Sim, isso ia contra os meus princípios. Desde muito nova eu caçava homens como Lorenzo, traficantes, exploradores e mercenários, mas não só por prazer, porém, também por sentir a necessidade quase que louca por punição.
Muito disso vinha do trauma de infância, com o meu pai, mas com o tempo fui ganhando gosto e isso se tornou um vício. Como Rose, eu era calculista e paciente, quando estava sob o meu poder alguém tão sujo quanto eu, usufruía de cada parte como se degustasse uma boa bebido ou comida suculenta.
Agora, me encontrava presa a um apartamento lindo, grande e luxuoso, esperando ansiosamente pelo encontro com o homem de olhos negros que não só me instigou a curiosidade, mas também, me deixava muito excitada.
Eu devia ter o matado, assim que nos conhecemos, porém, como se, no fundo sentisse que não podia, e olha só o que aconteceu, foi justamente Lorenzo Mitolli, um mafioso da pior espécie que me ajudou a fugir do país.
Eu não era idiota, sabia que tinha uma boa razão. Não nos comunicamos muito sobre o porquê ainda, porém, eu via como me olhava, como se quisesse me comer, no entanto, algo me dizia que o homem não era tão burro de trazer consigo alguém como eu só para ter a oportunidade de transar.
Meu lado justiceiro gritava em meu cérebro dizendo que eu deveria mata-lo, não podia acreditar e nem confiar na palavra de um criminoso, mas outra parte, a que estava me guiando, dizia que eu deveria pelo menos ouvir a sua proposta e aproveitar essa oportunidade a meu favor.
Meu tempo para avaliar às duas situações tinha acabado no momento em que o homem serio, alto e muito forte com tatuagens onde eu podia ver, entrou pela porta, como se não precisasse de permissão.
Esse homem precisa saber o seu lugar.
Você já viu como um gavião caça a sua presa? Pois bem, ele parecia um gavião agora. Não tirou os olhos de mim por um segundo, como se eu fosse uma lebre que correria a qualquer momento. Sua presença era intimidadora, mas não me assustava ou preocupava, eu já enfrentei homens piores que esse.
Uma coisa eu tinha certeza, eu não sairia perdendo essa. Algo que aprendi com o tempo é que: homens, seja mafioso ou não, sempre quer algo com suas boas atitudes. Lorenzo não era uma exceção, ele sabia qual a minha capacidade e queria algo.
Apesar do pouco tempo na cidade, eu fiz as minhas pesquisas, não queria perder o habito de saber onde estava me metendo ou se o meu alvo era mais forte que eu.
- Finalmente frente a frente de novo. - Falei sem sair do sofá confortável onde estava. O homem alto, moreno, de olhos escuros e lábios carnudos, não disse nada, continuou me observando, assim como eu a ele. Lorenzo estava lindo, com um terno justo, sapato reluzente e cabelo penteado para trás. Já dormi com homens lindos assim, mas a sensualidade nos seus movimentos e seu olhares penetrantes eram uma surpresa para mim. - Achei que me deixaria esperando por muito mais tempo.
- Não sou tão mal-educado. - Finalmente se pronunciou. Eu gostava de homem com voz grossa e firme, isso me deixava molhada. - Além disso, não sou idiota de deixar uma assassina como você a solta pela minha cidade, como se fosse um animal exótico fora do seu habitat.
- Qual animal exótico eu seria? - Perguntei entrando na brincadeira.
- Eu diria que o cruzamento bizarro entre um leopardo e uma cobra muito venenosa. Ágil e letal. – Respondeu sem um único sorriso, mas algo me dizia que era para ser engraçado. - Além disso, não a trouxe aqui atoa, se estou arriscando ser picado pela serpente é por um bom motivo.
