo. Saímos da confeitaria e seguimos para a casa da Eliana.

- Vou te deixar na sua casa e vou trabalhar.

- Hoje é sábado. Falta uma semana para o nosso casamento.

Eliana deita a cabeça em meu ombro, enquanto dirijo.

- Vamos curtir nosso último fim de semana sem ser marido e mulher.

- Preciso trabalhar.

- Então vamos sair a noite.

- Sabe que não gosto de sair.

- Vou em uma festa hoje a noite.

Natália diz do banco de trás.

- Onde?

Eliana pergunta e Natália fala o endereço.

- É na mansão dos Willians.

Eliana diz animada.

- A festa vai ser aberta?

- Parece que sim.

- Vai com quem?

- Com uma amiga.

Algo me incomoda nessa saída de Natália.

- Matheus não gosta desse tipo de festas. Na verdade ele não gosta de festa nenhuma.

- Nós vamos...

Digo rapidamente e Eliana me olha.

- Sério?

- Sim...

Algo grita dentro de mim, para não deixar Natália sozinha.

            
            

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