- Gosto de homens inteligentes que sabem dos riscos de lidar comigo. - Estava tediada de tanto ficar sentada, por isso me levantei. Lorenzo se serviu de uma bebida forte, que tinha no canto da sala de estar. Esse lugar era mesmo grande e bonito, com uma parede de vidro, que nos dava uma bela vista da cidade colorida. O curioso era que Drakoy não se diferenciava de Danaco, só pelo tamanho e clima, claro. Era agradável o frio. Quando se pensa em uma cidade de grande altitude e rodeada por pequenas montanhas não se imagina Drakoy. Ela era animada, grande e com muitas rotas por onde passava milhares de carros. Tinha diversas empresas, shopping, hotéis e muito mais, o problema era que essa não era a minha cidade e era comandada por Lorenzo. De um canto a outro, tinha uma marca registrada dele, seja por homens armados, empresas ou parceiros. Eu sabia disso por conta de um a conversa acalorada com uma garçonete. Apesar da desconfiança, muitos só achavam que os Mitolli eram empresários, mas as pessoas de periferia, que trabalhavam para eles, sabiam da verdade e do perigo. - Mas vamos ao que interessa, Lorenzo Mitolli, o que realmente quer comigo? - Encostado no vidro do balcão onde pegou a bebida, ele se concentrava no copo com o líquido âmbar. Eu gostava de ver observar o meu alvo de todos os ângulos, ainda mais quando ele era tão bonito quanto Lorenzo. - No pouco tempo que passei aqui eu não fiquei parada esperando você dá o ar da graça e nem foi tão difícil achar informações sobre você. O que descobri em Danaco não foi nada tão grande quanto aqui. Seu rosto está estampado na capa de revista e notícias em jornais. "O empresário envolvido com o tráfico" - Falei jogando uma das revistas em cima da bancada onde ele estava. - "O senhor do submundo veste terno e gravata, e está sentado atrás de uma mesa bonita". Não citarei mais, pois não quero estender esse diálogo.
- Você sabia quem eu era quando veio comigo, o que quer dizer com tudo isso? - Questionou ele levantando uma das sobrancelhas ao me olhar. - O que as pessoas falam de mim, nem sempre é totalmente verdade ou mentira, mas a mídia atualmente está pegando no meu pé.
- O que me faz pensar que um mafioso com você, tão poderoso e conhecido, tem muitos inimigos e isso unido ao porquê de ter me trazido...
- Você foi ousada, fiquei curioso para saber quem era a mulher que... brincou comigo aquele dia. – Disse ele abandonando o copo e levantando de onde estava. Lorenzo tinha alguns centímetros a mais que eu, mesmo estando de salto, eu tinha que o olhar de baixo. Além do mais, seus grandes ombros cheios de músculos o transformava em um homem mais que charmoso. - Ousadia e desafiadora, um tipo raro e desconhecida por mim.
- Me poupe do seu charme barato. - Falei virando e me afastando. Esse homem não me conhecia e suas intensões não estavam tão claras, mas eu não era burra de pensar que Lorenzo era alguém que fazia boas ações tão fáceis, muito menos para alguém como eu. - Não mulher de maias palavras, de prolongar alguma coisa e também, não sou idiota, você quer se aproveitar de mim para se livrar de alguém. Estando tão exposto, depende de alguém que não esteja para fazer o trabalho sujo, e tendo tantos paparazzi ou jornalistas a sua procura, seria perigoso cuidar disso por si só.
- Gosto de mulheres inteligentes. - O sorriso safado em seu rosto o deixou ainda mais bonito, mas beleza ele tinha de sobra, coisa que mudava quando se falava em caráter.
- Vamos direto ao ponto, você é líder de uma organização criminosa, provavelmente tem milhares de pessoas trabalhando para você, outros criminosos que podem fazer esse trabalho, por que quer a mim? - Questionei cruzando os braços na frente do corpo e cerrando os olhos. - Sou alguém que não joga esse tipo de jogo, Lorenzo. Meu lance é matar homens como você, sujos e cruéis, acha mesmo que vai me convencer a mudar de lado?
- Não preciso a convencer de nada, Dark. - Ele estava seguro de si. Encostou-se no vidro, me desafiando com o olhar. Essa era a primeira vez que estava lidando com um homem como ele. Sempre fui seca quanto a homens, eles eram minhas presas ou objeto de prazer por uma noite. Porém, Lorenzo era diferente. Ele tinha um poder incomum, algo que me instigava a permanecer nesse lugar. - Você precisa de mim, precisa da minha ajuda e desse poder que tenho, e sabe disso, caso contrário, já teria ido embora. Minha intensão não é convence-la a vir para o meu lado, e sim usar o que pode fazer ao meu favor.
- Claro, mas isso terá um preço.
- Terá? - Novamente ele levantou uma das sobrancelhas grosas. O sorriso de deboche no seu rosto me encheu de raiva, eu não era conhecida por ser pessoa de paciência ou pacifica, então esse pequeno gesto parecia um desafio. - Salvei a sua pele, a coloquei em um dos mais caros apartamentos dessa cidade e você ainda quer mais?
- Há, você quer um obrigado? - Disse tão irônica quanto ele. - Não terá, um homem como você não merece tal coisa de mim, e não sou idiota, esse... luxo que esbanja é fruto de crimes e ilegalidade, você está com sorte por ainda está vivo, na verdade, acho que me ajudar a sair de Danaco foi o preço bem justo por eu ter o deixado vivo da primeira vez.
A sua gargalhada ecoou pelo apartamento me deixando furiosa. Era como se um conflito interno estivesse cutucando o meu cérebro por conta desse homem. Em outra situação, eu jogaria essa merda para o ar e mataria Lorenzo, mesmo que isso significasse ser perseguida para sempre, e outra parte me mandava ficar calma e ouvir o que mais ele tinha a dizer. O problema era quando o meu corpo agia por impulso, usando a pequena adaga guardada em minha perna por baixo do vestido.
- Você é engraçada. - Disse piscando para mim. - Mas chega de brincadeira, vamos direto ao assunto. - Finalmente. Achei que o mataria antes de chegarmos ao ponto certo. - Você está certa quando diz sobre meus inimigos e que eu não posso me livrar deles pessoalmente, e quanto aos meus homens, eles podem até fazer isso por mim, porém, quem quero matar não são pessoas comuns que podem ser mortas de qualquer jeito.
- Diga o que quer, que falo o meu preço. - Falei impaciente.
- Três pessoas. - Disse depois de me observar de cima a baixo como se quisesse algo mais. - Seria fácil se os três imbecis não fossem pessoas da mídia, era só armar uma emboscada e acabar com todos, mas infelizmente os três que me desafiaram e traíram são um deputado, uma cafetina que é dona de uma agência de modelos e um jornalista que está colocando a merda no ventilador.
- Fascinante. - Falei querendo mesmo ser irônica. - Um homem perigoso como você foi desafiado por três pessoas diferentes?
- Eles acham que me expor na mídia e cooperar com a polícia pode me colocar na cadeia e livra-los da morte, mas a verdade é: eu não vou para a cadeia, sou alguém com contatos e muito dinheiro, faço isso a anos e minha família não ergueu um império de armas para brincarem de empresários.
- Por que não usa esses contatos para livra-los dos ratos?
- Você é bem curiosa.
- Se vou entrar nessa e ajudar um mafioso quero saber de tudo, até mesmo onde estou me metendo. - Falei dura e forme. - Não faço trabalho sujo para pessoas como você, Lorenzo Mitolli, muito pelo contrário, eu mato pessoas assim e só estou aceitando esse acordo porque realmente preciso.
- Claro, você não está sob a minha proteção e poder. - Debochou. - Meu irmão está comendo o meu sono por sua calma, Dark, se sair da linha eu mesmo a mato.
- Se me provocar, você vai primeiro, nem que morra depois de você. - Falei me aproximando dele. - Se realmente precisa de mim, vai aceitar os meus termos, assim como vou fazer perfeitamente esse trabalho sujo, Lorenzo.
- Quais seus termos?
Estávamos frente a frente, encarando um ao outro. Ele poderia me matar com algumas das armas que tinha em seu coldre, ou eu a ele, com as minhas. Eu não era mais uma criança, fazia isso a tempos e ele me escolheu porque sabe disso, mas era divertido o desafio. Como se ele realmente quisesse me eliminar.
- Você vai me ajudar a sair desse pais, recomeçar em outro lugar sem o perigo de ser deportada para Danaco. Faço o que for preciso, mas não pode me limitar. – Exigir.
- Não posso deixar que uma assassina de criminosos perambule pela minha cidade sem alguém da minha confiança.
Meu corpo estava animado com essa pouca aproximação, seu perfume me excitava, assim como seus olhos vorazes.
- Não preciso de babá, mas acho que posso precisar de ajuda, caso algo saia fora do planeja. - Falei sabendo que essa seria a parte que me traria dor de cabeça. - Diga aos seus capangas que não sou de obedecer, mas acho que já viu isso.
- Não pode se expor, ou alguém pode descobrir a nossa ligação.
- Não me diga o obvio querido, não sou uma novata. - Falei colocando as mãos na cintura. Estava difícil me controlar. Um desejo safado dentro de mim, brotou no meu corpo, o desejo e a temperatura estavam altas e a qualquer minuto eu podia jogar toda a resistência e moral de lado só para beija-lo novamente. Ainda conseguia sentir os lábios carnudos apertando os meus, suas grandes mãos pervertidas, explorando o meu corpo e aquele instrumento magnifico, testando a minha resistência. - Terá que me passar uma boa quantidade de informações sobre quem e como são os seus alvos, assim como equipamento, como já sabe, a única coisa que tenho em mãos é essa linda adaga de estimação. - Falei subindo o tecido do corpo e mostrando onde ficava o objeto.
- Terá tudo o que desejar. - Disse sedutor.
Por um breve momento, nos encaramos. O desejo era mutuo, mas não seria idiota de esquecer tão facilmente quem era esse homem.
- Então comece logo, quero quanto antes sair desse lugar.